segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O Ano da Fé termina, mas a porta da fé continua aberta


 
 
O Ano da Fé termina, mas a porta da fé continua aberta

Não se chega à fé com discursos ou abordagens abstratas, mas abrindo-nos à força de Deus que, em Cristo, respondeu aos interrogantes da nossa vida


 

 

No próximo domingo, 24 de novembro, encerraremos oAno da Fé. Um tempo de graça, que foi um convite à conversão pessoal e pastoral, e uma oportunidade para a renovação da vida e da missão da nossa Igreja.

Cada um pode fazer seu exame sobre este ano e cada comunidade pode tirar suas próprias conclusões. Penso que todos nós conseguimos frutos positivos. No entanto, ainda vemos muitos católicos que recebem os sacramentos e praticam devoções, mas não se converteram a Jesus Cristo nem se comprometem com a sua Igreja.

Também há católicos frios em sua , que conhecem apenas alguns pontos doutrinais, mas não chegaram a uma relação pessoal com Deus; vários deles deixam a Igreja, buscando novas experiências espirituais em outras comunidades.

Para enfrentar esta realidade, convém recordar o que o Papa Bento XVI ensinou: "Muitas vezes, preocupamo-nos afanosamente com as consequências sociais, culturais e políticas da , dando por suposto que a  existe, o que é cada vez menos realista. Colocou-se uma confiança talvez excessiva nas estruturas e nos programas eclesiais, na distribuição de poderes e funções; mas que acontece se o sal se tornar insípido?"

E continua: "Para isso, é preciso voltar a anunciar com vigor e alegria o acontecimento da morte e ressurreição de Cristo, coração do cristianismo, fulcro e sustentáculo da nossa , alavanca poderosa das nossas certezas, vento impetuoso que varre qualquer medo e indecisão, qualquer dúvida e cálculo humano. (...) Portanto, a nossa  tem fundamento, mas é preciso que esta  se torne vida em cada um de nós" (
Homilia, 11 de maio de 2010).

Na verdade, construímos estruturas pastorais, transmitimos ensinamentos morais, promovemos diversos tipos de celebrações, mas supomos que a  já estava presente e talvez não tenhamos propiciado uma verdadeira experiência espiritual.

Antes de celebrar os sacramentos, antes de entrar na comunidade cristã, antes de pedir compromisso apostólico, é preciso receber o primeiro anúncio, o kerygma. Este anúncio é o que suscita a , que não é uma ideia, mas uma luz que vem do alto, uma experiência na ação do Espírito Santo, uma graça para entrar em comunhão com a obra de Deus realizada em Cristo, um contato pessoal com o amor inefável de Deus, que conduz à confiança e à conversão. Sem este anúncio primordial e ardente, a evangelização e a pastoral não dão frutos verdadeiros.

Miguel Pastorino escreve: "O kerygma não é uma moda ou uma nova descoberta da Igreja: é o conjunto de fundamentos de todo verdadeiro processo evangelizador, de Pentecostes até hoje. O kerygma não é catequese, não é um discurso doutrinal, não é só o testemunho de vida, não é proselitismo, nem sequer uma estratégia pedagógica prévia à catequese ou uma conversação sobre qualquer tema. Todas estas iniciativas podem ser o âmbito para o anúncio dokerygma, mas não são, em si, o primeiro anúncio".

E completa: "O objetivo do primeiro anúncio não é despertar simpatia por Jesus Cristo, mas a conversão do coração. É algo que, sem a experiência de  do evangelizador, é impossível de realizar. Anunciar o kerygma sem  é como falar a linguagem do amor sem estar enamorado. Só uma palavra repleta da graça, carregada de experiência do amor de Deus, pode ser um verdadeiro kerygma".

Ano da Fé nos deixa, então, o propósito de cultivar permanentemente em nós, com a força do Espírito Santo, uma relação pessoal e real com Deus, por meio de Jesus Cristo. O acolhimento e a proclamação desta possibilidade requerem uma autêntica renovação espiritual e pastoral em nossa vida eclesial.

Não podemos continuar pensando em Cristo e anunciando-o como um personagem do passado; não podemos continuar lendo a Bíblia sem permitir a transformação que Deus faz em nós com a sua Palavra; não podemos continuar orando enquanto o coração está longe de Deus.

Não se chega à  com discursos ou abordagens abstratas, mas abrindo-nos à força de Deus que, em Cristo, nos deu a resposta às aspirações e interrogantes da nossa vida. Como diz a carta 
Porta fidei, a porta da  continua aberta e nos introduz em um caminho que dura a vida toda.

(Artigo publicado originalmente pela 
Arquidiocese de Medellín).

Sem comentários:

Enviar um comentário