Serenamente
É preciso - lê-se numa Nota Pastoral da Conferência
Episcopal Portuguesa datada de 19 de abril do ano em curso, que a nossa fé encarne
num estilo de vida cristão na família e no trabalho, na vida social e política.
Cristo exorta-nos à coerência entre fé e vida real: «Nem todo o que me diz
‘Senhor, Senhor’, entrará nó Reino do Céu, mas sim aquele que faz a vontade do
meu Pai que está no Céu» (Mt 7, 21). E S. Tiago recorda-nos que «a fé sem obras
está morta» (Tg 2, 26). É inexistente.
Na vida em coerência com a fé é que está a chave
de muitos problemas. E aí é que residem o difícil e o importante do ser
cristão.
Vida vivida em coerência com a fé a cada momento e em todas
as circunstâncias e não apenas em atos pomposos para que se chama a
Comunicação Social, como se o Senhor não tivesse recomendado que a esquerda
não saiba o que faz a direita.
Causa-me apreensão a tendência crescente para a
vivência religiosa feita espetáculo e folclore. Vive-se a fé - ou dá-se a
impressão disso - em momentos particularmente selecionados. Vistosos. Depois,
no dia a dia...
«Caule sem espiga não produz farinha» (Oseias 8, 7), mas
às vezes pode ficar-se com a ideia de nos limitarmos a cuidar de vistosos caules,
que não passam disso.
Celebrar o cinqüentenário do Vaticano II não
deve ser algo semelhante à comemoração da batalha de La Lys, por exemplo. 0
Concilio produziu importantes documentos que é preciso conhecer cada vez
melhor e pôr em prática.
A referida Nota da Conferência Episcopal sugere
se «promovam o estudo, a reflexão e a aplicação do Concilio Vaticano II,
sobretudo dos documentos mais relevantes, as Constituições: Lumen Gentium,
sobre a Santa Igreja; Sacrosanctum Conci- lium, sobre a sagrada Liturgia; Dei
Verbum, sobre a Revelação divina; e Gaudium et spes, sobre a Igreja no mundo
contemporâneo».
Tal celebração - diz a mesma Nota - «deve levar-nos a um
exame de consciência, pessoal e comunitário, para vermos o que falta fazer
para implementar o espírito e a letra do Concilio». Há que ter a coragem de
nos perguntarmos se a Igreja de Cristo a que pertencemos é hoje a Igreja do
Concilio do Vaticano II.
Ele, «ainda hoje, continua a ser (ou deve
continuar a ser, se de facto já começou a sê-lo) a bússola segura que norteia a
vida e a ação da Igreja de Cristo». E um modo muito recomendável de assimilar
o espírito e a letra do Concilio do século XX, de tanta atualidade ainda nos
pri- mórdios do século XXI, consiste em «ler, estudar e dar a conhecer o Catecismo
da Igreja Católica», de que existe também uma edição adaptada aos jovens, o
Youcat.
Mas será que é lido por todos os cristãos? Existe em todas
as famílias?
A Igreja tem uma belíssima doutrina.
Simplesmente, nem todos a conhecem. E aqueles que a conhecemos e a pregamos
nem sempre a praticamos. E aí é que está o problema. Falamos, mas nem sempre
vivemos. Falta-nos, em muitos casos, a tal coerência entre a fé e a vida.
É muito fácil, por exemplo, falar em
solidariedade, mas manifestar isso com gestos solidários... É muito fácil
lamentar a chaga do desemprego, mas impedir a prática do pluriemprego ou dizer
a aposentados com boas pensões de reforma que deixem o trabalho remunerado
para quem dele precisa como de pão para a boca...
Silva Araújo in Diário do Minho- Opinião
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