segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Nada de novo. Tudo diferente? Há uma certeza que o Papa transporta: «Deus está na vida de cada pessoa».


Nada de novo. Tudo diferente?

1. Nada do que o Papa diz é novo. E, no entanto, tudo o que o Papa diz parece di­ferente. Na extensa entrevista concedida à “La Civiltà Cattolica”, nenhuma doutrina é suprimida. E, ao mesmo tempo, todos os ensinamentos como que aparecem rein­ventados.

2. Onde tendemos a ver uma infracção para corrigir, o Papa vê uma ferida para curar. A missão da Igreja, em nome de Je­sus, não é julgar nem, muito menos, con­denar. É acolher, é procurar.

3. É por isso que o seu lugar não é ape­nas o templo. O seu lugar é o caminho das pessoas, não excluindo sequer os desca­minhos de tantas pessoas.

É nesses caminhos – ou descaminhos – que Deus nos precede. «Deus é como a flor da amendoeira, que floresce sempre antes. Portanto, encontramos Deus cami­nhando, no caminho».

4. Os que estão feridos têm de ser ajuda­dos, não repelidos.

A Igreja tem o direito – e até o indecliná­vel dever – de se pronunciar sobre o ca­samento homossexual, o aborto ou o uso de contraceptivos. O que não deve é falar apenas sobre isso.

5. O anúncio tem de começar pelo global, «que é também aquilo que mais apaixona e atrai, aquilo que faz arder o coração»: o Evangelho. É desta proposta que «vêm, depois, as consequências morais».

6. Há uma certeza que o Papa transporta: «Deus está na vida de cada pessoa».

Mesmo se essa vida foi um desastre, «se se encontra destruída pelos vícios, pela dro­ga ou por qualquer outra coisa, Deus está na sua vida».

7. E, afinal, quem não precisa de conver­são? O próprio Papa confessa-se pecador, «um pecador para quem o Senhor olhou»: «Sou alguém que é olhado pelo Senhor».

Deus olha para nós com misericórdia. É preciso aprender a misericórdia, reapren­dendo a misericordiar.

8. Para o Santo Padre, «os ministros da Igreja devem ser misericordiosos».

Devem ser capazes de «aquecer o coração das pessoas, de caminhar na noite com elas».

9. Aliás, o povo de Deus «quer pastores e não funcionários ou clérigos de Estado».

Para isso, não basta ter as portas abertas. Temos de ser uma «Igreja que encontre novos caminhos, que seja capaz de sair de si mesma indo ao encontro de quem não a frequenta, de quem a abandonou ou lhe é indiferente».

10. Enfim, não é uma «outra Igreja» que tem de nascer.

É uma «Igreja outra» que (já) está a surgir. No coração de muitas pessoas!

João António Pinheiro Teixeira, Teólogo,

In DM 25.09.2013

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