O materialismo demonstrou, de maneira a não deixar
margem a dúvidas, que não consegue proteger e garantir o bem- estar da
humanidade. As crises, quando profundamente analisadas, também servem para
alertar as pessoas para os valores morais que são esquecidos nos períodos de
grande prosperidade. Temos obrigação de os desenvolver e pôr em prática nas
relações humanas em todos os períodos e épocas históricas. Se o homem não
esquecesse a sua dimensão espiritual e fosse, por isso mesmo, mais honesto,
mais justo, mais humano e nada ganancioso, o mundo seria menos desigual e as
crises econômicas e sociais' seriam em menor número, muito mais ligeiras e
menos traumatizantes.
O mundo está a tornar-se excessivamente
complexo e as pessoas não se sentem felizes. Predomina a melancolia, a ira, o
cinismo, a indignação e a insatisfação contínua, porque falta a educação, a
justiça, a compreensão e a solidariedade humana, que deram lugar a um espírito
materialista cego e desumano. Se o homem atual se preocupasse mais com o que
é e fosse menos dominado pelo ter, não viveria tão ameaçado. A grande necessidade
da sociedade moderna é a de apressar a formação do caráter e da educação
harmoniosa, tanto em casa, como na escola e até em muitas instituições
eclesiais, para poder acompanhar o progresso tecnológico e científico.
Os jovens (e não só) possuem uma cultura geral muito
limitada. Basta ouvi-los nos seus diálogos informais, nos concursos e nos programas
radiofônicos e televisivos, para ficarmos aterrorizados com os seus
comportamentos e com os seus conhecimentos. E o mais grave é que os autores
desses programas também ignoram as coisas mais elementares. Como é que, perante
milhares de espectadores, são apresentadas como corretas afirmações como esta:
“o cordeiro é filho da cabra e do bode”. Até os analfabetos de outrora
conheciam tudo o que implicava sabedoria básica, quer em linguagem oral, quer
em temas de História e Geografia. Ao que chegaram os conhecimentos gerais do
homem contemporâneo! É por estas e por outras que os países estão a ser
governados por tantos ignorantes e incompetentes. 0 mesmo se pode afirmar em
relação a certas escolas ou instituições de ensino, incluindo as
universidades. Que ignorância por
O mundo está a tornar- se excessivamente complexo e as
pessoas não se sentem felizes. Predomina a melancolia, a ira, o cinismo, a
indignação e a insatisfação contínua, porque falta a educação, a justiça, a
compreensão e a solidariedade humana
lá campeia! Muitas pessoas apenas procuram o
entretimento pra- zenteiro, não mostrando o mesmo interesse pela cultura e pelo
enriquecimento intelectual.
Nós temos de saber escolher um conjunto de valores
humanos bem definidos e viver de acordo com eles. Enquanto o ser humano puser
os bens materiais acima dos valores morais, estéticos e espirituais, não tem
qualquer futuro, nunca sendo capaz de alcançar uma forma de viver real e genuinamente
digna. Só quando o homem se der conta da realidade e dos valores permanentes
da vida é que escapa à sua própria prisão. Os jovens não aprendem o valor da
disciplina, da responsabilidade, da urbanidade, da dignidade, da ética, do
civismo, do gosto pelo estudo, do reconhecimento da importância do saber e do
respeito pelos pais, pelos professores e pelos outros. Os estudantes de hoje
têm pouca reverência e consideração pelo passado e pouca esperança pelo
futuro. Tentam viver o presente o mais prazenteiramen- te possível. Quando se
lhes lembra a nossa herança de valores, os jovens respondem com certo desinteresse,
desdém, desconfiança, suspeita e até intolerância. A história humana tem-nos
dado muita coisa boa e positiva. IMão é certamente derrubando o que está bem
feito e nos foi legado que se resolvem os problemas atuais.
Muitos pais endinheirados deram aos filhos tudo
o que o dinheiro pode comprar. Só que não os ensinaram a cultivar os valores
universais. Criaram os filhos num vácuo moral e num clima de niilis- mo.
Perdeu-se a arte de formar autênticos homens. A única segurança permanente que
o homem pode atingir é o sentido dos valores cívicos e morais. Ter “tudo” é
tê-lo tanto por fora como por dentro. Quando o homem combina os bens materiais
com os morais, a natureza humana revela-se sob o seu melhor aspecto.
In Diário do Minho, de Artur Aguiar Fernandes, nº 28 dos artigos de
opinião
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