A Missa é aborrecida? O problema é
teu!
O cardeal de Nova Iorque, Timothy Dolan,publicou um
texto sobre o que muitos dizem da missa: que é aborrecida, cansativa.Isto
sobretudo na boca dos jovens, mas também de muitos adultos.
«Não é aborrecida. Se para ti o é, é mais um problema
teu que da missa.
Há muitas actividades importantes da vida que podemos
considerar aborrecidas: as idas ao dentista; os que têm de fazer hemodiálise 3
vezes por semana e 4 horas de
cada vez, de certeza que não vêem aí nada de
emocionante. Mesmo votar não é divertido.Mas as três actividades são
importantes para o nosso bem-estar. E o seu valor não depende da nossa euforia
quando as fazemos.
A missa é sem dúvida mais importante para a saúde da
nossa alma do que as actividades antes enumeradas. O nosso problema é o
aborrecimento. Os comentadores sociais
dizem que hoje somos muito susceptíveis ao mesmo, pois
estamos acostumados a títulos que duram trinta segundos, e a mudar
continuamente de canal de televisão quando o programa nos faz bocejar.
Graças a Deus, o valor de uma pessoa ou de um
acontecimento não depende da sua tendência a aborrecer-nos de vez em quando. A
gente e os acontecimentos significativos não existem para nos entusiasmarem, a
não ser que sejamos narcisistas e mimados. E isto é especialmente verdade do
Santo Sacrifício da Missa. Cremos que cada missa é a renovação do acontecimento
mais importante e mais crítico que jamais ocorreu: o sacrifício eterno,
infinito, de louvor de Deus Filho a Deus Pai, numa cruz, no Calvário, numa
sexta-feira chamada Santa.
para ver qual deles tinha direito a ficarcom a túnica,
a única coisa que o Crucificado tinha. Além disso, não vamos à missa para nos
divertirmos, mas para
rezar. E se as flores forem bonitas; se a música for
boa; se a homilia for curta e apropriada aos textos, cheia de significado, se
os participantes forem amistosos
uns com os outros… seguramente que tudo isso ajuda.
Mas mesmo quando falta tudo o que antes enumerámos – e
muitas vezes falta – mesmo assim a missa funciona. Porque a Missa não é sobre
nós; é sobre Deus.E o valor da missa vem da nossa simples e profunda convicção,
baseada na fé, de que, durante uma hora, aos domingos, somos parte do mais
além, elevados ao eterno, participantes do mistério,enquanto nos unimos a Jesus
em acção de graças, do amor, da expiação e do sacrifício que ele oferece
eternamente a Seu Pai. O que Jesus faz funciona sempre e nunca é aborrecido. A
missa não é tarefa rotineira e tediosa que fazemos para Deus; mas um milagre
que Jesus faz connosco e para nós.
Se pensarmos bem, os soldados romanos também estavam
aborrecidos enquanto escarneciam de Jesus e lançavam os dados Onde está Deus? -
Em ti e nos teus irmãos Já no Antigo Testamento, o templo para os judeus era
bem mais que um espaço físico, onde se situava a Arca da Aliança.
Esta era «Presença» de Deus. E o templo era o lugar da
excelência dessa Presença de Deus, de onde jorra em permanência uma fonte de
água viva para todos. A dimensão simbólica do Templo era bem compreendida no
tempo dos primeiros cristãos: eles foram capazes de reler as escrituras para
compreenderem os gestos de Jesus, zeloso pela Casa do Pai e anunciador de um
Templo novo, o seu Corpo ressuscitado. A destruição do templo feita pelos
romanos não afectava o verdadeiro templo edificado pela morte e ressurreição. A
partir de Jesus, a morada de Deus está no Corpo do Ressuscitado, neste povo da
nova Aliança celebrada no sangue de Jesus, em cada um dos discípulos de Jesus.
O baptismo lembra-nos a água viva que jorra do templo de Deus e faz de cada um
a verdadeira morada de Deus: na adesão a Jesus, pela fé e pelo batismo, cada um
de nós torna-se habitação de Deus, templo da Santíssima Trindade, conforme nos
ensina a Igreja. Daí o insistente apelo de S. Paulo aos primeiros cristãos das
comunidades por ele fundadas para o testemunho da unidade, capaz de despertar
os pagãos para o anúncio que lhes oferecia.
Ainda hoje a unidade pela qual Jesus rezou e da qual a
Igreja não pode prescindir, tem os seus sinais bem presentes, seja na doutrina
que arranca do evangelho, seja nos comportamentos que se esperam dos seguidores
de Jesus: o templo ou igreja, tida como «espaço » da habitação de Deus é lugar
de encontro para os crentes. A Basílica de Latrão, catedral do Papa, é mãe de
todas as igrejas, sinal visível e material de uma unidade espiritual à volta de
uma pessoa, o Papa. Como a Catedral de uma diocese é mãe das igrejas paroquiais
à volta de um bispo, centro de comunhão na Igreja local. Como a Paróquia,
sediada à volta de uma Igreja Paroquial com a sua pia baptismal e de um Pastor,
o Pároco, realiza no quotidiano de todos a união visível da Igreja que Jesus
fundou: nela somos gerados para a fé e nela se educa e desenvolve a fé
baptismal, num
processo que vai desde o Batismo até ao funeral, que
retoma, no rito da água benta sobre o cadáver, o simbolismo da água
purificadora do Baptismo.
Ser Igreja é construir no único fundamento que é
Cristo e realizar a Unidade é tarefa de todos. Evitem-se pois todos os gestos
que possam pôr em causa a Unidade de todos à volta do Pastor legitimamente
constituído.
Um senhor contou-me o que significava para ele a
comida do domingo em família, o coração da vida familiar quando era pequeno. A
comida era tão boa porque a sua mãe cozinhava muito bem, e a mesa era muito
feliz, porque o seu pai estava sempre ali. Inclusive, quando se casou e teve os
seus próprios filhos, iam a casa dos pais para a comida dominical.
Quando os seus filhos já eram adultos e lhe
perguntavam se tinham que ir, porque, por vezes, lhes parecia aborrecida a
comida, ele respondia: sim, tendes que ir, porque não vamos por causa da
comida, senão por amor, porque mamã e papá estão lá!
Encheram-se-lhe os olhos de lágrimas ao recordar-se
disto, porque quando seu pai e sua mãe envelheceram, a comida já não era tão
boa nem a companhia tão contagiosa, mas ele nunca deixou de ir, porque esse
acontecimento dominical tinha um significado muito profundo, mesmo que a sua
mãe deixasse queimar o assado, e seu pai adormecesse durante
a refeição.
E agora, concluiu, daria o que fosse para poder estar
de novo ali, porque a sua mãe faleceu, e o seu pai está numa residência para
idosos. Agora são ele e sua mulher os anfitriões dessa comida, e ele espera que
os seus três filhos levem, no futuro, as suas esposas e filhos à comida do
domingo.
Como se vê, o valor da comida familiar do domingo não
depende tanto da bondade da comida, de quão caro seja o vinho, e do
interessante que possa ser a conversa. Seguramente
que tudo isso ajuda, mas o que tem real valor é o
acontecimento em si mesmo.
O mesmo acontece com a comida do domingo da nossa
família espiritual: a Missa. Há gente que pensa que um grande desafio de
futebol é aborrecido. Outros pensam isso de um grande concerto de música. As
pessoas dizem-me que valores como a amizade, o voluntariado, a família, a
lealdade, a generosidade e o patriotismo estão passados de moda,
pois já não produzem entusiasmo.
Diria que têm um problema!
E alguns dizem-me que a «missa é tão aborrecida! Têm
um grande problema!»
In “A voz de Melgaço”, 11.09.201, in B. "Construir" de
Barcelos
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