domingo, 8 de fevereiro de 2015

Solicitar Assistência Espiritual nos Hospitais:


Solicitar Assistência Espiritual nos Hospitais:

é um exercício da cidadania crente

As doenças não são castigos de Deus por causa do pecado, nem existem porque

Deus as tolera ou permite. Fazem parte da condição humana e revelam que o

nosso corpo é frágil e vulnerável, que somos mortais. Dão conta do nosso dever de

cuidar do corpo e da saúde, própria e dos outros, de cuidar da natureza.

As doenças e sofrimento severos, porém, não atingem apenas o corpo, mas ferem
 

também a alma e é aí que reside o problema do sofrimento. A pessoa sente-se abalada

por fortes vendavais de emoções negativas; sente posto em causa o desejo de vida

plena; experimenta a irrupção de fortes sentimentos de culpa até aí ignorados; e

vê-se confrontada e magoada com interrogações sobre a vida e seu sentido, sobre a

bondade de Deus e a sua existência, perguntas para as quais não vê resposta. À dor física junta-se a dor psíquica, existencial e espiritual.

Para a dor física e psíquica há medicinas ou terapias. E para a dor existencial e espiritual, a que terapêuticas recorrer?

A assistência espiritual e religiosa nos Hospitais torna-se, portanto, uma emergência para muitos doentes. É vivida como uma particular fonte de conforto, bem-estar, paz, saúde. A tradição da Igreja e a experiência dos profissionais assim o afirmam e a literatura científica recente comprova-o. Na verdade, a vida espiritual fomenta a reconciliação consigo, com os

outros e com Deus, abre para o sentido da vida e impulsiona a procura de Deus, respostas que vão de encontro às necessidades do doente, de encontro às suas interrogações.

Por isso quem nega ou impede a assistência espiritual e religiosa é insensível, violento, antidemocrático, insensato e desumano. O Decreto-lei 253/2009, que a regula nos Hospitais do Serviço Nacional de Saúde, reconhece-a não só como «uma necessidade essencial, com efeitos relevantes na relação com o sofrimento e a doença », particularmente no sofrimento severo, mas também como um «fator de qualidade» ao nível dos cuidados prestados.

Dizer que a assistência espiritual e religiosa  nos hospitais é um bem para o conforto

do doente já era um motivo mais que No próximo dia 13 de fevereiro, sexta-feira,

realiza-se a primeira conferência dedicada ao tema Olhares sobre…Economia e

contará com os seguintes oradores: Ex-ministro Miguel Cadilhe ,Ex-secretário da UGT, João Proença, Silva Peneda, presidente do CES.

O debate sobre este tema contará com a moderação de Graça Franco, diretora editorial

da Rádio Renascença. Mediante inscrição em www.gti.pt, poderá  de forma gratuita, assistir presencialmente ou online (www.novaagora.pt), a cada uma das 4 conferências.

Solicitar Assistência Espiritual nos Hospitais: um exercício da cidadania crente suficiente para a sua existência, mas ela é sobretudo um direito do doente, reconhece o Decreto-lei. Deve, por isso, existir nos Hospitais e funcionar de forma organizada e regular, sem impedimentos, a fim

de satisfazer as necessidades espirituais e religiosas dos utentes que a solicitem de forma adequada e atempada, segundo a sua vontade e de acordo com a liberdade de consciência, religião e culto. Todos os doentes, seja qual for a sua religião, têm direito a cuidados espirituais e religiosos, segundo a sua vontade; a serem assistidos a qualquer hora, sem prejuízo dos cuidados de saúde e do bem-estar dos outros doentes; a verem respeitadas as suas convicções

e a não serem incomodados ou pressionados por quem quer que seja para assistência

que não desejam; a ter literatura e objetos religiosos consigo, e a verem respeitadas

as suas convicções; a serem informados sobre a assistência espiritual e religiosa e a participarem em atos de culto.

Em conclusão, a hospitalização não constitui um impedimento à prática religiosa (nem isso faria sentido), mas o doente crente deve manifestar-se sem medo ou vergonha. Deve pedir a

assistência  espiritual e religiosa aos enfermeiros ou outros profissionais e se encontrar

alguma obstrução indevida deve reclamar. Solicitar a assistência é um bem não apenas para si próprio, mas também a afirmação de um ato consciente e livre na defesa dos seus direitos e na defesa da cidadania crente no presente e no futuro.

Solicitar a assistência não é só um direito legal, é também um mandato do Senhor e por isso um dever do cristão doente, diz S. Tiago (cf Tg 5, 14), para que se realiza nele o mistério de comunhão no amor de Deus, fonte de vida e de saúde.

Por último: se a vida espiritual é fonte de bem-estar e conforto e se, como dá conta a

literatura, previne a saúde e influencia a recuperação, tornando-a mais rápida, se tem

um efeito placebo isso não significará que tem influência positiva nos custos de saúde?

Então porquê a má vontade e os obstáculos? Que interesses estão por detrás?

P. Fernando Sampaio, In Ecclesia, n.º 101, 05.02.2015

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