UM OLHAR OUTRO
Há momentos na nossa
vida que ficam registados na memória, mesmo sem o querermos, porque se nos
impõem. E quando, adiante, nos reportamos ao passado, eles são citados com
naturalidade.
Como padre, falarei,
no futuro, com naturalidade do que me «surpreendeu» no sábado passado: 22 pares
de noivos, dos 29 que querem casar na nossa Paróquia, aceitaram o convite de
passarem uma tarde com a Equipa de Pastoral Familiar.
Primando pela
pontualidade e pelo àvontade, bem cedo «quebraram o gelo» dando origem a um
diálogo próprio de adultos responsáveis. E os comentários foram saindo com
naturalidade às questões propostas: porquê casar hoje e porquê casar na Igreja,
num tempo e numa cultura de desafeição pelo mundo religioso.
Surpreendidos porque
«não foi uma tarde chata» e «até pasou depressa», aqueles noivos
surpreenderam-me positivamente.
Tenho de reconhecer
que, também eu, às vezes, me deixo influenciar pelas vozes dominantes numa
cultura de massas, superficial e irresponsável. Quase todos de mais de trinta
anos, bem maduros na idade biológica, revelaram-se também maduros no modo como
se preparam para o casamento e como
sonham o «grande dia». Na questão «casar-se ou juntar-se», os que já vivem
juntos - poucos no grupo, ao contrário do que se pensa – afirmam «falta-nos
qualquer coisa» ou «há muito que para nós está decidido: viver juntos só após o
casamento». Registei a frase: «quando, no futuro, olharmos para trás, a data das
nossas memórias será a do casamento, não a do dia em que nos «juntámos».
A destacar também
que «casamento que vale é o da Igreja». E não só por ser «mais bonito». Mas
porque «somos católicos e assim nos ensinaram os nossos pais», mas porque
«nunca esteve nos nossos planos que não fosse na Igreja».
Cada vez mais se
nota que os pedidos de casamento que nos chegam vêm já mais ou menos bem
elaborados: sabem o que querem e porque o querem e até como o querem. Dou graças a
Deus por isso e por poder dizer que, raramente, me aparece algum caso de recusa
da preparação proposta.
E aceitam bem que se
lhes proponha uma celebração cuidada e bem preparada, desde a
ornamentação, que deve evitar exageros, até ao grupo coral que vai animar, de
preferência um coro litúrgico que faça a assembleia participar em vez de um trio que vai «dar
o seu show» ou grupo interessado em vedetismos e cachet.
Estamos diante de
uma nova geração «cansada» dos «enlatados» e que pensa com seriedade o seu
futuro? Mesmo mais exigente, verdadeira e empenhada na celebração da fé? Em equipa
partilhamos com alegria estas «relevâncias» do encontro.
P. Abílio Cardoso
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