1. “Na doação a vida fortalece-se; e enfraquece-se no comodismo e no isolamento.” Estas palavras, do Episcopado Latino-americano e do Caribe, são citadas pelo Papa Francisco na sua Exortação Apostólica “A alegria do Evangelho”. Tomemo-las como orientação e incentivo para a vivência da Quaresma e da Páscoa, que na Eucaristia de Quarta Feira de Cinzas nos são apresentadas como tempo favorável e dia da salvação.
Nelas se resumem, antes de mais, os acontecimentos salvíficos que celebramos no Tríduo Pascal. Foi na incondicional e total doação da vida, consumada na cruz, que o Senhor Jesus Cristo obteve a máxima fortaleza: venceu a morte para sempre e tornou-se fonte perene de salvação e vida para todos os que n’Ele crêem e nos quais assim passa a viver. Só com Ele presente em nós e a agir por meio de nós, poderemos convictamente exclamar no Domingo da Ressurreição: Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria.
Precisamos para isso da Quaresma, o tempo favorável, em que nos são propostos os meios para sairmos do comodismo e isolamento em que a vida se enfraquece: pelo jejum e a abstinência renunciamos a nós próprios, para nos darmos a Deus e aos outros; na oração, em que a Ele nos confiamos, somos inundados pelo seu amor ilimitado; e com a esmola dilatamos a nossa vida à vida daqueles a quem a damos. Vale a pena, pois, aceitar o convite do Senhor, na altura em que nos são impostas as cinzas: Arrependei-vos e acreditai no Evangelho.
2. O contributo penitencial, fruto da renúncia quaresmal, é uma das expressões da nossa doação a Deus e aos outros. Depois de consultar o Conselho Presbiteral, decidi que, este ano, ele seja canalizado, em partes iguais, para dois destinatários:
- As pessoas mais carenciadas da nossa Diocese, de novo através das Conferências Vicentinas, cujos membros vivem a sua doação a Deus e aos outros numa dedicação para todos exemplar.
- Os cristãos da Síria que, para além de viverem numa nação martirizada por conflitos arrasadores, são ainda vítimas de segregações e perseguições por causa da sua e nossa fé em Jesus Cristo.
Demo-nos a uns e a outros com a nossa generosa solidariedade, ainda que isso nos custe e nos doa. Escreve o Papa Francisco na sua mensagem para esta Quaresma: “Desconfio da esmola que não custa nem dói”. Afinal, foi também na dor – e que dor! – que Jesus Cristo mais se deu por nós e nos mostra como, na doação, cresce e se fortalece a nossa vida.
3. Como orientação e incentivo para esta doação, durante a Quaresma e a Páscoa, recomendo ainda a leitura meditada e rezada, individualmente e em grupo, da já referida Exortação Apostólica do Papa Francisco, “A alegria do Evangelho”, e da Nota Pastoral que escrevi para o presente ano, “Há mais felicidade em dar(-se)”.
Viana do Castelo, 02 de Março de 2014 (no XXXVI Encontro Diocesano da Pastoral Litúrgica)~
† Anacleto Oliveira (Bispo de Viana do Castelo)
in Chama do Carmo
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