Embriões: as perguntas
incómodas do filósofo Fabrice Hadjadj
A sociedade rejeita a ideia de se referir ao embrião como pessoa porque
admitir isso significa reconhecer que matá-lo é assassinato
10.10.2013
Religión en Libertad
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No último mês de julho, a Assembleia Nacional da
França votou um projeto de lei que autoriza a pesquisa com embriões humanos – prática que destrói os indivíduos humanos
nesta etapa do seu desenvolvimento.
O filósofo Fabrice Hadjadj, diretor de Philanthropos, o Instituto Europeu de Estudos Antropológicos (Friburgo, Suíça), analisou o status do embrião humano, em uma entrevista que reproduzimos a seguir.
Fabrice respondia ao professor René Frydman, que, no "Le Figaro" de 12 de julho, afirmou que "o embrião não é uma pessoa humana" e que proibir a pesquisa com embriões humanos seria "incoerente e retrógrado".
Muitos afirmam que "o embrião não é uma pessoa". O que você pensa sobre isso?
É interessante: nunca procuraram um filósofo para praticar uma reprodução assistida, mas sempre perguntam aos médicos sobre questões filosóficas.
Eu gostaria de recordar que a noção de "pessoa" é um conceito metafísico, de origem teológica inclusive, e que não podemos empregá-lo superficialmente. Por outro lado, não sei se você percebeu, mas nós nos esforçamos em dizer "embrião". Mas do que estamos falando? De um embrião de vaca, de macaco? Não: trata-se de um embrião humano.
Frydman disse que "um olho não preparado não consegue ver a diferença entre um embrião de rato e um embrião humano". Mas será que ele implantaria um embrião de rato nas mulheres que solicitam uma reprodução assistida? Por que não, se não existe diferença alguma? A evidência é que o embrião sobre quem estamos falando é humano. Nenhum cientista pode negar isso.
No entanto, eliminar um ser humano é um homicídio. Fazer do ser humano um material excedente é o cúmulo da exploração. E, com isso, não estou emitindo um juízo de valor. Pode haver motivos para ser um homicida, e numerosos Estados, em nome do progresso, legalizaram a exploração e manipulação dos humanos. O que eu rejeito, como filósofo, é que as pessoas se neguem a chamar o gato de "gato", e que fiquemos fazendo rodeios para dissimular.
Se as coisas estão tão claras, por que ainda existe este debate?
Um texto de Bertrand Monthubert, ex-secretário nacional para a pesquisa, do Partido Socialista francês, publicado em 11 de julho, é bastante significativo.
Cito sua saborosa argumentação, em sua aproximativa gramática: "O embrião não é uma pessoa, a ciência é muito clara sobre isso. Se fosse pessoa, isso significaria que os embriões que foram criados e destruídos nas FIV foram assassinados, e não é este o caso". Isso é tudo.
Falamos do "embrião" sem concretizar que se trata de um embrião humano. Achamos que o conceito de "pessoa" é claro demais para a ciência. E, como único argumento, apresenta-se a impossibilidade de ser um assassinato.
A negação tem, portanto, duas causas. A primeira é esta palavra, "pessoa", e a confusão metafísico-jurídica à qual ela conduz. Seria melhor perguntarmos se estamos diante de uma vida humana ou não.
Dado que esta vida é humana, a questão é saber se queremos continuar tendo o artigo 16 do Código Civil [francês], que estabelece que "a lei garante o respeito ao ser humano desde o princípio da sua vida", ou se o abandonamos.
A segunda causa é a dificuldade de reconhecer que, ao seguir uma lógica tecnicista, criamos uma situação irresolúvel e insustentável, diante da qual nossa consciência está desorientada. Efetivamente, estes 50 mil humanos congelados, que gostaríamos de usar como reagentes em laboratórios farmacêuticos, são algo inimaginável. Devemos admitir que fomos muito além de "Admirável mundo novo", de Aldous Huxley.
Podemos afirmar, ao mesmo tempo, que o embrião humano "não é uma pessoa" e que "se tornará pessoa" na medida em que for inscrito em um projeto parental?
Os cientistas que apoiam isso são realmente adeptos da magia. Abracadabra! Eu quero que seja uma pessoa, e será uma pessoa. Isso não entra no meu projeto e puft! A pessoa desaparece. Estamos verdadeiramente no reino dos aprendizes de bruxos.
Mas esta forma de ver, que faz pensar em magia, é tipicamente tecnocrática. Seu princípio é que a vontade prima sobre o ser e que, portanto, todo estado natural, incluindo meu corpo, é apenas um material que eu posso manipular segundo meus caprichos.
Podemos aceitar as interrupções voluntárias da gravidez e a destruição de embriões sem projeto parental, e rejeitar a pesquisa com embriões?
É verdade que está tudo unido. Por outro lado, é necessário recordar que uma fecundação in vitro, no final das contas, destrói mais embriões que um aborto.
Novamente, eu não pretendo me posicionar no âmbito ético, sobretudo nesta ética que todo mundo utiliza como uma etiqueta para manter sua boa consciência. Eu apenas constato que entramos em uma era de manipulação radical (ou seja, que parte da raiz) da vida humana.
Não deveríamos considerá-lo retrógrado?
De onde vem esta retórica do "grande salto adiante"? Com ela, Mao causou 30 milhões de mortes. É bom dar um passo atrás quando estamos à beira do precipício.
Além disso, o que é retrógrado é não seguir o caminho aberto pelo Prêmio Nobel de Medicina, o professor Yamanaka, com suas células reprogramadas, que não apresentam nenhum problema ético. Mas nós teimamos na pesquisa com embriões humanos (sem dúvida alguma, como um meio para evitar à nossa consciência o mal-estar de ter de destruí-los) e deixamos que o Japão se adiante em métodos que já deram melhores resultados.
Poderíamos dizer que os que se opõem a esta lei são influenciados pela Igreja Católica?
Frydman garantiu isso nas colunas do seu jornal – o que é duplamente desleal. Primeira deslealdade: fazer acreditar que todos os que se opõem às suas opiniões são fideístas irracionais. Isso é típico do estilo do processo stalinista.
Segunda deslealdade: ele se deixa apresentar como o "pai do primeiro bebê de proveta". O que aconteceu então com Jacques Testart? Por que já não se fala dele como pioneiro da fecundação in vitro? Precisamente porque, sem ser católico, Testart denunciou todos aqueles que "elogiam religiosamente todas as produções de laboratório".
Haveria muito ainda a dizer sobre o obscurantismo cientificista e seus fanáticos de hoje.
O filósofo Fabrice Hadjadj, diretor de Philanthropos, o Instituto Europeu de Estudos Antropológicos (Friburgo, Suíça), analisou o status do embrião humano, em uma entrevista que reproduzimos a seguir.
Fabrice respondia ao professor René Frydman, que, no "Le Figaro" de 12 de julho, afirmou que "o embrião não é uma pessoa humana" e que proibir a pesquisa com embriões humanos seria "incoerente e retrógrado".
Muitos afirmam que "o embrião não é uma pessoa". O que você pensa sobre isso?
É interessante: nunca procuraram um filósofo para praticar uma reprodução assistida, mas sempre perguntam aos médicos sobre questões filosóficas.
Eu gostaria de recordar que a noção de "pessoa" é um conceito metafísico, de origem teológica inclusive, e que não podemos empregá-lo superficialmente. Por outro lado, não sei se você percebeu, mas nós nos esforçamos em dizer "embrião". Mas do que estamos falando? De um embrião de vaca, de macaco? Não: trata-se de um embrião humano.
Frydman disse que "um olho não preparado não consegue ver a diferença entre um embrião de rato e um embrião humano". Mas será que ele implantaria um embrião de rato nas mulheres que solicitam uma reprodução assistida? Por que não, se não existe diferença alguma? A evidência é que o embrião sobre quem estamos falando é humano. Nenhum cientista pode negar isso.
No entanto, eliminar um ser humano é um homicídio. Fazer do ser humano um material excedente é o cúmulo da exploração. E, com isso, não estou emitindo um juízo de valor. Pode haver motivos para ser um homicida, e numerosos Estados, em nome do progresso, legalizaram a exploração e manipulação dos humanos. O que eu rejeito, como filósofo, é que as pessoas se neguem a chamar o gato de "gato", e que fiquemos fazendo rodeios para dissimular.
Se as coisas estão tão claras, por que ainda existe este debate?
Um texto de Bertrand Monthubert, ex-secretário nacional para a pesquisa, do Partido Socialista francês, publicado em 11 de julho, é bastante significativo.
Cito sua saborosa argumentação, em sua aproximativa gramática: "O embrião não é uma pessoa, a ciência é muito clara sobre isso. Se fosse pessoa, isso significaria que os embriões que foram criados e destruídos nas FIV foram assassinados, e não é este o caso". Isso é tudo.
Falamos do "embrião" sem concretizar que se trata de um embrião humano. Achamos que o conceito de "pessoa" é claro demais para a ciência. E, como único argumento, apresenta-se a impossibilidade de ser um assassinato.
A negação tem, portanto, duas causas. A primeira é esta palavra, "pessoa", e a confusão metafísico-jurídica à qual ela conduz. Seria melhor perguntarmos se estamos diante de uma vida humana ou não.
Dado que esta vida é humana, a questão é saber se queremos continuar tendo o artigo 16 do Código Civil [francês], que estabelece que "a lei garante o respeito ao ser humano desde o princípio da sua vida", ou se o abandonamos.
A segunda causa é a dificuldade de reconhecer que, ao seguir uma lógica tecnicista, criamos uma situação irresolúvel e insustentável, diante da qual nossa consciência está desorientada. Efetivamente, estes 50 mil humanos congelados, que gostaríamos de usar como reagentes em laboratórios farmacêuticos, são algo inimaginável. Devemos admitir que fomos muito além de "Admirável mundo novo", de Aldous Huxley.
Podemos afirmar, ao mesmo tempo, que o embrião humano "não é uma pessoa" e que "se tornará pessoa" na medida em que for inscrito em um projeto parental?
Os cientistas que apoiam isso são realmente adeptos da magia. Abracadabra! Eu quero que seja uma pessoa, e será uma pessoa. Isso não entra no meu projeto e puft! A pessoa desaparece. Estamos verdadeiramente no reino dos aprendizes de bruxos.
Mas esta forma de ver, que faz pensar em magia, é tipicamente tecnocrática. Seu princípio é que a vontade prima sobre o ser e que, portanto, todo estado natural, incluindo meu corpo, é apenas um material que eu posso manipular segundo meus caprichos.
Podemos aceitar as interrupções voluntárias da gravidez e a destruição de embriões sem projeto parental, e rejeitar a pesquisa com embriões?
É verdade que está tudo unido. Por outro lado, é necessário recordar que uma fecundação in vitro, no final das contas, destrói mais embriões que um aborto.
Novamente, eu não pretendo me posicionar no âmbito ético, sobretudo nesta ética que todo mundo utiliza como uma etiqueta para manter sua boa consciência. Eu apenas constato que entramos em uma era de manipulação radical (ou seja, que parte da raiz) da vida humana.
Não deveríamos considerá-lo retrógrado?
De onde vem esta retórica do "grande salto adiante"? Com ela, Mao causou 30 milhões de mortes. É bom dar um passo atrás quando estamos à beira do precipício.
Além disso, o que é retrógrado é não seguir o caminho aberto pelo Prêmio Nobel de Medicina, o professor Yamanaka, com suas células reprogramadas, que não apresentam nenhum problema ético. Mas nós teimamos na pesquisa com embriões humanos (sem dúvida alguma, como um meio para evitar à nossa consciência o mal-estar de ter de destruí-los) e deixamos que o Japão se adiante em métodos que já deram melhores resultados.
Poderíamos dizer que os que se opõem a esta lei são influenciados pela Igreja Católica?
Frydman garantiu isso nas colunas do seu jornal – o que é duplamente desleal. Primeira deslealdade: fazer acreditar que todos os que se opõem às suas opiniões são fideístas irracionais. Isso é típico do estilo do processo stalinista.
Segunda deslealdade: ele se deixa apresentar como o "pai do primeiro bebê de proveta". O que aconteceu então com Jacques Testart? Por que já não se fala dele como pioneiro da fecundação in vitro? Precisamente porque, sem ser católico, Testart denunciou todos aqueles que "elogiam religiosamente todas as produções de laboratório".
Haveria muito ainda a dizer sobre o obscurantismo cientificista e seus fanáticos de hoje.
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