ROTA CISTERCIENSE
POR SÃO BENTO DO CANDO E MOSTEIRO DE OSSEIRA
José Rodrigues Lima
O calendário marcava
11 de Julho e o directório litúrgico referenciava a celebração de São Bento.
Na perspectiva do
projecto “Rota Cistericense do Alto Minho” peregrinámos até ao santuário de São
Bento do Cando, zona de transição do vale do Lima para o vale do Minho, onde
milhares de devotos se congregaram para fazer “memória” do fundador dos
beneditinos e solicitar a sua intercessão junto de Deus.
Assim, nos numerosos romeiros
viam-se crianças, jovens e adultos, eles e elas mostrando grande fé e devoção.
Era lindo…
Os sons da música de
Moreira do Lima com os seus instrumentos musicais luzidios, sons afinados e
passos certos envolviam a todos.
A música ecoava no
terreiro, nos quartéis de descanso e nos contrafortes da serra da Peneda.
Cumprindo promessas
com velas do tamanho dos ofertantes amortalhados, e com lindos ramos de cravos
vermelhos, os rostos dos devotos e devotas irradiavam contemplação do
transcendente, como se vissem o invisível.
OLHARES PARA
O ALTO
As senhoras mais
idosas, sentadas nas varandas dos quarteis, olhavam o movimento da gente com
alma grande. Os homens de carácter firme e de olhares para o alto, tocavam a
imagem de São Bento e benziam-se.
Notava-se que os
rituais manifestavam o que o coração sentia, bem no mais íntimo.
Foi bonito participar
na assembleia do Povo de Deus na festividade em honra de São Bento, Padroeiro
da Europa. Os romeiros vieram dos concelhos de Arcos de Valdevez, Monção,
Melgaço e de outros.
Os ares brandos da altitude
ajudavam na elevação do corpo e do espírito. Os aromas da montanha cruzavam-se
com churrascos, nos doces e roscas tradicionais.
Lindo de se ver e
sentir… A festa acontecia.
Rumámos a São Bento do
Cando com o jornalista Manuel Vilas Boas, da TSF (Rádio Jornal), recolhendo
entrevistas para o programa “Ao Encontro do Património”. Foi mais um passo para
a concretização da “Rota Cisterciense do Alto Minho”.
Aliás, é de referir
que “aos monges cistercienses do Ermelo deverá, no meu parecer atribuir-se a
fundação da Ermida de São Bento do Cando”, assim regista o historiador Bernardo
Pintor.
MOSTEIRO DE
SANTA MARIA DE OSSEIRA
Em dia de São Bento
seguimos o roteiro cisterciense atravessando Santa Maria de Fiães.
Já em terras da
Galiza, ultrapassando os municípios de Ribadavia e Leiro, assinalados pela
paisagem cultural das cepas alinhadas e produtoras de vinho do ribeiro,
localizámos o mosteiro cisterciense de Santa Maria de Cláudio.
Após a zona urbana do
Carvalhinho e Cea alcançámos o grande Mosteiro de Santa Maria de Osseira,
considerado o Escorial Galego.
O conjunto monacal
surge após o denso carvalhal e iluminado pelo sol. Escutámos o murmúrio do rio
Osseira.
Na portaria puxámos a
corda para a sineta dar “os três timbres”. Acolhidos como manda a regra e a
alma cisterciense seguiu-se a entrevista do jornalista Vilas Boas ao monge
artista Luis Alvarez.
Mas que entrevista…
Onde a beleza de Deus foi comunicada com o coração e vivências sentidas no
silêncio, “harmonia das almas que sabem dialogar com Deus”.
Os sons da água do
mosteiro passaram para o gravador da reportagem e o programa, por certo, será
ouvido como se estivéssemos no lugar “onde os habitantes da terra falam com os
habitantes do céu”.
Não podíamos deixar a comunidade
monacal sem apreciar o licor “Eucaliptine”, elaborado pelos monges, segundo a
tradição secular.
Na zona aberta do
mosteiro, no carvalhal várias vezes centenário, um monge ainda jovem, percorria
o espaço em passo vagaroso, e ouvindo o murmúrio do rio Osseira, seguia em
meditação do transcendente num tempo sem tempo.
“O Mosteiro, a Regra e
o Abade são os três pilares da vida monacal”, segundo São Bento.
Acrescentamos que “a
arte é a epifania do mistério”.
A visita ao conjunto
monacal conduz-nos por séculos de arte e histórias de vidas contemplativas
acompanhadas de meditações bíblicas.
É de referir que o
monge Fernando Yánez de Osseira, foi abade no mosteiro de Alcobaça entre
1.241-1.258, de acordo com o monge Damian J. Neira.
O Prof. Doutor José Marques,
catedrático e ilustre melgacense, fez a narrativa histórica do Mosteiro de
Santa Maria de Fiães, com a sabedoria de quem percorreu o “Cartulário de Fiães”
ou “Livro das Datas” e conhece a viva espiritualidade cisterciense.
Os caminheiros da
beleza, da verdade e da bondade encontram luzes, referências, e escutam vozes e
sons de eternidade que levam à harmonia existencial, à verdadeira “estrutura
antropológica”.
O lema cisterciense “Ora et labora” (Reza e Trabalha)
continua a cativar comunidades e a testemunhar acção espiritual e cultural dos
monges.
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