Comissão Nacional Justiça e Paz
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O DIÁLOGO MAIS URGENTE
COMUNICADO DA COMISSÃO NACIONAL JUSTIÇA E PAZ A PROPÓSITO DO
RECENTES ATAQUES TERRORISTAS DE PARIS E DA NIGÉRIA
1. Os recentes ataques terroristas de Paris e da Nigéria,
com repercussões que se estendem até hoje, suscitam em muitos dúvidas sobre a
viabilidade da convivência pacífica e harmoniosa entre pessoas de diferentes
culturas e religiões nas sociedades europeias. Em especial, a presença de
pessoas de fé islâmica é vista por muitos como uma ameaça. Há quem evoque a
este respeito a conhecida (mas não comprovada) tese do choque de civilizações.
Num mundo globalizado e na era das comunicações sem
barreiras, é, porém, por um lado, ilusório e, por outro lado, empobrecedor
pensar em sociedades culturalmente uniformes e isoladas.
A Comissão Nacional Justiça e Paz pretende com esta nota
realçar a sua convicção de que, neste contexto, pelo contrário, o diálogo entre
diferentes culturas e religiões se torna ainda mais importante, benéfico e
urgente. É ele que mais facilita o acolhimento dos muçulmanos nas sociedades
europeias (norteado por uma cultura do encontro e da hospitalidade) e é ele,
por isso, o mais potente antídoto contra o terrorismo de matriz
fundamentalista.
2. A respeito do diálogo inter-religioso, afirma o Papa
Francisco na exortação apostólica Evangelli Gaudium (n. 250): «Uma atitude na
verdade e no amor deve caracterizar o diálogo com os crentes das religiões não
cristãs (…)», é «uma condição necessária para a paz (..)»; com ele «aprendemos
a aceitar os outros na sua maneira diferente de ser, de pensar e de se
exprimir». E no recente discurso aos participantes num encontro promovido pelo
Pontifício Instituto de Estudos Árabes e Islâmicos: «…o antídoto mais eficaz
contra qualquer forma de violência é a educação à descoberta e à aceitação da
diferença como riqueza e fecundidade.»
3. Não podem confundir-se expressões marginais de fanatismo
extremista, que instrumentaliza a religião islâmica em função de um projeto
ideológico e político, com o sentir da maioria dos muçulmanos, nestes incluindo
os que vivem em Portugal e os seus representantes. A estes também repugna o
terrorismo, e, mais ainda, repugna a instrumentalização da sua fé para o
justificar. Com estes podem os cristãos encontrar riquezas comuns (em torno dos
princípios do amor a Deus e ao próximo) e criar laços de fraternidade.
A eles se refere a declaração Nostra Aetate (n. 5), do
Concílio Vaticano II: «A Igreja olha (…) com estima para os Muçulmanos, que
adoram o Deus único, vivo e subsistente, misericordioso e omnipotente (…)»;
«Embora ao longo dos séculos não poucas discórdias e inimizades tenham surgido
entre Cristãos e Muçulmanos, o sagrado Concílio exorta todos para que,
esquecendo o passado, pratiquem sinceramente a mútua compreensão, defendam e
promovam, em comum, a justiça social, os bens morais, a paz e a liberdade para
todos os homens.»
O conflito de civilizações do passado não tem, pois, que
reproduzir-se no futuro.
4. Para evitar o choque de culturas, a solução não reside em
eliminar do espaço público todas as manifestações religiosas, relegando-as para
a esfera estritamente privada. Nas religiões encontram muitas pessoas um
sentido para as suas vidas, a força para enfrentar as dificuldades, o cimento
da harmonia familiar e comunitária. Não pode pretender-se que os muçulmanos e
outros crentes deixem de o ser, reneguem a sua fé, para poderem ser acolhidos
nas sociedades europeias. Essa pretensão acabaria por favorecer o extremismo
fundamentalista, que rejeita esse acolhimento. No seu discurso ao Parlamento
Europeu, o Papa Francisco associou esse extremismo ao «grande vazio de ideais a
que assistimos no chamado Ocidente» e citou uma afirmação do seu antecessor
Bento XVI: «o que gera a violência não é a glorificação de Deus, mas o seu
esquecimento». 5. A liberdade de expressão é um valor precioso das sociedades
livres e democráticas. Mas tem limites, porque, como afirmou Bento XVI na sua
viagem ao Líbano, «a liberdade humana é sempre uma liberdade compartilhada, que
pode crescer apenas na partilha, na solidariedade, no viver juntos, com
determinadas regras.»
Comissão Nacional Justiça e Paz
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