quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Em Vilar de Mouros - raspadeira de calçado ou Limpa pés, falta esta espécie no livrop abrindo Portas

 
A Raspadeira do Calçado é um instrumento, uma peça normalmente de ferro, cobre ou bronze. O raspador era aquilo que raspava. Existiam destas peças às portas de casa para que fosse limpo o calçado (socos, chancas, botas ou sapatos) da lama ou terra seca, ou outra coisa que não se queria em casa, como por exemplo sujidade. Também é conhecida por limpa-pés porque, no meio de gente com os pés calçados, havia também a gente de “pé descalço”. Então, as pessoas raspavam na raspadeira, isto é, limpavam os pés ou o calçado como hoje fazemos nos tapetes…
Este instrumento era outra peça feita a gosto e até eram utilizadas formas zoomórficas, por exemplo, o desenho de um touro, para se raspar no dorso e, quem diz touro diz muitos outros animais, como: o cão, o dragão, o cavalo, etc…
Em Viana conheço duas, mas deve haver mais, uma no hall de entrada de uma casa da Rua da Bandeira e outra à porta, no lado de fora, da Casa de João Velho.
Não faltam raspadeiras. Estas são utilizadas pelos pintores de construção civil e não só, mas também pelas cozinheiras e os que coziam pão boroa em casa também as usavam para raspar a masseira. Eram instrumentos também do pessoal de medicina ou de cirurgia e, de uma forma geral, eram usados em todas as artes e ofícios.
Em muitas entradas de igrejas antigas havia um capacho de ferro forjado, isto é, uma grade de ferro fora da porta para limpar o calçado, tirar a terra, a lama, qualquer lixo ou sujidade, ou os pés para quem andasse descalço. Ainda hoje existem capachos de ferro forjado onde se pretende conservar o antigo. Hoje, capachos de sisal ou um tapete resolvem também este tipo de limpeza do calçado.
A propósito, e assim, a privacidade pode ser beliscada como conta Miguel Torga. Noutros tempos era assim: “A intimidade desta vida de aldeia é um espectáculo ao mesmo tempo repugnante e maravilhoso. Estrume da cabeça aos pés. Entre o porco e o dono não há destrinça. Mas, ao cabo, esta animalidade toda, de tão natural, acaba por ser pura e limpa como a bosta de boi.” – Miguel Torga
E com a bosta de boi tapava-se a porta do forno de cozer o pão. Apesar de tudo, o pão cozido em casa e, em muitos casos, só por homens, sabia muito bem e comia-se sempre mais… in livro "Abrindo Portas" de Artur Coutinho
 
 

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