terça-feira, 31 de dezembro de 2013

«Abrindo portas»*19.DEZ.2013 CARDEAL SARAIVA*Ao correr da pena e da mente... (74)* Opinião de Porfírio Pereira Silva

Opinião

19.DEZ.2013 CARDEAL SARAIVA

Ao correr da pena e da mente... (74)


 
 
 
"A diversidade e arte que os autores (artistas) nos revelam na sua execução, são facul­tadas ao leitor através da interessante e maravilhosa colecção de fotografias que o Reverendo Senhor Padre Artur Rodrigues Coutinho, pela sua cultura, espírito de in-
vestigação, desejo e preocupação de deixar, aos vindouros, o conhecimento da evolução das sociedades, do passado da história humana, para melhor se compreender e
construir o futuro"
 
 
 
 
 

 

 
■ Porfírio Pereira Silva

colaborador

Por sempre termos apreciado a acção intelec­tual, humanista e espiri­tual (poderá parecer re­dundância, mas fizemos questão de a “tridimen- sionar”) do nosso aparen­tado conterrâneo Artur Rodrigues Coutinho - pois, tal como nós, nas­ceu na milenar freguesia limiana de S. Simão da Junqueira de Mazarefes, aos sete dias de Janeiro de mil novecentos e qua­renta e sete cedo o ele­gemos como uma das re­ferências, eticamente fa­lando, na nossa vida. Ape­sar de já aqui, numa das nossas crônicas anterio­res, dele termos falado (o que nos isenta de repe­titivos decalques biográ­ficos), continuaremos a creditado como aquele que “sempre soube apro­veitar o contacto com o meio e as populações, auscultando-lhes as me­mórias e as vivências, traduzidas e/ou aliadas a um verdadeiro trabalho de campo, etapas indis­pensáveis ao conheci­mento histórico, etnográ­fico e antropológico, ten­do em conta que o con­ceito de etnografia está intimamente ligado à an­tropologia" - escrevemos na altura.

«Abrindo Portas», nu­ma edição esteticamente bem conseguida do Cen­tro de Estudos Regionais (CER), é mais um traba­lho (premeditadamente) seqüencial da assober­bada paixão do bom ami­go Artur Rodrigues Cou­tinho pela etnografia, etnologia e antropologia social ou cultural. Embo­ra saibamos das ligeiras diferenças de conteúdo, de objecto, do método e de orientações, estare­mos em dizer que, como um dia aventaria Claude Rivière, essas diferenças assentam muitas vezes e/ou apenas nas própri­as tradições. Se a etno­grafia corresponde a um trabalho descritivo de ob­servação e de escrita; a etnologia, “ao elaborar os materiais fornecidos pela etnografia, visa, após análise e interpretação, construir modelos e estu­dar as suas propriedades formais a um nível de sín­tese teórica, tornando possível pela análise com­parativa”; a antropologia acaba por se apresentar ainda mais generalizadora do que a etnologia. Tudo isto para concluirmos que as ligeiras diferenças de conteúdo se sintetizam numa única disciplina, o que nos leva à plena con­vicção (afirmativa) de que este trabalho de Artur Coutinho, lançado em cerimônia pública na Biblioteca Municipal de Viana do Castelo (14.12.2013), é por as­sim dizer um abrir de por­tas - e fazendo nossas as palavras de Fabíola Silva, no prefácio - “aos curio­sos e dá as ferramentas básicas para que todos possam partir para a des­coberta da porta, desde objecto tão banal, mas que na realidade é tão essencial no nosso quo­tidiano”. A sintetização a que aludimos (ou consta­tamos) neste «Abrindo Portas», está bem paten­te na minuciosidade des­critiva empregue pelo au­tor, através de pormeno­res particulares (profusa­mente ilustrados) - e que por vivermos numa globalidade exasperada, os ignoramos ou desco­nhecemos - contidos no universal de uma porta: ferrolhos, batentes, al­dravas, puxadores, fecha­duras, chaves, dobradi­ças, trancas, protectores de cantarias, raspadeiras do calçado (vulgo “limpa- pés”), visores, gateiras, caixas de correio e argo­las para prisão de cava­los. Artur Coutinho é um antropólogo cultural e social atento, levando- nos a olhar as portas de uma forma diferente.

Neste magnífico tra­balho, Artur Coutinho fala-nos ainda d'A CASA:

ESPAÇO E FRONTEIRA (Capítulo I), sendo que esta, segundo o autor, “representa o nosso es­paço, onde nos sentimos a nós próprios com cons­ciência ou sem ela, com tranqüilidade, com sere­nidade, com segurança e a presença dos nossos que nos são muito queri­dos”; d’A PORTA NA BÍ­BLIA (Capítulo II), apre- sentando-se a mesma como um local singular e anunciador de algo que se passa dentro, qual alego­ria ao facto de que “uma porta é sempre uma por­ta para o bem ou para o mal" ou - citando o pró­prio autor - “o acto de abrir a porta deve ser um acto de escuta, de proxi­midade, de intimidade, mas muitas vezes, distra­ídos com as coisas do mundo a fechamos para ela não se abrir com faci­lidade às coisas de Deus”... Simplesmente sublime!

Para além da descri­ção das FERRAMENTAS E OUTROS ELEMENTOS, Artur Coutinho fala-nos ainda das portas da Sé Catedral de Viana do Cas­telo e da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, fe­chando com “um peque­no olhar sobre Viana”, onde faz um pequeno re­gisto fotográfico de por­tas da cidade; “Não se trata de um registo com­pleto, mas de um desafio para os que pretendam fazer um trabalho exaus­tivo sobre estas curiosi­dades da nossa terra. / Viana do Castelo tem muitas mais que estas, melhores e piores, mas tão diversificadas que podem encher os olhos e as mentes de todos aque­les que tenham espírito de observação" - cita­mos.

«Abrindo Portas», uma obra com nota má­xima!

Sem comentários:

Enviar um comentário