Nas páginas
de apresentação deste seu novo livro, que tem a chancela da Editorial Presença,
o Padre Carreira das Neves define-se como um crente, citando Descartes: 'Sou
um ser finito capaz de pensar o infinito”. Demarca-se por outro lado de autores
como Dürkheim, Weber ou Claude Lévy-Strauss, entre outros - sociólogo e
antropólogos -que tinham uma perspectiva evolucionista das religiões. Ao
contrário do que esses estudiosos pressupunham, as religiões não desapareceram
sob a égide da razão quando as sociedades se tornaram mais desenvolvidas. Na
realidade de um mundo agora globalizado e tecnologicamente avançado, são cada
vez mais as múltiplas manifestões da vida religiosa, assistindo-se mesmo à
revitalização de crenças consideradas primitivas, como o xamanismo, que
integraram o movimento New age. Dotado de um raro sentido religioso e de um
ecumenismo universal, aliados a uma sólida formação de teólogo e hermeneuta, o
Padre Carreira das Neves conduz o leitor ao longo da História numa apaixonante
viagem por todas aquelas religiões que ainda hoje se mantêm vivas e actuantes,
como o Hinduísmo e o Budismo, o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo, as
igrejas Ortodoxas, o Protestantismo, o Catolicismo actual, os vários
fundamentalismos, incluindo também os modernos movimentos inspirados na
Bíblia. O resultado é esta obra magnífica e inovadora, capaz de aliciar um
vasto público de crentes e não-crentes interessados em aprofundar o seu
conhecimento sobre o patrimônio espiritual da humanidade.
Por outra
parte, "Deus existe? - Uma Viagem pelas Religiões" coloca-nos uma série
de questões sobre as quais vale a pena reflectir. Entre elas está a
circunstância de a Europa ter sido assolada, em boa parte do século passado,
por duas ideologias dominantes: o nazismo e o comunismo internacional, ambas
"absolutamente ateias". Ora, sem Deus, é possível colocar um
fundamento humano e jurídico para uma ética e moral? E sem ética e sem moral,
será possível viver em paz? A "resposta" que nos é dada neste livro
do Padre Carreira das Neves é, obviamente, negativa - eos
fundamentos que apresenta para alicerçar essa "resposta" obrigam-nos
a pensar na nossa própria realidade (pessoal e social) e a retirarmos as
nossas "conclusões"...
Afirma o
autor que "Deus está bem vivo nas multiformes representações religiosas de
hoje". E é precisamente deste assunto que trata o livro em análise,
seguindo o método da história (isto é: o método descritivo). Nele são
estudadas as religiões vivas, as históricas, sem qualquer preconceito sobre as
mesmas - sem que, todavia, o autor deixe de ajuizar sobre as
"Escrituras" fundadoras. E também acerca das religiões
"arqueológicas" se debruça o Padre Carreira das Neves, designadamente
sobre a sua situação histórica e ideológica. No fundo, tudo para respondeu a
uma pergunta nuclear: "Deus Existe"?
Na parte final do livro, o
autor questiona-se sobre se é possível "profetizar" sobre o futuro
das Religiões. E também aqui nos sugere uma série de "respostas" que,
inclusivamente, não deixam de lado acontecimentos recentes (como a problemática
da "partícula de Deus" do bosão de Higgs...). E termina afirmando:
"A História tem sempre a última palavra e, em meu entender, não houve nem
haverá História sem Religião. Acredito que Deus
existe". Esta é uma "conclusão" que se espera
desde as primeiras páginas da obra. Contudo, a sua fundamentação, explanada ao
longo de mais de quatro centenas de páginas, não deixa de nos interrogar
interiormente - sejamos ou não sejamos crentes... Razão por que se trata de um
livro que vale a pena ler e sobre o qual vale a pena (ainda mais) reflectir. I A. P.
Nota.O Padre Joaquim Carreira das Neves (na foto) é sacerdote franciscano, teólogo e professor de
Teologia Bíblica. Doutorou-se em 1967 na Universidade de Salamanca e foi
docente da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa até 2005,
ano em que se aposentou.in Diário do Minho
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