Do Guia do Catecismo do Primeiro Ano da Catequese
sozinho ?
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A pergunta não teria, possivelmente, razão de ser se, de facto, não houvesse pessoas que, pelo menos na prática de vida, vivem ou procuram viver a sua relação com Cristo de um modo mais ou menos solitário. E dá a impressão de que são cada vez mais.
Por várias razões, umas fazem-no provavelmente influenciadas pelo
individualismo crescente da sociedade em que se vive, sobretudo em grandes
aglomerados populacionais. Quantas pessoas, a viver no mesmo bairro, na mesma rua
e até no mesmo prédio, não se conhecem nem se falam. Quando muito saúdam-se,
quando se encontram.
A isso está provavelmente associada uma deficiente ou até falsa
noção de liberdade. Ser livre é, para muitos, fazer o que se quer. E o que se
quer é, na maioria dos casos, o que apetece a cada um. Quando os outros
interferem nesses apetites ou interesses pessoais, são ignorados ou até
desprezados, senão mesmo combatidos. Procura-se o outro, quando se tem
necessidade dele e não quando ele tem necessidade de nós. Os resultados de uma
tal atitude estão à vista: separações, mesmo no seio de famílias; xenofobia e
racismo; solidão, sobretudo entre idosos e crianças; luta exclusivista pelos
próprios direitos; corrupção, etc..
Há
outros, nomeadamente cristãos, que apenas se servem da religião como de uma
espécie de mercadoria, para satisfazer necessidades de ordem mais ou menos
espiritual. É aquilo a que podemos chamar o consumismo religioso.
Daí o
desinteresse ou medo em integrar-se e comprometer-se em comunidades cristãs.
Saltita-se de um lugar ou de uma igreja para a outra, à procura daquela que
melhor corresponde aos gostos pessoais. Tudo isso, facilitado pelos meios de
transporte e comunicação cada vez mais rápidos e confortáveis.
Sem
entrar no íntimo das pessoas que assim vivem e actuam, podemos, a partir do seu
comportamento, perguntar se de facto vivem a verdadeira fé. Não há dúvida de
que esta tem de começar por ter uma dimensão pessoal. Ninguém pode acreditar em
Deus por mim. Mas, se eu creio firmemente no Deus de Jesus Cristo, tenho também
de acreditar na sua Igreja. Acreditar, entendido no sentido de confiar e
confiar-se a Deus e, por Ele, aos outros. É impossível amar verdadeiramente a
Deus sem amar também os outros, todos os outros... que Deus tanto ama, como nos
mostra sobretudo em seu Filho Jesus Cristo.
Para nos apercebermos disto, basta seguirmos o processo de
evangelização descrito nos Actos dos Apóstolos. Logo no primeiro anúncio feito
por Pedro, acompanhado dos restantes Apóstolos, na manhã do Pentecostes: pela
conversão e adesão de fé, confirmada pelo Baptismo, «juntaram-se a eles cerca
de três mil pessoas», que passaram a ser «assíduos ao ensino dos Apóstolos, à
união fraterna, à fracção do pão e às orações» (Act 2, 41-42).
Actividades, todas elas centradas no mesmo Evangelho: do ensino dos
Apóstolos fazia parte sobretudo a mensagem salvífica de Jesus Cristo, como
mostram mais tarde os restantes livros do Novo Testamento; a união fraterna
resultava da adesão ao amor de Jesus Cristo, manifestado sobretudo na sua morte
e ressurreição; na fracção do pão celebrava-se, com base na Última Ceia, o
memorial actualizante da morte redentora de Cristo; as orações, se dirigidas a
Deus, passavam a ser feitas pela mediação de Jesus Cristo.
Era tal a união com Cristo, que Paulo, escrevendo às suas comunidades, lhes chamava
“Igreja de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo” (1 Tes 1,1), ou “Igreja de Deus”,
constituída pelos “santificados em Jesus Cristo” (1 Cor 1, 2) ou simplesmente
“santos em Cristo” (Fil 1, 1; cf Ef 1,1; Col 1, 2) ou ainda “chamados a ser de
Cristo” que o mesmo é dizer “chamados a ser santos” (Rom 1, 6). A relação de
pertença a Deus, própria da sua condição de santos,
devia-se à medição salvífica de Jesus Cristo.
Dai também a sua identificação da Igreja como “Corpo de Cristo” (1
Cor 12, 27; cf Ef 1, 23; 4, 4; 5, 23; Col 1, 18; 2, 19): não apenas porque os
seus membros, na diversidade das suas funções e seus dons, estavam, à maneira
do corpo humano, unidos pelo mesmo Espírito “para proveito comum” (1 Cor 12,
7); mas também e sobretudo porque o pão que partiam na celebração eucarística
“é comunhão com o Corpo de Cristo; por isso é que uma vez que há um único pão,
nós, embora muitos, somos um só corpo, porque todos participamos desse único
pão”(1 Cor 10,16-17). Eesse pão é o seu corpo, istoé, a sua pessoa, entregue na
cruz para nossa salvação (cf 12, 24).
Se a
Igreja é assim o corpo visível de Cristo na terra, se é o sacramento universal
da sua salvação, então pode chegar-se a seguinte conclusão:
3. É na
Igreja que encontramos Jesus Cristo
Encontrámo-lo de um modo visível, isto é, na visibilidade da vida da sua Igreja,
na medida em que nela os cristãos realizam entre si o mandamento do amor a que
são exortados por Cristo, precisamente
na Última Ceia (cf Jo 13, 34-35; 15, 17).
De facto,
é para a união fraterna que convergem todas as restantes actividades da Igreja:
pela adesão da fé ao Evangelho e seu aprofundamento na catequese somos
orientados para a oração e a celebração, particularmente da Eucaristia, em que
a fé é posta em prática e fortalecida, “uma fé que actua pelo amor” (Gal 5, 6).
O que significa também que é da fé, alimentada pela Palavra e pela celebração,
que depende a união do amor entre nós.
Sendo assim, e no dizer dos nossos Bispos, “a comunidade cristã é o
sujeito, o ambiente e a meta da catequese. Na verdade, a vida cristã é um facto
comunitário, recebe-se, aprende-se e vive-se na Igreja, mistério da comunhão.
Na vida da comunidade, a fé cristã torna-se um acontecimento vivido e actual,
incarnado em pessoas, testemunhado em gestos e formas de viver. Nas actividades
eclesiais da comunidade que realizam a missão pastoral global, a Palavra de
Deus alcança a sua plena realização como Palavra proclamada no anúncio do
Evangelho, celebrada na liturgia e praticada no serviço fraterno da caridade. A
comunidade cristã apresenta, deste modo, um testemunho vivido de fé no qual a
catequese encontra a sua base de apoio” (Conferência Episcopal Portuguesa: Para que acreditem e tenham vida: orientações para a
catequese actual, Edição do Secretariado Geral da Conferência Episcopal
Portuguesa, Lisboa 2005, pp.20-21)
Que os catequistas, como membros e enviados das comunidades cristãs
a que pertencem, tenham bem presente esta dimensão comunitária da catequese,
nomeadamente no presente encontro.
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