TEMPO DE CONVERSÃO
O Ano Santo da Misericórdia não será santo se
não mudarmos a nossa maneira de estar na vida pessoal e comunitária. Há que
deixar de chamar velhos aos nossos irmãos com mais idade, os quais têm mais
sabedoria empírica da vida, porque velhos são os trapos, os farrapos que se lançam
ao lixo ou com os quais se faziam fogueiras nas casas ou junto delas para
afastar as cobras; saber acolher de braços abertos não só uma criança, mas
sobretudo o mais debilitado pela idade ou quem já perdeu alguma juventude em
relação a nós; saber acolher o pobre, o marginal, o sem abrigo, o mal cheiroso
porque não tem condições de vida; o marginal, o toxicodependente, o que já não
pode das pernas porque passa fome; o “pecador” que se aproxima do bem seja no
gabinete, na rua, ou à porta do confessionário; a prostituta que se aproxima.
Precisamos
de ir atrás de quem precisa de um conforto, de um apoio, seja material seja
espiritual, para não cair na tentação de querer resolver um problema moral
chutando a bola material, por vezes a base do problema moral, para outro que
menos tem, só pelo facto de que apesar de ter menos, é mais; abusar do poder
para mandar sem amar, trabalhar sem explorar o mais fraco ou chutar da igreja
para fora só porque é doente, como os celíacos, e “ipso facto”, está aos olhos
de alguns retrógrados fora da comunhão, esquecendo que muitas vezes a lei não
pode matar o Amor, na linguagem do evangelho; o espírito da lei vivifica.
Este Ano Santo não será santo se
estivermos a vender o que recebemos de graça (Cf. São Paulo), se continuarmos a
juntar o nosso tesouro na terra como se outro caminho, o da misericórdia divina,
não existisse.
Se o nosso Deus não fosse Ele
Misericórdia, assim como nascemos, morreríamos carregados de traça. Tudo
pagaremos caro porque, em Deus, funciona em plenitude a Justiça, e os critérios
divinos da justiça são diferentes dos critérios humanos, são mistério. Apesar
da sua infinita Misericórdia, só a Ele compete julgar e não aos homens, sejam
peritos em leis ou investidos em títulos de alteza social.
Somos nós baptizados e nos dizemos
Igreja que, se não mudarmos de atitude, afastamos da Igreja muita gente quando
Ela deve ser aberta a todos, especialmente aos pobres, aos oprimidos, aos
torturados, aos presos, aos postos de lado por isto ou por aquilo.
Só não ama a Misericórdia o Diabo e,
por isso, não devemos querer nada com ele. Tudo por Deus e nada com o Diabo que
só gosta de cifrões e é maquiavélico para alcançar os seus fins, como fez
Judas.
Creio que este ano da Misericórdia,
em tão boa hora proclamado pelo Papa Francisco, vai ser um ano de muitas graças
que nos conduzirão à conversão, à reconciliação, à Paz e a uma Igreja mais
santa, como deve ser a Igreja de Jesus Cristo realizada por todos os chamados a
construi-la hoje. Artur Coutinho
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