No CPP da sexta-feira passada depois das orações iniciais e a pensar no Ano da Fé, o Comandante Oliveira Martins fez uma reflexão sobre
A FÉ ATUA EM OBRAS
Um amigo meu dizia-me há tempos, que gostava de ter fé, de
crer em algo, mas estava vazio, sentia dentro dele um fosso enorme. Por mais
que tentasse, não conseguia e sofria com esta falta de fé.
A fé ajuda a vencer obstáculos que parecem ser
intransponíveis. Ao longo da minha vida fui confrontado com situações que
puseram à prova a minha fé. Estou-me a lembrar de quando naufraguei e me vi
perdido no meio do oceano imenso, rodeado de água gelada por todo o lado,
envolto na bruma densa e pegajosa, ao sabor das ondas alterosas que ora me
transportavam ao cume ora me afundava nas profundezas do oceano como se caísse
numa tumba abismal.
Naqueles momentos de angústia e desespero foi a fé que me
salvou, a Fé em Deus que me fez acreditar num poder maior que me iria salvar de
perecer nos confins do oceano. Se aquele mar me dava o sustento para viver, não
me podia dar a morte.
Outra vez, fomos assolados por uma tempestade medonha, que
tivemos de suportar sem possibilidade de nos abrigarmos em terra, como era
costume fazer quando havia previsões de borrasca aproximando-se. O navio São
Ruy era robusto, mas tinha pouca força de máquina para enfrentar a energia das
ondas alterosas que tinha de galgar. Durante horas suportamos a invasão das
ondas que transpunham o navio de proa à popa arrastando e partindo tudo à
passagem. Tivemos de nos amarrarmos para não sermos levados pela força
descomunal daquele mar gélido e tempestuoso. Implorei a Deus a salvação e
invoquei o espírito divino e, dentro de mim cresceu uma força sobrenatural que
me ajudou a suportar as provações por que estava passando.
Durante a minha vida profissional andei muitos anos na pesca,
do bacalhau, da pescada no Sudoeste Africano ou de diversas espécies, na
Mauritânia e na Guiné. Dia a dia, na vida da pesca, a fé de cada um é testada.
Tal como no evangelho, quando se larga a rede, alimentamos a ideia dela vir cheia de peixe, acredita-se até ao final,
na esperança de mais um bom lanço para carregar o navio e tornar a viagem mais
curta e proveitosa. Aquele que não acredita, que não tem fé, não pode ter
sucesso, seja na pesca ou em qualquer outra atividade.
Muitas foram as situações difíceis por que passei, mas a mais
difícil provação foi recentemente quando me foi diagnosticado um tumor maligno.
Quando recebi a notícia do dr. Adriano Magalhães, na antevéspera do Natal, foi
duro. Não disse nada a ninguém, não
queria estragar a festa de Natal, principalmente aos meus netos que andavam
excitados e felizes na expectativa dos presentes do menino Jesus. Passei o
Natal o mais animado possível, disfarçando a minha dor, até fui passar o Ano
Novo a Vigo com amigos. No dia 2 de janeiro, reuni a família e dei a notícia,
encarando com positividade a realidade e colocando mais uma vez à prova a minha
fé. No dia 6 parti para o IPO, como se nada tivesse, disposto a enfrentar mais
uma batalha que Deus me tinha colocado para me testar, como tantas outras ao
longo da minha vida.
A fé atua em obras! Foi certamente com muita fé que o senhor
padre Coutinho, nosso pároco, lançou a primeira pedra para a construção da obra
da igreja. Teve provações, momentos de desânimo, quem os não tem, mas acreditou
sempre até ao momento em que o senhor Bispo D. Anacleto entrou na Igreja da
Sagrada Família para a benzer.
As obras do Centro Social que o padre Coutinho pôs em marcha,
o Centro de Dia, o Infantário, o Centro de Convívio, o ADI/SAD, o Berço, o
refeitório Social, para só falar naquelas de mais visibilidade, não
menosprezando as outras, que também são importantes, foram, estou certo,
imbuídas de uma grande dose de fé, por que as dificuldades para gerir toda esta
obra monumental são muitas e de difícil concretização muitas vezes.
A obra social da nossa paróquia é pioneira na cidade e apoia um grande número
de utentes que dela necessitam e dependem; por outro lado, movimenta um
considerável volume de bens e serviços e dá emprego a meia centena de pessoas.
Nos tempos difíceis que vivemos, devemos fortalecer a nossa fé
entreajudando-nos, para melhor vencer os desafios que Deus nos coloca para nos
testar.
O exemplo do padre Coutinho, apesar dos seus padecimentos, acreditando que o caminho se faz caminhando,
passo a passo, deve ser seguido por todos nós, voluntários, funcionários,
amigos da obra, por que só depositando fé
naquilo que não se vê, mas que se
vai construindo, podemos levar esta obra para a frente, ajudando os que mais
necessitam.
O dinamismo da fé é o amor! Sempre que dedicamos amor às
pessoas, às coisas, estamos a cimentar a fé, através da partilha do amor. O
amor é dádiva, é entrega. Dentro de cada um cresce o sentimento da fé ao
praticar o amor verdadeiro, livre de amarras e preconceitos, desinteressado,
sem esperar retorno.
Voltando ao princípio, à falta de fé do meu amigo, só queria
dizer que todos nós temos no nosso íntimo, em estado latente, o poder da fé,
necessitamos exercitá-la e trabalhá-la. Se todos pusermos a nossa fé em ação,
se não nos acomodarmos, conseguiremos vencer os obstáculos que à partida
parecem incontornáveis.
Assim seja!
Viana do Castelo, 2013-10-05
Manuel de Oliveira Martins
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