A
Raspadeira do Calçado é um instrumento, uma peça normalmente de ferro, cobre ou
bronze. O raspador era aquilo que raspava. Existiam destas peças às portas de
casa para que fosse limpo o calçado (socos, chancas, botas ou sapatos) da lama
ou terra seca, ou outra coisa que não se queria em casa, como por exemplo
sujidade. Também é conhecida por limpa-pés porque, no meio de gente com os pés calçados,
havia também a gente de “pé descalço”. Então, as pessoas raspavam na
raspadeira, isto é, limpavam os pés ou o calçado como hoje fazemos nos tapetes…
Este
instrumento era outra peça feita a gosto e até eram utilizadas formas
zoomórficas, por exemplo, o desenho de um touro, para se raspar no dorso e,
quem diz touro diz muitos outros animais, como: o cão, o dragão, o cavalo, etc…
Em
Viana conheço duas, mas deve haver mais, uma no hall de entrada de uma casa da
Rua da Bandeira e outra à porta, no lado de fora, da Casa de João Velho.
Não
faltam raspadeiras. Estas são utilizadas pelos pintores de construção civil e
não só, mas também pelas cozinheiras e os que coziam pão boroa em casa também
as usavam para raspar a masseira. Eram instrumentos também do pessoal de
medicina ou de cirurgia e, de uma forma geral, eram usados em todas as artes e
ofícios.
Em
muitas entradas de igrejas antigas havia um capacho de ferro forjado, isto é,
uma grade de ferro fora da porta para limpar o calçado, tirar a terra, a lama,
qualquer lixo ou sujidade, ou os pés para quem andasse descalço. Ainda hoje
existem capachos de ferro forjado onde se pretende conservar o antigo. Hoje,
capachos de sisal ou um tapete resolvem também este tipo de limpeza do calçado.
A
propósito, e assim, a privacidade pode ser beliscada como conta Miguel Torga. Noutros
tempos era assim: “A intimidade desta vida de aldeia é um espectáculo ao mesmo
tempo repugnante e maravilhoso. Estrume da cabeça aos pés. Entre o porco e o
dono não há destrinça. Mas, ao cabo, esta animalidade toda, de tão natural,
acaba por ser pura e limpa como a bosta de boi.” – Miguel Torga
E
com a bosta de boi tapava-se a porta do forno de cozer o pão. Apesar de tudo, o
pão cozido em casa e, em muitos casos, só por homens, sabia muito bem e
comia-se sempre mais… in livro "Abrindo Portas" de Artur Coutinho
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