A naturalidade
e a simplicidade são majestosas. Todos os homens autênticos foram naturais e
simples “como os lírios do campo”. 0 que está de acordo com a natureza é sempre
o melhor, enquanto que o que lhe é contrário é sempre desagradável e
desvirtuado. A naturalidade é um estado de ser fácil de adquirir, se nos
apresentarmos como somos, esquecendo a impressão que, muitas vezes, tentamos
causar perante os outros. A humanidade afastou-se imenso da sua “condição
natural”. O homem que pretende voltar à origem da sua própria vitalidade tem
que romper as falsas barreiras da vida e os artifícios da nossa civilização,
que se afasta cada vez mais das realidades da vida. O homem bem avisado
procura renovar-se com as coisas que pode ver, ouvir e sentir, pelo contacto
direto com a natureza, atuando por suas próprias mãos, sem se desviar da
essência da sua natureza.
Poucas coisas
são tão vigorantes para o espírito humano e para o corpo exausto como uns dias
ou semanas de contacto íntimo com o sol, a água e os campos. Fugir das cidades
de cimento e asfalto pode compensar (mais profunda e eficazmente que qualquer
tranquilizante artificial) as futilidades, as frustrações, os enganos, os desencantos
devidos aos problemas do dia a dia. Essas lutas interiores não só são reais
como tornam imperativo o regresso periódico à nascente que a humanidade outro-
ra tão intimamente conheceu, ou seja, o mundo natural.
No meio da
confusão e da preocupação da vida moderna, o nosso espírito suspira pela
simplicidade. Desejar uma vida simples é um dos objetivos mais importantes
dos seres humanos. O homem moderno torna a sua vida complicada e confusa.
Estamos a criar os nossos próprios problemas e conflitos, o que nos torna
irritáveis, fictícios e infelizes. Oscar Wilde escreveu: “A vida não é
complexa; nós é que somos complexos.” A vida é simples e as coisas simples
são as melhores. A nossa vida perde-se em pormenores e em esquisitices. A pressa
e o bulício da vida contemporânea são os desperdícios mais reais e profundos
da palavra. Andamos tão atarefados atrás de objetivos fora do nosso alcance
ou então tão supérfluos que não da-- mos conta dos valores perenes e autênticos
que estão mesmo à mão de semear.
Nos tempos que
correm, todos os problemas de ordem econômica, financeira e social só existem
porque o homem complicou a vida de tal modo que não sabe como sair da teia em
que se enredou. Veja-se a crise em que nos encontramos por causa da
leviandade, da incompetência, da imprepara- ção e da precipitação dos nossos
governantes do passado recente e dos atuais, que causaram, permitiram e
estimularam o esbanjamento do patrimônio e do erário públicos, através de
luxos, obras dispensáveis, protocolos, branque- amentos de capitais,
vencimentos chorudos de gestores e responsáveis pelo bem comum que foi delapidado
em proveito próprio, empenhando as gerações presentes e futuras que estão a
mergulhar no abismo da pobreza de onde dificilmente sairão. Estamos a chegar à
concretização do tão propalado conceito de “terra queimada”. Eles complicaram
de tal modo o progresso que tornaram impossível a simplificação que o poderia
fazer resolúvel. Esqueceram os valores humanos que são mais valiosos que
qualquer progresso técnico que, sem eles, foi, é e continuará a ser
desvirtuado, desonesto, explorador, atentatório e violador dos mais
elementares direitos do homem.
De Artur Gonçalves Fernandes in D. M. de
25/10
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