NATAL 2014
BELEZA E ARTE NATALÍCIA
José Rodrigues Lima
No tempo natalício, o filme da vida aviva-nos os momentos de ternura e
afetos misturados com gestos simbólicos de dádivas e reciprocidade, de
estima e solidariedade…
E a festa acontece no mais íntimo do nosso coração, pois estamos com
os nossos e irmanados com todos porque ”ET INCARNATUS EST” – Jesus
encarnou, e mostrou-se a todos, oferecendo a salvação do nosso BOM
DEUS, presente na História.
É fundamental para a fé bíblica a referência a acontecimentos
históricos e reais. Ela não narra lendas como símbolos de verdade que
estão para além da História, mas fundamenta-se na história que
aconteceu sobre a superfície desta terra.
O “factum historicum” não é, para ela, uma chave simbólica que se pode
substituir, mas base constitutiva: “ET INCARNATUS EST” – Jesus
encarnou. (In “Jesus de Nazaré”, J. Ratzinger, 2001, 16).
Porque é Natal, há sinais de festa nas cidades, nas aldeias, nas
povoações isoladas, nos sítios ermos, nos lares,…
As iluminações natalícias já estão acesas e as lâmpadas multicores
brilham nos espaços públicos, nas habitações, nas árvores. Os
presépios ocupam um lugar de destaque nos templos, nas praças e nas
residências familiares.
Os sons natalícios invadem os ambientes de tudo e todos. As partituras
de compositores clássicos, contemporâneos e tradicionais são
divulgadas pelas estações radiofónicas e televisivas.
Os concertos de Natal congregam orquestras e cantores. Ouvem-se vozes
de crianças e adultos anunciando a grande mensagem – glória a Deus nas
alturas e paz na terra aos homens por Ele amados.
Alegre-se o Céu e rejubile a Terra.
IMAGENS NATALÍCIAS DE MALINES
O presépio mereceu atenção de Fra Angélico, Ghirlandajo, Jerónimo
Bosch, Van de Goês, Leonardo da Vinci, Durer e outros notáveis artistas.
Merecem referência os famosos presépios do nosso Machado de Castro,
> Alexandre Guisti, e António Ferreira, bem como todos os barristas,
> inclusivé os de Barcelos, abundantemente coloridos, onde não faltam os
> carros de bois e pastores, dando lugar ao imaginário dos artesãos.
> Todas as igrejas do Alto Minho armam o presépio na igreja paroquial,
> contribuindo para o encanto das crianças e dos adultos. As imagens do
> Menino Jesus para sair no andor, transportado pelas crianças, aquando
> as procissões festivas, são uma constante em todas as paróquias.
> Nas terras minhotas existem diversas manifestações artísticas
> referentes ao mistério do Verbo Encarnado.
> Assim, são de referir o fresco representando os três Reis Magos
> (Século XIII/XIV) na igreja paroquial de Chaviães, Melgaço, e a
> Sagrada Família em marfim, na aldeia de Luzio, concelho de Monção.
> No concelho de Viana do Viana do Castelo, os presépios de Machado de
> Castro em S. Lourenço da Montaria, a Senhora do Ó ou Senhora da
> Expectação no Mosteiro de Carvoeiro, a Senhora do Parto na freguesia
> de Nogueira e a Senhora do Leite em Vila do Punhe são outros
> testemunhos.
> Segundo Bernardo Távora, a cidade de Malines (Bélgica), a muitos
> títulos ilustre do Bravante medievo e renascentista, foi com Antuérpia
> e Bruxelas um importantíssimo centro de artesanato artístico de
> imaginária sacra, destinado ao Ducado da Borgonha, aos países
> limítrofes e à exportação.
> As oficinas de santeiros não só reproduziram os célebres retábulos
> esculpidos, como sobretudo séries inumeráveis de pequenas estatuetas
> de madeira policromada e dourada, destinadas ao culto doméstico e
> conventual da Flandres e estrangeiro.
> Os retábulos e as imagens diversas não eram comercializados sem a
> vistoria prévia dos representantes das corporações de escultores e
> pintores que, com as suas marcas e punções, abonavam a qualidade do
> material e a perfeição artística das obras.
> Foi, de modo especial, após o casamento de Isabel de Portugal com
> Filipe-o-Bom, em 1430, que comerciantes portugueses se estabeleceram
> em Antuérpia. Portugal vivia no século XVI dependente das importações
> da Flandres desde o produto mais comezinho e essencial, à mais rica ou
> requintada obra de arte, procurando copiar a arte da Borgonha.
> A Casa Real, os nobres, conventos e igrejas encomendavam lá as mais
> famosas obras de arte. Por cá, andaram também iluminadores, músicos,
> entalhadores, escultores e imaginários, deixando obras notáveis,
> Deve-se ao inventário realizado por Willy Godenne o conhecimento de
> vários exemplares denominados como “Imagens de Malines”.
> Entre as imagens sacras propriamente ditas, que Godenne refere,
> destaca-se a de Nossa Senhora com o Menino no regaço, seguindo-se a
> conhecida representação, dita de Sant’ Ana Tríplice, tendo ao colo
> Nossa Senhora e o Menino de Jesus.
> Alude-se, no referido Inventário, ao grande número de imagens do
> Menino Jesus colectados pelo brica-braque no Vale do Lima. Teriam
> provido de numerosas capelas e solares existentes, importadas através
> do porto de Viana do Castelo, de grande importância na época e que
> fazem parte de uma coleção do Museu de Arte Antiga, de Lisboa.
> “Nos Meninos Jesus, vincam-se as proporções cunhadas e rebaixadas: são
> iguais a altura da raiz do pescoço ao púbis e deste aos pés. As
> anatomias rechonchudas; o ventre proeminente; as coxas exageradamente
> roliças, femininas. As nádegas, pelo contrário, minúsculas e
> apertadas, parecem contraídas...” – assim descreve Willy Godenne.
> O cabelo, encaracolado, projecta-se em torno da cabeça, numa orla salientada.
> As referidas imagens de Malines são de uma beleza impressionante. No
> antigo Mosteiro Beneditino de Sant’ Ana, hoje Congregação da Caridade,
> na cidade de Viana do Castelo, podemos contemplar, com olhares
> artísticos e místicos, um Menino Jesus, uma Sant’ Ana Tríplice e uma
> imagem de Nossa Senhora com o Menino no regaço, esculpidas segundo os
> cânones de Malines.
> Por certo, recordaremos de Gil Vicente:
> Belém, vila de Amor,
> Da Rosa nasceu a Flor:
> Virgem Sagrada.
> Em Belém, vila de Amor,
> Nasceu a Rosa do Rosal:
> Da Rosa nasceu a Flor,
> Para Nosso Salvador:
> Virgem Sagrada.
> Nasceu a Rosa do Rosal,
> Deus e Homem Natural;
> Virgem Sagrada.
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