Dar alma à vida VI
A vida é sempre um dom de Deus. Aliás como pergunta
o nosso Bispo: “ o que tu tens que não tenha recebido”, lembrando I Cor 4,7.
Na vida está lá uma alma. Essa alma é o espírito de
Deus, o Criador. Como detentor da vida que me é dada, como dom, por isso devo
estar permanentemente em acção de graças a Deus.
É nas mãos de Deus, como um passarinho nas mãos de
uma criança, que preciso de viver e me mover. É aí que sinto a grande Bondade e
Misericórdia de Deus, quão pequeno a Seu lado e quão forte com Ele.
É que ninguém é dono de nada, isto é, “ninguém é
dono da felicidade” (Aristóteles); só o abandono nas mãos de Deus é que a vida
começa a ter Alma, a ter sentido e a ter valor. Só aqui é que nós começamos a
amar a vida e a espelhar a alegria no dar-se.
Foi, por isso, que, nesta provação, muito inesperada
de uma doença de que julgava ter ultrapassado há 30 anos com a litotrícia que
me deti em defesa do dom da vida, abandonando-me nas mãos de Deus.
Apesar de saber com detalhe o que se passava
comigo, isto é, todos os pormenores que
me esperava não quis alarmar os paroquianos e os amigos. Procurei com alegria e
entusiasmo, com Deus, andar para a
frente até um adeus humedecido de lágrimas interiores, escondidas pelo sorriso
e alegria de dar alma à vida, à minha e à dos outros, – um até à próxima que
podia ser uma próximo dia muito remoto… apenas remoçado pela grande esperança e
fé que costumo viver a vida para dela brote a alma da vida tinha dentro de mim.
Nas mãos de Deus me abandonei e deixei que tudo
corresse conforme a vontade do Pai.
Deus quis poupar-me e dizer-me que quer ainda algo mais
de mim na minha missão de sacerdote.
Aqui estou pronto a dar-me.
Dar alma à vida é servir sempre, é não desanimar, é
aceitar, aprovar, trabalhar, agradecer pelo facto de termos merecido os olhares
bondosos do nosso Pai.
A razão da minha vida é a do Criador.
Com Deus nunca mais se morrerá e a Alma nunca
deixará a vida, seja terrena ou celeste, esta, se a merecer.
Para a merecer é preciso que faça brilhar na minha
vida a Alma e se dou alma à vida, nada de mais faço porque tudo nos é dado pelo
Criador. Dar-me é pôr mais Alma na vida. É não esquecermo-nos que estamos como acima
disse: como um passarinho nas mãos de uma criança.
A bondade de Deus é o mais belo que há. É por isso
que o pecado do Homem é, se este o quiser, só um mergulho no sofrimento moral
para sobreviver dando alma a uma vida renovada. Dizia o Pe. António Vieira que
é “muito bom ser importante”, mas” mais importante é ser bom” porque a nobreza
do homem é ser obra de Deus à sua imagem e semelhança que o fez distinguir dos
outros viventes.
A bondade de Deus merece que lhe correspondamos em
caridade no nosso coração sempre prontos à disponibilidade para também darmos
como recebemos.
Este espírito está também na carta pastoral do
nosso Bispo, D. Anacleto Oliveira.
A minha saúde é uma riqueza, a minha doença é uma
fraqueza, mas a saúde do corpo e do espírito, da Alma é sempre um prazer tão
belo e tão nobre, que não se compara sequer com as lágrimas da alma que sofre
no corpo e os olhos reluzentes cheios de vida que a alegria da Alma transmite.
Despois desta minha experiência de saber como é a
dor dos que sofrem, agradeço a Deus ter passado por esta provação que me fez
amar mais a vida, isto é, dar mais Alma à vida que Deus quer me conceder.
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