quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Dar alma à vida VI -- Obrigado


Dar alma à vida VI

 

A vida é sempre um dom de Deus. Aliás como pergunta o nosso Bispo: “ o que tu tens que não tenha recebido”, lembrando I Cor 4,7.

Na vida está lá uma alma. Essa alma é o espírito de Deus, o Criador. Como detentor da vida que me é dada, como dom, por isso devo estar permanentemente em acção de graças a Deus.

É nas mãos de Deus, como um passarinho nas mãos de uma criança, que preciso de viver e me mover. É aí que sinto a grande Bondade e Misericórdia de Deus, quão pequeno a Seu lado e quão forte com Ele.

É que ninguém é dono de nada, isto é, “ninguém é dono da felicidade” (Aristóteles); só o abandono nas mãos de Deus é que a vida começa a ter Alma, a ter sentido e a ter valor. Só aqui é que nós começamos a amar a vida e a espelhar a alegria no dar-se.

Foi, por isso, que, nesta provação, muito inesperada de uma doença de que julgava ter ultrapassado há 30 anos com a litotrícia que me deti em defesa do dom da vida, abandonando-me nas mãos de Deus.

Apesar de saber com detalhe o que se passava comigo, isto é,  todos os pormenores que me esperava não quis alarmar os paroquianos e os amigos. Procurei com alegria e entusiasmo, com Deus,  andar para a frente até um adeus humedecido de lágrimas interiores, escondidas pelo sorriso e alegria de dar alma à vida, à minha e à dos outros, – um até à próxima que podia ser uma próximo dia muito remoto… apenas remoçado pela grande esperança e fé que costumo viver a vida para dela brote a alma da vida tinha dentro de mim.

Nas mãos de Deus me abandonei e deixei que tudo corresse conforme a vontade do Pai.

Deus quis poupar-me e dizer-me que quer ainda algo mais de mim na minha missão de sacerdote.

Aqui estou pronto a dar-me.

Dar alma à vida é servir sempre, é não desanimar, é aceitar, aprovar, trabalhar, agradecer pelo facto de termos merecido os olhares bondosos do nosso Pai.

A razão da minha vida é a do Criador.

Com Deus nunca mais se morrerá e a Alma nunca deixará a vida, seja terrena ou celeste, esta, se a merecer.

Para a merecer é preciso que faça brilhar na minha vida a Alma e se dou alma à vida, nada de mais faço porque tudo nos é dado pelo Criador. Dar-me é pôr mais Alma na vida. É não esquecermo-nos que estamos como acima disse: como um passarinho nas mãos de uma criança.

A bondade de Deus é o mais belo que há. É por isso que o pecado do Homem é, se este o quiser, só um mergulho no sofrimento moral para sobreviver dando alma a uma vida renovada. Dizia o Pe. António Vieira que é “muito bom ser importante”, mas” mais importante é ser bom” porque a nobreza do homem é ser obra de Deus à sua imagem e semelhança que o fez distinguir dos outros viventes.

A bondade de Deus merece que lhe correspondamos em caridade no nosso coração sempre prontos à disponibilidade para também darmos como recebemos.

Este espírito está também na carta pastoral do nosso Bispo, D. Anacleto Oliveira.

A minha saúde é uma riqueza, a minha doença é uma fraqueza, mas a saúde do corpo e do espírito, da Alma é sempre um prazer tão belo e tão nobre, que não se compara sequer com as lágrimas da alma que sofre no corpo e os olhos reluzentes cheios de vida que a alegria da Alma transmite.

Despois desta minha experiência de saber como é a dor dos que sofrem, agradeço a Deus ter passado por esta provação que me fez amar mais a vida, isto é, dar mais Alma à vida que Deus quer me conceder.

 

 

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