CONSUBSTANCIAL AO PAI
O Catecismo da Igreja Católica, no
número 242, resume assim este tema: «No primeiro concilio ecumênico de Niceia,
em 325, a Igreja confessou que o Filho é ‘consubstanciai’ ao Pai, quer dizer,
um só Deus com Ele. O segundo concilio ecumênico, reunido em Constantinopla em
381, guardou esta expressão na sua formulação do Credo de Niceia e confessou ‘o
Filho unigénito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos, luz da luz.
Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstanciai ao
Pai’». [Para ajudar a compreender melhor, ler: João 14, 6-14; Catecismo da
Igreja Católica, números 234-242 e 249-256]
«Quem me vê, vê o Pai» - responde
Jesus, no evangelho segundo João, ao pedido do apóstolo Filipe: «Senhor,
mostra-nos o Pai!». «0 modo tipicamente cristão de considerar Deus passa sempre
através de Cristo. É Ele o Caminho, e ninguém vai ao Pai senão por meio d’Ele.
[...] Cristo, o Filho predileto, é por excelência o revelador do Pai. 0
verdadeiro rosto de Deus é-nos revelado só por Aquele que ‘está no seio do
Pai’. A expressão original grega do Evangelho de João (cf. 1, 18) indica uma
relação íntima e dinâmica de essência, de amor, de vida do Filho com o Pai»
(João Paulo II, Audiência Geral de 20 de setembro de 2000). 0 diálogo entre
Jesus e Filipe destaca a relação de profunda intimidade entre Jesus e o Pai:
não se pode conhecer Um sem o Outro. Para o Papa Bento XVI, «estas palavras são
as mais nobres do evangelho de João» (Audiência Geral de 6 de setembro de
2006). Mas não é fácil captar tudo que é dito. Os apóstolos também tiveram
dificuldade em perceber esta essência de Deus revelado em Jesus Cristo. O mesmo
sucedeu nos primeiros anos do cristianismo. Aliás, ainda hoje é preciso a
abertura à fé para acolher a totalidade deste mistério divino.
Ao longo dos
tempos, para tentar dizer o indizivel do mistério da Santíssima Trindade, «a
Igreja teve de elaborar uma terminologia própria, com a ajuda de noções de
origem filosófica: ‘substância’, ‘pessoa’ ou ‘hipóstase’, ‘relação’, etc. Ao
fazer isto, a Igreja não sujeitou a fé a uma sabedoria humana, mas deu um
sentido novo, inédito, a estes termos, chamados a exprimir também, desde
então, um mistério inefável, ‘transcendendo infinitamente tudo quanto podemos
conceber a nível humano’» (Catecismo da Igreja Católica, 251).
Consubstanciai
ao Pai. 0 termo «consubstanciai» é a tradução da
palavra grega (homoousios) que designa a mesma (homo) substância ou essência
(ousios); assim, afirmamos que o Filho e o Pai possuem a mesma substância. Esta
expressão colocada no «Credo» é uma resposta clara ao aria- nismo (cf. tema
10): uma heresia (falsa doutrina) que defendia que Jesus Cristo não era Deus,
mas apenas uma criatura que atingiu uma perfeição especial. 0 Concilio de
Niceia (325) reafirmou a plena identidade divina do Filho e do Pai. «Daí, a
acumulação, pelos Padres de Niceia, de expressões convergentes,
não-escriturísticas, que tiveram de ser acrescentadas ao Credo da Igreja e do
seu batismo. Mesmo o consubstanciai ao Pai, o homoousios com traduções
hesitantes, não foi inserido por causa da significação clara que poderia ter
tido anteriormente num sistema filosófico admitido por todos. As pre- cisões
filosóficas sobre a natureza ou a substância só virão cinqüenta ou cem anos
mais tarde, com os grandes bispos teólogos: Basílio Magno (f 379); Gregório
Nazianzeno (f 390); Gregório de Nissa (f 394) e, no Ocidente, Agostinho de
Hipona (f 430). Santo Ambrósio conta-nos que a palavra ‘consubstanciai’ só foi
adotada em Niceia - quando outras assembleias de bispos a tinham julgado
suspeita - porque tinha sido abertamente rejeitada por Ario e os seus» (Ph.
Ferlay, J.-N. Bezançon, J.-M. Onfray, «Para compreender o Credo», ed. Perpétuo
Socorro, Porto 1993,69). Para reforçar a verdadeira doutrina, os Concílios
seguintes (Constantinopla e Calcedónia) insistiram nos termos acrescentados no
Concilio de Niceia (cf. temas 10 a 12). A expressão - «consubstanciai ao Pai»
- que encerra esta temática, defende que Jesus Cristo não é uma criatura
especial, mas é Deus, faz parte de Deus, é gerado em Deus e possui a mesma
essência de Deus. Ao contrário do que diziam os defensores do arianismo não
está em causa o monoteísmo (um só Deus). 0 Pai e o Filho, com o Espírito Santo,
constituem a Trindade de Um único Deus: um só Deus em três Pessoas.
Apesar de todas estas fórmulas, é importante recordar
que as palavras do Credo não impedem a busca das melhores expressões para dizer
Deus. A linguagem (ontem como hoje) será sempre imperfeita, incapaz de
explicar a plenitude do mistério de Deus.
In Diário do Minho
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