terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Por que o Papa foi eleito Homem do Ano em duas revistas tão díspares?

Por que o Papa foi eleito Homem do Ano em duas revistas tão díspares?

Francisco se destacou como Pessoa do Ano de 2013 na conservadora "Time", mas também na "The Advocate", publicação da comunidade LGBT

Jaime Septién

 
  
                                                                                                                                                                       
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No final de 2013, o Papa Francisco foi eleito “Pessoa do Ano” por duas revistas muito diferentes e afastadas politicamente: a Time, de cunho conservador, e The Advocate, muito influente na comunidade LGBT dos EUA. Como pode ser isso?

Esta é a pergunta que se fez Kenneth D. Whitehead, ex-diplomático católico que escreve na revista “Crisis”. O autor, americano que serviu seu país na Europa, foi diretor de “A voz da América” na edição árabe e se especializou em temas do Vaticano II, busca refletir sobre esta eleição, “uma espécie de prova nacional sobre a proeminência e importância de uma figura pública” nos EUA.

Ainda que, na era da internet e das novas mídias, a importância de ser eleito Pessoa do Ano por uma revista impressa, como a Time, tenha diminuído (mais ainda desde que a Newsweek desapareceu do horizonte do papel, a nomeação do Papa Francisco não deixa de ser notória.

Whitehead recorda, em seu artigo da revista “Crisis”, que o Papa Francisco não é o primeiro pontífice destacado pela Time. João XXIII e João Paulo II foram eleitos como Pessoa no Ano em 1962 e 1994, respectivamente; no entanto, “não deixa de ser surpreendente que o Papa Francisco tenha sido escolhido com menos de um ano na cátedra de São Pedro”.

O “concorrente” do Papa na revista Time foi Edward Snowden, ex-analista da inteligência americana que expôs o país ao mostrar um vasto número de códigos de luta antiterrorista obtidos de forma ilegal.

Francisco e Snowden estavam acompanhados da orgulhosa lésbica Edith Windsor, pelo presidente da Síria, Bashar Al-Assad e pelo senador Ted Cruz, também nomeados pela Time.

Por que a revista decidiu escolher o Papa Francisco? Por vários motivos, explica Whitehead, em relação ao artigo da Time: porque ele mesmo se colocou no centro das conversas da nossa época saúde, pobreza, fraternidade, justiça, transparência, modernidade, globalização, papel das mulheres, natureza do casamento e tentações do poder.

Por outro lado, em meados de dezembro, uma publicação da Liga Lésbico-Gay, The Advocate, também escolheu o Papa como sua Pessoa do Ano favorita. Certamente, explica Whitehead, ela o fez pelas célebres declarações do Papa Francisco em sua viagem de volta do Brasil, após a JMJ: “Se um gay busca Deus de boa vontade, quem sou eu para julgá-lo?”.

A razão de ficar apenas com o conceito de não julgar os homossexuais, segundo Whitehead, e de não reparar no que significa “buscar Deus com boa vontade”, se dá porque o movimento reivindicatório dos direitos dos homossexuais “precisa ser aceito, normalizado e legitimado”, sem que nenhuma dimensão moral entre em jogo para isso.

Obviamente, tanto a Time quanto The Advocate se apoiaram no “efeito Francisco” para criar falsas expectativas, tanto pela queda na popularidade da edição impressa (que, com o Papa na capa, voltou a ser vista em todos os lugares) como pela busca de legitimação moral do movimento pelos direitos da comunidade LGBT.

Ambas as revistas, conclui Whitehead, “parecem ter escolhido a pessoa correta, mas, quase com certeza não o fizeram pelos motivos corretos”.
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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