segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

UM OLHAR OUTRO


UM OLHAR OUTRO

Há momentos na nossa vida que ficam registados na memória, mesmo sem o querermos, porque se nos impõem. E quando, adiante, nos reportamos ao passado, eles são citados com naturalidade.

Como padre, falarei, no futuro, com naturalidade do que me «surpreendeu» no sábado passado: 22 pares de noivos, dos 29 que querem casar na nossa Paróquia, aceitaram o convite de passarem uma tarde com a Equipa de Pastoral Familiar.

Primando pela pontualidade e pelo àvontade, bem cedo «quebraram o gelo» dando origem a um diálogo próprio de adultos responsáveis. E os comentários foram saindo com naturalidade às questões propostas: porquê casar hoje e porquê casar na Igreja, num tempo e numa cultura de desafeição pelo mundo religioso.

Surpreendidos porque «não foi uma tarde chata» e «até pasou depressa», aqueles noivos surpreenderam-me positivamente.

Tenho de reconhecer que, também eu, às vezes, me deixo influenciar pelas vozes dominantes numa cultura de massas, superficial e irresponsável. Quase todos de mais de trinta anos, bem maduros na idade biológica, revelaram-se também maduros no modo como se preparam para o casamento e como sonham o «grande dia». Na questão «casar-se ou juntar-se», os que já vivem juntos - poucos no grupo, ao contrário do que se pensa – afirmam «falta-nos qualquer coisa» ou «há muito que para nós está decidido: viver juntos só após o casamento». Registei a frase: «quando, no futuro, olharmos para trás, a data das nossas memórias será a do casamento, não a do dia em que nos «juntámos».

A destacar também que «casamento que vale é o da Igreja». E não só por ser «mais bonito». Mas porque «somos católicos e assim nos ensinaram os nossos pais», mas porque «nunca esteve nos nossos planos que não fosse na Igreja».

Cada vez mais se nota que os pedidos de casamento que nos chegam vêm já mais ou menos bem elaborados: sabem o que querem e porque o querem e até como o querem. Dou graças a Deus por isso e por poder dizer que, raramente, me aparece algum caso de recusa da preparação proposta.

E aceitam bem que se lhes proponha uma celebração cuidada e bem preparada, desde a ornamentação, que deve evitar exageros, até ao grupo coral que vai animar, de preferência um coro litúrgico que faça a assembleia participar em vez de um trio que vai «dar o seu show» ou grupo interessado em vedetismos e cachet.

Estamos diante de uma nova geração «cansada» dos «enlatados» e que pensa com seriedade o seu futuro? Mesmo mais exigente, verdadeira e empenhada na celebração da fé? Em equipa partilhamos com alegria estas «relevâncias» do encontro.

                                                               P. Abílio Cardoso

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