Sempre os velhos!
Como vão os portugueses reagir, nas legislativas, se a
economia melhorar? Dizem alguns que se a anunciada melhoria económica chegar ao
bolso dos portugueses, e continuar a pairar a dúvida sobre o despesismo do PS,
a coligação tem aqui um aliado de muito peso. Pode ganhar as legislativas.
Afirmam outros que se a economia apenas se reportar ao equilíbrio orçamental, à
recuperação da credibilidade estrangeira ou à melhoria das notações das
financeiras, mas não se refletir no bolso dos eleitores, então a vantagem cairá
para o lado do PS. Como disse Centeno, um dos economistas do estudo encomendado
pelo PS, “milagres não há” e afirmou: “ou emprego ou corte nas pensões”. Eis a
questão: os aposentados deste país sabem que a empregabilidade em Portugal é
como o rasgo na nuvem por onde espreita um sol tímido; sabem que a chumbada
lhes vai cair no lombo, magro e esquelético. Desesperam contra a falta de
humanismo desta economia contabilística; sentem a desigualdade porquanto,
dizem, se houver novos sacrifícios a impor, eles devem ser repartidos por todos
os portugueses e não só pelos funcionários públicos e reformados; apelidam-na
de desumana porquanto sabem que nessas contas, as pessoas contam pouco; dizem
estar a assistir a uma falta de respeito pelos valores da solidariedade
geracional; a caixa registadora vale mais que o coração. Há quem tenha reformas
milionárias mas a maioria não ganha para levar uma vida digna; não há dinheiro
para sustentar as atuais aposentações porque os governos nunca descontaram para
a caixa geral de aposentações, como descontam todas as outras entidades
patronais; agora têm de dar à CGA o que nunca deram durante décadas a fio. O
dinheiro dos descontos dos aposentados é dinheiro que não lhes pertence, logo
não deveria ser o estado a geri-lo. Não há dinheiro para nada, porque ele é
gasto em serviços inventados para empregar os meninos dos partidos,
principalmente em assessorias, em empresas de estado sempre deficitárias, em
institutos públicos de nenhuma ou duvidosa atividade, de fundações que só
servem para editar livros dos fundadores, etc. etc. Assim não há dinheiro que
chegue; não há nem nunca haverá. A maior parte das vezes são alguns destes
protegidos que fazem as leis que depois revertem a seu favor. Mas nós, os
aposentados, somos muitos, somos mais de três milhões e meio; a nossa
longevidade atrapalha-lhes a contabilidade. Então por que razão teimamos em nos
calar? Permitimos que nos ponham a carga às costas sem a atirar ao chão?! Que
masoquismo é este?! Por que razão não fazemos sentir-lhes o nosso peso
eleitoral? Por que razão vamos votar neste ou naquele partido que anunciam mais
cortes nas pensões? Temos de ter a coragem de dizer a estes senhores, alto lá,
nós existimos, nós votamos, nós estamos vivos, nós somos aqueles que repartimos
a côdea que nos deixaram rapada, pelos filhos e netos a quem os senhores negam
o presente e o futuro. Somos nós, afinal, quem decide eleições. Tenham
consciência da nossa força. Obriguemos os políticos a ter medo dos aposentados.
Nós somos um “grande partido”, que tem como “ideologia” querer viver o resto da
vida com dignidade. O nosso passado tem de ser respeitado. Não precisamos de ir
para a rua gritar slogans, empunhar bandeiras sindicais ou vociferar em
megafones. Nós vamos decidir as legislativas. Todos votaremos a favor daqueles
que nos respeitem, nem que seja de cadeira de rodas ou de cama de enfermo.
Senhores, digam isto ao FMI e acrescentem que em Portugal quem ganha eleições
são os aposentados.
Opinião – Diário do Minho - segunda-feira 25.05.2015
Paulo Fafe
Opinião – Diário do Minho - segunda-feira 25.05.2015
Paulo Fafe
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