quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Sede misericordiosos


Sede misericordiosos
    Padre Renato Oliveira

 
            No passado sábado, durante a abertura do novo Ano Pastoral, que decorreu no Centro Pastoral Paulo VI, em Darque, D. Anacleto Oliveira, Bispo Diocesano, apresentou a Carta Pastoral que inspirará a nossa diocese ao longo deste ano 2015/16.

            Recordamos que no ano anterior – em que celebrámos os 500 anos do nascimento do Beato Bartolomeu dos Mártires – a diocese deu início a um triénio pastoral dedicado à realidade da família, enquanto “comunidade de vida e de amor”. Assim, e depois de no ano passado termos reflectido sobre a fase da vida humana que vai desde a gestação até ao final do crescimento, este ano – aproveitando a celebração dos 425 anos do falecimento do “Arcebispo Santo” – deter-nos-emos sobre os mais «frágeis» da família. Este tema, como explicou o Bispo Diocesano na Abertura do Ano Pastoral, articula-se perfeitamente com o Ano Santo da Misericórdia, proclamado pelo Papa Francisco e que terá início no próximo dia 8 de Dezembro.

            Assim, e procurando conjugar a temática da nossa diocese com o Jubileu da Misericórdia, D. Anacleto escolheu como lema para a sua Carta Pastoral a expressão de Lc 6,36, Sede Misericordiosos.

            A Carta estrutura-se, basicamente, em quatro partes. Em cada uma, D. Anacleto procura apresentar alguns tópicos para melhor entendermos o conceito de misericórdia, tal como o Papa Francisco o apresenta na Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, O Rosto da Misericórdia.

            Assim, na primeira parte, o Bispo Diocesano apresenta a misericórdia como «a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade». A este respeito, explica que a misericórdia permite-nos tomar parte, de modo muito especial, na comunhão que une o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Na verdade, já em Ex 3,1-15, Deus se revela como aquele que «vê, escuta, conhece e desce para junto dos seus!» (Sede Misericordiosos, nº 7). Todavia, é em Jesus que podemos encontrar, de modo privilegiado, o rosto da misericórdia de Deus. Efectivamente, Jesus transmite ao vivo o amor do Pai celeste que é bom até para os ingratos e os maus (Lc 6,35) e não quer a morte do pecador, mas antes que se converta e viva (Ez 33,11), explica D. Anacleto no número dez da Carta Pastoral.

            Por conseguinte, «perante tanta misericórdia, resta-nos a gratidão ao Senhor, sabendo que, quanto mais o bendizemos, mais Ele penetra nas nossas vidas e nos deixamos fortalecer e modelar pela sua misericórdia» (nº 11).

            Na segunda parte, D. Anacleto ajuda-nos a compreender a misericórdia como «o acto supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro». Neste sentido, começa por sugerir que cada um coloque diante de si um crucifixo e o contemple: «fixemos o olhar nas suas mãos estendidas na cruz para a todos acolher e abraçar, bons e maus. Fixemo-lo no seu coração, do qual brotou sangue e água, que nos saciam com a força vivificante do seu Espírito» (nº 14).

            De seguida, e partindo do episódio da cura do paralítico (Mc 2,1-12), D. Anacleto refere que Jesus, com os seus sinais prodigiosos, não se preocupa apenas com a cura corporal, mas também com a cura espiritual, as quais estão intimamente ligadas. Por isso, nesse episódio, diz ao doente: Filho, os teus pecados estão perdoados (Mc 2,5). Assim, deixou-nos «os sacramentos da Penitência e da Unção dos Enfermos, para nos libertarem, respectivamente dos males do pecado, (…) e dos males da doença» (nº 18). Estes dois sacramentos, chamados habitualmente de “cura”, podem também ser chamados da “misericórdia”, – defende D. Anacleto – tendo em conta a sua origem e o caminho percorrido até à cura.

            No que se refere ao sacramento da Penitência, D. Anacleto aborda-o a partir dos diferentes nomes com que este é chamado, os quais apontam para diferentes aspectos do mesmo sacramento: “Sacramento da Conversão”, “Penitência”, “Confissão”, “Perdão” e “Reconciliação”. Ainda neste capítulo, D. Anacleto defende que o sacramento da Unção dos Enfermos, longe de ser um remédio milagroso ou um sacramento para moribundos, é uma celebração da fé, uma celebração da Igreja que, por princípio, se deveria realizar na comunidade cristã (Cf. nº 27).

 
            Na terceira parte, o Bispo Diocesano detém-se sobre a misericórdia, enquanto «lei fundamental que mora no coração do homem». A este respeito, explica que, aplicada à Igreja, a misericórdia é “obrigatória” (nº 30). Sem a misericórdia – acrescenta – a Igreja é “impensável”. De seguida, explica que a misericórdia nos deve levar a perdoar, a corrigir, a honrar os idosos e a aproximar-nos dos doentes.

            Finalmente, no último capítulo, a misericórdia é-nos apresentada como «o caminho que nos abre à esperança de sermos amados para sempre». Diz-nos a este propósito: «O que esperamos é a etapa definitiva desta união (entre Deus e o ser humano), aquela em que gozaremos da felicidade prometida por Jesus: Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia (Mt 5,7); ou, por outras palavras, a etapa em que herdaremos a vida eterna acessível a quem, amando a Deus e ao próximo, põe em prática a compaixão do bom samaritano (Lc 10,25)» (nº 44).

            D. Anacleto, seguindo o conselho do Santo Padre, termina a sua Carta Pastoral, dirigindo a Maria, «Mãe de Misericórdia», a oração da Salve-Rainha, pedindo-lhe que nos proteja “neste vale de lágrimas” (Cf. nº 50).



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