terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Espiritualidade Vicentina


Espiritualidade Vicentina
 

 
Deus á amor e Cristo o revelou como tal. Por isso Jesus amou sem medida e o realizou plenamente. Foi por a espiritualidade vivida por S. Vicente de Paulo, que nos fez entender e conhecer o Cristo Vicentino que trabalhou e caminhou como nós e levou a que Frederico Ozanan fundasse as Conferências Vicentinas de S. Vicente de Paulo. Quando Frederico Ozanan e alguns seus amigos tiveram a inspiração de se unirem para o serviço dos pobres, fizeram-no da maneira mais humilde e discreta possível. Sentiam a necessidade de dar testemunho da sua fé cristã mais por actos do que por palavras. Consideravam os seus irmãos infelizes, quaisquer que fossem e qualquer que fosse o seu sofrimento. Viam neles o Cristo sofredor. Amavam-nos como homens e como filhos de Deusa; reconheciam neles não só a sua dignidade de homens confrontados com a sua miséria, mas também a dignidade a quem é dado em primeiro lugar o Reino de Deus.
 

 
Quando entraram em contacto pessoal com os pobres verificara, que a caridade é inseparável da justiça. Mas, como nem sempre é possível a justiça neste mundo, quiseram ao menos fazer o que deles dependi: “dar aquilo que o mais pobre pode dar” – a partilha do seu tempo, dos seus poucos recursos, a sua presença, um simples sorriso de modo a fazer tudo o que lhes era possível para levar um pouco de alívio – muitas vexes apenas quebrar a solidão. Deste diálogo aperceberam-se que, para compreender os pobres é preciso ser pobre com eles. Desta forma, a S. Vicente de Paulo não podia senão chamá-los ao aprofundamento da sua vida espiritual.

Viver deste contacto pessoal com os que sofrem, vivê-lo unidos em comum e com aquele espírito fraterno que é a sua própria essência, o carisma fundamental, original da S. S. Vicente de Paulo.

No Evangelho encontrou a inspiração que animou S. Vicente de Paulo a fundar a sua associação.

O Reino de Deus já chegou – estão nele os pobres, os pequeninos que a ele foram, chamados em primeiro lugar. O Reino de Deus é a lei do amor; o testamento de Cristo é o amor fraterno vivido conjuntamente através do amor de Deus e começa pelo serviço ao próximo. A caridade é universal e recíproca; os pobres servem os pobres e dão esmola e o seu testemunho é o mais alto; o serviço dos pobres é o serviço do próprio Cristo.

A História da Cristandade ilustra o cuidado e a dignidade do serviço dos pobres. Frederico Ozanan nos seus escritos refere o lugar ocupado pela mensagem de pobreza vivida com os pobres e é exemplo de incansável dedicação e da eficácia de S. Vicente de Paulo, eleito padroeiro da Sociedade que acabava de fundar. Sendo assim, o que é ser Vicentino?

Ser Vicentino é uma vocação, um apelo da consciência esclarecida pela graça do Espírito Santo. Quem quer que um dia tenha desejado ser vicentino, traduziu em acto o que é uma consequência da fé cristã – A Fé sem obras é morta. – S. Paulo

Mas, quais são as qualidades fundamentais para ser realmente vicentino?

A Espiritualidade Vicentina está no testemunho de S. Vicente de Paulo e seus companheiros e no Evangelho de Jesus Cristo que as reuniu em cinco virtudes essenciais nomeadas pelo próprio Vicente de Paulo.

- SimplicidadeHumildadeMortificaçãoMansidãoZelo pelas Almas (Zelo Apostólico).

Não me vou alongar muito a comentar estas virtudes que enunciei, pois demoraria muito tempo, mas apenas umas breves explicações. As virtudes vicentinas não são tratados teológicos, mas posturas humanizantes e humanitárias da pessoa que assume uma missão dentro do universo da espiritualidade vicentina junto dos mais carenciados. Os vicentinos são conhecidos pelos mais empobrecidos, não pelo seu discurso, mas pela sua postura aproximada do mundo dos pobres. As virtudes vicentinas dão uma configuração própria à nossa maneira de viver – castidade, pobreza, obediência, serviço aos pobres.

1ª – Simplicidade – a vivência desta virtude educa-mos para a proximidade do mundo dos pobres na realidade de hoje, no seu universo sócio-económico, cultural, religioso, geográfico, etc. Esta aproximação coloca-nos num clima de disponibilidade para acolhermos e nos aproximarmos do diferente, do pluralismo no meio da humanidade. Leva-nos ao tratamento da pessoa com devido cuidado, respeito e atenção que merece. A espiritualidade vicentina necessita de uma forte experiência com Deus para que a posamos pôr ao serviço dos pobres.
 
 

 
 
 
 
 
Trabalhar com os pobres no contexto actual exige de nós uma busca constante de preparação intelectual justamente pelo respeito que devemos ter à dignidade de todo o ser humano. O empobrecido não é um ser menos humano.

Vicente de Paulo descreve a simplicidade desta forma: Deus é simples. Onde encontrares a simplicidade cristã caminharás seguro; pelo contrário, os que recorrem a precauções e artimanhas estão com um medo contínuo de que descubram o seu artifício e que, ao ver-se surpreendido na falsidade, ninguém vai ter confiança nele.

2ª – Humildade – Torna-nos capazes de reconhecer e admitir as nossas fraquezas e limitações, criando a possibilidade de confiar mais em Deus e menos em nós mesmos. Ajuda-nos a livrar-nos da nossa autosuficiência, a reconhecermos a nossa dependência do amor de Cristo e a nossa interdependência comunitária. Educa-nos para a tolerância dialogada. Torna-se condição necessária para nos desenvolvermos, crescermos e fortalecermos como pessoas em comunidade apostólica, como atitude que nos leva a reconhecer que todos necessitamos do outro para nos enriquecermos e superar as nossas próprias dificuldades. A humildade faz-nos ver que todo o ser humano é pecador. Sensibiliza-o perante o pecado. A atitude de nos reconhecermos pecadores perdoados pelo sangue de Cristo responsabiliza-nos a reconhecer que a nossa vida se enriquece e fortalece com o perdão; o perdão implica aceitação, e para aceitar é necessário sair de nós, esvaziarmo-nos de nós mesmos, esvaziarmo-nos do nosso egoísmo, mudo, dar um passo na direcção do outro, quebrar as nossas arestas, derrubar muros e construir pontes.

 
3ª – Mansidão – permite à pessoa moderar razoavelmente a sua ira e indignação. A mansidão não é agressiva, raivosa, barulhenta. Ajuda a construir a confiança de uns com os outros. Se não se pode ganhar uma pessoa pela amabilidade e pela paciência, será difícil consegui-lo de outra forma. Com vinagre não se apanham moscas!

Numa comunidade é necessário que todos que a compõem e que são seus membros, sejam condescendentes uns com os outros. Com esta disposição os sábios têm que condescender com a debilidade dos ignorantes, nas coisas em que não há erro nem pecado. Não há pessoas mais constantes e firmes no bem que aqueles que são mansos e pacíficos; pelo contrário, os que se deixam levar pela cólera e pelas paixões são geralmente muito inconstantes, porque agem por impulsos e ímpetos. São como as torrentes que só têm força e impetuosidade nas chuvas, mas secam logo depois de ter passado o temporal, enquanto os rios que representam as pessoas pacíficas que caminham sem ruído, no seu leito, com tranquilidade, sem jamais secarem.

4ª – Mortificação – Esta virtude pede que nos entreguemos totalmente pensando primeiro nos outros, pensando especialmente nos pobres antes de pensar em nós mesmos. S. Vicente de Paulo diz: “Os santos são santos porque seguem as pegadas de Jesus Cristo, renunciam a si mesmos e mortificam-se em todas as coisas”.

A oração pessoal e comunitária é uma fonte inesgotável para um autêntico cristão vicentino, por isso mesmo foi insistentemente recomendada por S. Vicente. É muito importante rezar de modo disciplinado, dar à oração o seu tempo, não a fazer a correr, compartilhar com os irmãos a sua espiritualidade, fazer dos sacramentos um alimento para a vida diária. S. Vicente de Paulo dizia: “Somos firmes em resistir à natureza pois se permitimos que alguma vez se cole em nós um pé, rapidamente chegará a outro e estamos seguros de que a medida do nosso progresso na vida espiritual está no progresso da virtude da mortificação que é especialmente necessária para os que hão-de trabalhar na salvação das almas – pois é inútil pregarmos a penitência aos outros, se nós estamos vazios dela e se não a demonstramos nas nossas acções ou no modo como nos comportamos. (Bem prega Frei Tomás…).

 
 
5ª – Zelo Apostólico – O Zelo Apostólico é a consequência de um coração verdadeiramente compassivo. Trata-se da paixão por Cristo, pela humanidade e paixão especialmente pelos pobres. É uma virtude missionária que todos nós recebemos pelo Baptismo e expressa-se sob a forma de disponibilidade, de disposição para o serviço e a evangelização, mesmo quando as forças físicas já estão decadentes. O zelo apostólico é o amor por uma missão que dura a vida inteira; é entusiasmo, cria a disponibilidade para ir a todo o mundo levar o fogo do amor de Cristo e do temor de Deus. Outro aspecto do zelo apostólico é a busca de assumirmos responsabilidades compartilhadas, trabalho em equipe, decisões colegiais. Deus é nosso provedor e atende todas as nossas necessidades e algo mais.

Não sei se nos preocupamos muito em agradecê-lo. Vivemos do património de Jesus Cristo e do suor dos pobres.

Conclusão – A vocação vicentina não consiste somente em servir os pobres, mas também prestar este serviço em comum dentro de um grupo – a Conferência de S. Vicente de Paulo.

A A espiritualidade vicentina sente como um escândalo que se seja indiferente à presença de Cristo na Eucaristia e à sua presença nos pobres. A espiritualidade vicentina sente como um escândalo que se seja indiferente à segunda (pobres) quando se tem tanta piedade pela primeira (Eucaristia). Cada um aproveita da espiritualidade segundo a graça que recebe e o acolhimento interior que lhe reserva. A esperança de todo o vicentino, se ele corresponde à graça está na realização do desejo expresso numa das orações do fim das sessões… a fim de que tendo dado com a melhor vontade aos pobres o que possuem, se dêem a si mesmos.

 




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