19.DEZ.2013 CARDEAL SARAIVA
Ao correr da pena e da
mente... (74)
"A diversidade e
arte que os autores (artistas) nos revelam na sua execução, são facultadas ao
leitor através da interessante e maravilhosa colecção de fotografias que o
Reverendo Senhor Padre Artur Rodrigues Coutinho, pela sua cultura, espírito de
in-
vestigação, desejo e preocupação de deixar, aos vindouros, o conhecimento da evolução das sociedades, do passado da história humana, para melhor se compreender e
construir o futuro"
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■ Porfírio Pereira Silva
Por sempre termos apreciado a acção intelectual, humanista e espiritual
(poderá parecer redundância, mas fizemos questão de a “tridimen- sionar”) do
nosso aparentado conterrâneo Artur Rodrigues Coutinho - pois, tal como nós,
nasceu na milenar freguesia limiana de S. Simão da Junqueira de Mazarefes, aos
sete dias de Janeiro de mil novecentos e quarenta e sete cedo o elegemos como
uma das referências, eticamente falando, na nossa vida. Apesar de já aqui,
numa das nossas crônicas anteriores, dele termos falado (o que nos isenta de
repetitivos decalques biográficos), continuaremos a creditado como aquele que
“sempre soube aproveitar o contacto com o meio e as populações,
auscultando-lhes as memórias e as vivências, traduzidas e/ou aliadas a um
verdadeiro trabalho de campo, etapas indispensáveis ao conhecimento
histórico, etnográfico e antropológico, tendo em conta que o conceito de
etnografia está intimamente ligado à antropologia" - escrevemos na
altura.
«Abrindo Portas», numa edição esteticamente bem conseguida do Centro
de Estudos Regionais (CER), é mais um trabalho (premeditadamente) seqüencial
da assoberbada paixão do bom amigo Artur Rodrigues Coutinho pela etnografia,
etnologia e antropologia social ou cultural. Embora saibamos das ligeiras
diferenças de conteúdo, de objecto, do método e de orientações, estaremos em
dizer que, como um dia aventaria Claude Rivière, essas diferenças assentam
muitas vezes e/ou apenas nas próprias tradições. Se a etnografia corresponde
a um trabalho descritivo de observação e de escrita; a etnologia, “ao elaborar
os materiais fornecidos pela etnografia, visa, após análise e interpretação,
construir modelos e estudar as suas propriedades formais a um nível de síntese
teórica, tornando possível pela análise comparativa”; a antropologia acaba por
se apresentar ainda mais generalizadora do que a etnologia. Tudo isto para
concluirmos que as ligeiras diferenças de conteúdo se sintetizam numa única
disciplina, o que nos leva à plena convicção (afirmativa) de que este trabalho
de Artur Coutinho, lançado em cerimônia pública na Biblioteca Municipal de
Viana do Castelo (14.12.2013), é por assim dizer um abrir de portas - e
fazendo nossas as palavras de Fabíola Silva, no prefácio - “aos curiosos e dá
as ferramentas básicas para que todos possam partir para a descoberta da
porta, desde objecto tão banal, mas que na realidade é tão essencial no nosso
quotidiano”. A sintetização a que aludimos (ou constatamos) neste «Abrindo
Portas», está bem patente na minuciosidade descritiva empregue pelo autor,
através de pormenores particulares (profusamente ilustrados) - e que por
vivermos numa globalidade exasperada, os ignoramos ou desconhecemos - contidos
no universal de uma porta: ferrolhos, batentes, aldravas, puxadores, fechaduras,
chaves, dobradiças, trancas, protectores de cantarias, raspadeiras do calçado
(vulgo “limpa- pés”), visores, gateiras, caixas de correio e argolas para
prisão de cavalos. Artur Coutinho é um antropólogo cultural e social atento,
levando- nos a olhar as portas de uma forma diferente.
Neste magnífico trabalho, Artur Coutinho fala-nos ainda d'A CASA:
ESPAÇO E FRONTEIRA (Capítulo I), sendo que esta, segundo o
autor, “representa o nosso espaço, onde nos sentimos a nós próprios com consciência
ou sem ela, com tranqüilidade, com serenidade, com segurança e a presença dos
nossos que nos são muito queridos”; d’A PORTA NA BÍBLIA (Capítulo II), apre- sentando-se a mesma
como um local singular e anunciador de algo que se passa dentro, qual alegoria
ao facto de que “uma porta é sempre uma porta para o bem ou para o mal"
ou - citando o próprio autor - “o acto de abrir a porta deve ser um acto de
escuta, de proximidade, de intimidade, mas muitas vezes, distraídos com as
coisas do mundo a fechamos para ela não se abrir com facilidade às coisas de
Deus”... Simplesmente sublime!
Para além da descrição das FERRAMENTAS E OUTROS
ELEMENTOS, Artur
Coutinho fala-nos ainda das portas da Sé Catedral de Viana do Castelo e da
Igreja de Nossa Senhora de Fátima, fechando com “um pequeno olhar sobre
Viana”, onde faz um pequeno registo fotográfico de portas da cidade; “Não se
trata de um registo completo, mas de um desafio para os que pretendam fazer um
trabalho exaustivo sobre estas curiosidades da nossa terra. / Viana do
Castelo tem muitas mais que estas, melhores e piores, mas tão diversificadas
que podem encher os olhos e as mentes de todos aqueles que tenham espírito de
observação" - citamos.
«Abrindo Portas», uma obra com nota máxima!
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