Gênero: o cérebro é masculino ou feminino?
“Não é uma escolha nossa, mas uma realidade biológica que trazemos desde o nascimento”, afirma o neurologista Massimo Gandolfini
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12.06.2014 // IMPRIMIR
O gênero é questão de debate, seja científico ou cultural. Pedimos ao professor Massimo Gandolfini, neurologista, diretor do Departamento de Neurociência da Fundação Poliambulan de Brescia e vice-presidente nacional da Associação Ciência & Vida, que esclarecesse o significado e a origem desta ideologia e a tarefa do cérebro na definição do gênero.
Professor Gandolfini, o senhor poderia recordar a origem da teoria do gênero?
Do ponto de vista estreitamente histórico, o termo “gênero”, surgiu no trabalho de Sigmund Freud, em 1920, com o título “Psicogênese de um caso de homossexualidade na mulher”, o qual, pela primeira vez, se põe o tema da diferença entre “papel do gênero” e “identidade de gênero”. No plano da elaboração cultural, a ideologia de gênero se propõe a partir dos anos 50, 60 e é caracterizada por três “ondas”, que se seguem e se completam.
A primeira onda: a “teoria natural”
A “teoria natural”, ou teoria da prevalência da cultura sobre a natureza, foi proposta por John Money, diretor do departamento de sexologia do John Hopkins Institute. Nos anos 60 começou a impor-se o “dogma” que se torna homem ou mulher não por determinação biológica sexual, mas por imposição de “estereótipos” de gêneros. Em outras palavras, um gênero masculino se torna homem condicionado pelas categorias pedagógicas e culturais que lhe impõe tarefas sociais próprias do homem, como jogar futebol por exemplo.
E vale por outro lado para o feminino, que vem condicionado a se tornar mulher. Conclui-se que a mudança de estereótipos de gênero se pode modificar na evolução cultural seja do masculino ou do feminino, completando o trabalho através de técnicas médico-cirúrgicas de “mudança de sexo”. Neste contexto insere-se a trágica “experimentação” conduzida pelo Dr Money no pequeno Bruce, transformado em Brenda, que acabou se suicidando, depois de uma vida de desconforto e sofrimentos incalculáveis.
A segunda onda: o movimento feminista
A segunda “onda” é ligada à história do movimento feminista para a emancipação e a igualdade da mulher, sobretudo a partir dos anos 70.
Podemos citar um nome: Simone de Beauvoir, com a sua luta pelo direito ao divórcio, a liberdade sexual realizada através da contracepção e o direito ao aborto, com a finalidade de liberar a mulher do condicionamento da maternidade. Em 1980, Adrienne Rich produziu um texto considerado o manifesto do lesbianismo, proposto como o instrumento vencedor para a luta da liberação do masculino, e cunhou a famosa sigla LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais), propondo quatro gêneros de identidade e relacionada orientação sexual.
A terceira onda: a “não identidade”
Podemos localizar a “terceira onda” nos inícios dos anos 90, com Judith Butler, feminista lésbica e autora do “Gender Trouble”, ato fundador do feminismo radical, no qual se propõe a ideologia da “não identidade”, ao interno de uma sociedade global líquida, sem nenhum ponto fixo de referência, que abre o caminho para a “nomadismo" de Anne Sterling (1993). Neste contexto, nasce o gênero “queer” - estranho, variável, modificável - que integra a sigla mencionada LGBTQ.
Há diferença entre identidade sexual e gênero?
Gostaria de especificar que é mais correto falar de identidade “sexuada”, ao invés de “sexual”. Com o primeiro nome, de fato, observa-se que a associação de sexo - masculino ou feminino - não é uma escolha nossa, mas uma realidade biológica que trazemos desde o nascimento: nós a encontramos inscrita na totalidade do nosso corpo, células, tecidos e órgãos. Esta é a diferença fundamental entre identidade sexual e ideologia de gênero: a primeira é biologicamente determinada, a segunda é uma escolha autônoma e individual que ignora completamente o fato da realidade representada pela permanência sexual.O cérebro é masculino ou feminino? Isso vai além da cirurgia, atos hormonais e psicológicos para mudar o "gênero" de uma pessoa?
Nos últimos vinte anos adquirimos o princípio de que a sexualização dimórfica (masculino / feminino), cobre o corpo em sua totalidade, incluindo o cérebro. Hoje falamos de “cérebro sexuado”, querendo entender que o masculino e o feminino são diferentes também na estrutura anatômica e no funcionamento do próprio cérebro. Até os tempos de Leonardo da Vinci, sabíamos que volumetricamente o cérebro masculino era maior que o feminino (a função não é proporcional à massa), mas somente nos últimos vinte anos entendemos que a diferença está também na ordem anatômica e funcional. Em síntese, o cérebro masculino é caracterizado por uma rígida “lateralização” - as áreas da linguagem são, por exemplo, rigidamente localizadas no hemisfério esquerdo; ao contrário, na mulher existem representações também no hemisfério direito - e as conexões entre os hemisférios - ou seja, a ligação entre os dois hemisférios - são mais desenvolvidas e numerosas no cérebro feminino.
Enfrentar a questão do gênero é um desafio educativo?
A indicação é de manter um diálogo aberto, refinado, não prejudicial, com a intenção de encontrar um terreno compartilhado de ação cultural, educativa e política, em favor da vida, para cada idade e em cada condição pessoal e social. Devemos nos esforçar para “construir pontes em vez de cavar valas”, com os homens de boa vontade, que habitam o mundo da cultura, ciência, e sociedade.
Professor Gandolfini, o senhor poderia recordar a origem da teoria do gênero?
Do ponto de vista estreitamente histórico, o termo “gênero”, surgiu no trabalho de Sigmund Freud, em 1920, com o título “Psicogênese de um caso de homossexualidade na mulher”, o qual, pela primeira vez, se põe o tema da diferença entre “papel do gênero” e “identidade de gênero”. No plano da elaboração cultural, a ideologia de gênero se propõe a partir dos anos 50, 60 e é caracterizada por três “ondas”, que se seguem e se completam.
A primeira onda: a “teoria natural”
A “teoria natural”, ou teoria da prevalência da cultura sobre a natureza, foi proposta por John Money, diretor do departamento de sexologia do John Hopkins Institute. Nos anos 60 começou a impor-se o “dogma” que se torna homem ou mulher não por determinação biológica sexual, mas por imposição de “estereótipos” de gêneros. Em outras palavras, um gênero masculino se torna homem condicionado pelas categorias pedagógicas e culturais que lhe impõe tarefas sociais próprias do homem, como jogar futebol por exemplo.
E vale por outro lado para o feminino, que vem condicionado a se tornar mulher. Conclui-se que a mudança de estereótipos de gênero se pode modificar na evolução cultural seja do masculino ou do feminino, completando o trabalho através de técnicas médico-cirúrgicas de “mudança de sexo”. Neste contexto insere-se a trágica “experimentação” conduzida pelo Dr Money no pequeno Bruce, transformado em Brenda, que acabou se suicidando, depois de uma vida de desconforto e sofrimentos incalculáveis.
A segunda onda: o movimento feminista
A segunda “onda” é ligada à história do movimento feminista para a emancipação e a igualdade da mulher, sobretudo a partir dos anos 70.
Podemos citar um nome: Simone de Beauvoir, com a sua luta pelo direito ao divórcio, a liberdade sexual realizada através da contracepção e o direito ao aborto, com a finalidade de liberar a mulher do condicionamento da maternidade. Em 1980, Adrienne Rich produziu um texto considerado o manifesto do lesbianismo, proposto como o instrumento vencedor para a luta da liberação do masculino, e cunhou a famosa sigla LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais), propondo quatro gêneros de identidade e relacionada orientação sexual.
A terceira onda: a “não identidade”
Podemos localizar a “terceira onda” nos inícios dos anos 90, com Judith Butler, feminista lésbica e autora do “Gender Trouble”, ato fundador do feminismo radical, no qual se propõe a ideologia da “não identidade”, ao interno de uma sociedade global líquida, sem nenhum ponto fixo de referência, que abre o caminho para a “nomadismo" de Anne Sterling (1993). Neste contexto, nasce o gênero “queer” - estranho, variável, modificável - que integra a sigla mencionada LGBTQ.
Há diferença entre identidade sexual e gênero?
Gostaria de especificar que é mais correto falar de identidade “sexuada”, ao invés de “sexual”. Com o primeiro nome, de fato, observa-se que a associação de sexo - masculino ou feminino - não é uma escolha nossa, mas uma realidade biológica que trazemos desde o nascimento: nós a encontramos inscrita na totalidade do nosso corpo, células, tecidos e órgãos. Esta é a diferença fundamental entre identidade sexual e ideologia de gênero: a primeira é biologicamente determinada, a segunda é uma escolha autônoma e individual que ignora completamente o fato da realidade representada pela permanência sexual.O cérebro é masculino ou feminino? Isso vai além da cirurgia, atos hormonais e psicológicos para mudar o "gênero" de uma pessoa?
Nos últimos vinte anos adquirimos o princípio de que a sexualização dimórfica (masculino / feminino), cobre o corpo em sua totalidade, incluindo o cérebro. Hoje falamos de “cérebro sexuado”, querendo entender que o masculino e o feminino são diferentes também na estrutura anatômica e no funcionamento do próprio cérebro. Até os tempos de Leonardo da Vinci, sabíamos que volumetricamente o cérebro masculino era maior que o feminino (a função não é proporcional à massa), mas somente nos últimos vinte anos entendemos que a diferença está também na ordem anatômica e funcional. Em síntese, o cérebro masculino é caracterizado por uma rígida “lateralização” - as áreas da linguagem são, por exemplo, rigidamente localizadas no hemisfério esquerdo; ao contrário, na mulher existem representações também no hemisfério direito - e as conexões entre os hemisférios - ou seja, a ligação entre os dois hemisférios - são mais desenvolvidas e numerosas no cérebro feminino.
Enfrentar a questão do gênero é um desafio educativo?
A indicação é de manter um diálogo aberto, refinado, não prejudicial, com a intenção de encontrar um terreno compartilhado de ação cultural, educativa e política, em favor da vida, para cada idade e em cada condição pessoal e social. Devemos nos esforçar para “construir pontes em vez de cavar valas”, com os homens de boa vontade, que habitam o mundo da cultura, ciência, e sociedade.
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