Nada de novo. Tudo
diferente?
1. Nada do que o Papa diz é novo. E, no entanto, tudo o que o Papa
diz parece diferente. Na extensa entrevista concedida à “La Civiltà
Cattolica”, nenhuma doutrina é suprimida. E, ao mesmo tempo, todos os
ensinamentos como que aparecem reinventados.
2. Onde tendemos a ver uma infracção para corrigir, o Papa vê uma
ferida para curar. A missão da Igreja, em nome de Jesus, não é julgar nem,
muito menos, condenar. É acolher, é procurar.
3. É por isso que o seu lugar não é apenas o templo. O seu lugar é o
caminho das pessoas, não excluindo sequer os descaminhos de tantas pessoas.
É nesses caminhos – ou descaminhos – que Deus nos precede. «Deus é
como a flor da amendoeira, que floresce sempre antes. Portanto, encontramos Deus
caminhando, no caminho».
4. Os que estão feridos têm de ser ajudados, não repelidos.
A Igreja tem o direito – e até o indeclinável dever – de se
pronunciar sobre o casamento homossexual, o aborto ou o uso de contraceptivos.
O que não deve é falar apenas sobre isso.
5. O anúncio tem de começar pelo global, «que é também aquilo que
mais apaixona e atrai, aquilo que faz arder o coração»: o Evangelho. É desta
proposta que «vêm, depois, as consequências morais».
6. Há uma certeza que o Papa transporta: «Deus está na vida de cada
pessoa».
Mesmo se essa vida foi um desastre, «se se encontra destruída
pelos vícios, pela droga ou por qualquer outra coisa, Deus está na sua vida».
7. E, afinal, quem não precisa de conversão? O próprio Papa
confessa-se pecador, «um pecador para quem o Senhor olhou»: «Sou alguém que é
olhado pelo Senhor».
Deus olha para nós com misericórdia. É preciso aprender a
misericórdia, reaprendendo a misericordiar.
8. Para o Santo Padre, «os ministros da Igreja devem ser
misericordiosos».
Devem ser capazes de «aquecer o coração das pessoas, de caminhar
na noite com elas».
9. Aliás, o povo de Deus «quer pastores e não funcionários ou
clérigos de Estado».
Para isso, não basta ter as portas abertas. Temos de ser uma
«Igreja que encontre novos caminhos, que seja capaz de sair de si mesma indo ao
encontro de quem não a frequenta, de quem a abandonou ou lhe é indiferente».
10. Enfim, não é uma «outra Igreja» que tem de nascer.
É uma «Igreja outra» que (já) está a surgir. No coração de muitas
pessoas!
João António Pinheiro
Teixeira, Teólogo,
In DM
25.09.2013
Sem comentários:
Enviar um comentário