Nota Pastoral
sobre Bartolomeu dos Mártires
Publicado a 5 de Maio de 2014 por brunorodrigues
BARTOLOMEU
DOS MÁRTIRES, MODELO PARA A RENOVAÇÃO DA IGREJA
Nota
Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa
1. Celebramos, já no próximo dia 3 de
maio, os 500 anos do nascimento do Bem-aventurado Bartolomeu dos Mártires, um
dos mais insignes promotores da renovação da Igreja nos tempos modernos.
Mergulhado em Deus e conduzido pelo Espírito, ele soube, num período
particularmente conturbado da vida da Igreja, intercetar caminhos de grande
degradação de costumes e encetar vias de rejuvenescida evangelização.
Dom Frei Bartolomeu nasceu em Lisboa, em
1514, na freguesia de Nossa Senhora dos Mártires, e entrou na Ordem Dominicana
em 1528. Foi professor nos Conventos de S. Domingos de Benfica, Batalha e
Évora. Foi depois também Prior do Convento de Benfica e finalmente Arcebispo de
Braga (1559‑1582). Encontra-se sepultado em Viana do Castelo no Convento de S.
Domingos que ele próprio mandou construir e onde se recolheu até à sua morte em
16 de julho de 1590.
Foi decisiva a sua contribuição, na
última sessão do Concílio de Trento (1561‑1563), para reformas na Igreja que,
no seu dizer, «estava para cair». Entre as Petições que apresentou neste
Concílio, destacam-se duas, pela sua atualidade: a obrigação dos Pastores
permanecerem próximos dos fiéis que lhes estão confiados, um dever para o qual
o Papa Francisco repetidamente tem chamado a atenção; a criação de seminários,
como obrigatórios para a formação humana e espiritual, teológica e pastoral dos
sacerdotes, tão urgente naquela época e necessária nos dias de hoje.
O próprio Papa Pio IV, que ele visitou
pessoalmente em Roma durante uma interrupção da sessão conciliar, qualificou
assim, em carta enviada ao Cardeal Dom Henrique, a sua participação no
Concílio: «Tal satisfação nos deu, no tempo em que participou, com a sua
bondade, religião e devoção, que o ficámos tendo em grande conta, com tamanho
conceito da sua honra e virtude que não poderão alterá-lo queixumes de
ninguém».
2. Regressado à sua Arquidiocese,
prosseguiu com reformas já antes iniciadas e, pelo menos algumas delas,
confirmadas e oficializadas por decisões conciliares:
– Fundou o Seminário, o primeiro em toda
a cristandade, para a formação dos presbíteros, uma novidade que o Papa S. João
Paulo II fez questão de mencionar na celebração da sua beatificação.
– Para formação e uso dos sacerdotes,
designadamente no seu ministério de instruir os fiéis e os consolidar na fé e
prática de vida, escreveu o «Catecismo ou Doutrina Cristã e Práticas
Espirituais», dois anos antes de ter sido publicado o Catecismo do Concílio de
Trento pelo Papa S. Pio V.
– Promoveu e impôs uma rigorosa
administração dos bens eclesiásticos, para os repartir equitativamente, «sem
entesourar nada», como ele escreveu, fomentando e pondo em prática uma especial
solicitude para com os mais pobres e desprotegidos. Costumava dizer que «em sua
casa só ele era o estranho e os pobres eram os verdadeiros e naturais senhores
dela».
– A sua proximidade ao povo que lhe
estava confiado levou-o a calcorrear repetidamente toda a Arquidiocese de
Braga, em periódicas visitas pastorais, percorrendo, com os limitados meios de
então, um território cuja extensão compreendia também a atual Diocese de Viana
do Castelo e partes das atuais Dioceses de Vila Real e Bragança-Miranda.
– Primariamente para sua própria
orientação espiritual e pastoral, escreveu o famoso «Estímulo dos Pastores» que
viria a ser editado por S. Carlos Borromeu, seu discípulo e apreciado amigo, e
que, séculos mais tarde, iria ser oferecido pelo Papa Paulo VI a cada um dos
bispos no encerramento do II Concílio do Vaticano.
3. Em todas estas e outras iniciativas e
atividades mostrou a audácia, o ardor apostólico, a generosidade, a
simplicidade e a santidade que fizeram dele um pastor exemplar para todos os
tempos, incluindo os nossos. Assim o reconheceu explicitamente o Papa S. João
Paulo II, ao beatificá-lo, a 4 de novembro de 2001, isto é, poucos dias depois
de terminar o Sínodo dos Bispos que se dedicou à reflexão sobre a vivência do
ministério episcopal, e ao referir-se às visitas pastorais do Beato Bartolomeu
na Exortação Apostólica Pós-sinodal Pastores Gregis (n.º
46).
A sua vida e obra transpiram aquele
dinamismo missionário sem fronteiras, aquela profunda convicção cristã que
nascem da «Alegria do Evangelho» e são muito acentuadas pelo Papa Francisco: «O
entusiasmo na Evangelização funda-se nesta convicção. Temos à disposição um
tesouro de vida e de amor que não pode enganar, a mensagem que não pode
manipular nem desiludir. É uma resposta que desce ao mais fundo do ser humano e
pode sustentá-lo e elevá-lo. É a verdade que não passa de moda, porque é capaz
de penetrar onde nada mais pode chegar. A nossa tristeza infinita só se cura
com um amor infinito» (Evangelii Gaudium, n.º 265).
4. Que os 500 anos que decorrem sobre o
nascimento desta grande figura da Igreja e do nosso País, que foi o
Bem-aventurado Bartolomeu dos Mártires, sejam uma oportunidade para mais o
conhecermos e darmos a conhecer. Há pessoas que, pelos princípios e valores que
pautaram as suas vidas, são permanentes modelos de referência de todos os
tempos. O Beato Bartolomeu, tendo vivido em tempos de uma enorme crise epocal,
dentro e fora da Igreja, pode e deve ser visto como testemunha para
acreditarmos que a evangelização e as reformas na Igreja não só são necessárias
como possíveis.
Conhecendo-o e imitando-o cada vez mais,
invoquemos também a sua proteção para a Igreja e para o nosso País. E peçamos a
Deus, de um modo especial, a graça da sua canonização, que o pode projetar,
para além das nossas fronteiras nacionais, para aquela dimensão eclesial que,
afinal, mais corresponde ao bem que Deus, por seu intermédio, fez e quer fazer
pela sua Igreja.
Fátima, 1 de maio de 2014
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