sexta-feira, 31 de maio de 2013

Um casamento com panorama antigo e almoço na grande sala da Casa ou bebaixo da Vinha


Casamento

Família Na Argentina


Família Reis na América


Não é verdade

 
 
 
 
 
 
 
Quem? 
 
 

O animal ao serviço do homem ou o homem ao serviço do animal?

 
 
 
 

“O Diálogo Inter-religioso” -- Igreja da Sagrada Família (Abelheira)


Paróquia Nossa Senhora de Fátima

Formação de Adultos

Ano da Fé – 11 Outubro 2012 a 24 Novembro 2013

 

Dia 23 Fevereiro: Local – Igreja da Sagrada Família (Abelheira) Horas: 15horas

 

Tema: “O Diálogo Inter-religioso”

1.        “Há um só Deus e Pai de todos” (linguagem bíblica)

“O Reino de Deus é muito grande e diversos são os caminhos…”

“Todos seremos transformados pela vitória de Nosso Senhor Jesus Cristo” (1.Cor. 15,51)”

“A Fé é tridimensional – o ato de dar tem dimensão intelectual, afetiva e prática”

“Precisamos aprofundar o património bíblico, teológico, litúrgico e espiritual com o conhecimento recíproco, com a conversão do coração e com a oração”

“Não há diferença entre Judeu e Grego… todo aquele que invocar o Senhor será santo (Rom. 10, 8-13)”

2 – Citações Bíblicas:

2.1. – A Oração que o Senhor Jesus fez na Última Ceia:

“Que todos sejam um, ó Pai” (Jo. 17,21)

2.2 – (anexo) (2.2 + 2.3)

Inquestionavelmente declara a Revelação escrita de Deus sobre um Ser que é Um. Sua unidade, sua exclusividade: “Eu sou o SENHOR, e não há outro; fora de mim não há Deus”; “Para que se saiba desde o nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o SENHOR, e não há outro”; “Pois não há outro Deus senão eu; Deus justo e Salvador não há além de mim. Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não outro” (Is 45.5a,6; 21b,22). Mas declara de igual forma a mesma Revelação de um Deus que subsiste em Três Pessoas: O Pai, o Filho e o Espírito Santo. Toda a amplitude da Revelação divina dá testemunho cabal das triunidade de Deus.

Alegramo-nos sobremaneira pela forma como a Palavra de Deus foi preservada, tendo chegado até aos nossos dias. Pela maneira zelosa de Deus em cuidar para que no decorrer dos séculos, Seus oráculos estivessem preservados de forma escrita e disponíveis aos homens. Mas a compreensão cristã de Deus poderá empobrecer-se ao tentarmos racionalizar o que sabemos sobre Ele. A visão é de um Deus que criou todas as coisas. De um Deus do qual vemos Sua glória refletida nas maravilhas do mundo natural. Um Deus redentor, cuja bondade e amor pelo ser humano são vistos na amorável Pessoa de Jesus Cristo. Um Deus presente nas vidas daqueles que vivem e crêem n’Ele, na Pessoa do Espírito Santo. O Mistério, a Majestade e a Glória de Deus. Qual a atitude diante de tal grandeza?

Reverência. Como não ter outra atitude diante d’Aquele que é Supremo e Absoluto? Não é medo, o paralisante e castrador medo. Ao contrário, a Pessoa de Deus nos leva à alegria. Abrimos nosso coração e nossa mente ao Ser que em Sua excelência e perfeição cativa-nos de tal forma que até mesmo aquilo que d’Ele não conseguirmos compreender, nos admiramos, e encurvamos nossas frontes em profunda adoração, reconhecendo a Majestade e a Glória de tal Mistério.

Paulo, de forma admirável, traduziu esta rendição ao Ser Inefável por excelência: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Porque, quem compreendeu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele, e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém” Rm 11.33-36).

Esperamos confiantes o dia em que Jesus Cristo, Deus Filho, se manifestar pela segunda e derradeira vez a este mundo. O plano de Deus para redenção do ser humano encontrará sua plenitude neste glorioso dia. E passaremos então a estar eternamente em sua Presença. Mas, mesmo em Sua eterna companhia, ainda por toda eternidade, em eras que tombarão sobre eras, não conseguiremos compreender plenamente a grandeza de nosso Deus. Seu Mistério, Sua Majestade e Sua Glória permanecerão: “Desde a antiguidade fundaste a terra, e os céus são obra das tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permanecerás; todos eles se envelhecerão como um vestido; como roupa os mudarás, e ficarão mudados. PORÉM TU ÉS O MESMO, E OS TEUS ANOS NUNCA TERÃO FIM” (Sl 102.25-27).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

3 – Diálogo Inter-religioso

Anexo 3

Diálogo inter-religioso: O desafio do nosso tempo
Por: RAMIRO LOUREIRO DA CRUZ, Missionário comboniano



http://www.alem-mar.org/cgi-bin/gd_imager.pl?img=/imgs/2007/01/A-M_Jan07_Pag14.jpg&width=150&height=150

O diálogo inter-religioso é o grande desafio que se apresenta hoje à Igreja, de um modo particular neste mundo da globalização que se está a afirmar perante os olhos estupefactos tanto dos que a aprovam como dos que dela discordam. Alguém já vai dizendo que não estamos simplesmente perante uma época de mudanças, mas sim de uma mudança de época.

 

Confrontados com o choque de civilizações, que ameaça levantar-se no horizonte dos começos do século XXI, os olhares viram-se para as religiões que delas fazem parte como componentes substanciais. As religiões são, por isso, chamadas a contas. «Não haverá paz entre as nações sem a paz entre as religiões. Não haverá paz entre as religiões sem o diálogo entre as religiões. Não haverá diálogo entre as religiões se não se investigam os fundamentos das religiões» – assim nos apresenta o tema Hans Küng na primeira página do seu último livro O Islão – História, Presente, Futuro.

O diálogo inter-religioso é um tema que se foi impondo gradualmente a partir dos debates verificados na aula conciliar, desde 1962 a 1965. O Papa Paulo VI começou a sua primeira encíclica Ecclesiam Suam de 1964 dizendo que «a Igreja faz-se palavra, mensagem, colóquio… A origem transcendente do diálogo está na mesma intenção de Deus. A Revelação, quer dizer, a relação sobrenatural instaurada com a humanidade, pode ser representada num diálogo com que o Verbo de Deus se expressa na Encarnação e, portanto no Evangelho». A esta justificação teológica do diálogo oferecida por Paulo VI, e na mesma direcção, seguiram-se os documentos conciliares Lumen Gentium, Ad Gentes, Gaudium et Spes e sobretudo Dignitatis Humanae e Nostra Aetate. 

Podemos considerar que a porta de abertura para a reflexão sobre o diálogo inter-religioso, que viria a desenvolver-se posteriormente, está nestas palavras do concílio que diz, no número 22 da Gaudium et Spes: «E o que fica dito vale não só para os cristãos, mas para todos os homens de boa vontade, em cujos corações a graça opera ocultamente… Com efeito, já que por todos morreu Cristo e a vocação última de todos os homens é realmente uma só, a saber, a divina, devemos manter que o Espírito Santo a todos dá a possibilidade de se associarem a este mistério pascal, por um modo só de Deus conhecido.» Os teólogos não têm tido tarefa fácil ao tentar oferecer pistas para uma compreensão desta afirmação conciliar e do papel das outras religiões em relação com a salvação operada por Cristo. Trata-se de uma salvação pessoal em cuja acção toma parte também a comunidade social e religiosa a que a pessoa está ligada.

A declaração Dignitatis Humanae veio consagrar a liberdade religiosa e afirmar a dignidade da consciência que deve ser respeitada. A declaração Nostra Aetate, por seu lado, afirmou a estima e o reconhecimento que a Igreja Católica tem pelos valores presentes nas outras religiões, expressamente no Hinduísmo, Budismo, Islamismo, Judaísmo. Estas «reflectem não raramente um raio da verdade que ilumina todos os homens». A declaração conciliar não ignora a herança histórica das contendas com o Islão: «Surgiram entre cristãos e muçulmanos não poucas discórdias e ódios, e este sagrado Concílio exorta todos a que, esquecendo o passado, sinceramente se exercitem na compreensão mútua e juntos defendam e promovam a justiça social, os bens morais e a paz e liberdade para todos os homens.»

 

Conhecimento recíproco

 

O diálogo inter-religioso não era só teoria a expor mas compromisso a assumir. Por isso, de imediato, se pensou em criar, em 1964, um organismo operativo: o Secretariado para os Não Cristãos, a que viria a suceder mais tarde o Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso. Presentemente, o cardeal Poupard preside a este Conselho, juntamente com o Conselho para a Cultura. Há lógica na união dos dois conselhos, por via das relações entre ambos e entre religiões e culturas. Corremos o risco de confundir as coisas, quando não se sabe distinguir o que é problema cultural e problema religioso, e o que é do âmbito profano e do âmbito especificamente religioso.

O Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso elaborou dois documentos que marcaram o caminho do diálogo: Diálogo e Missão, de 1984, e Diálogo e Anúncio, de 1991. Sobretudo este último tratou de aspectos muito específicos. No número 9 definiu o diálogo como «conjunto das relações inter-religiosas, positivas e construtivas, com pessoas e comunidades de outros credos para um conhecimento mútuo e um enriquecimento recíproco». Sublinhou, no número 14, que o diálogo requer «justa e correcta avaliação teológica das outras tradições religiosas». Chamou a atenção, no número 17, para a «presença de valores positivos não só na vida religiosa de cada crente das outras tradições religiosas, mas também nas mesmas tradições religiosas a que eles pertencem... presença activa de Deus pelo Verbo e a acção universal do Espírito». Elogiou, no número 27, as experiências genuínas das religiões, como a oração, dizendo que «toda a oração autêntica é suscitada pelo Espírito Santo, o qual está misteriosamente presente no coração de cada homem, quer seja cristão quer não». Valorizou, no número 29, a ascese e as práticas religiosas, afirmando que «é através da prática daquilo que é bom nas suas próprias tradições religiosas, e segundo os ditames da sua consciência, que os membros das outras religiões respondem afirmativamente ao convite de Deus e recebem a salvação em Jesus Cristo mesmo se não o reconhecem como o seu Salvador». Sugeriu também, nos número 32 e 36, a oportunidade de uma certa autocrítica, a fazer pelos cristãos, ao sublinhar que «os próprios cristãos devem aceitar ser postos em discussão... o modo como compreendem a própria salvação e a vivem pode ter necessidade de purificação»; e ao admitir que «a Igreja mesma «enquanto “instituição humana e terrena,” e não só os seus membros, tem sempre necessidade de renovação e reforma». E concluiu, no número 41, que «o diálogo sincero supõe aceitar reciprocamente a existência das diferenças, ou também das contradições e respeitar a livre decisão que as pessoas tomam em conformidade com a própria consciência».

 

Formas de diálogo

 

O mesmo documento passa, depois, a descrever as diversas formas de diálogo. Podemos descrevê-las e enumerá-las da seguinte forma. Antes de mais temos o «diálogo de vida». A vida moderna põe as várias religiões em contacto constante. Por exemplo, hoje com o fenómeno das migrações, facilmente todos fazemos a experiência de ter de tratar, trabalhar e conviver com pessoas de outras culturas e confissões religiosas. Depois, temos o «diálogo de obras»: por esta expressão entendemos o diálogo que se estabelece quando pessoas de diferentes tradições religiosas se unem para realizar iniciativas sociais e humanitárias em colaboração. Seguidamente, falamos de «diálogo dos intercâmbios teológicos», a forma de diálogo que se revela muito preciosa para superar incompreensões e preconceitos. Por último, e nesta linha de pensamento e acção, falamos também de «diálogo das experiências religiosas», a forma de diálogo mais enriquecedora mas que exige também o acompanhamento mais cuidadoso.

No número 48, o documento recorda o que o diálogo exige aos cristãos: «os cristãos não se devem esquecer que Deus também se manifestou de qualquer modo aos seguidores das outras tradições religiosas» e que «a plenitude da verdade recebida em Jesus Cristo não dá aos cristãos individualmente a graça de terem assimilado de modo pleno essa verdade... devem estar dispostos a aprender e a receber dos outros... os valores positivos das suas tradições... vencer os preconceitos inveterados, rever as ideias preconcebidas e aceitar que a sua fé seja purificada».

 

Visão positiva

 

Os documentos sobre o diálogo e a reflexão que se lhes seguiram apresentam o diálogo como um factor positivo, de aprofundamento da própria fé, e não como elemento negativo que a leva a enfraquecer. O Diálogo e Anúncio, no número 50, diz mesmo que «o diálogo, longe de lhes enfraquecer a fé, torná-la-á mais profunda... compreenderão mais claramente os elementos distintivos da mensagem cristã e a presença operante do mistério de Jesus Cristo para além dos confins visíveis da Igreja e do rebanho cristão».

É caso para recordar o refrão: «Quem conhece uma religião só, não conhece nenhuma religião.» Nesse sentido são de louvar os esforços que se estão a fazer para preparar manuais de educação religiosa que ajudam os professores e catequistas a passar aos jovens alunos e educandos uma informação e formação mais ecuménica e aberta ao pluralismo religioso e intercultural.

Podemos ver o diálogo inter-religioso como fazendo parte da história da salvação. O Génesis diz-nos que tudo teve início pela Palavra, o logos, de Deus. Deus diz e a sua palavra faz ser. A Palavra de Deus é o mediador imediato entre Deus e as criaturas. Através da palavra cria-se um movimento dialógico entre Criador e criatura, na salvaguarda da diferença ontológica. Com a vinda de Cristo «a palavra faz-se carne» e Ele é o fulcro do movimento unificador e relacional entre Deus e a sua criação. Cristo é a Palavra que se faz alguém vivente; com Ele o transcendente faz-se presente no imanente, numa relação criadora/reveladora entre Deus e o ser criado por excelência – o homem.

 

Único Logos 

No diálogo inter-religioso, uma das questões mais problemáticas é a que se refere ao lugar de Jesus Cristo na criação, na revelação e no caminho de salvação das pessoas e dos povos. Para o cristianismo, ele é «único» e ocupa um lugar central tanto em relação à teologia da revelação como da salvação. Cristo e a sua função mediadora única são um impedimento ao diálogo? O desafio para os cristãos é transformarem esta dificuldade em oportunidade e pensarem o diálogo desde Cristo.

Em Cristo a Palavra da criação e a da revelação são um único logos que se abre à diversidade e se relaciona com ela num diá-logos contínuo. Mediante a palavra de Deus em sentido «transcendente» tudo é criado, mediante a palavra de Deus em «sentido humano», em Jesus, recria-se a relação originária do homem com Deus.

Se Cristo é o logos através do qual Deus cria todas as coisas e se Cristo, mesmo que Filho é um todo com Deus Pai, não é então possível separar a palavra do sujeito falante, o Deus que cria e o Deus que se revela, através do seu fazer-se homem, falando palavras de homem. Bem o põe em relevo o início do Evangelho de S. João: «No princípio era o Verbo e o Verbo estava voltado para Deus e o Verbo era Deus... E o Verbo se fez homem e habitou ente nós.»

Cristo torna-se palavra de Deus para os homens e palavra de Deus entre os homens. N’Ele a palavra de Deus e as palavras dos homens ressoam juntas. 

Cristo como paradigma

Ele é o diálogo por excelência, é o espaço, o centro e a fonte do movimento relacional entre as diversas linguagens dos homens e de Deus. Por isso quem dialoga põe a sua relação pessoal com os outros no interior da relação que Deus quer fomentar com os homens.

Para os cristãos, Jesus Cristo torna-se o paradigma de referência para toda a relação autenticamente dialógica. O logos divino, num processo de gratuita autocomunicação que só se justifica à luz da liberdade e do amor, sai da morada inacessível da própria transcendência e imerge na contingência do finito, apresentando-se ao mundo como «médium» de relação, inaugurando assim uma nova modalidade de comunicação de Deus com o homem e dos homens entre si. Cristo é «dia-logo» enquanto Deus que se faz homem e homem que é Deus, mediador único entre criação e revelação, símbolo fundador, unificação de dois opostos, homem e Deus.

A relação dialógica deve ser assim entendida como relação de diferentes logoi, conceitos, sensações, acções expressas em palavras a dizer ao outro e a escutar do outro. Cristo é o símbolo absoluto, o diálogo originário, a pedra de alicerce do sentido de todo diálogo inter-humano. Ele mesmo diz: «onde dois ou três se encontram reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles» (Mt 18, 20).

Por isso, e em conclusão, à luz destes conceitos talvez melhor seria falarmos de triálogo e recordarmos que para se conseguir um diálogo inter-religioso mais eficaz precisamos de colocar Cristo entre nós e os nossos interlocutores, ouvirmos as suas sugestões e estarmos disponíveis à sua inspiração.

 

 
Para conhecer Mais
 
– Rumo a uma teologia cristã do pluralismo religioso, de Jacques Dupuis. São Paulo: Paulinas, 1999                 
– Olhar o Património Religioso Entender a Cultura. Lisboa: Paulinas, 2004
– Relatório 2006 – Liberdade Religiosa No Mundo  Lisboa: Fundação Ajuda à Igreja que sofre, 2006
– Diálogo Inter-religioso, Paulinas, 2005
– O que é religião, Robert Crawford, Vozes 
– Religiões, Paulinas, Lisboa, 2006
 

 

 

 
QUATRO GRANDES INTERLOCUTORES
 
Ao propor o diálogo inter-religioso, o Concílio Vaticano II identificou quatro grandes religiões: o Judaísmo, o Islão, o Hinduísmo e o Budismo. Nos anos que se seguiram, a reflexão e a prática do diálogo incluíram igualmente as religiões tradicionais na África e as religiões afro-índias na América.
 
Judaísmo: A submissão a Deus
 
O Islão teve os seus inícios há 1400 anos na península da Arábia. Depressa se tornou uma religião mundial, actualmente com um bilião e duzentos milhões de fiéis. A palavra «islão» significa submissão à vontade de Deus, pela qual uma pessoa atinge paz e segurança. A pessoa submete-se à vontade de Deus, Allah, vivendo segundo as prescrições que Deus revelou ao seu profeta Maomé. O Islão é mais que uma fé: é um sistema que fornece as leis e governa todos os aspectos da vida social, familiar, individual e colectiva, desde os rituais religiosos às prescrições que dizem respeito ao vestir e ao conviver em sociedade.
A fé islâmica diz que existe um só Deus, chamado Allah, e que o seu profeta é Maomé. Todos os que seguem a fé islâmica são membros da mesma comunidade, a «ummah». O seu livro sagrado é o Alcorão, que consideram como palavra de Deus revelada e inalterável. O seu lugar de culto é a mesquita, da palavra árabe «lugar de prostração». Os pilares do Islão como religião são cinco: a profissão de fé (shahada); a oração (salat) feita ritualmente cinco vezes por dia, do nascer ao pôr do sol, em direcção a Meca; o jejum (sawm), especialmente durante o mês do Ramadão, o nono do calendário; a oferta aos pobres (zakat); a peregrinação a Meca (Hajj), o mais sagrado dos lugares islâmicos e onde os fiéis devem peregrinar ao menos uma vez na vida.
 
Islão: O Deus da Eleição
 
O Judaísmo é a mais antiga do grupo das três grandes religiões monoteístas mundiais, juntamente com o Cristianismo e o Islão. É também a mais pequena, com apenas 12 milhões de fiéis. O Holocausto, perpetrado contra os judeus durante a Segunda Guerra Mundial, mudou a demografia do Judaísmo: se não tivesse ocorrido, existiriam agora entre 25 e 30 milhões de judeus, a maioria a viver na Europa. Hoje a maioria da população judaica vive em Israel e nos Estados Unidos da América. O Judaísmo não procura convertidos; as pessoas que se convertem devem submeter-se à observância da Lei de Moisés e, se são homens, submeter-se à circuncisão.
A essência do Judaísmo é a pertença à comunidade judaica e a vida segundo as leis e tradições judaicas. Os elementos fundamentais da fé judaica são: há um só Deus, todo-poderoso, que criou o Universo e tudo o que este contém; Deus estabeleceu uma relação especial com o povo judaico, relação cimentada na aliança estabelecida por Deus com Moisés no monte Sinai há 3500 anos. O lugar de culto é a sinagoga. O líder religioso da comunidade judaica é o rabino. O dia sagrado é o sábado, durante o qual os judeus observantes não fazem qualquer actividade que possa ser identificada com trabalho. O livro sagrado é a Bíblia, a Torah, da qual ao menos uma cópia escrita em pergaminho dever ser conservada em cada sinagoga.
 
Hinduísmo: Deus em tudo
 
Hinduísmo é o nome dado a uma família de religiões e culturas que floresceu na Índia e que hoje conta com 700 milhões de seguidores. O Hinduísmo não tem fundador, nem credo, nem uma fonte de autoridade religiosa. Inclui uma vasta gama de crenças e práticas religiosas. Comum aos hinduístas é a crença num Deus, divindade suprema, que está presente em tudo. Os hinduístas assumem que a alma passa através de um ciclo de reincarnações e acreditam no carma, uma força que determina a qualidade de cada vida e que depende da bondade com que a pessoa viveu na vida anterior. O culto hinduísta é feito em casa, onde habitualmente lhe é destinado um local próprio. Os templos hindus são o centro social da religião, mas não existe uma forte tradição de culto colectivo, comunitário. Tradicionalmente o Hinduísmo não procurava convertidos, mas alguns grupos modernos procuram-nos. O Hinduísmo não é religião à maneira das religiões ocidentais: não tem um credo definido de verdades, não tem fundador ou mediador religioso, nem tem um livro sagrado que é tido como única fonte de inspiração para viver bem. Como religião, o Hinduísmo é mais uma atitude diante do Universo e uma forma de viver nele. Está ligado à vida, ao contexto político, social e cultural onde nasceu e se desenvolveu graças aos ensinamentos e à sabedoria dos seus seguidores.
 
Budismo: A Iluminação
 
O Budismo constitui hoje uma vasta e complexa tradição religiosa, que conta com 2500 anos de história e se desenvolveu no Oriente: Índia, Sri Lanka, Tailândia, Indochina, China. Em alguns destes países constitui a religião da maioria e noutros é religião de Estado. Desenvolveu-se como religião racional, sem dogmas, oferecendo aos seus seguidores uma guia espiritual e um caminho para a transformação pessoal, características que a tornam atractiva também no Ocidente.
«Budha» significa «aquele que despertou, que obteve a iluminação». Assume-se que a maioria das pessoas vive adormecida e nunca se desperta para a vida como esta realmente é. Por isso, sofre. Budha é alguém que desperta para o sentido do mundo como ele realmente é e por isso se liberta do sofrimento.
O Budismo não tem um credo de verdades, uma autoridade religiosa única ou um único livro sagrado. A experiência religiosa budista está centrada na pessoa que procura a iluminação. As crenças e os valores centrais estão contidos nas «quatro nobres verdades e nos oito caminhos» que permitem atingir o nirvana, o estado final da iluminação, no qual toda a acção e interacção cessam.
 
World Mission, Outubro 2006
 

4 – O diálogo religioso e as suas condições

1. O Diálogo inter-religioso e suas condições

O ser humano é um nó de relações, não podendo ser compreendido de forma

destacada do outro com o qual se comunica. O diálogo constitui, assim, uma

dimensão integral de toda a vida humana. É na relação com o tu, que o sujeito

constrói e aperfeiçoa a sua identidade. Trata-se de uma experiência humana

fundamental e “passagem obrigatória” no caminho da auto-realização do indivíduo

e da comunidade humana.8 O que conta no diálogo é a reciprocidade existencial, o

“intercâmbio de dons”, a dinâmica relacional que envolve a semelhança e a

diferença em processo rico de abertura, escuta e enriquecimento mútuos. É neste

contexto dialogal que a identidade vai ganhando fisionomia e sentido, enquanto

expressão de uma busca que é incessante, árdua e criativa.

Dentre a extensa variedade de formas de diálogo, situa-se o diálogo inter-religioso

com sua peculiaridade própria. Trata-se do “conjunto das relações inter-religiosas,

positivas e construtivas, com pessoas e comunidades de outras confissões

religiosas, para um mútuo conhecimento e um recíproco enriquecimento”9. O

diálogo inter-religioso instaura uma comunicação e relacionamento entre fiéis de

tradições religiosas diferentes, envolvendo partilha de vida, experiência e

conhecimento. Esta comunicação propicia um clima de abertura, empatia, simpatia

e acolhimento, removendo preconceitos e suscitando compreensão mútua,

enriquecimento mútuo, comprometimento comum e partilha da experiência

religiosa. “O diálogo inter-religioso acontece em vários níveis e envolve tanto

indivíduos como comunidade. Movido pelo espírito vindo de aspectos exteriores

para aspectos mais interiores da vida, ele leva a níveis mais profundos de

comunhão no Espírito, sem detrimento da experiência religiosa específica de cada

comunidade, mas aprofundando-a”10. Este relacionamento inter-religioso ocorre

entre fiéis que estão enraizados e compromissados com sua própria fé, mas

igualmente disponíveis ao aprendizado com a diferença.

Uma das condições mais essenciais para o diálogo inter-religioso é a virtude da

humildade. No diálogo experimenta-se a consciência dos limites e a percepção da

presença de um mistério que a todos ultrapassa. O diálogo envolve o discernimento

da contingência e vulnerabilidade, e isto implica uma disposição de escuta do outro

que interpela. O diálogo exige humildade, abertura e respeito ao diferente. Não

basta, porém, abrir-se à diversidade, mas igualmente afirmar a liberdade e a

dignidade do outro, deixar-se interpelar por sua verdade. Daí a exigência do

reconhecimento do “valor da convicção religiosa do outro”, e de que esta convicção

funda-se numa “experiência de revelação”11. Na ausência de tal reconhecimento,

priva-se o diálogo do terreno comum que possibilita sua realização efetiva. Assim

como o diálogo exige como condição a fidelidade à própria identidade, exige

também o respeito à dignidade do outro em suas convicções. De forma análoga, o

outro é alguém animado pelo mesmo tipo de engajamento absoluto com respeito à

sua verdade.12

O diálogo inter-religioso pressupõe convicção religiosa, exigindo de seus

interlocutores um empenho de honestidade e sinceridade, que envolve a

integralidade da própria fé. Para ser autêntico, o diálogo exige reciprocidade: “É

evidente que os cristãos não podem dissimular, na práxis do diálogo inter-religioso,

a própria fé em Jesus Cristo. Por sua vez, reconhecem nos seus interlocutores, que

8 M.BUBER, Eu e tu, São Paulo: Cortez & Moraes, 1977, p. 32; FABC, “Teses sobre o diálogo

inter-religioso”, Sedoc 33 / n. 281 (2000) 51; JOÃO PAULO II, Ut Unum Sint, São Paulo:

Paulus, 1995, n. 28.

9 SECRETARIADO Para os Não Crentes, A Igreja e as outras religiões, São Paulo: Paulinas,

2001, n. 3. Trata-se do documento conhecido como Diálogo e Missão (DM), publicado

originalmente em 1984.

10 FABC, Teses sobre o diálogo inter-religioso, doc.cit., p. 62 e tb. 60-61. Como indica o

documento da FABC, “o diálogo é um processo. Ele começará normalmente com a tolerância

e a coexistência pacífica. Então ele vai se transformando em um diálogo de vida,

promovendo a aceitação e até mesmo a admiração mútuas.”. Como passos seguintes podem

ocorrer a colaboração em projetos comuns e a partilha em profundidade das experiências

espirituais. Ibidem, p. 63.

11 P.TILLICH, Le christianisme et les religions, Paris: Aubier, 1968, p. 133. Este traço

essencial do diálogo não foi captado pela Dominus Iesus, para a qual a paridade que é

pressuposto do diálogo refere-se exclusivamente à “dignidade pessoal das partes, não aos

conteúdos doutrinais”: CONGREGAÇÃO para a Doutrina da Fé, Declaração Dominus Iesus,

São Paulo: Paulinas, 2000, n. 22.

12 C.GEFFRÉ, Croire et interpréter, Paris: Cerf, 2001, p. 102-103 ( tr. it. : Credere e

interpretare: la svolta ermeneutica della teologia, Brescia: Queriniana, 2002).

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não partilham a fé que eles têm, o direito e o dever inalienáveis de se empenhar no

diálogo preservando suas próprias convicções pessoais – e também as pretensões

de universalidade que podem fazer parte da fé dos mesmos”13. Junto com a

adesão, vem a abertura e o acolhimento do outro. O diálogo requer igualmente

como disposição “a prontidão em se deixar transformar pelo encontro”14. A afirmação e plausibilidade da convicção religiosa articulam-se com o imperativo de abertura, e isto exige a não absolutização do que é relativo, um risco sempre presente em toda fé religiosa. A abertura à verdade, é outra disposição fundamental na dinâmica inter-religiosa. Para que haja diálogo, é necessário que os interlocutores estejam dispostos não somente a aprender e receber os valores positivos presentes nas tradições religiosas dos outros, mas igualmente disponíveis e abertos à verdade que os envolve e ultrapassa; é indispensável que esta busca da verdade ocorra sem

restrições mentais, em espírito de acolhida e abertura, pois ninguém pode pretender uma assimilação plena deste horizonte que está sempre adiante. O diálogo inter-religioso acontece entre interlocutores que estão engajados com uma forma particular de apropriação da verdade. Na medida em que ocorre o confrontode verdades, que são distintas mas não necessariamente contraditórias, processa-seuma transformação em cada um dos interlocutores, que são provocados a descobrir uma nova forma de apropriação de sua própria fé. Como desdobramento da dinâmica dialogal, ocorre necessariamente uma interpretação nova da própria tradição. O diálogo inter-religioso faculta, assim, a experiência rica e inovadora de

“celebração de uma verdade que é mais elevada e mais profunda que a verdade

parcial” reivindicada pelos interlocutores em questão, ainda que os mesmos possam

estar persuadidos de seu engajamento incondicional com sua verdade particular.15

Como indicou Joseph O’Leary, filósofo e teólogo irlandês, “a verdade da religião não

reside plenamente em nenhuma religião, mas somente na relação ecumênica das

grandes tradições”16 O diálogo é sempre “uma viagem fraterna” (DA 79), um

“caminhar em conjunto em direção à verdade” (DM 13). Mas esta verdade está

sempre adiante, é surpresa permanente. No encontro com o outro abre-se a

possibilidade de captar dimensões inusitadas desta verdade que é aletheia:

permanente desvelamento. O outro é capaz de favorecer a seu interlocutor, no

diálogo, a captação de certos aspectos ou dimensões do mistério divino que

escapam à sua visada. Para o cristão, em particular, este desafio de aprendizado é

fundamental: “Existem, pois, aspectos ‘verdadeiros’, ‘bons’, ‘belos’ –

surpreendentes – nas múltiplas formas (presentes na humanidade) de pacto e

entendimento com Deus, formas que não encontraram nem encontram lugar na

experiência específica do cristianismo”17.

Esta experiência de caminhada conjunta, de mútuo aprendizado e enriquecimento,

é uma experiência fundamentalmente religiosa e espiritual. Na sua base encontrase

uma espiritualidade. Há uma vinculação íntima entre o diálogo inter-religioso e a

espiritualidade. Não é sem razão que a partilha das experiências de oração e

contemplação, enquanto expressões da busca do Mistério, vem identificada como o

nível mais profundo do diálogo inter-religioso18. Trata-se da dimensão mais íntima

e significativa da comunicação, transbordando o âmbito do conhecimento conceitual

13 J.DUPUIS, Rumo a uma teologia cristã do pluralismo religioso, São Paulo: Paulinas, 1999,

p. 516.

14 PONTIFÍCIO Conselho para o Diálogo Inter-religioso, Diálogo e anúncio, Petrópolis: Vozes,

1991, n. 47. Este documento será cifrado como DA.

15 C.GEFFRÉ, Croire et interpréter, op.cit., p. 103.

16 J.O’LEARY, La vérité chrétienne à l’âge du pluralisme religieux, Paris: Cerf, 1994, p. 46.

Em direção semelhante afirmou Schillebeeckx que “há mais verdade (religiosa) em todas as

religiões no seu conjunto do que numa única religião, o que também vale para o

cristianismo”: E.SCHILLEBEECKX, História humana revelação de Deus, São Paulo: Paulus,

1994, p. 215.

17 E.SCHILLEBEECKX, História humana revelação de Deus, op.cit., p. 215; J.DUPUIS, Rumo

a uma teologia cristã do pluralismo religioso, op.cit., p. 521.

18 SECRETARIADO para os Não-Cristãos, A igreja e as outras religiões, doc.cit., n.35.

5

 

 

5 – Do Convento do Concílio Vaticano II

® Decreto sobre o Ecumenismo

Texto anexo

(Princípios católicos do Ecumenismo)

Capitulo I

PRINCÍPIOS CATÓLICOS DO ECUMENISMO

2. Nisto se manifestou a caridade de Deus para connosco, em que o Filho unigénito de Deus foi enviado ao mundo pelo Pai a fim de que, feito homem, desse nova vida pela Redenção a todo o género humano e o unificasse. Antes de se imolar no altar da cruz como hóstia imaculada, rogou ao Pai pelos que crêem, dizendo: «Para que todos sejam um, como tu, Pai, em mim e eu em ti; para que sejam um em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste» (Jo. 17,21). Na Sua Igreja instituiu o admirável sacramento da Eucaristia, pelo qual é tanto significada como realizada a unidade da Igreja A Seus discípulos deu o novo mandamento do mútuo amor e prometeu o Espírito Paráclito, que, como Senhor e fonte de vida, com eles permanecesse para sempre.

Suspenso na cruz e glorificado, o Senhor Jesus derramou o Espírito prometido. Por Ele chamou e congregou na unidade da fé, esperança e caridade o Povo da nova Aliança, que é a Igreja, como atesta o Apóstolo: «Só há um corpo e um espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação. Só há um Senhor, uma fé, um Baptismo» (Ef. 4, 45). Com efeito, «todos quantos fostes baptizados em Cristo, vos revestistes de Cristo... Pois todos sois um em Cristo Jesus» (Gál. 3, 27-28). O Espírito Santo habita nos crentes, enche e rege toda a Igreja, realiza aquela maravilhosa comunhão dos fiéis e une a todos tão intimamente em Cristo, que é princípio da unidade da Igreja. Ele faz a distribuição das graças e dos ofícios, enriquecendo a Igreja de Jesus Cristo com múltiplos dons, «a fim de aperfeiçoar os santos para a obra do ministério, na edificação do corpo de Cristo» (Ef. 4,12).

 

 

6 – Declaração sobre as relações da Igreja com as religiões não cristãs

(diversas religiões não cristãs)

(478) (AWHO)

2. Desde os tempos mais remotos até aos nossos dias, encontra-se nos diversos povos certa percepção daquela força oculta presente no curso das coisas e acontecimentos humanos; encontra-se por vezes até o conhecimento da divindade suprema ou mesmo de Deus Pai. Percepção e conhecimento esses que penetram as suas vidas de profundo sentido religioso. Por sua vez, as religiões ligadas ao progresso da cultura, procuram responder às mesmas questões com noções mais apuradas e uma linguagem mais elaborada. Assim, no hinduísmo, os homens perscrutam o mistério divino e exprimem-no com a fecundidade inexaurível dos mitos e os esforços da penetração filosófica, buscando a libertação das angústias da nossa condição quer por meio de certas formas de ascetismo, quer por uma profunda meditação, quer, finalmente, pelo refúgio amoroso e confiante em Deus. No budismo, segundo as suas várias formas, reconhece-se a radical insuficiência deste mundo mutável, e propõe-se o caminho pelo qual os homens, com espírito devoto e confiante, possam alcançar o estado de libertação perfeita ou atingir, pelos próprios esforços ou ajudados do alto a suprema iluminação. De igual modo, as outras religiões que existem no mundo procuram de vários modos ir ao encontro das inquietações do coração humano, propondo caminhos, isto é, doutrinas e normas de vida e também ritos sagrados.

A Igreja católica nada rejeita do que nessas religiões existe de verdadeiro e santo. Olha com sincero respeito esses modos de agir e viver, esses preceitos e doutrinas que, embora se afastem em muitos pontos daqueles que ela própria segue e propõe, todavia, reflectem não raramente um raio da verdade que ilumina todos os homens. No entanto, ela anuncia, e tem mesmo obrigação de anunciar incessantemente Cristo, «caminho, verdade e vida» (Jo. 14,6), em quem os homens encontram a plenitude da vida religiosa e no qual Deus reconciliou consigo todas as coisas (4).

Exorta, por isso, os seus filhos a que, com prudência e caridade, pelo diálogo e colaboração com os sequazes doutras religiões, dando testemunho da vida e fé cristãs, reconheçam, conservem e promovam os bens espirituais e morais e os valores sócio culturais que entre eles se encontram.

(NA 1)

 

 

7 – Um pouco de História

+ anexo 7

Índice

 [esconder

O termo ecumenismo


No mundo grego, ecumenismo significava "terra habitada", e tinha o sentido de "povo civilizado", de cultura aberta, tanto com uma perspectiva geográfica, como de civilização. Com as conquistas do império romano, o termo ganha mais uma conotação, a conotação política. Já no cristianismo, a palavra é utilizada numa perspectiva espiritual: a "terra habitada" passa a ser considerada obra de Deus, tornada habitável pela colaboração humana. Assim, assume a conotação de uma tarefa a realizar[3].

Em 381, o Concílio de Constantinopla refere-se ao Concílio de Nicéia como Concílio ecumênico. Neste contexto, a palavra ecumênico refere-se tanto à reunião de pessoas de distintos lugares, quanto à doutrina e costumes eclesiásticos aceitos como norma para toda a Igreja Católica. Após o império romano, o termo ecumenismo deixa de ter a conotação política e passa a ser utilizado na Igreja. Por exemplo, o Credo Niceno-Constantinopolitano é considerado ecumênico por ser a profissão de fé aceito por todos os cristãos[3].

A raiz do ecumenismo moderno data do final do século XVIII, com as missões protestantes. O grande impulsionador destas missões, William Carey propôs a cooperação entre os cristãos para fazer frente à evangelização de um mundo cada vez maior a ser cristianizado[1]. Mas o termo ainda tem conotações geográficas, enquanto busca a unidade em vista da expansão do Evangelho.

A partir dos movimentos Fé e Constituição e Vida e Ação, o termo ecumenismo espalhou-se nos ambientes eclesiais como o relacionamento entre as igrejas cristãs divididas na direção de superar as divergências teológicas, de aproximar os cristãos das diversas denominações e cooperar com a paz mundial[3].

História do movimento ecumênico


Em 1846, foi criada em Londres a Aliança Evangélica, com a finalidade de congregar as diversas igrejas diante da ameaça de fragmentação do Protestantismo. Esta aliança tinha como finalidade preparar um "concílio ecumênico evangélico universal" [4]. . Durante a primeira reunião da Aliança Evangélica em Londres, o pastor calvinista francês Adolphe Monod ressalta o "espírito ecumênico" demonstrado pelos organizadores do evento[3].

A partir da segunda metade do século XIX, surgiram as associações mundiais leigas de jovens, que foram fundamentais para o desenvolvimento do ecumenismo. A primeira destas associações de cunho ecumênico foi a Associação Cristã de Moços, criada em Londres em 1844, por George William, que se espalhou pelo mundo e organizou-se em uma Associação Mundial a partir de 1855. A Associação Cristã Feminina, também londrina, foi criada em 1855. Outras organizações também tiveram sua importância: Movimento de Estudantes Voluntários para as Missões Estrangeiras, de 1886, e a Federação Mundial de Estudantes Cristãos, de 1895, ambos organizados por John Raleigh Mott, que foi um grande líder das iniciativas ecumênicas[1].

No âmbito católico, o papa Leão XIII, ao promulgar a encíclica Provida Mater, em 1895, instituiu um tempo de novena pela reconciliação dos cristãos entre as festas da Ascensão e de Pentecostes, que foi constituído em um tempo perpétuo dois anos depois[5].

Em 1908, os anglicanos Spencer Jones e Lewis Thomas promoveram oito dias de oração pela unidade dos cristãos entre 18 de janeiro (Festa da cátedra de São Pedro) e 25 de janeiro (festa da conversão de São Paulo). Posteriormente, Watson converteu-se ao catolicismo e foi instituído na Igreja Católica a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos neste mesmo período[5].

Em 1905, foi criado nos Estados Unidos o Conselho Nacional das Igrejas[5].

A Conferência Missionária Mundial, em Edimburgo, em 1910, é considerada o marco do ecumenismo[1] como é entendido hoje: a busca da unidade entre as igrejas cristãs. Foi idealizado e realizado por John Mott. Ao convocar esta conferência, Mott conclamava os líderes do protestantismo para a necessidade de cooperação entre as igrejas no campo missionário, para além das diferenças confessionais. A Conferência resultou em dois congressos posteriores, em Estocolmo, em 1925 e Oxford em 1939. A partir de então floresceram diversas iniciativas ecumênicas: a criação do Conselho Internacional de Missões (1921), o Conselho Universal da Vida e do Trabalho (Estocolmo, 1925) e o Conselho Mundial Fé e Ordem (Lausanne, 1927), que estavam a gestar a criação de um organismo internacional das igrejas cristãs[5].

Entretanto, o papa Pio XI via com suspeita estes movimentos e publicou em 1928 a encíclica Mortalium animos, que afirmava que a única igreja verdadeira é a igreja romana e que a salvação só pode ser alcançada pelo regresso a ela[5]. Apesar desta posição oficial, diversas iniciativas no âmbito católico foram efetuadas no sentido da aproximação e cooperação com outras denominações cristãs[5].

Em 1948, foi criado o Conselho Mundial das Igrejas - CMI, que reuniu inicialmente 197 denominações. No âmbito desta organização, o termo ecumenismo designa os esforços entre Igrejas com vista a uma reconciliação cristã que aceite a realidade da diversidade das diversas igrejas cristãs.

Numa edição especial, a revista Sem Fronteiras (As Grandes Religiões do Mundo, p. 36) descreve o ecumenismo como um movimento que se preocupa com as divisões entre as várias Igrejas cristãs. E explica: "Trabalha-se para que estas divisões sejam superadas de forma que se possa realizar o desejo de Jesus Cristo: de que todos os seus seguidores estivessem unidos, de assim como Ele e o Pai são um só."

A Igreja Católica incorpora-se oficialmente ao movimento ecumênico a partir de 1960, quando o papa João XXIII criou o Secretariado Romano para a Unidade dos Cristãos. Este organismo participou ativamente no assessoramento ao papa e aos bispos durante o Concílio Vaticano II, além de ajudar os padres conciliares na elaboração do decreto Unitatis Redintegratio de 1964. Este decreto define o movimento ecumênico como uma graça do Espírito Santo, considera que o caráter ecumênico é essencialmente espiritual e estabelece que o olhar da Igreja Católica é dirigido às igrejas separadas do Catolicismo: as Igrejas Ortodoxas e as Igrejas Protestantes[5].

O Papa Paulo VI instituiu diversos grupos de trabalho na linha do diálogo inter-religioso: o Secretariado para os Não-Cristãos, a Comissão para o Diálogo com os Judeus e o Secretariado para os Não-Crentes[5].

Do ponto de vista institucional, o Secretariado para a Unidade dos Cristãos estabeleceu o diálogo sobre a doutrina com outras igrejas, assessorou as Conferências Episcopais pelo mundo no tema do ecumenismo. Foi responsável ainda pelos documentos Diretório Ecumênico (1967-1970) e A colaboração ecumênica em nível regional, nacional e local (1975). O Papa João Paulo II reafirmou o ecumenismo como essencial para a fé cristã na Encíclica Ut unum sint ("Que todos sejam um").

Algumas denominações protestantes participam do movimento ecumênico. Outras, entretanto, não só não o aceitam como creem que o ecumenismo cumpre perfeitamente as profecias bíblicas no livro do Apocalipse que prevê o seu líder - o falso profeta - que levará a humanidade a aceitar o Anticristo que está por vir (Apocalipse 13.11-12)[6]. Esta visão é compartilhada sobretudo pelos pentecostais e neopentecostais[7]

Tipos de ecumenismo


O ecumenismo tem uma face plural. As iniciativas e o diálogo ecumênico ocorrem em diferentes níveis e entre diferentes atores. Bosch [4] classifica estas iniciativas segundo:

  • Ecumenismo espiritual: o ecumenismo espiritual pressupõe que a superação das diferenças humanamente insuperáveis é uma obra de Deus. Requer uma atitude orante e também uma atitude de diálogo que brota da convicção de unidade espiritual entre aqueles que creem em Jesus Cristo. O Concílio Vaticano II afirma que "a oração é a alma do ecumenismo" (UR 8).
  • Ecumenismo institucional: é aquele que ocorre ao nível das instituições promotoras do ecumenismo, como o Conselho Mundial de Igrejas e o Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos.
  • Ecumenismo oficial: é aquele que envolve as autoridades eclesiásticas das diversas igrejas.
  • Ecumenismo doutrinal: trata-se das iniciativas de diálogo sobre as diversas questões doutrinais que estão na raiz das divergências. Busca-se atingir pontos de convergência no que é o essencial do cristianismo através de encontros, colóquios e diálogos entre as diversas igrejas.
  • Ecumenismo local: o ecumenismo local corresponde às iniciativas e ações comuns que ocorrem na base das igrejas.
  • Ecumenismo secular: o ecumenismo secular é uma corrente do movimento ecumênico representada por aqueles que, diante do impasse e da lentidão das diversas instituições em realizar a unidade, creem que somente a aplicação do método indutivo – que parte da história concreta em que se está inserido e da encarnação como tema central - poderá levar adiante a tarefa ecumênica. Segundo os secularistas, o pensamento e a ação ecumênicas devem estar centradas no mundo secular, no serviço do ser humano. Assim, o ecumenismo secular coloca-se na busca da justiça, da paz, da ecologia e da luta contra a pobreza expressa nas diversas teologias da libertação.

Organismos ecumênicos


No Brasil


No Brasil e no mundo existem vários organismos de natureza ecumênica. O mais importante, no Brasil, é o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC)[8], fundado em novembro de 1982, com sede em Brasília e cujo símbolo é um barco. Seus membros são: "Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e Igreja Católica Ortodoxa Siriana do Brasil".

Existem organismos ecumênicos que atuam em causas comuns, como Koinonia[9], Diaconia [10], Centro de Estudos Bíblicos (CEBI) [11], Centro Ecumênico de Serviços à Educação e Evangelização Popular [12] que têm ações de apoio ao movimento popular e às igrejas. Fazem parte também a Igreja O Brasil Para Cristo, Igreja Reformada do Brasil e Igreja Metodista.

Na América Latina


Na América Latina, mencione-se o Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI) [13], criado provisoriamente em 1978, em Oaxtepec / México, e definitivamente em 1982, em Huampani / Peru. Com sede em Quito / Equador, reúne hoje 150 diferentes igrejas de todos os países do continente latino-americano. Realizou assembleias gerais em Haumpaní (1978), Indaiatuba / Brasil (1989), Concepción / Chile (1995) e Barranquilla / Colômbia (2001). A quinta assembleia geral foi realizada em Buenos Aires / Argentina (2007).

No mundo


No âmbito global, destaca-se o Conselho Mundial de Igrejas (CMI)[14], fundado em Amsterdão (1948), contando hoje com 350 igrejas do mundo, com mais de 500 milhões de fiéis. Fazem parte dele a maioria das denominações protestantes e das igrejas ortodoxas. A Igreja Católica Romana ainda não é membro pleno, mas é-o de unidades específicas do CMI, como a Comissão de Fé e Ordem, que trata dos assuntos doutrinários. Realizam-se suas assembleias gerais a cada sete ou oito anos entre elas, tendo a VIII Assembléia Geral sido realizado em Harare / Zimbábue (1998) e a IX Assembléia Geral em Porto Alegre / Brasil, em fevereiro de 2006. O novo Comitê Central, eleito nessa assembleia, elegeu por sua vez como seu Moderador, Walter Altmann, Pastor Presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).

Também existe a Comunidade de Taizé[15].

Ver também



 

 

8 – O diálogo sincero

Em virtude da sua missão de iluminar o mundo inteiro com a mensagem de Cristo e de reunir sob um só Espírito todos os homens, de qualquer nação, raça ou cultura, a Igreja constitui um sinal daquela fraternidade que torna possível e fortalece o diálogo sincero.

Isto exige, em primeiro lugar, que, reconhecendo toda a legítima diversidade, promovamos na própria Igreja a mútua estima, respeito e concórdia, em ordem a estabelecer entre todos os que formam o Povo de Deus, pastores ou fiéis, um diálogo cada vez mais fecundo. Porque o que une entre si os fiéis é bem mais forte do que o que os divide: haja unidade no necessário, liberdade no que é duvidoso, e em tudo caridade.

Gaudium et spes, 92

 

Nos nossos dias, a humanidade, cheia de admiração ante as próprias descobertas e poder, debate, porém, muitas vezes, com angústia, as questões relativas à evolução atual do mundo, ao lugar e missão do homem no universo, ao significado do seu esforço individual e coletivo, enfim, ao último destino das criaturas e do homem.

Por isso, o Concílio, testemunhando e expondo a fé do Povo de Deus por Cristo congregado, não pode manifestar mais eloquentemente a sua solidariedade, respeito e amor para com a inteira família humana, na qual está inserido, do que estabelecendo com ela diálogo sobre esses vários problemas, aportando a luz do Evangelho e pondo à disposição do género humano as energias salvadoras que a Igreja, conduzida pelo Espírito Santo, recebe do seu Fundador.

Gaudium et spes, 3

 

 

este sagrado Concílio, para atingir os seus fins pastorais de renovação interna da Igreja, difusão do Evangelho em todo o mundo e diálogo com os homens do nosso tempo, exorta veementemente todos os sacerdotes a que, empregando todos os meios recomendados pela Igreja (7), se esforcem por atingir cada vez maior santidade, pela qual se tornem instrumentos mais aptos para o serviço de todo o Povo de Deus.

 

(PO 12)

 

 

Assim como o próprio Cristo perscrutou o coração dos homens e por meio da sua conversação verdadeiramente humana os conduziu à luz divina, assim os seus discípulos, profundamente imbuídos do Espírito de Cristo, tomem conhecimento dos homens no meio dos quais vivem, e conversem com eles, para que, através dum diálogo sincero e paciente, eles aprendam as riquezas que Deus liberalmente outorgou aos povos; mas esforcem-se também por iluminar estas riquezas com a luz evangélica, por libertá-las e restituí-las ao domínio de Deus Salvador.

(AG 11)

Segundo o testemunho da Sagrada Escritura, Jerusalém não conheceu o tempo em que foi visitada; e os judeus, em grande parte, não receberam o Evangelho; antes, não poucos se opuseram à sua difusão. No entanto, segundo o Apóstolo, os judeus continuam ainda, por causa dos patriarcas, a ser muito amados de Deus, cujos dons e vocação não conhecem arrependimento. Com os profetas e o mesmo Apóstolo, a Igreja espera por aquele dia. só de Deus conhecido, em que todos os povos invocarão a Deus com uma só voz e «o servirão debaixo dum mesmo jugo» (Sof. 3,9).

Sendo assim tão grande o património espiritual comum aos cristãos e aos judeus, este sagrado Concílio quer fomentar e recomendar entre eles o mútuo conhecimento e estima, os quais se alcançarão sobretudo por meio dos estudos bíblicos e teológicos e com os diálogos fraternos.

(NA 4

A Igreja católica nada rejeita do que nessas religiões existe de verdadeiro e santo. Olha com sincero respeito esses modos de agir e viver, esses preceitos e doutrinas que, embora se afastem em muitos pontos daqueles que ela própria segue e propõe, todavia, reflectem não raramente um raio da verdade que ilumina todos os homens. No entanto, ela anuncia, e tem mesmo obrigação de anunciar incessantemente Cristo, «caminho, verdade e vida» (Jo. 14,6), em quem os homens encontram a plenitude da vida religiosa e no qual Deus reconciliou consigo todas as coisas.

(NA 2)