Solicitar Assistência Espiritual nos
Hospitais:
é um exercício da cidadania crente
As
doenças não são castigos de Deus por causa do pecado, nem existem porque
Deus
as tolera ou permite. Fazem parte da condição humana e revelam que o
nosso
corpo é frágil e vulnerável, que somos mortais. Dão conta do nosso dever de
cuidar
do corpo e da saúde, própria e dos outros, de cuidar da natureza.
As
doenças e sofrimento severos, porém, não atingem apenas o corpo, mas ferem
também
a alma e é aí que reside o problema do sofrimento. A pessoa sente-se abalada
por
fortes vendavais de emoções negativas; sente posto em causa o desejo de vida
plena;
experimenta a irrupção de fortes sentimentos de culpa até aí ignorados; e
vê-se
confrontada e magoada com interrogações sobre a vida e seu sentido, sobre a
bondade
de Deus e a sua existência, perguntas para as quais não vê resposta. À dor
física junta-se a dor psíquica, existencial e espiritual.
Para
a dor física e psíquica há medicinas ou terapias. E para a dor existencial e
espiritual, a que terapêuticas recorrer?
A
assistência espiritual e religiosa nos Hospitais torna-se, portanto, uma emergência
para muitos doentes. É vivida como uma particular fonte de conforto, bem-estar,
paz, saúde. A tradição da Igreja e a experiência dos profissionais assim o afirmam
e a literatura científica recente comprova-o. Na verdade, a vida espiritual fomenta
a reconciliação consigo, com os
outros
e com Deus, abre para o sentido da vida e impulsiona a procura de Deus,
respostas que vão de encontro às necessidades do doente, de encontro às suas
interrogações.
Por
isso quem nega ou impede a assistência espiritual e religiosa é insensível, violento,
antidemocrático, insensato e desumano. O Decreto-lei 253/2009, que a regula nos
Hospitais do Serviço Nacional de Saúde, reconhece-a não só como «uma necessidade
essencial, com efeitos relevantes na relação com o sofrimento e a doença »,
particularmente no sofrimento severo, mas também como um «fator de qualidade» ao
nível dos cuidados prestados.
Dizer
que a assistência espiritual e religiosa
nos hospitais é um bem para o conforto
do
doente já era um motivo mais que No próximo dia 13 de fevereiro, sexta-feira,
realiza-se
a primeira conferência dedicada ao tema Olhares sobre…Economia e
contará
com os seguintes oradores: Ex-ministro Miguel Cadilhe ,Ex-secretário da UGT,
João Proença, Silva Peneda, presidente do CES.
O
debate sobre este tema contará com a moderação de Graça Franco, diretora
editorial
da
Rádio Renascença. Mediante inscrição em www.gti.pt, poderá de forma gratuita, assistir presencialmente ou
online (www.novaagora.pt), a cada uma das 4 conferências.
Solicitar
Assistência Espiritual nos Hospitais: um exercício da cidadania crente suficiente
para a sua existência, mas ela é sobretudo um direito do doente, reconhece o
Decreto-lei. Deve, por isso, existir nos Hospitais e funcionar de forma
organizada e regular, sem impedimentos, a fim
de
satisfazer as necessidades espirituais e religiosas dos utentes que a solicitem
de forma adequada e atempada, segundo a sua vontade e de acordo com a liberdade
de consciência, religião e culto. Todos os doentes, seja qual for a sua
religião, têm direito a cuidados espirituais e religiosos, segundo a sua
vontade; a serem assistidos a qualquer hora, sem prejuízo dos cuidados de saúde
e do bem-estar dos outros doentes; a verem respeitadas as suas convicções
e a
não serem incomodados ou pressionados por quem quer que seja para assistência
que
não desejam; a ter literatura e objetos religiosos consigo, e a verem
respeitadas
as
suas convicções; a serem informados sobre a assistência espiritual e religiosa
e a participarem em atos de culto.
Em
conclusão, a hospitalização não constitui um impedimento à prática religiosa
(nem isso faria sentido), mas o doente crente deve manifestar-se sem medo ou
vergonha. Deve pedir a
assistência
espiritual e religiosa aos enfermeiros ou
outros profissionais e se encontrar
alguma
obstrução indevida deve reclamar. Solicitar a assistência é um bem não apenas
para si próprio, mas também a afirmação de um ato consciente e livre na defesa
dos seus direitos e na defesa da cidadania crente no presente e no futuro.
Solicitar
a assistência não é só um direito legal, é também um mandato do Senhor e por
isso um dever do cristão doente, diz S. Tiago (cf Tg 5, 14), para que se
realiza nele o mistério de comunhão no amor de Deus, fonte de vida e de saúde.
Por
último: se a vida espiritual é fonte de bem-estar e conforto e se, como dá
conta a
literatura,
previne a saúde e influencia a recuperação, tornando-a mais rápida, se tem
um
efeito placebo isso não significará que tem influência positiva nos custos de
saúde?
Então
porquê a má vontade e os obstáculos? Que interesses estão por detrás?
P.
Fernando Sampaio, In Ecclesia, n.º 101, 05.02.2015
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