segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

"O meu Tio materno, Padre Albino Martins Manso"


IN MEMORIAM
  Pe. Albino Martins  Manso
 


O meu Tio materno, Padre Albino Martins Manso, nascido na Freguesia de Perre, às catorze horas e trinta minutos do dia 19 de Junho de 1914, filho de Antônio Martins Manso e de Tomásia de Barros (meus Avós maternos), era o mais novo rebento de um conjunto de nove filhos, o quarto dos quais, a Aurora, também ela muito prolifera (cinco filhas antes e mais dois rapazes, depois de mim), me deu à luz em Março de 1935.





Cedo manifestou o Albino vocação para o sacerdócio. A minha Mãe referia muitas vezes que, em pequeno, sempre que pre­tendiam obrigá-lo a pastar as vacas (na­quele tempo, como no de muitos de nós, ninguém falava no problema do trabalho infantil) respondia invariavelmente que não o fazia porque ele ia ser padre e, por isso, ninguém lhe falasse em tal.

Concluída a quarta classe, ingressou no Seminário Maior de Braga, onde estu­dava já o irmão Antônio, alguns anos mais velho, certamente pressionado pelos pais, que pretendiam ter dois sacerdotes na fa­mília, como era então apanágio das casas fortes da Freguesia de Perre.

Acabaram os estudos do Seminário no mesmo ano e celebraram a primeira missa (cantaram Missa, como se dizia então) ao mesmo tempo e na mesma igreja.

Ordenado sacerdote, foi colocado na freguesia de Cristelo, Paredes de Coura, cabendo-lhe também a obrigação de dizer missa em Padronelo e em Bico, freguesias vizinhas daquela. 0 irmão, Padre Antônio, foi colocado em Trás-os-Montes, para os lados de Vinhais.

As primeiras e, quiçá, as mais indelé­veis recordações que dele tenho remon­tam justamente a esta altura, porque aí passei uma semana com a minha Mãe e o meu irmão mais novo, o Jorge, dela reten­do na memória o aspecto da casa, da corte da burra, que o transportava quando ia di­zer missa naquelas freguesias e, sobretu­do, o cheiro da fruta espalhada no chão da sala (como era perfumada a fruta naquele tempo!). A casa, em semi-ruína, ainda lá estava, tal como a corte, há cerca de meia dúzia de anos, quando por lá passei, movi­do pela curiosidade e pelo saudosismo. Só não estava a escada que eu e o meu irmão utilizávamos para cuspir na burra, através de uma larga frincha por cima da porta, quando descobrimos que nela disparava um bom par de coices, sempre que o fazí­amos.

O Padre Albino, dotado de uma alegria contagiante, era o irmão preferido de mi­nha Mãe. 0 que de melhor se produzia em nossa casa era para ele e para o sacerdo­te da Meadela. 0 vinho de dizer missa, o vinho seco, como lhe chamavam, feito de uvas brancas colhidas muito maduras e postas a secar antes de serem transforma­das em maravilhoso néctar, era produzido em casa de meus Pais, quase exclusiva­mente para ele. De resto, dispunha da nos­sa casa como se fosse sua, ao ponto de, por diversas vezes, aí reunir os amigos que se  banqueteavam em contagiosa confraterni­zação, chegando numa dessas reuniões a juntar à mesa vinte e quatro padres seus colegas.

O Albino era um padre que eu apre­ciava, inteligente, muito lúcido, com uma visão do mundo eclesiástico diferente do arquétipo estabelecido, características que lhe conferiam uma faceta algo revolu­cionária para a época.

Talvez por isso e por, em conseqüên­cia, se haver incompatibilizado com o Arcebispo de Braga, deixou Paredes de Coura e dedicou-se, como hoje se diria, à solidariedade social, prestando auxílio a quem dele necessitava. Passou pelas Oficinas de S. José, em Ponte de Lima, tra­balhou em obras de caridade em Entre- os-Rios e rumou a Lisboa, com o mesmo propósito, onde colaborou em revistas da especialidade, revelando-se então aí os seus dotes de escrita, a par dos de orató­ria, que possuía.

Consciente do trabalho que ele vinha desenvolvendo, o Arcebispo de Braga trouxe-o de novo para o seu rebanho e colocou-o na freguesia de Contelães, em Vieira do Minho, onde se manteve até ao fim dos seus dias. Fiel ao seu múnus, por sua iniciativa, entre outras acções de in­teresse social e humanitário, angariou aí os fundos necessários à aquisição de uma viatura de que estavam então carecidos os Bombeiros daquela vila.

Como nem tudp o que fazemos na vida agrada a todos os que nos rodeiam, o Padre Albino era amado por muitos e detestado por alguns. Por essa razão, estou absolu­tamente certo, faleceu de morte súbita, com quarenta e um anos de idade, no dia 1 de Abril de 1956, um Domingo de Páscoa, quando se aproximava da casa de um dos seus paroquianos, em visita pascal.

Da certidão de óbito consta como mal definida a causa da sua morte.

0 seu corpo foi transportado, no dia 3 de Abril do mesmo ano de 1956, na viatu­ra dos Bombeiros que ajudara a adquirir, de Vieira do Minho para o cemitério de Meadela, onde se encontra sepultado jun­to de meus Pais, no jazigo da família.

 in Aurora do Lima de 8 de Novembro, por António Manso Gigante

 

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