quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

NOITE DE NATAL 2015 – Já la vão 60 e tal anos…


NOITE DE NATAL 2015 – Já la vão 60 e tal anos…

Era eu ainda muito jovem, iniciava-se o período de Natal e minha mãe obrigava-me a ir à igreja. Era um ritual que se repetia todos os anos, tão intimo e tão vulgar que incorporava o simbolismo da Santa Noite de Natal.

 

Era eu e todos os meus irmãos unidos num espirito de grupo que envolvia, novos e velhos, grandes e pequenos A família. Todos lá de casa.

Na lareira – uma grande pedra espessa, em granito, pousada no soalho, ardiam os canhotos que junto aos potes coziam as batatas, esta elevada também por uma outra pedra mais estreita que lhe servia de apoio, para colocar as panelas. À direita, o forno de cozer a boroa; à esquerda o lava-loiças também em granito e, logo por cima, um louceiro em madeira de pinho, com prateleiras para enfiar os pratos lavados. O fumo saía por entre as telhas e ripado do telhado. Não havia tecto nem propriamente uma chaminé! Era a cozinha daquela época. Na sala, construía-se o presépio. Ali se dispunham os três Reis Magos, o grupo de pastores, as ovelhinhas em rebanhos, o açude, os pequemos regueiros ou riachos, as casinhas, as azenhas, todas aquelas figuras exóticas por aqueles atalhos feitos em serrim pelas montanhas sagradas, construídas em musgo verde. O Menino Jesus gorduchinho e bom “em palhinhas deitado” e a Sagrada Família. Não faltava a vaquinha e o burrinho ou a mulinha - como lhe queiram chamar - com os seus meigos olhares naquela cabaninha algo tosca, erguida com muito amor e carinho pelas mãos ingénuas e puras de 6 crianças (eu e meus irmãos) e, rematada com a estrela prateada que indicava o atalho que todas aquelas figuras tinham de observar para se orientarem e encontrar o Menino Jesus nascido.

A simbologia do Natal, à época, era patenteada por presépios e não por pinheirinhos.

Era uma alegria para gaudio dos mais pequenos como eu.

A família juntava-se. Chegavam familiares que trabalhavam noutros locais do país. Seguiam-se abraços e beijos e a casa enchia-se. Toda a gente se instala, passeando por toda a casa

Na cozinha não há mãos a medir! As mulheres tratam de tudo.

O bacalhau demolhado que estava já há alguns dias em água e necessitou de continuadas mudas. As tronchudas e as couves-galegas, as hortaliças foram escolhidas pela minha mãe na leira, propriedade nossa, que cultivávamos junto á escola primária de Vila de Punhe. A doçaria vinha sendo feita durante o dia, também por ela, com ovos das galinhas do nosso galinheiro.

As nozes, amêndoas, figos, estavam guardadas por meu pai para serem introduzidas no sapatinho de cada um de nós – filhos - que, no fim da ceia, colocávamos na padieira sobranceira à lareira, aguardando a visita do Menino Jesus que descia pela “chaminé” durante a noite.

Enquanto se aguardava a comida, sentados à volta da lareira, contavam-se histórias. Lembravam.se os que partiram. Outros natais… A vida e cada um em amena cavaqueira.

Uma noite de Natal tipicamente minhoto.

Na mesa, minha mãe estendia a melhor toalha. Ao lado as terrinas, travessas e talheres, os pratos, malgas, canecas de barro branco, pintadas às riscas de azul, eram retiradas do antigo armário lá de casa.

“A comida está pronta”! “Vamos, Todos prá mesa”.!...A ordem vem da cozinha! “Vamos que fria não presta”- convidava minha mãe.

Na lareira, vão ardendo os canhotos. Ao lado, as pinhas mansas que depois de queimadas ou chamuscadas se abrem para quebrar os pinhões. Paira um cheirinho a resina. O bacalhau chegou à mesa, os ovos e os legumes. Tanta hortaliça! O molho de azeite fervido com alho e o vinho verde tinto nas canecas bojudas, que o frio já lhe tinha dado a volta. Era Inverno. Toda a gente se senta à mesa colocada bem perto da lareira para ter aquecimento.

Não faltam as rabanadas de vinho verde da nossa safra e leite do vizinho, lavrador- “tio Joaquim Puxa”. No fim da ceia, comem-se os doces. Não se levanta a mesa – fica para os anjinhos e as alminhas comerem de noite. Se quiserem, claro! (que tenham bom proveito) - dizia minha mãe. Assim ditam algumas das tradições cá do Alto Minho, da minha aldeia, da aldeia onde nasci.

A meia-noite aproxima-se e toca a ir para a cama. O sapato ou a chanca, já lá está à espera do Menino Jesus. Das prendas que trás.

No dia seguinte, toca acordar pressurosos para ver o que havia deixado o Menino Jesus - eu e meus irmãos. Era Natal. Reinava aquela ansiedade e euforia de criança. Sem grandes surpresas! Tínhamos amêndoas nozes e figos no sapatinho. Era o que aguardávamos...mas contentes, muito contentes, porque só acontecia uma vez no ano!

Apesar de tudo, naquela época, nenhum de nós sabia o que lhe tocava. Havia sempre uma espectativa a pensar na surpresa. Meu pai, guardava o que tinha comprado, em segredo, para nos surpreender.

Depois, havia a missa do galo, e naquele dia toca a saborear as gulosices, era dia Natal!…Aquele Natal… tão desejado por qualquer criança durante aquele mês de Dezembro. Uma alegria!

Era sensivelmente assim, a Noite de Natal da minha infância que recordo com muita saudade e que, certamente, faz recordar a alguns de vós, a vossa infância o vosso Natal outrora.

É tempo de respirar bem fundo. É Tempo de Natal. Juntam-se amigos e fazem-se almoços e jantares alusivos. Que bom seria se fossem todos os dias, dias de Natal com …PAZ, AMIZADE E AMOR!

A todos desejos um Santo Natal e Um Próspero Ano Novo

Leandro Matos                                                           12.12.2015                                            

Sem comentários:

Enviar um comentário