1.
Lê-se no
Evangelho de S. Marcos (11, 11-26) que, um dia, Jesus, tendo ido a uma figueira
à procura de figos, verificou que naquela árvore apenas
existiam abundância
de folhas.
Há quem dê uma interpretação simbólica a este
texto evangélico. Neste sentido, a figueira era o povo de Deus e a sua prática
religiosa. Vivia uma religião feita de exterioridades. De muita conversa, de
muitos pen- duricalhos, rica de gestos exteriores. Mas, quanto a frutos de
conversão, nada. Não mudava as pessoas.
2.
Também hoje
há figueiras sem figos. A religião do folclore, das fardetas, das grandes
concentrações, dos gestos teatrais, mas que, pelo que é percetível, não vai
muito além disso.
A religião muito preocupada com rSêcüíiüãriõ, Cõm 0
fjLiãílIO mâiS vistoso melhor, mas esquecida do essencial.
Não deixa
de ser significativo que um considerável número de pessoas que, em 3 de junho,
peregrinaram ao Sameiro não tenha participado na celebração eucarística com
que a caminhada terminou.
3. Há figueiras sem figos em muito da atividade
política. Muita conversa, grandes discursos, mas a verdade é que, com tudo
isso, o País chegou onde chegou e não se vê em muitos dos responsáveis um
esforço no sentido de se darem as mãos e contribuírem, todos juntos, para sairmos
do pântano a que irresponsavelmente nos conduziram.
Bem espremidos, o que resulta de muitos
discursos parlamentares? Qual a matéria de fundo de tais discursos? O que se
grita em muitas manifestações?
Fala-se, fala-se, fala-se, mas atua- -se pouco,
muito pouco. Todavia, o que faz falta são obras e não palavras. Levantam-se
problemas, mas não se apresentam soluções. Criticam-se caminhos, mas não se
apontam alternativas.
Existe o flagelo do desemprego. Tem dado origem
a muito inflamados discursos e a muitas acusações. No meio de tanto
palavreado, onde estão as sugestões viáveis para resolver ou atenuar o
problema?
Vive-se a ideia de que as pessoas valem pelo
que dizem, quando o importante é o que realmente fazem em benefício do bem
comum. Muitos dos ramalhosos discursos apenas servem para ludibriar os cidadãos
menos prevenidos. E há, de facto, quem vá no paleio de quantos falam mas não
agem.
Há
cidadãos pagos pela comunidade para agirem em benefício do bem comum. Na
prática, o que se vê? Uma vaga de críticas destrutivas. uma avalanche de
discursos de bota-abaixo, o apelo insistente a teatrais manifestações, quando o
que importa é a análise serena, desapaixonada e apartidária, da situação e a
busca concertada de soluções. Pessoas muito palavrosas relativamente ao bem
comum, na prática o que buscam é a defesa dos próprios interesses e dos
interesses dos seus. Servem-se, mas não servem. Arranjam-se, em vez de
colaborarem na solução dos problemas.
4. Todos beneficiamos se se pensar e agir mais e
se falar menos. Se se buscarem consensos em vez de se lançarem diatribes. Se,
em vez de se gastar tempo e dinheiro com questões de somenos, as pessoas se
debruçarem sobre a realidade do que nos aflige. Se, em vez de inflamados
discursos para iludirem as pessoas e arrancarem impensados aplausos, se
colaborar de verdade na saída da difícil situação para onde,
irresponsavelmente, insisto, nos atiraram.
Temos figueiras muito vistosas e muito
ramalhudas, mas sem figos, e não é com folhas que se mata a fome às pessoas.
In D. M. de Silva Araújo
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