Sede
misericordiosos
Padre Renato Oliveira
No passado sábado, durante a
abertura do novo Ano Pastoral, que decorreu no Centro Pastoral Paulo VI, em
Darque, D. Anacleto Oliveira, Bispo Diocesano, apresentou a Carta Pastoral que
inspirará a nossa diocese ao longo deste ano 2015/16.
Recordamos que no ano anterior – em
que celebrámos os 500 anos do nascimento do Beato Bartolomeu dos Mártires – a
diocese deu início a um triénio pastoral dedicado à realidade da família,
enquanto “comunidade de vida e de amor”. Assim, e depois de no ano passado
termos reflectido sobre a fase da vida humana que vai desde a gestação até ao
final do crescimento, este ano – aproveitando a celebração dos 425 anos do
falecimento do “Arcebispo Santo” – deter-nos-emos sobre os mais «frágeis» da
família. Este tema, como explicou o Bispo Diocesano na Abertura do Ano
Pastoral, articula-se perfeitamente com o Ano Santo da Misericórdia, proclamado
pelo Papa Francisco e que terá início no próximo dia 8 de Dezembro.
Assim, e procurando conjugar a
temática da nossa diocese com o Jubileu da Misericórdia, D. Anacleto escolheu
como lema para a sua Carta Pastoral a expressão de Lc 6,36, Sede Misericordiosos.
A Carta estrutura-se, basicamente,
em quatro partes. Em cada uma, D. Anacleto procura apresentar alguns tópicos
para melhor entendermos o conceito de misericórdia, tal como o Papa Francisco o
apresenta na Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, O Rosto da Misericórdia.
Assim, na primeira parte, o Bispo
Diocesano apresenta a misericórdia como «a palavra que revela o mistério da
Santíssima Trindade». A este respeito, explica que a misericórdia permite-nos
tomar parte, de modo muito especial, na comunhão que une o Pai, o Filho e o
Espírito Santo. Na verdade, já em Ex 3,1-15, Deus se revela como aquele que
«vê, escuta, conhece e desce para junto dos seus!» (Sede Misericordiosos, nº 7). Todavia, é em Jesus que podemos
encontrar, de modo privilegiado, o rosto da misericórdia de Deus.
Efectivamente, Jesus transmite ao vivo o amor do Pai celeste que é bom até para os ingratos e os maus (Lc
6,35) e não quer a morte do pecador, mas
antes que se converta e viva (Ez 33,11), explica D. Anacleto no número dez
da Carta Pastoral.
Por conseguinte, «perante tanta
misericórdia, resta-nos a gratidão ao Senhor, sabendo que, quanto mais o
bendizemos, mais Ele penetra nas nossas vidas e nos deixamos fortalecer e
modelar pela sua misericórdia» (nº 11).
Na segunda parte, D. Anacleto
ajuda-nos a compreender a misericórdia como «o acto supremo pelo qual Deus vem
ao nosso encontro». Neste sentido, começa por sugerir que cada um coloque diante
de si um crucifixo e o contemple: «fixemos o olhar nas suas mãos estendidas na
cruz para a todos acolher e abraçar, bons e maus. Fixemo-lo no seu coração, do
qual brotou sangue e água, que nos
saciam com a força vivificante do seu Espírito» (nº 14).
De seguida, e partindo do episódio
da cura do paralítico (Mc 2,1-12), D. Anacleto refere que Jesus, com os seus
sinais prodigiosos, não se preocupa apenas com a cura corporal, mas também com
a cura espiritual, as quais estão intimamente ligadas. Por isso, nesse
episódio, diz ao doente: Filho, os teus
pecados estão perdoados (Mc 2,5). Assim, deixou-nos «os sacramentos da
Penitência e da Unção dos Enfermos, para nos libertarem, respectivamente dos
males do pecado, (…) e dos males da doença» (nº 18). Estes dois sacramentos,
chamados habitualmente de “cura”, podem também ser chamados da “misericórdia”,
– defende D. Anacleto – tendo em conta a sua origem e o caminho percorrido até
à cura.
No que se refere ao sacramento da
Penitência, D. Anacleto aborda-o a partir dos diferentes nomes com que este é
chamado, os quais apontam para diferentes aspectos do mesmo sacramento:
“Sacramento da Conversão”, “Penitência”, “Confissão”, “Perdão” e
“Reconciliação”. Ainda neste capítulo, D. Anacleto defende que o sacramento da
Unção dos Enfermos, longe de ser um remédio milagroso ou um sacramento para
moribundos, é uma celebração da fé, uma celebração da Igreja que, por
princípio, se deveria realizar na comunidade cristã (Cf. nº 27).
Na terceira parte, o Bispo Diocesano
detém-se sobre a misericórdia, enquanto «lei fundamental que mora no coração do
homem». A este respeito, explica que, aplicada à Igreja, a misericórdia é
“obrigatória” (nº 30). Sem a misericórdia – acrescenta – a Igreja é
“impensável”. De seguida, explica que a misericórdia nos deve levar a perdoar, a
corrigir, a honrar os idosos e a aproximar-nos dos doentes.
Finalmente, no último capítulo, a
misericórdia é-nos apresentada como «o caminho que nos abre à esperança de
sermos amados para sempre». Diz-nos a este propósito: «O que esperamos é a
etapa definitiva desta união (entre Deus e o ser humano), aquela em que
gozaremos da felicidade prometida por Jesus: Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia (Mt
5,7); ou, por outras palavras, a etapa em que herdaremos a vida eterna acessível a quem, amando a Deus e ao próximo, põe em
prática a compaixão do bom samaritano (Lc 10,25)» (nº 44).
D. Anacleto, seguindo o conselho do
Santo Padre, termina a sua Carta Pastoral, dirigindo a Maria, «Mãe de
Misericórdia», a oração da Salve-Rainha,
pedindo-lhe que nos proteja “neste vale de lágrimas” (Cf. nº 50).
Sem comentários:
Enviar um comentário