A Caminhar pelo “Ano da
Fé”, Substância do Amor
Por: Padre Jorge Esteves
S.
João, ao afirmar que «Deus é amor» (1Jo 4, 8.16), não diz apenas que Deus nos
ama. mas que na Sua essência (ou substância) é amor. Assim, S. João coloca-nos
face à fonte do amor, que é o mistério trinitário, já que em Deus uno e trino,
há um intercâmbio eterno de amor entre as pessoas do Pai e do Filho, e este
amor não é uma energia ou um sentimento, mas uma pessoa, é o Espirito Santo
(Cf. BENEDICTUS PP. XVI, Mensagem para a XXII
Jornada Mundial da Juventude. «Que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos
amei» (Jo 13, 34))
Ora.
«cada pessoa sente o desejo de amar e ser amada» (ld., ibid.). Cada pessoa
realiza-se plenamente no e pelo amor, que recebe, oferece, e um dia alcançará
real e verdadeiramente em Deus. Isto. depois de purificada por Cristo,
verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, «que assume os pecados do mundo e
desenraiza o ódio do coração do homem» (ld., ibid.).
«A
cruz de Cristo significa que Ele vai à nossa frente e connosco na via- sacra da
nossa cura» (RATZINGER. Joseph, Olhar para Cristo, p. 105). Significa que
cada um é convidado a olhar para o «madeiro da vida» e dele retirar ou tentar
compreender o amor, livre e gratuito. Amor que não continua lá pregado, porque
se fez caminho e connosco caminha e em cada pessoa humana, que deve amar e ser
amada. «Amarás o teu próximo como a ti mesmo» (Lv 19, 18), quer então dizer que
cada pessoa humana deve colocar à margem a sua auto-suficiência e colocar-se,
sem desejar retribuição e reconhecimento, totalmente ao dispor do próximo. Amar
a todos sem distinção, e até ao limite de todas as forças, como fez Cristo na
Cruz. Ora, o «Mestre do amor» exige de cada pessoa humana, que o quer imitar,
radicalidade: «se alguém vem ter comigo e não me tem mais amor que ao seu pai.
à sua mãe, á sua esposa, aos seus filhos, aos seus irmãos, às suas irmãs e até
à própria vida, não pode ser meu discípulo» (Lc 14.26).
O
amor «é a única força capaz de mudar o coijação do homem e a humanidade
inteira, tornando proveitosas as relações entre homens e mulheres, entre ricos
e pobres, entre culturas e civilizações» (BENEDICTUS PP. XVI, ibid.). Deste
modo, o amor é o «começo da nossa compreensão acerca da vida interior de Deus.
de Deus enquanto Trindade de pessoas, em que cada uma das Pessoas se entrega
totalmente» (SEMEN, Yves. La sexualidade según Juan
Pablo II, p 42) à outra. Por isso, no Homem o amor deve revelar, encontrar,
experimentar-se como algo que lhe é próprio, e viver como «base para a comunhão
interpessoal e transpessoal, que encontra o seu lugar privilegiado no seio de
uma família» (FLECHA, José-Ramán, Moral de Ia sexualidade. La
vida en el amor, p. 197). Assim, atesta-se a verdade: o amor «não é unilateral por
natureza» (WOJTYLA, Karol, Amor e responsabilidade, p. 75), mas bilateral,
existe entre pessoas e é social («A sociedade justa não pode ser obra da
Igreja: deve ser realizada pela política. Mas toca à Igreja, e profundamente, o
empenhar-se pela justiça trabalhando para a abertura da inteligência e da
vontade às exigências do bem» (BENEDICTUS PP. XVI, Littera Encyclica «Deus caritas est», 45)). E este elo de união entre
várias pessoas constrói-se graças às qualidades de quem se aproxima e não
através dos defeitos, que todos os humanos têm.
Amar
alguém é, então, uma arte («Quem se quiser tornar um mestre em qualquer arte
deve dedicar-lhe toda a sua vida; ou, pelo menos, fazer dessa arte um ponto
fulcral da sua vida» (FROMM, Erich, A arte de amar, p. 112)), que concebe a mesma e a outra pessoa como boa. celebra a presença ou a
existência, que reconhece e agradece. «Exige conhecimento e esforço» (FROMM,
Erich, ibid., p. 11). integra e define-se pela totalidade, vontade,
compromisso e fidelidade, que levam a conceber a outra pessoa não como um
objecto, mas como uma pessoa singular, digna de existir e de fazer existir, de
realizar e de permitir realizar. O «amor não tem um “porquê", é dom
gratuito, ao qual se responde com o dom de si» (BENEDICTUS PP XVI. Oferecei o outro da vossa liberdade. Reflexão aos seminaristas durante o
encontro na Igreja de São Pantaleão (19 de Agosto de 2005), in BENTO XVI. A revolução de Deus. p. 59)
Enfim,
o amor é crucial para a pessoa humana, porque abarca todas as dimensões da
pessoa, inclusive a relacionai, aliás, exige que a pessoa esteja em permanente
e perene relação. A pessoa que ama nunca se ama exclusivamente a si mesma e
tenta amar segundo a perspectiva de Deus, para quem o «amor humano» deve estar
direccionado. Não será, então. Deus o seio e o oceano onde desagua toda a
pessoa humana? Serra e Vale
de Fev 2013
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