sábado, 31 de outubro de 2015

Dar Alma á Vida LXXV

Dar Alma á Vida LXXV

  
Dar alma à Vida é dar-lhe a possibilidade de poder contemplar a Cruz o que ela tem de pavor, angústia, atrocidade, de degradação, de dor, de tristeza, de suplício para quem se entrega por Amor.

Dar alma à Vida é contemplar a Cruz no que ela tem de vitória, de libertação, de redenção, de alegria, de ressurreição, de paz.
 
 

 
 
Dar alma à Vida é reconhecer as nossas infidelidades, negações, as nossas fugas, farsas, a lavagem das mãos como Pilatos, infâmias, juízos e condenação.

É descobrir que o amor não está como devia estar na nossa vida porque falhamos e precisamos de recorrer à misericórdia divina para que o carregar da nossa cruz com discernimento, seja também a nossa redenção. O crucificado, Filho, de Deus e, por Ele, todos os que dão Alma à Vida, no amor ao Pai serão glorificados e viverão, pela bondade de Deus para sempre na eternidade.




Dar alma à Vida é morrer para o pecado e viver para a justiça. “A paz esteja convosco” (João 20,19.21) e, como o crucificado na cruz, possamos de braços abertos  acolher, abraçar quem chega e, com os nossos pés, caminharmos ao encontro do que precisa de misericórdia isto é, com um abraço de Amor passamos a dialogar e a conviver lembrando-nos da grande Misericórdia de Deus

Conf. Carta Pastoral de D. Anecleto

                                                                                                                                         A.C.

 

Experiências de vida


Experiências de vida

A natureza

Novembro e Dezembro são os meses em que morrem mais pessoas, sobretudo, idosos. “Isto tem uma explicação que para mim, vem da natureza”. Tem toda a razão.

Nestes meses as folhas caem das árvores e o pó da terra vai para atmosfera com o dióxido de carbono que se liberta das folhas mortas.
 

 
Quando não chove muito nestes meses aparecem as epidemias, há mais poluentes na atmosfera devido ao dióxido de carbono que anda no ar e é respirado por todos, em vez do oxigénio que as plantas verdes libertariam.

Os nossos pulmões ficam mais intoxicados. Se a chuva não vem de vez em quando, e em abundância, este pó das folhas das árvores não se fixa à terra e sobe no ar, tornando-se tóxico. Os pulmões principalmente dos mais velhos, sofrem mais com a gripe, doenças respiratórias e não resistem até acabar por sucumbir.

Ai é o Outono. O Outono com sol é perigoso mas, com chuva mais ou menos abundante torna-se menos maligno para as pessoas mais frágeis.

Bem razões têm os “chineses” andando nesta altura com máscara para filtrar o dióxido de carbono da atmosfera, evitando a toxicidade do referido dióxido de carbono.   Coutou-me por outras palavras o amigo Álvaro Sotomaior
 
Quando era criança recordo que, em Novembro, pelos Santos já havia neve esperava-se por chuva para amaciar o frio, mas mais um regalo era sentir que o azul do céu se via e o sol começava a aquecer.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

A F a m í l i a


A    F a m í l i a

 

O Bispo da Diocese de Portalegre e Castelo-Branco, participante no Sínodo foi perentório em afirmar que o Sínodo não tem nada a ver com o que se passa nos médios. Uma coisa é o que se passa lá dentro com cordialidade, fraternidade sacerdotal e diversidade por diferenças de cultura, mas isso não é motivo de crispação, de divisão para a Igreja, mas de uma maior e clara comunhão eclesial. A Igreja não vai mudar nada do que é a doutrina sobre a Família.

Não vai transformar o que a média queriam que é algo que é contra a família, que agora seja banido da “lista” de pecados para serem valores. O que antes era valor passasse agora a ser contra-valor.

Atravessamos uma época que em nada é a favor da família. É o marido e a esposa que já não têm tempo um para o outro, quanto mais para os filhos!... É a mulher que não tem tempo para dar filhos e tudo a manieta: o emprego, a falta de apoios logísticos, a falta de tempo… Mas com tempo, às vezes, para as suas noitadas com as colegas de trabalho, com as da mesma equipa, com as chefias ou, como por exemplo, no dia da Mulher. Sei que nem toda a gente concorda comigo, mas, na minha opinião, a mulher hoje tem de acabar com o seu dia… Então o dia do Homem?!... Nem um nem outro, enquanto até aqui fez falta combater machismo, hoje, isso já não existe… Antigamente o machismo era tão grande que este dia tinha o seu significado…

De uma vez para sempre haja respeito entre um e outro…

 
 
É bom que o homem tenha em conta que a mulher é igual em direitos e deveres, em dignidade, assim como a mulher veja o marido com os mesmos direitos, mas a mulher já atingiu aquilo que pretendia. Foi a sua emancipação. Muito bem. Agora acho que já chega. Na minha modesta opinião o objectivo deste dia está alcançado. Casos esporádicos vão existir sempre não só em relação à mulher, como em relação ao homem, em todo o Mundo. Ela já bate no marido e já o marido não bate nela!... Nem têm que bater um no outro!

Têm, mas é de namorar sempre, mesmo com os filhos e que os filhos vejam como os pais se amam e, apesar das adversidades, sabem, pelo diálogo, chegar a bom termo fazendo-se felizes e felizes os filhos com orgulho pelos pais que têm.

A Família hoje está em causa por falta deste “tempo” que é salutar para o diálogo porque, para muitos, depois do emprego e do dinheiro, estão os milhões no futebol que cala meio mundo, a política obstrutiva a uma família unida e coesa pelos laços da comunhão física e espiritual entre esposos e filhos.

Está ainda a vida difícil de suportar e sobreviver a uma economia de capitalismo cego.

Parece-me que o que se pretende é uma vida de família sem valores, em vez de preservar a sua união.

É o sexo em primeiro lugar, é a defesa de valores que se sobrepõem à vida humana em favor dos outros seres vivos.. Matam-se os bebés, a lei permite o aborto e paga até a quem o quiser fazer à custa do dinheiro do Zé, explorado, atirado à miséria, à fome, à marginalidade…

A Família está a ficar sem suporte de segurança, de estabilidade e coesão a ponto de se separar devido à profissão do casal: um no Algarve e outro no Minho, por exemplo. A esposa vai só. O marido vai e deixa a família, ou o marido toma conta dos filhos. A esposa fica só, sem suporte familiar, a cuidar dos filhos e do seu trabalho.

A mãe lá vai…ou vice-versa!...Não há tempo para a família!

 


 
 
Já alguém notou quando há futebol? A essa altura não há crianças a chorar, há crianças esquecidas e abandonadas. Nem filhos a pedir nada porque os pais estão presos à televisão, aos Média para vibrar forte, fortemente, a cada passo de pé para pé, de bola para bola, de jogador para jogador, de fulano para fulano, de rasteira em rasteira, de canto a canto. De baliza para baliza até gritar gooooooooooooolo!... Ou, então, sai estrondosamente um “ai!” tão alto e de desespero, de insatisfação porque falhou…O bebé que já dormia, depois de ter chorado sem conforto, acorda assustado para voltar a chorar…É o jogador é o árbitro, é o capitão da equipa, o treinador, é a direcção do clube… e os filhos passam ao lado, ninguém os vê, nem lhes liga. Espantoso! Abandono por pouca coisa!...

Não se vai à reunião de pais na Escola porque não há tempo, mas também não se o procura,… se faz pelo tempo para isso…

Os professores que os aturem. Se estão mal-educados ou não têm aproveitamento foram os professores que são novos, que não sabem educar.

Convém lembrar que a educação tem de vir de casa, a escola os professores são apenas complemento para aquilo que os pais não podem, nem sabem.

Não esperem que os filhos mal-educados porque integrados numa família sem estrutura de uma vivência familiar normal vão ser exemplo na escola, ou que a escola vai “endireita-los”.

A Família, se os políticos não mudarem de sistema está condenada ao fracasso. O que hoje é valor amanhã é contra-valor e a sociedade cada vez mais sem pontos de referência e de discernimento se há-de ser um filho que se procura ou um cãozinho ou gatinho para companhia.

A Família é a célula da sociedade?

Qual a sociedade, de anarcas?... De uma vida sem regras?

Vamos todos trabalhar defendendo os valores da família seja com valores do sínodo ou não, mas com valores com ética, moral, civismo nos média, pois, nesses pomos a nossa descrença, nem acreditamos. Há tanta coisa boa que acontece e os média esquecem-nos para vivermos uma sociedade negativa, de obscurantismo e de morte.

Como começam os noticiários?...Sempre com as notícias dramáticas, de ciúmes, de “acidentes” ou incidentes na família, na escola, na rua; de violências de toda a ordem, de esquecimento dos idosos e de preferência entregá-los a alguém 24 horas sobre 24 horas, ainda que seja a uma “criadita”, a começar a vida, como se dizia noutros tempos, sem responsabilidade, nem competência!...

Esta família não pode subsistir. A nossa luta tem de ser profunda e forte custe o que custar.

Ela deve ser minha, mas também tua porque no seio da família nascemos ambos.
 
20/10/2015                                                                                                             A. C.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

As Obras de Misericórdia


Paróquia Nossa Senhora de Fátima- Formação de Adultos

Dia: 17 de Outubro 2015 – Horas: 15:00horas

Local – Igreja da Sagrada Família (Abelheira)

Tema: “Ano do Jubileu Extraordinário da Misericórdia proclamado pelo Papa Francisco”

Tema: “As Obras de Misericórdia”

1 – Papa Francisco

É meu vivo desejo que o povo cristão reflicta, durante o Jubileu, sobre as obras de misericórdia corporal e espiritual. Será uma maneira de acordar a nossa consciência, muitas vezes adormecida perante o drama da pobreza, e de entrar cada vez mais no coração do Evangelho, onde os pobres são os privilegiados da misericórdia divina. A pregação de Jesus apresenta-nos estas obras de misericórdia, para podermos perceber se vivemos ou não como seus discípulos. Redescubramos as obras de misericórdia corporal: dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher os peregrinos, dar assistência aos enfermos, visitar os presos, enterrar os mortos. E não esqueçamos as obras de misericórdia espiritual: aconselhar os indecisos, ensinar os ignorantes, admoestar os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar com paciência as pessoas molestas, rezar a Deus pelos vivos e defuntos.

Não podemos escapar às palavras do Senhor, com base nas quais seremos julgados: se demos de comer a quem tem fome e de beber a quem tem sede; se acolhemos o estrangeiro e vestimos quem está nu; se reservamos tempo para visitar quem está doente e preso (cf. Mt 25, 31-45). De igual modo ser-nos-á perguntado se ajudamos a tirar da dúvida, que faz cair no medo e muitas vezes é fonte de solidão; se fomos capazes de vencer a ignorância em que vivem milhões de pessoas, sobretudo as crianças desprovidas da ajuda necessária para se resgatarem da pobreza; se nos detivemos junto de quem está sozinho e aflito; se perdoamos a quem nos ofende e rejeitamos todas as formas de ressentimento e ódio que levam à violência; se tivemos paciência, a exemplo de Deus que é tão paciente connosco; enfim se, na oração, confiamos ao Senhor os nossos irmãos e irmãs. Em cada um destes “mais pequeninos”, está presente o próprio Cristo.

 

2 – Parábola do Bom Samaritano (São Lucas, 10, 29-37)

“Mas ele, querendo justificar a pergunta feita, disse a Jesus: “E quem é o meu próximo?” Tomando a palavra, Jesus respondeu:

“Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores que, depois de o despojarem e encherem de pancadas, o abandonaram, deixando-o meio morto. Por coincidência, descia por aquele caminho um sacerdote que, ao vê-lo, passou ao largo. Do mesmo modo, também um levita passou por aquele lugar e, ao vê-lo, passou adiante.

Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirando dois denários, deu-os ao estalajadeiro, dizendo: “Trata bem dele e, o que gastares a mais, pagar-to-ei quando voltar.”

“Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?

Respondeu: “O que usou da misericórdia para com ele.” Jesus retorquiu: “Vai e faz tu também o mesmo.”

 

3 – “Sede Misericordiosos” – Carta Pastoral de Dom Anacleto Oliveira, Bispo de Viana do Castelo

É um tema que, como já se pode ver, nos integra simultaneamente na celebração do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que o Papa Francisco entretanto proclamou para toda a Igreja e que decorrerá entre 08 de Dezembro de 2015 e 20 de Novembro de 2016.

Será, segundo o seu desejo, um tempo “em que somos chamados, de maneira mais intensa, a fixar o olhar na misericórdia, para nos tornarmos nós mesmos sinal eficaz do agir do Pai. “É que, continua o Sumo Pontífice, “para sermos capazes de misericórdia, devemos primeiro pôr-nos à escuta da Palavra de Deus. (…) Deste modo, é possível contemplar a misericórdia de Deus e assumi-la como próprio estilo de vida.”

Esta dupla vertente da misericórdia, divina e humana, exprime-se, antes de mais, no lema escolhido pelo Papa: Misericordiosos como o Pai. Baseia-se no apelo do próprio Jesus: Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso (Lc 6, 36). Na nossa Diocese, e para nos mantermos unidos a toda a Igreja, adoptamos como lema as palavras iniciais: Sede Misericordiosos. Insistimos na acção, porque é esse o objectivo da contemplação. A misericórdia ou se pratica ou não existe. Por outro lado, é impossível agirmos como o nosso Deus, sem primeiro nos fixarmos naquilo que Ele faz por nós e quer de nós.

 

4 – Obras de Misericórdia Corporais e Espirituais

Obras de Misericórdia: Corporais: 1ª – Dar de comer a quem tem fome. 2ª – Dar de beber a quem tem sede. 3ª – Vestir os nus. 4ª – Dar pousada aos peregrinos. 5ª – Assistir aos enfermos. 6ª – Visitar os presos. 7ª – Enterrar os mortos. Espirituais: 1ª – Dar bom conselho. 2ª – Ensinar os ignorantes. 3ª - Corrigir os que erram. 4ª – Consolar os tristes. 5ª – Perdoar as injúrias. 6ª – Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo. 7ª – Rogar a Deus por vivos e defuntos.

 

5 – REFERÊNCIAS:

5.1 – Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia

5.2 – Carta Pastoral – Sede Misericordiosos – D. Anacleto Oliveira

5.3 – Catecismo da Igreja Católica

5.4 – Bíblia Sagrada

 

 

6 – OBJECTIVOS:

6.1 – Aprofundar a Consciência da prática da Misericórdia;

6.2 – Descobrir Caminhos de entrada no Coração do Evangelho;

6.3 – Assumir a Misericórdia no estilo de Vida;

6.4 – Colocar-se à Escuta da Palavra de Deus.

 

7 – REFLEXÃO PESSOAL

“Como vai a Misericórdia na Família, com os Vizinhos, na Comunidade?”

 

8 – ORAÇÃO

Mostrai-nos, Senhor, o vosso rosto e seremos salvos! Queremos acolher a salvação contemplando o vosso rosto, paterno e materno, cheio de misericórdia. Contemplando-o, queremos penetrar na ternura do vosso coração. Procuro o vosso rosto, Senhor! Mostrai-me o vosso rosto. A vossa glória, Senhor, refulge no rosto do vosso Cristo, que tem um rosto humano, semelhante ao meu, semelhante ao do meu irmão. Que eu saiba contemplar o vosso rosto também no rosto dos meus irmãos e irmãs, dos que vivem comigo, trabalham comigo, daqueles para quem eu vivo e trabalho. Ámen.

 

 

 

 

Relator: José Rodrigues Lima

Telefone: 938583275 / 258829612

Dar alma à vida LXXIV


Dar alma  à vida LXXIV
 Dar alma á vida é dar-lhe a possibilidade da gratidão ao Senhor da vida. Quanto maior a gratidão, ao jeito de Zacarias, quanto maior é a misericórdia que nos penetra, fortalece e modela.

Dar Alma à vida é o Entendimento do salmo 102/103 segundo a explicação do nosso Bispo na carta Pastoral, pág. 21, 22.
Uma vida com alma rejuvenesce, perdoa, cura, salva, tem mais graça e misericórdia.



Dar alma à vida é dar-lhe a possibilidade desta Misericórdia própria de um pai que, em vez de ser apenas uma misericórdia terrena, é uma  misericórdia duradoura e eterna.
Dar alma a Vida é Bendizer a Deus com Alma: “Bendiz ó minha alma o Senhor…” assim se encontra na referido salmo.

Dar Alma à Vida LXXIII


         Dar Alma à Vida LXXIII

 Dar Alma à Vida é dar-lhe a liberdade de mudança, de êxodo para uma terra de “leite e mel”.
Dar Alma à Vida é escutar a Palavra de Deus, dos vivos e não dos mortos, de Deus que é Fonte de Vida. Deus mostra-se como aquele que é presente.

 
Dar Alma à Vida é dar-lhe a Segurança como um caçapinho na mão de uma criança ou uma criança no colo da mãe; é sentir-se seguro mesmo no meio das diversidades da vida porque Deus nunca nos abandona.

Dar Alma à Vida é dar-lhe a Inocência como uma libelinha no dedo da mão de alguém. Deus contem a ira com mais facilidade que a misericórdia.

 
 
Dar Alma à Vida é mostrar-lhe o rosto de Jesus com uma luz forte de misericórdia divina, de um Jesus homem e divino e como homem sente e como divino dá Vida, Zacarias disse “Agora, Senhor, podeis deixar partir este servo em paz porque Deus visitou e redimiu o seu povo.” Ou como Jesus rezou citado o Antigo Testamento e o profeta Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre mim…”.
Dar Alma à Vida é dar à Vida a proximidade de um Pai Bondoso, Misericordioso.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

O tónus da riqueza do Sínodo dos Bispos 2015


O tónus da riqueza do Sínodo dos Bispos 2015

 

A riqueza do Sínodo resulta de vários fatores: a ambição do Instrumentum laboris; o número dos participantes; a diversidade da sua proveniência e estatuto; a metodologia escolhida; e, sobretudo, a atitude que é suposto ser assumida.

Quanto ao Instrumentum laboris, o tema “A vocação e a missão da família na igreja e no mundo contemporâneo”, além da apresentação, da introdução e da conclusão, é desenvolvido em três partes: a escuta dos desafios sobre a família; o discernimento da vocação familiar; e a missão da família hoje. A temática da primeira parte distribui-se por quatro capítulos: a família e o contexto antropológico-cultural; a família e o contexto socioeconómico; família e inclusão; e família, afetividade e vida. A temática da segunda abrange três capítulos: família e pedagogia divina; família e vida da Igreja: e família e caminho rumo à sua plenitude. Finalmente, vem a terceira parte com os seus quatro capítulos: família e evangelização; família e formação; família e acompanhamento eclesial; e família, generatividade e educação.

Pode efetivamente ver-se no documento uma perspetiva similar da adotada na Ação Católica: ver, ou o lançamento necessário do olhar sobre a família no mundo, com suas vicissitudes, insuficiências, dramas e esperanças; julgar, ou confrontar o panorama analisado com o Evangelho e a doutrina construída a partir dele; e agir, ou montar a estratégia e as táticas de ação da Igreja no acolhimento, apoio, formação e robustecimento das famílias e fazer das famílias consolidadas as evangelizadoras e as acompanhantes das outras famílias.

Sobre o número dos participantes, bastará assinalar as cerca de três centenas de padres sinodais que têm vez e voz na assembleia sinodal (267 com direito a voto), para lá dos observadores (34 mulheres e 17 casais), técnicos e peritos, contando-se entre estes um padre português – o padre Duarte da Cunha, de 47 anos, a trabalhar atualmente na Suíça como secretário do Conselho das Conferências Episcopais da Europa.

No atinente à proveniência e estatuto dos participantes, será de recordar que provêm de todos os recantos do mundo (de 110 países). São os presidentes das conferências episcopais (CEP) e/ou responsáveis pela pastoral da família no âmbito das respetivas CEP; são os responsáveis pelos diversos dicastérios da Cúria Romana; e são 45 nomeados pelo Papa.

A metodologia tem a ver com a organização das sessões. Além dos atos públicos com a participação da multidão – como a missa de abertura, a de encerramento e a de 18 de outubro, para assinalar o 50.º aniversário da instituição do sínodo e proceder à canonização de alguns dos atuais beatos – o sínodo é organizado por Congregações Gerais, onde já foram analisados todos os pontos do Instrumentum laboris e por sessões de 13 grupos linguísticos, os quais produziram, a 9 de outubro, documentos sobre o desenrolar dos trabalhos já efetuados. Haverá, a meio do sínodo, um relatório intercalar, sessões de Congregação Geral, para audição dos porta-vozes dos grupos linguísticos, com a respetiva discussão e a preparação do relatório final e de outros textos julgados pertinentes, como eventuais propostas de ação, mensagens, etc.  

Todos os textos são redigidos por uma comissão criada, por nomeação papal, no seio da Secretaria-Geral do Sínodo e com base nas conclusões a que chegam as Congregações Gerais.

Paralelamente, a Sala de Imprensa da Santa Sé promove conferências de imprensa moderadas pelo respetivo diretor e com a intervenção de alguns dos participantes na assembleia sinodal, os quais podem fazer as declarações públicas que entenderem pertinentes.

Segundo declarações do diretor da Sala de Imprensa, o jesuíta padre Frederico Lombardi, na conferência de imprensa do passado dia 9, “cada padre sinodal é livre de tornar público o conteúdo do seu pronunciamento, mas não pode revelar os pronunciamentos ou sínteses de discursos de outros participantes do Sínodo”.

Sobre a comissão de elaboração do Relatório final, nomeada pelo Papa e não pela assembleia, Lombardi disse que no ano passado o Santo Padre nomeou uma comissão análoga da qual muitos membros são os mesmos este ano, com a finalidade de ajudar o relator, o secretário especial e o secretário-geral na integração de várias contribuições. Sendo de centenas o número de intervenções, o porta-voz da Santa Sé afirmou que o trabalho de as integrar coerentemente no Relatório Final é altamente complexo. Por isso, Francisco nomeou no ano passado seis pessoas, além das três já automaticamente presentes: o relator, o secretário especial e o secretário-geral. Eram ao todo nove pessoas. Este ano, são dez, mas a ideia é mais ou menos a mesma.

Relativamente ao momento em que os bispos podem fazer as suas observações para o Relatório Final, Lombardi disse que ainda há tempo e podem (e são convidados para isso), se o desejam, fazer as suas observações no esboço final, na última semana do Sínodo.

Porém, a maior riqueza do Sínodo consiste na atitude a assumir. Os padres sinodais devem preocupar-se com a escuta do Espírito Santo e não cada um fazer ouvir a sua voz. Por outro lado, o sínodo, não sendo um parlamento em que tenha de se chegar a um consenso ou à unanimidade pela via negocial, postula que cada um dos participantes possa intervir e fale com inteira liberdade e franqueza e escute com atenção e respeito a palavra do outro.

Esta postura pode ajudar a criar convergências entre as divergências, a fazer luz a partir da discussão disciplinada, mas aberta. Não está em causa a doutrina, mas a ação pastoral.

***

Passemos agora à recolha de alguns testemunhos.

O arcebispo de Manila, cardeal Luis Antonio Gokim Tagle, declarando que do Sínodo não se deve esperar uma mudança da doutrina e salientando a dimensão da celebração da beleza da família, afirmou:

“A perspetiva da assembleia sinodal é a de ver, partindo da doutrina, como se pode curar e apoiar a família, sobretudo se dilacerada por sofrimentos e guerras. Não é dado por certo que ao término do sínodo será publicado um documento final. No centro dos trabalhos sinodais não estão somente os desafios e as dificuldades encontradas pelas famílias. (…) Todos os grupos disseram: celebremos também a beleza da família, o compromisso de muita gente para preservar as famílias”.

 

Por seu turno, o presidente da Conferência Episcopal dos Estados Unidos e arcebispo de Louisville, Dom Joseph Edward Kurtz, afirmou que, apesar dos contextos e experiências diferentes, as famílias estão unidas por traços distintos, sobretudo se o seu percurso é iluminado pela fé e pelo Evangelho:

“Tive o privilégio de ser hoje o primeiro relator e, portanto, depois de ter falado, pude também ouvir para verificar se existem elementos em comum: alguns elementos em comum existem. Concordo com o cardeal Tagle quando disse que os desafios que dizem respeito às famílias, dos quais falamos no ano passado, não diminuem”.

 

Também o arcebispo de Madrid, Dom Carlos Osoro Sierra, sublinhou que a ideologia do género chega a todo o lado, pela elaboração de leis e pela organização da economia. Neste contexto, “uma das intenções do Sínodo” é mostrar, da melhor maneira, a beleza da família”. E disse:

“Acredito que o que está sendo feito, e a maneira de o fazer, tão boa, seja uma escola de belas artes. Está sendo buscada a melhor pintura, os melhores pincéis para mostrar o rosto daquela que é a estrutura original da vida: a família”.

***

Paralelamente, o Sínodo ficou marcado pelas declarações de representantes da Europa, África e Médio Oriente. Alguns temas como a perseguição aos cristãos, a visão europeísta do mundo e a homossexualidade estiveram em análise sob olhares de culturas diferentes.

No dia da decapitação de três cristãos por um grupo de jihadistas, na Síria, o patriarca sírio, Inácio Younan, denunciou o “inferno” da perseguição aos cristãos no Médio Oriente. Referiu a impotência da Igreja face a esta “situação trágica” e lamentou o abandono das famílias, sobretudo do Iraque e da Síria, que fazem “todos os possíveis para sair do inferno”. E declarou amargamente que “sentimos que fomos esquecidos, mesmo traídos pelos países ocidentais”.

Segundo o patriarca sírio, as perseguições e sequestros de cristãos são um “fenómeno catastrófico” que os afetará durante muito tempo. Criticou a “política de oportunismo económico” das potências ocidentais, apelando a que se faça tudo para devolver a paz e a estabilidade. E vituperou os meios de comunicação ocidentais por enfatizarem os temas deste lado do Globo, preterindo os temas conexos com a Igreja Universal.

Do seu lado, o arcebispo de Accra, o ganês Dom Charles Gabriel Palmer-Buckle alinhou com a crítica do patriarca sírio à comunicação social do Ocidente: “Nada de bom que sai de África é suficientemente bom para os media europeus”. E estendeu a crítica ao próprio Instrumentum Laboris, por descurar a perspetiva africana.

Por outro lado, o arcebispo ganês, confrontado com as leis aprovadas em alguns países africanos que criminalizam a prática de atos homossexuais, lembrou a autointerrogação de Francisco “quem sou eu para julgar”, frisando o impacto que teve nos cristãos africanos. No entanto, alertou que a mudança requer tempo, sobretudo quando atinge algo “que faz parte da cultura há milénios”. E, evocando os documentos que têm sido publicados em África, que enfatizam a dignidade dos homossexuais, como um espelho da mudança da visão sobre esta temática, disse:

“Estamos a fazer o que podemos, mas é difícil fazer vozes isoladas serem ouvidas, sobretudo quando é algo culturalmente difícil de as pessoas perceberem. Queremos que todos os direitos de todos os filhos e filhas de Deus sejam respeitados em todo o lado e por toda a Igreja”.

 

E, enquanto o cardeal italiano Edoardo Menichelli reforçou a necessidade de conhecer “a vida das pessoas em família, como elas se relacionam e aquilo que a Igreja pode oferecer”, Palmer Buckle apontou a diferença do conceito de família em África, mais alargado, comparativamente com o da visão ocidental, que se cinge à família nuclear. Neste sentido, especificou o equilíbrio que pretendem alcançar:

“Queremos manter as alegrias do sistema de família alargada. Queremos adotar as melhores práticas do sistema de família nuclear, sem destruir as nossas tradições”.

***

 

Entretanto, não pode deixar de se assinalar a marca do quinto dia da assembleia sinodal.

Começou com um momento de oração presidido pelo Papa Francisco, que declarou:

“Estamos dolorosamente impressionados e acompanhamos com profunda preocupação o que se está a passar na Síria, no Iraque, em Jerusalém e na Cisjordânia, onde se assiste a uma escalada de violência que envolve civis inocentes e continua a alimentar uma crise humanitária de enormes proporções”.

 

Francisco apelou à comunidade internacional para que procure “formas de ajudar eficazmente as partes envolvidas a alargar os seus horizontes para lá dos interesses imediatos” e recordou que a solução para os conflitos implica o recurso aos “instrumentos do direito internacional e da diplomacia”.

Outra marca daquele dia foi a publicação dos primeiros relatórios dos 13 grupos de trabalho do Sínodo, de que se salientam alguns pontos:

O Instrumentum Laboris, documento-base para as discussões sinodais, mereceu grande destaque na conferência do dia 9, já referida, depois de os diversos relatórios – disponibilizados aos jornalistas presentes – o terem criticado nalguns aspetos.

O arcebispo de Louisville considera a linguagem do Instrumentum Laboris pouco inspiradora, afirmando:

“Precisamos de palavras mais simples, mais fáceis de perceber. Tomemos como exemplo o Papa Francisco: ele tem a capacidade de tocar os corações das pessoas quando fala. É isso que é necessário! O nosso grupo sugeriu 27 alterações, muitas delas relacionadas com a linguagem”.

 

Por seu turno, o arcebispo de Manila, a este respeito, brincou e desvalorizou as críticas:

“Neste sínodo está a ser utilizado um novo método. Por isso, é perfeitamente natural haver um pouco de confusão. Mas ser confuso é bom! Se tudo estiver demasiado claro, é sinal que podemos já não estar na vida real”.

 

Considerando o Instrumentum Laboris um “documento-mártir”, disse não fazer sentido convocar 300 pessoas para dizerem apenas “sim” sem o escrutinar.

Depois, enquanto o arcebispo de Louisville, perante a insistência dos profissionais dos media, respondia jocosamente que não eram apenas os delegados que deviam exercitar a paciência, mas também os jornalistas, o arcebispo de Manila esclareceu que o sínodo é um processo e que “naturalmente haverá conclusões” mas o importante é, de momento, a escuta dos diferentes testemunhos, “onde reside a verdadeira riqueza do sínodo”. E lembrou aos presentes que não é obrigatória a existência futura de uma exortação pós-sinodal, “algo que apenas começou a ser comum com a Evangelii Nuntiandi, de Paulo VI”, e que o Instrumentum Laboris pode mesmo vir a revestir um cariz conclusivo, sendo qualquer uma destas decisão que cabe a Francisco.

Por sua vez, o arcebispo de Madrid Carlos Osoro Sierra, presente num sínodo pela primeira vez, em resposta à questão se no Sínodo se falava apenas de famílias cristãs ou de famílias em geral, esclareceu que “falamos de família cristã, mas também estamos a falar daquilo que é a família em todas as culturas”. E, a seguir, prestou à comunicação social um testemunho na primeira pessoa sobre o significado e valor da família:

“O melhor da minha vida, não o aprendi quando fui para a universidade ou no seminário. Aprendi-o na minha família. Foi nela e com ela que aprendi as melhores coisas da minha vida! Saber amar, saber querer, saber respeitar, saber servir, saber entregar-me, saber descobrir que o outro tem muita mais importância que eu, saber respeitar os mais velhos, saber respeitar todos... Foi na minha família também que aprendi a conhecer Nosso Senhor. Os meus primeiros catequistas foram a minha mãe e o meu pai.”

 

E termina, com um ato de fé na família autenticamente cristã:

“Creio que a família cristã tem algo tão original, tem tanta força, é criadora de tanto humanismo, ajuda-nos a humanizar a nossa vida... Ensina-nos a amar incondicionalmente com uma misericórdia entranhada como a de Nosso Senhor”.

 

Já as vagas migratórias, a violência, o aborto e os métodos contracetivos foram assuntos levemente abordados durante a conferência de imprensa. Os intervenientes preferiram insistir no clima de franqueza e “diversidade cultural e situacional do sínodo” e elogiaram o “tom de celebração” associado às discussões sinodais sobre a família. O arcebispo de Madrid insistiu na família como “estrutura originária da vida” e o arcebispo de Louisville sentenciou:

“Deus não enviou o seu Filho para um palácio ou castelo, optou antes por enviá-lo para o seio de uma família”

Que toda a riqueza do Sínodo constitua verdadeira caminhada sinodal com reais frutos pastorais.

 

(Veja tudo isto mais desenvolvido nos site da arquidiocese de Braga, no da Rádio Vaticano ou na agência Ecclesia)

2015.10.12 – Louro de Carvalho

sábado, 10 de outubro de 2015

Dar Alma à Vida LXXII

Dar Alma à Vida LXXII
 
 
 

 
É dar à Vida a Trindade: Fonte de Amor, Amar, Ser Amado, segundo Santo Agostinho.
Dar Alma à Vida é dar-lhe a essência de Deus como S. João escreveu “Deus é Amor” e esta foi também a primeira encíclica do S. João Paulo II, no princípio do seu papado.
Dar Alma à Vida é dar-lhe a possibilidade da comunhão entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, do catecismo da Igreja.
Dar Alma à Vida é dar-lhe a esperança da Misericórdia de Deus, já que, na sua essência é Amor.
Dar Alma à Vida é por isso dar-lhe coração e entranhar a Vida nas entranhas da Misericórdia (S. Paulo) e o Papa Francisco assumiu que é fruto de um amor visceral, ou de uma união como a de uma mãe e um filho.
Dar Alma à Vida é mostrar à Vida que o nosso Deus “é um Deus que por misericórdia está connosco” segundo o nosso Bispo no Centro Pastoral para o Programa Diocesano da Pastoral Diocesana.
Ele é o “Emanuel”, Deus connosco, e ter esta consciência, a Vida toma outro sentido na Humanidade a gerir toda a natureza que é obra do Amor de Deus connosco.
Dar Alma à Vida é possibilitar e expandir este compromisso de misericórdia de Deus vivida também entre os homens.
Dar Alma à Vida é ler a carta pastoral de D. Anacleto para este ano de pastoral e procurar assumi-la na mente e no coração até às nossas entranhas.




 

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

O Papa Francisco e o Cântico das Criaturas


O Papa Francisco e o Cântico das Criaturas

 

No dia da memória de São Francisco de Assis, o irmão pobre por opção e o exponencial irmão universal, aqui deixo a seguinte reflexão sobre o seu Cântico das Criaturas, feito doutrina e ação da Igreja por Francisco de Buenos Aires, transformado em Pastor Universal.

Quando Georgio Mario Bergoglio foi eleito para o Sumo Pontificado, a 13 de março de 2013, assumiu o nome de Francisco, correspondendo ao apelo de um colega do conclave a que não se esquecesse dos pobres.

E, de facto, é raro vir ao de cima uma intervenção deste Papa que não remeta para o insano combate à pobreza – e para a atenção aos pobres – no que ela tem de mais nefasto: a miséria e o abandono; a fome, causada pela guerra e pela péssima distribuição da riqueza; os conflitos regionais, que tiram vidas, perseguem cidadãos e criam ondas incontidas de prófugos e refugiados; a exploração e o espezinhamento; o silenciamento e o assédio moral; a violação e o abuso sexual; a prostituição estigmatizada e de elite; a escravização; o tráfico de pessoas (sobretudo de mulheres e crianças), de órgãos e de armas; e todas as formas de discriminação.

Porém, na linha do Poverello de Assis, Bergoglio adota a pobreza santa pelo Reino de Deus e assim a propõe aos verdadeiros seguidores de Jesus de Nazaré e solicita a todos os discípulos de Cristo e filhos da Igreja que a abracem, ao menos in spiritu, para o que Reino de Deus prevaleça sobre todas as preocupações. É nesta atitude da pobreza livremente escolhida que se conseguirá o extermínio da pobreza-miséria a que uns poucos homens, impantes de poder e peritos na hábil engenharia do dinheiro e do poder, votam outros homens por força do capitalismo selvagem – seja ele privado ou estatal – que faz absoluta fé na insaciável economia de mercado e/ou na burocrática economia planificada.

E é ao serviço desta pobreza eleita contra a pobreza imposta que Francisco, o Bispo de Roma, quer uma Igreja de portas abertas ou como a cuidadora dos débeis, doentes ou feridos como que em hospital de campanha, na direção das periferias existenciais, mas sem deixar o vigor que o centro inala neste corpo servidor, sempre com referência explícita a Jesus Ressuscitado. É ao serviço desta pobreza eleita contra a pobreza como que infligida em termos de punição a muitos dos seres humanos que o cardeal argentino, tornado Papa romano, propõe a guarda do irmão, segundo o estilo querido por Deus, da família, à moda de São José, da Igreja, à semelhança do arcanjo São Miguel, e das criaturas, como Francisco de Assis.

***

Porém, enquanto o Poverello de Assis, o irmão universal, escreve o seu Cântico das Criaturas (em italiano, Cantico dele creature; em latim, Laudes Creaturarum), ou Cântico do Irmão Sol (em italiano, Cantico di frate Sol), numa perspetiva de poesia mística ou de teologia pessoal, Francisco, o Pastoral universal, escreve a sua encíclica Laudato Si’, inspirado no místico de Assis, mas como proposta doutrinal de teologia e programa de ação para toda a Igreja e para todo o mundo. É a guarda da Casa Comum que está em causa; é a obra da criação, que, ao invés do desígnio do Criador, que a concebeu para benefício de todos, corre o risco de destruição por obra da ambição de uns tantos contra a necessidade e o direito dos demais, que são milhões e milhões.

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O Cântico das Criaturas,  historicamente mencionado pela primeira vez na Vita Prima de Tommaso da Celano, em1228, é uma notável canção religiosa tipicamente cristã composta por Francisco de Assis no dialeto úmbrio, do italiano, e provavelmente uma das primeiras obras escritas naquele dialeto.

Ao invés de outras canções religiosas da época, esta é tão simples e genuína que parece quase infantil na maneira como o trovador místico louva a Deus, dando-Lhe graças por criações como o “Irmão Fogo e a “Irmã Água”. Frequentemente o Poverello se referia aos animais como irmãos e irmãs da Humanidade, rejeitava qualquer tipo de acúmulo material e confortos sensuais, em troca da “Senhora Pobreza”, a dama das suas preferências.

Francisco terá composto a maior parte do seu cântico nos fins de 1224, enquanto se restabelecia de uma doença em São Damião, numa pequena cabana para ele construída por Clara de Assis e outras mulheres pertencentes à Ordem irmã. De acordo com a tradição franciscana, ela terá sido cantada pela primeira vez pelo irmão Francisco e pelos irmãos Angelo e Leo, dois de seus companheiros originais, no leito de morte de Francisco, com o verso que louva a "Irmã Morte", acrescentado apenas alguns minutos antes.

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Neste cântico da Criação, Francisco de Assis salienta, de forma simples, aspetos importantes a ter em conta: o reconhecimento da transcendência e da bondade de Deus Criador; a asserção de que nada é tão bom como Deus, de quem procede toda a bondade; a índole maravilhosa das obras de Deus, cheias da sabedoria divina; a bondade relativa dos males que sofremos, como por exemplo a morte, e a razão de não de serem superiores na ordem universal; e o dever do homem de não se revoltar com os males que sofre, mas de louvar a Deus que, por meio desses males relativos, nos prepara bens muito maiores.

Porém, o Cântico das Criaturas não pode ser atacado pelo ângulo do panteísmo. Tanto no texto como na mente de Francisco não subsiste qualquer confusão entre criador e criatura. Com efeito, quem é louvado é o Criador pela excelência das criaturas que Ele fez do nada. Por isso, repete à maneira de estribilho: “Lodato sia mi' Signore” [Louvado sejas, meu Senhor] e afirma que só a Deus se deve louvor, glória e honra, assim como toda a bênção.

Por outro lado, Francisco afirma que as criaturas são materialmente boas e que nelas podem ser encontrados símbolos de Deus, que permitem conhecer por analogia a infinita bondade de Deus através do bem e da beleza da criação. Assim, em toda a criatura há bem material e, enquanto símbolo, toda criatura é significativa e portadora de bens e dons espirituais. Por isso, o Irmão de Assis louva em cada criatura o que ela tem materialmente de bom e os símbolos dos bens espirituais que nela existem. É assim o franciscanismo o antídoto da gnose.

Nestes termos, o poeta místico louva o irmão sol pelo bem material que nos faz; e louva a irmã água pelas suas quatro qualidades, duas materiais e duas simbólicas.

Materialmente, a água é útil e preciosa; espiritualmente, simboliza a virtude da humildade e a da castidade. É símbolo da humildade, porque procura sempre o lugar mais abaixo, precisamente como aquele que é humilde. E, como quem se humilha será exaltado, a água, que busca sempre o lugar mais abaixo, será exaltada ao encontrar a grandeza do Oceano e ao tornar-se una com ele, assumindo aí a sua grandeza. Por outro lado, é símbolo da castidade, porque, embora como ser irracional não possa ter virtudes, ela, que tudo limpa e lava (mesmo suja pode lavar, até certo ponto, as  mãos  do homem), é símbolo da castidade e da pureza.

Ademais, face a este mundo moderno, panteísta e gnóstico, que foge da cruz, é preciso recordar que até a morte corporal comporta um bem relativo e que, por isso, ela também pode ser chamada de “irmã”. E não se pode esquecer que o manso e suave Francisco de Assis não se inibe de amaldiçoar aqueles que aceitarem a morte espiritual do pecado até ao momento da morte corporal, porque só a morte do pecado é péssima: “Guai a quelli” que a morte física encontrar mortos espiritualmente pelo pecado.

Deus ilumina-nos e aquece-nos todo dia por meio do sol que bem simboliza o Criador de todas as coisas (visíveis e invisíveis), pois que, assim como a luz do sol permite que vejamos as coisas à luz da verdade física, o Verbo de Deus dá-nos a conhecer a realidade à luz da verdade total. E, assim como o sol, dando-nos calor, nos permite possuir o bem da vida física, assim o amor de Deus nos procura e nos aquece continuamente para que tenhamos a vida da graça.

No trinómio sol, luz e calor, é impossível separar o fogo da luz, separar a luz do calor, separar o calor do fogo. Fogo, luz e calor são realmente inseparáveis. Por isso, não se pode separar a omnipotência da Verdade e do Amor. Assim, Deus dispõe que, mesmo à noite, o céu estrelado gire ante o deslumbramento dos nossos olhos, provocando-nos à contemplação das belezas eternas e lembrando-nos que toda beleza terrena é passageira e que só a que não muda é verdadeiramente amável.

E, apesar desse constante e altíssimo apelo, os nossos olhos tendem a mirar e a admirar a terra. Por isso, é pertinente o apelo pascal de São Paulo:

"Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às da terra, porque estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer, então também vós aparecereis com ele na glória." (Cl 3,1-4).

Aqui fica o texto em úmbrio e em português:

Em úmbrio:

Altissimu onnipotente bon signore. Tue so le laude la gloria e l onore et onne benedictione. Ad te solo altissimo se konfano. Et nullu homo ene dignu te mentouare.
Laudato sie mi signore cum tucte le tue creature spetialmente messor lo frate sole, lo quale iorno et allumini per loi. Et ellu e bellu e radiante cum grande splendore. De te altissimo porta significatione.
Laudato si mi signore per sora luna e le stelle. In celu l ai formate et pretiose et belle.
Laudato si mi signore per frate uento et per aere et nubilo et sereno et onne tempo, per lo quale a le tue creature dai sustentamento.
Laudato si mi signore per sor acqua, la quale e multo utile et humile et pretiosa et casta.
Laudato si mi signore per per frate focu, per lo quale ennallumini la nocte, ed ello e bello et iucundo et robusto et forte.
Laudato si mi signore per sora nostra matre terra, la quale ne sustenta et gouerna et produce diuersi fructi con coloriti fiore et herba.
Laudato si mi signore per quelli ke perdonano per lo tue amore et sostengo infirmitate et tribulatione. Beati quelli ke l sosterranno in pace, ka da te altissimo sirano incoronati.
Laudato si mi signore per sora nostra morte corporale, da la quale nulla homo uiuente po skappare, guai a cquelli ke morrano ne le peccata mortali. Beati quelli ke trouara ne le tue sanctissime uoluntati ka la morte secunda nol farra male.
Laudate et benedicete mi signore et rengratiate et seruiteli cum grande humilitate.

Em português:

 

Altíssimo, Omnipotente, Bom Senhor,
Teus são o Louvor, a Glória, 
a Honra e toda a Bênção. 

Louvado sejas, meu Senhor, 
com todas as Tuas criaturas, 
especialmente o senhor irmão Sol, 
que clareia o dia e que, 
com a sua luz, nos ilumina. 
Ele é belo e radiante, 
com grande esplendor; 
de Ti, Altíssimo, é a imagem. 

Louvado sejas, meu Senhor, 
pela irmã Lua e pelas estrelas, 
que no céu formaste, claras, 
preciosas e belas. 

Louvado sejas, meu Senhor,
pelo irmão vento, 
pelo ar e pelas nuvens, 
pelo sereno 
e por todo o tempo 
em que dás sustento 
às Tuas criaturas. 

Louvado sejas, meu Senhor, 
pela irmã água, útil e humilde, 
preciosa e casta. 
Louvado sejas, meu Senhor, 
pelo irmão fogo, 
com o qual iluminas a noite. 
Ele é belo e alegre, 
vigoroso e forte. 
 
Louvado sejas, meu Senhor, 
pela nossa irmã, a mãe terra, 
que nos sustenta e governa, 
produz frutos diversos, 
flores e ervas. 

Louvado sejas, meu Senhor, 
pelos que perdoam pelo Teu amor 
e suportam as enfermidades 
e tribulações. 

Louvado sejas, meu Senhor, 
pela nossa irmã, a morte corporal, 
– Ai de quem morra em pecado mortal! –
da qual homem algum pode escapar. 

Louvai todos e bendizei o meu Senhor! 
Dai-Lhe graças e servi-O 
com grande humildade! 
 

***

Francisco de Assis, depois de ter abraçado em definitivo a dama Pobreza, começou por empreender – seguindo à letra o apelo que ouviu do Senhor: Francisco, reconstrói a minha Igreja! – a reconstrução de igrejinhas caídas, com o seu próprio trabalho, assentando pedras, comendo do que lhe davam na rua. E, após a reconstrução da Igreja de São Damião, restaurou uma capela próxima das muralhas de Assis e a Igreja de Santa Maria dos Anjos.

Porém, com o tempo, São Francisco compreendeu que deveria reconstruir a Igreja dos fiéis e não apenas as igrejas impressas em templos de pedra. E, durante a leitura do Evangelho numa celebração da Missa ouviu e compreendeu que os discípulos de Jesus – devendo possuir ouro, nem prata, nem duas túnicas, nem sandálias – devem pregar a paz e a conversão. No dia seguinte, os habitantes de Assis ficaram surpreendidos quando ele chegou com uma túnica simples, uma corda amarrada à cintura e os pés descalços. A todos que encontrava no caminho dizia: a paz esteja convosco! Francisco acabou por passar a falar da vida de Evangelho nos lugares públicos de Assis. Falava e agia com tamanha fé que o povo o ouvia com respeito e admiração.

Também Francisco, Pastor Universal, o novo amigo dos pobres e o irmão das criaturas, que habitam a Casa Comum, começou com a vida jesuítica, passou a apascentar o rebanho do povo de Deus que vive numa grande arquidiocese e agora é o megafone de Deus e das suas criaturas (seres humanos – sobretudo os pobres – os animais, as plantas, a terra, etc.) perante pequenos grupos e perante os grandes areópagos mundiais, sobretudo a partir daquele que se alberga junto do túmulo de São Pedro.

2015.10.04 – Louro de Carvalho