Cuidar o Idoso
Esta empregada usou na conversa a palavra
“cuidar” os idosos, cuidar daquele e outros com quem mantém e manteve sempre a
mesma postura. Ela não trabalhava para ele, mas cuidava dele como os seus
filhos quando eram bebés ou crianças.
É preciso ter muita paciência e não esquecermos
que não é com arrogância, ou impulsivamente, que se trata de um bebé, como acontece
a um idoso. Se somos impulsivos ou se se age com gestos de pouca delicadeza
como quem está a fazer um frete, o idoso sente isso e fica mais nervoso. É
preciso tê-lo calmo e dar-lhe tudo o que precisa para se sentir bem. Para mal
estão as suas limitações. Gostei. Os filhos deste idoso podem estar felizes
porque têm uma empregada que os substitui bem.
Ora quando cheguei a casa leio um
artigo reenviado por um amigo cujo tema era o seguinte “Solidão e Ética do
Cuidado” de Anselmo Borges. Li-o com sofreguidão porque me veio lembrar a
visita e a conversa que tinha feito umas horas antes.
Estamos de facto num mundo a que o
materialismo e consumismo nos levaram à época do descartável.
Descartáveis são os objectos desde os
mais pequenos aos maiores, desde uma simples colher a um carro ou uma casa; mas
pior ainda é que até as pessoas são descartáveis, isto é, o resultado líquido
da sociedade de consumo.
Segundo Anselmo Borges isto é
paradoxal: “A felicidade está em ser-se permanentemente infeliz, porque o
consumo aumenta cada vez mais a insatisfação e a felicidade da insatisfação é
uma felicidade paradoxal.”.
Consome-se apenas e não se reflecte.
O Homem não reflecte e faz os disparates que entende mesmo contra a natureza,
contra a vida e o respeito pelo outro.
O ser humano precisa de alguma
solidão para pensar, sentir e encontrar-se consigo mesmo. Isto é comum a
qualquer ser humano. A pessoa humana não é um espírito desencarnado e precisa
de não se perder na ruptura com o passado para envelhecer mais depressa e se
sentir inútil, peça que alguém quer descartar, ou espera desfazer-se dela.
Muito gostei da conversa da tarde com
a Senhora Dona (…) que já me esqueci o nome.
Aqui está a ética do cuidador que é
aquele que, sempre presente, na solidão, pois cuidar é estar presente para
todos: para o padre, para o médico, para os pais, para os filhos, para os
netos. O Cuidador é o passado no presente a preparar o futuro.
“Porque é que nos sentimos sós?” Diz
o autor desse artigo que li: ”Saber-se e sentir-se desabrigado, sem tecto, sem
morada.” Por isso, “ajudar a vencer a solidão é oferecer a alguém uma morada,
uma hospedagem, o cuidado de um abrigo; o abrigo do nosso olhar, o abrigo do
nosso ouvido, da nossa palavra, da nossa mão, dos nossos gestos, da nossa
compreensão e confiança, da nossa estima, chamar-se amizade ou mesmo amor.”
É, portanto, cuidar, usar voz baixa,
mas sobretudo clara e sonante, mão leve e carinhosa, ouvido atento mesmo no
silêncio, olhar terno e suave, gesto afectuoso e cheio de doçura, arrancando do
outro estima e confiança.
Assim o Idoso é memória, é história,
é sabedoria que merece respeito e veneração. Nada para lançar aos caixotes do
lixo, mas reconhecer os afectos e carinhos que a família, ou na vez da família,
alguém lhes dá.
Assim, vale a pena dizer que damos
Alma à Vida.
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