Deus surdo
para o Homem?
Nunca como hoje se tornou necessário redescobrir as razões do crer.
Aquele que acredita, se facilmente se confunde com o que não acredita, mesmo
sem o querer, testemunha a inutilidade da fé. Quem não reconhece que este é o
grande pecado de cada um? Ou mesmo o pecado que se atribui à Igreja? Não é
verdade que o jogo fácil de acusar a Igreja, como se ela fosse apenas uma
empresa humana, esconde a atitude covarde e ilusória de me colocar de fora a
atirar pedras como se, pelo Baptismo, eu não fosse Igreja? A verdade é que a
Igreja sou eu. E a partir daqui, tudo muda: o mal que eu vejo na Igreja é o mal
que está em mim.
Vamos, então, cada um assumir a sua verdadeira identidade de cristão,
de pessoa de fé, obrigando-se a agir de modo que a diferença entre o que é
crente e o que não o é apareça como algo de natural. Trata-se de um elemento
que identifica: sou/não sou crente.
O sofrimento abate-se sobre todos indistintamente: o crente e o não
crente ambos sofrem, ambos se situam diante de problemas insolúveis, de
desgraças repentinas, de horizontes bem escuros: que diferença há entre as
posturas do crente e as do não crente?
Diante da violência, do mal e da injustiça no mundo, que faz Deus? O
crente bate-lhe à porta e reprova-Lhe o silêncio. O não crente interpreta o
silêncio como sinal da sua não-existência. O profeta Habacuc, diante de um povo
queixoso do silêncio de Deus, lembra a fidelidade de Deus, manifestada num
passado de proximidade permanente, algo que o povo esquecera quando deportado
devido à sua própria infidelidade. Ou seja, responde o profeta: Deus
não abandonou o povo, foi o povo que abandonou Deus e se encontra agora em
desgraça, pagando pelo seu erro. Mas há-de ser de Deus que virá a força de
recuperação do que se perdera. Só que... que direito têm aqueles (nós...)
insolentes que se atrevem a pedir contas a Deus, querendo impor-lhe a hora e o
modo de Ele intervir? O verdadeiro crente põe a sua confiança no Senhor.
Diante do incompreensível agir misterioso de Deus, Jesus convida os
Apóstolos a suplicarem a Deus que aumente a sua pouca fé. Suplicar é aceitar-se
necessitado. Logo, aberto à intervenção de Deus. Ao contrário daquele que não
pede porque se julga capaz, por si só, de transformar o mundo que o rodeia.
A Igreja vive, ao longo da sua história, esta experiência difícil de se
pôr humildemente aos pés do seu Senhor, pedindo-lhe que aumente a sua fé.
Diante de um mundo quase hermeticamente fechado à acção de Deus, homens e
mulheres da Igreja aprendem a confiar em Deus mais que nas suas próprias
estratégias. Fazemos nós parte desse grupo? Senhor, aumenta a nossa fé!
O Prior - P. Abílio Cardoso
Sem comentários:
Enviar um comentário