A propósito do ano da fé,
transcrevo do
Diário do Minho algo que sai da vontade
deo autor Pe. João Torres
Espero ver nascer, na nossa
Arquidiocese de Braga, em cada
paróquia e em
cada pessoa, um rosto
missionário, capaz de gerar vida nova.
Sou como um embondeiro entre os outros: à escuta
do outro. Bebendo tragos de subtileza, com o sabor de uma beleza que não é um
adorno, feita da sobriedade melíflua, nem paz morta à sombra da insipiência
das cores, mas uma espécie de luz da profundidade. Deixo-me trespassar por esta
"dança (e)terna da Vida"... E acabo quase sempre a chorar de ternura.
Não se pode impor a um embondeiro que se torne o guarda da dignidade do outro.
Mas esta "gente de raízes ao alto" tem a graça de tolerar que o outro
cuide de si. É neste bailado de palavras que sinto a voz de Deus a chamar por
mim. Falar da minha vocação é falar das pessoas (comunidade) que Deus colocou
na minha vida e de quem sou mendigo de amor. Rara além da minha família, há
dois missionários que marcaram a minha vida: o Padre João Baptista Ferreira e o
Padre Dr. Manuel Moreira da Costa Santos. A eles" agradeço o testemunho de
"ciganos de Deus", sempre disponíveis para me introduzirem jpr na
"Tenda de Deus", quando a vida nem sempre foi fácil.
Ser missionário para
mim é, como dizia o saudoso Cardeal Martini, pisar o "palco do
quotidiano" e aprender a ser um viandante que desce, cada
vez
mais, e sempre mais profundamente, ao coração da Vida para aprender a
"saborear por dentro todas as coisas" e assim, com o perfume do amor,
encetar os passos desta dança nova, (e)terna, que te faz descobrir que há
estrelas no céu mesmo quando é meio dia... e só as descobre e vê, quem se
habituou a "dançar com Deus", no coração do mundo e do tempo... com
um coração de Criança.
Tive a sorte - e
sinto-me mesmo um privilegiado - de ter estado em vários campos de missão em
Angola e Moçambique. Em Moçambique fui nomeado para uma missão de Ocua. Ora,
essa missão cobria uma área de 130 km, maior que a nossa Diocese, e eu era
pároco de 75 comunidades. Aprendi coisas fabulosas e as visitas eram preparadas
ao pormenor. Quando chegava a uma comunidade sabia que tinha que fazer três
coisas "obrigatórias". Se não as fizesse, a minha passagem por ali
não "valia nada": comer a comida deles, dormir na kitanda deles [cama
tradicional] e pegar nas crianças deles. Era uma Igreja diferente da nossa,
criava-se uma onda que unia as pessoas, que as conectava, que as transformava
num corpo vivo. O contrário do que aqui se passa, onde tudo é medido e
hierático.
O
que eu vejo cá é, de um lado, um corpo ausente, como morto, si lente e, em
frente, um outro, que faz o espetáculo, com uma marcação rigidamente
sincronizada e autoritária. Lá senti-me realmente um cigano de Deus e um
mendigo de amor.
Tenho a convicção que
por toda a parte onde estiver, em qualquer situação da minha vida, devo
sentir-me missionário, pelo meu testemunho de fé, pela minha atitude, pelo meu
olhar e pelas minhas palavras. Tenho a graça de viver numa comunidade
sacerdotal constituída por cinco sacerdotes e um diácono. Sou pároco "in
solidum" com o Pe. Manuel Baptista da Unidade Pastoral de Esporões, Arcos,
Guizande, Escudeiros, Tadim e Priscos. Tenho também a privilégio de ser
voluntário no Estabelecimento Prisional de Braga e de ser confessor na
Basílica dos Congregados. Para além da minha família de sangue tenho outra
família a Braga 24, das Equipas de Nossa Senhora. Casais a quem devo muito o
aquilo que sou-
Espero ver nascer, na nossa Arquidiocese
de Braga, em cada paróquia e em cada pessoa, um rosto missionário, capaz de
gerar vida nova. Gostava de ver sacerdotes do isbitério de
Braga, por um perioclõ limitado de tempo, a serem padres "Fidei
Donum". Como seria belo, por exemplo, se na minha comunidade sacerdotal,
um sacerdote (posso ser eu) pudesse ser enviado para outra diocese mais pobre
de Portugal ou do mundo apoiado quer pela diocese, quer pelos colegas. Estamos
sempre à espera de receber "missionários para serem párocos" e
miseravelmente nunca estamos dispostos a dar "párocos para serem
missionários". Vivemos um tempo de esperança missionária na qual os
verdadeiros crentes querem passar "de parasitas" a irmãos ativos da
comunidade, por vezes, não há mudança porque há "padres a mais e leigos a
menos" e sofremos de um défice de reflexão e de um excesso de ritualismo.
Mastigo
dentro de mim as palavras do livro do Apocalipse, dirigidas à igreja de Sardes:
"Conheço as tuas obras; tens fama de estar vivo, mas estás morto. Sê
vigilante e fortifica aquilo que está a morrer, pois não encontrei perfeitas as
tuas obras, diante do meu Deus. Recorda, portanto, o que recebeste e ouviste.
Guarda-o e arrepende-te"
(3, 1-3). Estás sempre
perante o Mestre da compaixão infinita.
* Centro
Missionário da Arquidiocese de Braga
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