Vivências da Dor
Quem sofre, sofre e mais nada. Mais
dor, menos dor, cada um sofre as suas, ou a dos outros…mas um doente,
normalmente, não gosta de visitas demoradas porque cansam, mas, com tempo
comedido, é sempre acto de alívio, de conforto e esperança.
Como as pessoas que, por si, são
negativas não se deve insistir demasiado. O pior que acontece a um doente é
alguém que venha filosofar ou insistir demasiado na esperança porque não
acredita nele, como aquele que pensa ainda em termos antigos: (É a tal história:
está doente, está em pecado e enquanto não tiver acreditado e se confessar não
sai “o mal” dele. “Deus não está com ele”. Está a sofrer os males que já fez na
terra, agora que os pague. “O que cá se faz, cá se paga”, dizem ainda. Esquecem-se
que os nossos juízos são sempre precipitados e não têm em conta os critérios de
Deus.
Claro que o pecado, a desobediência
deliberada consentida tirou-nos do paraíso…
Segundo a doutrina Buda a vida é uma
dor e quanto mais se foge da dor, mais imperfeito é. Para chegar ao nirvana é
preciso que ame a dor e o sofrimento como um dom para atingir a perfeição.
O nosso Deus, Deus de Amor, não quer
que sejamos masoquistas, nem sadistas e
não nos impõe sofrimento. Ele sofre connosco e ninguém está sozinho quando tem
dor.
Se alguém se queixa, tem sempre uma
razão, ainda que seja uma dor psicológica, mas, que tem razão para se queixar,
tem.
Normalmente as dores orgânicas
distinguem-se com mais facilidade: hoje é de um pé, amanhã é de uma nádega,
depois é duma perna ou dum braço; agora dói o peito ou as costas, o abdómen de
noite ou de dia, doem os olhos e o que mais possam pensar. É do estômago, é de
algo que não se sabe.
No caso dos fibromiálgicos até muitos
os vêem como maníacos que precisam de psiquiatria.
A dor nunca está no local, mas na
cabeça. Não é o pé que dói, é o pé que não está bem e transmite o seu mal aos
neurónios.
Curando os neurónios, não se cura a
dor, mas o sofrimento e o mal lá está no pé, por exemplo.
É preciso tratar do pé e não da
cabeça. A cabeça é apenas o reflexo das transmissões pelos neurónios ao centro
nevrálgico localizado no cérebro.
Conviver com a dor é sempre fácil
quando se convive com fé e confiança n’Aquele que sofreu por nós, sem cometer
pecado. A nossa dor nunca será igual à d’Ele.
Nós merecemos, mas o Mestre não fez
mal algum e nós não somos mais que o Mestre.
A dor acaba por nos lembrar que,
assim como temos deitar sentido à nossa Alma, há que cuidar do corpo. A Alma dá
sempre Vida ao corpo quando ela quer ser grande ao modo de Jesus Cristo, e não
ao modo de qualquer coisa porque muitos se dividem por Deus e pelo Diabo, pelo
Bem e pelo Mal, e, neste caso, não se observa o conformismo porque no meio não
é provado que esteja a virtude. Deus é radical. Ama e só Ama. Nós não podemos estremecer
entre o sim e “o sopas”. Ou é sim ou “sopas”. Sim ou não e não há meio-termo,
pois aí está toda a razão da nossa vida. Como o amor conjugal, não pode ser um
amor assim, assim… Descobrir essa razão é precisamente descobrir o sentido da
nossa Vida com Alma, viver com Alma porque a Vida é dom de Deus.
A dor, se superável, faz parte a
Vida. Não há Vida sem dor nem, dor sem Vida; os mortos já não sentem nada, mas
aí já não tem, aí a Alma que, pela serenidade com que sofreu goza eternamente
com o prazer da Vida com Deus, ou então, sofre porque, na posse da verdade, lhe
falta a felicidade da Presença que devia ser do seu Criador…
Conviver com a Dor leva-nos a tirar a
conclusão de que quando damos ou recebemos somos alertados para a
responsabilidade de nossas vivências, valores, sentimentos, condutas… Somos
levados a estar atentos mais ao nosso corpo, às nossas emoções e à voz interior
e a saber compreender e tolerar o outro.
Custa menos o sofrimento quando vemos
os outros como algo valioso… e estamos a integrar, elaborar, dirigir,
aproveitar e usar o serviço do nosso bem-estar e discernimento, não do que
somos e dos que são… e os que são. A oposição é sofrimento, segundo Arnaud
Desjardins, porque ficamos revoltados quando rejeitamos. Carrega-nos mais essa
cruz da revolta. Enquanto o assentimento é felicidade, conduz-nos à felicidade
e recuperamos, aproximamos, pois o corpo é o santuário da Alma e nele se tem de
viver com sintonia e equilíbrio que são manifestos nos olhos. É por isso que se
diz que estes são os espelhos da alma.
A Alma gregária, ao dar Vida não pode
existir e mata, nem pode deixar-se vencer por paixões.
Aqui não quero apenas me referir a uma
dor em particular, mas nas suas mais variadas formas. Sejam quais forem, a
resistência a elas como uma oposição, ainda aumenta a carga da mesma, isto é,
maior o sofrimento, maior é a dor.
Quando lhe damos assentimento porque
nela descobrimos algo de novo até somos capazes de nos sentir felizes. Mais
facilmente nos preparamos para debelá-la e recuperar a saúde, porque nos fizemos
mais próximos. Convivemos e dialogamos amorosamente. Fizemos que, no nosso
corpo, houvesse um melhor equilíbrio e sintonia daquilo que lhe dá vida, que é
a Alma; ainda que seja precária, ela é sempre com sentido elevado, positivo e
vivido ao mais alto nível.
Fazer uma convivência sadia entre o
Corpo e a Alma é saber compreender e viver a Dor; eis a forma mais simples de
viver a Vida com Alma.
Sem comentários:
Enviar um comentário