A Paróquia
na sua dimensão social
1.
A Igreja e os sinais de Caridade
Dou-vos
um mandamento novo: que vos amais uns aos outros; que vos ameis uns aos outros
assim como que vos amei. Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos
outros. (João 14, ou 16...)
Quando esta Boa Nova, atinge os
corações, é aceite, isto é, há adesão e compromisso, forçosamente modela o agir
humano ao jeito da pessoa de Jesus Cristo.
Os
sinais de Caridade são os únicos e inequívocos sinais de visibilidade da acção
pastoral da Igreja por vontade de Jesus Cristo. Como pessoa divina, assim
reconhecido pelos Magos no Presépio, proclamado no seu baptismo e reconhecido
como tal nos diversos milagres que
acompanharam a sua acção e, como pessoa humana que concomitantemente reunia na
sua essência, sempre se manifestou sensível, muito humano, a participar das
alegrias e das tristezas dos seus comtemporâneos, nas Bodas de Caná ou na morte
de Lázaro e, quer num quer noutro acontecimento, surgem dificuldades. Apesar de
Fez o milagre da transformação da água em vinho para que os noivos não ficassem
mais preocupados e menos alegres ao verem os seus convivas bem. Restituiu a alegria
às irmãs e aos amigos de Lázaro, ao dar de novo a vida a um corpo morto e já
fétido...
Os
Apóstolos entenderam bem esta mensagem pelo que, desde a primeira hora, após a
Ressurreição de Jesus e a sua subida ao Céu, logo realizaram comunhão de vida e
se dedicaram ao serviço fraterno.
Fomentaram
entre os primeiros cristãos verdadeiras e autênticas comunidades que
interpelavam os estranhos, sobretudo pela comunhão de vida a partir dos bens.
Por isso, os estranhos exclamavam “Vêde como eles se amam”. Formando-se assim
em comunidades verdadeiramente modelares porque não eram obras do poder dos
homens, mas obras do Espírito.
Criaram
tradição. Este é o património deixado pela tradição apostólica. Ainda hoje é
regra de ouro na actualização permanentemente das orientações pastorais e na
vivência cristã da Igreja.
Depois
dos Apóstolos somos nós, a igreja de hoje que tem de continuar esta tradição,
esta comunhão de vida e este serviço fraterno. É por isso que dizemos que a
nossa missão, a partir do baptismo, é uma missão tríplice porque é participação
da mesma missão de Jesus Cristo, como sacerdote, profeta e rei,
ou seja, há que conhecer estudando e partilhando saberes, há que celebrar
pontualmente as alegrias do Mistério que se nos é revelado e há que servir, na
vivência com os outros, as exigências dos mesmos mistérios para que este
serviço seja luz do mundo, isto é, se transforme em luz que se coloca sobre o
alqueire, em sal da terra para que esta deixe de ser insípida, em fermento na
massa para que a levede, em semente que morrendo na terra possa dar fruto.
Isto
é visibilidade. É testemunho.
2.
A Lei do Amor e o distintivo das nossas obras
Ninguém gosta de descansar enquanto
não forem irradicados problemas como os
da fome e da miséria. É a fome e a miséria (esta miséria vai desde a fome,
privação de bens essenciais à sobrevivência do ser humano até aos sem abrigo,
marginalidade, seja ela qual for), para
que a salvação se dê na globalidade do corpo e da alma: o ser físico, mental e
espiritual. Constitui sempre um bloqueio.
Isto
não é outra coisa senão o AMOR que atinge o coração de qualquer homem da
sociedade contemporânea. Arde por dentro e nos projecta para a transformação
total em Jesus Cristo. “Amai-vos uns aos outros”...
Segundo Santo Agostinho: “O Amor a Deus
é o primeiro na ordem do preceito, mas o amor ao irmão é o primeiro na ordem da
acção...” “ Ama o próximo e examina, esse amor pelo outro. Naturalmente
encontrarás a causa de Deus. Então reparte o teu pão com o faminto, abre a tua
casa ao que não tem abrigo, veste o nu e não desprezes a nenhum dos que são da
tua raça humana.”
Só
o Amor é capaz de gerar solidariedade e fraternidade e de nos conduzir a vencer
em comunidade a fome e a miséria para que a salvação se dê na globalidade do
corpo e da alma: o ser físico, mental e espiritual.
A
nossa missão é por isso Caridade, Amor e Acção. Amor sem Caridade não é Amor.
Serviço fraterno sem Amor não é Caridade. Aqui está o segredo da nossa
competência, imprimir uma certa disciplina social à nossa vida, fundada sobre
os valores humanos de justiça, responsabilidade e solidariedade. Esta Caridade
comprometida é símbolo dum Amor soberano, pessoal e colectivo, foco irradiante
da essência cristã.
“É
escandaloso a pretensão de exercer a caridade sem promover a justiça e a luta
por ela,” dizem os nossos Bispos na Instrução Pastoral sobre a Acção Social da
Igreja. Jesus continua hoje a dizer quando nos lamentamos da miséria, do
sofrimento, dos marginais, dos drogados, dos toxicodependentes, dos alcoólicos,
da presença dos imigrantes de Leste: “Dai-lhes vós mesmo de comer!” (Mt.14,16).
Pregar
e Baptizar já não é missão única para a Igreja. Esse tempo já passou. A “Rerum Novarum”, de Leão XIII, em 1891, é
um exemplo de que não basta matar a fome é preciso humanizar as estruturas e
fazer o mundo mais humano, como concluia PauloVI. Doutrina que todos os Papas
têm proclamado nas diversas encíclicas sociais até aos nossos dias. O culto não
pode estar antes da justiça e da solidariedade para com os que sofrem. “Eu
detesto as vossas festas...e não gosto dos vossos cultos...(cf. Amós 5) “ O
jejum que eu aprecio é este: abrir as prisões injustas, desatar os nós do jugo,
deixar ir livres os oprimidos, quebrar
toda a espécie de jugo...” Só quando isto acontecer, a tua luz surgirá como a
aurora e as tuas feridas cicatrizarão. (cf. Isaías 58)”A nossa missão vai mais
longe...
3. A Paróquia célula visível da
comunidade.
A Paróquia é um espaço
de comunhão bem curto, bem pequeno. A comunhão começa na família, estende-se ao
conjunto de famílias, à Paróquia, às
Paróquias, isto é, à Diocese, que coordena a Comunhão máxima da Igreja local,
em relação à Igreja Universal.
Por isso, na Paróquia, o espaço
próprio para o encontro da identidade cultural e social dum grupo de famílias
que se conhecem mutuamente e pelo nome, onde a Comunhão é mais viável e
evidente, encontramos o espaço onde a visibilidade da Igreja se torna
sacramento mais fácil e eficaz.
Para
a concretização ordenada desta missão eclesial, existe um Conselho Paroquial de
Pastoral, o meio pelo qual a Igreja exerce parte da sua missão para com os
homens. O exercício da Caridade é exercido de modo mais eficaz, permanente e
espontâneo, mas obrigatório.
É na Paróquia que mais facilmente nos
envolvemos de uma forma integral na vida íntima duma comunidade, isto é, na
comunhão com os outros enraizada na fé de Jesus Cristo, ressuscitado, que está
sempre vivo, presente e actuante no meio da mesma. É na Comunidade onde
nos identificamos com mais facilidade e
podemos também, com facilidade, exercer a Caridade de Jesus Cristo, que ilumina
a solidariedade humana nos deveres para com as pessoas singulares ou
colectivas. Dissolvendo protagonismos, brilhará mais longe a Grande Luz, a primeira que inspirou a Comunidade a reunir a generosidade individual para dar
corpo à acção do espírito.
Esta
Luz faz com que as nossas obras tornem a Igreja visível porque fará das nossas
obras ofertas preciosas de Amor e nisto serão obras diferentes das do Estado. É
na visibilidade do Espírito que os outros encontrarão a diferença e nos
apontarão... “Vêde como eles se amam!!.
Esta
competência e missão da Igreja numa sociedade altamente competitiva, de
violência e de luta de classes, há-de manifestar-se através dos leigos como
bons profissionais, bons políticos, bons companheiros de trabalho e bons
membros de família. Nesta competência estão as denúncias públicas de injustiças
sociais, as respostas às situações mais diversas de pobreza, tendo em conta que
o conceito de pobreza da Igreja é diferente do conceito de pobreza dum
político. Uma vez que, segundo a lógica Cristã, o rico pode ser pobre e o pobre
pode ser rico.
A
nossa própria linguagem tem de ser sinal de caridade e criar novidades para que
as nossas obras ultrapassem o domínio das de origem política ou de puro
altruísmo.
O
que estamos a fazer, na Comunidade a cada hora e a cada momento, é procurar
que, aprendamos a dar um sentido novo à vida. A vida no Amor...
A opção de Jesus Cristo foi sempre
muito clara, logo no nascimento se
voltou para gente simples e abandonada e
durante a vida sempre optou pelos pobres a quem muitas vezes matou a fome. (Mt.
14, 13-21).
Não
vemos Cristo a ocupar outro lugar.
Está sempre ao lado dos pobres e dos
que precisam, dos aleijados, dos estropiados, dos doentes, dos pecadores e dos
pecadores públicos... dos que passam fome e sede...
Por
isso a nossa atitude também não pode ser
outra na vida pastoral. Não devemos
estar tão preocupados com o aparato e as grandes obras porque, quando Jesus nos
diz que “Vejam as vossas obras e louvem o vosso Pai do Céu” (Mt. 5,6), é para
que sejamos grandes realizadores com meios simples e humildes porque só na
humildade e na simplicidade é capaz de se descobrir sinais de Deus.
Tanto hoje, como ontem, numa região
com o menor poder de compra do país, onde
encontramos pessoas que nos batem
à porta esfomeadas, também Jesus nos diz, como aos seus discípulos: “Dai-lhes
vós mesmo de comer!” (Mt. 14,16).
Cristo fez uma opção preferencial
pelos pobres, foi uma atitude clara e ... sempre se voltou para a gente
simples, abandonada, e marginal à qual teve muitas vezes de matar a fome
(Mat.14,13-21). Não vemos Cristo a ocupar outro lugar. Está sempre ao lado dos
pobres e dos que precisam, dos aleijados, dos estropiados, dos doentes, dos
pecadores e dos pecadores públicos, dos que passam fome e sede. Não basta, no
entanto, pôr as obras de misericórdia em dia porque muita outra gente é capaz
de dar de comer também aos
famintos, mas que as nossas obras
sejam distinguidas pelas razões com que
as fazemos.
A
pobreza em si é um mal para o homem. Deus criou o homem para ser feliz e criou
os bens da terra para os pôr à disposição dos homens, de todos os homens
, segundo a justiça, inseparável da caridade para que por eles fossem
administrados, trabalhados e os mesmos dessem frutos (Gen. 1,28...e cf. G. S.
69)
As promessas de Deus incluem bem-estar
material: “A geração dos justos será abençoada, haverá em sua casa abundância e
bem-estar” Salmo, 112,3
O
grito dos pobres ultrapassa as nuvens e não descansa enquanto não chegar a
Deus. O pobre não se consola enquanto Deus não o atender e o juiz justo lhe
fará justiça. (cf. Ecl. 35)
Deus
revela-se como o Deus de todos, pobres e ricos, mas vêmo-lo na pessoa do seu
Divino Filho ao lado de quem sofre.
Embora sendo o Pai de todos, Deus ama
o rico, mas repudia os seus bens injustos e, no amor ao pobre, pede
solidariedade e exige justiça para com
ele.
Jesus
nasceu pobre, é acolhido pelos pastores, gente pobre. Vive uma vida pobre e
humilde, em Nazaré. Começa sua vida pública aliando-se nas filas dos que se
reconheciam pobres pecadores ao procurar
o perdão pelo baptismo de João. Este procedimento era visto com desdém pelos
fariseus, ricos e “justos”.
Em
Nazaré, declara-se cumpridor precisamente da promessa messiânica aos pobres: “
o Espírito do Senhor me ungiu para levar a boa nova aos pobres, para proclamar
a libertação aos cativos, dar vista aos
cegos, libertar os oprimidos, anunciar o ano de graça do Senhor. “Lc.4, 16ss.”
Só
o Amor consegue compreender esta dicotomia de pobres e ricos e Deus que não
quer a pobreza, sendo criador, é Pai de todos; a todos ama com justiça e com
bondade.
Está
longe de viver a fé cristã quem diz que não há pobres. “Na minha paróquia não
há pobres”, tantas vezes se ouve dizer. Quem assim fala não entende nada do que é o sentido da
Caridade cristã, da mensagem de Jesus de Nazaré.
É urgente, onde este tipo de
comportamentos existe fazer uma revolução. Não uma revolução de armas, mas uma
revolução, onde o paradigma seja amor.
Em
primeiro lugar é preciso conhecer a realidade comunitária em relação à vida e à
dor dos que sofrem o esquecimento, a solidão, a opressão, as inquietações de
injustiça, de fraude, de isolamento que todos os dias envenenam a convivência
social, da ignorância, dos que sofrem a marginalização...
Em
segundo lugar Amar, e amar segundo Jesus Cristo é criar atitudes e
comportamentos de honradez, austeridade de vida, de solidariedade com todos os
pobres que sofrem a miséria e a fome, abrir caminhos e descobrir causas
possíveis de solução, criar consciência em toda a comunidade de que a
dimensão sócio- caritativa é
fundamental para ela, e a serviço da
Caridade deve implicar uma resposta comunitária visível.
5.
Na história da Igreja
No
princípio da Igreja “pôr em comum os bens” era normal. Sobretudo era esse o
testemunho que mais cativava... “Olha como eles se amam”. Depois na época
patrística aparecem também testemunhos claros de preocupação pelos pobres como
por exemplo:
S. Gregório de Nissa (335-394): “O
tempo actual apresenta-nos uma quantidade de nús e de sem abrigo. Há multidões
de escravos junto de cada porta. O estrangeiro e o emigrante também não faltam.
Por toda a parte mãos estendidas buscando auxílio” (Os padres da Igreja e a
questão social, 25).
S.
Gregório de Nazianzo (330-390): “... mas, e aqueles, num sofrimento enorme,
enquanto nós bem abrigados em casas luxuosas... e os míseros, tremendo de frio,
nos seus farrapos grosseiros... quem não se angustia com estes lamentos? Que
olhos são capazes de ver este espectáculo?” (idem, 43).
S.
João Crisóstomo (345-407): “Age com misericórdia e bondade: socorre a penúria,
mata a fome, afasta as tribulações. Recomendo que aos necessitados se dê com
abundância” (idem, 79).
Depois
na Idade Média começou-se a desenvolver a liturgia e tudo o que envolve esta
acção, como seja, a arte, assim como a filosofia, por isso houve na história da
Igreja tempos em que a acção sócio-caritativa não era considerada missão da
Igreja ou pelo menos era relegada para último lugar. E no mesmo sentido se
afirmava que a função essencial da Igreja era ser missionária: Ide e ensinai
todos os povos (Mt. 28, 19-20). Pregar e baptizar era a sua particular missão.
Ainda hoje continua a ser objecto de
algum tabú, ou de algum medo. Falta muitas vezes a coragem de S.Paulo: Fazer
tudo, para a todos levar a Cristo. Isto significa risco, e ser cristão é um
risco.
6.
O Concílio Ecuménico
Ajudou-nos a não esquecer, a partir
das missões de Jesus Cristo como Sacerdote, Profeta e Rei, que ser Rei era
servir e servir era amar, era dar a vida porque não basta celebrar a fé e
proclamá-la, é preciso também vivê-la.
Em Jesus Cristo fomos baptizados nesta
tríplice missão e se Cristo era o Caminho, a Verdade e a Vida, temos, como
pessoas de fé, comprometidas com a pessoa de Cristo, também nós hoje ser
sacerdotes para santificar, profetas para proclamar a verdade e reis para
abrirmos caminhos de felicidade aos que de felicidade precisam. Isto diz-se
para os ministérios ordenados e não ordenados realçando-se não só a responsabilidade,
mas, e sobretudo, a corresponsabilidade.
7.
A Instituição Particular de Solidariedade Social
Uma IPSS – é uma instituição da
iniciativa só leigos ou de leigos comprometidos na Igreja com estatutos
próprios e com objectivos definidos e aprovados pelo Bispo da diocese. Mas a
IPSS pode ser fundação de um outro movimento eclesial a nível diocesano ou paroquial desde que aprovado pelo Bispo. Tem
de ser autónoma para cumprir 3 objectivos fundamentais na comunidade, como sua
mandatária: expressar a generosidade individual, articular a generosidade,
equilibrar ou coadjuvar a organização social com os serviços do Estado. Esta
autonomia é-lhe concedida pela comunidade, reconhecida pelo Bispo e também, se
for o caso, pelo Estado. Não resulta da lei, nem da autoridade estatal, resulta
da iniciativa generosa e espontânea da comunidade. Ela é um meio pelo qual a Igreja exerce parte da
sua missão socio-caritativa para com os
homens. É um meio eficaz para o exercício da caridade de modo eficaz,
permanente e obrigatório, pois não basta a pregação e a oração, é preciso
testemunhar por meio das obras para que sejamos parte da luz que, por
excelência, é Jesus.
Uma IPSS deve ser numa diocese ou numa
paróquia, um lugar de comunhão fraterna, deve ser espaço onde a comunidade ou
as comunidades exercem o Amor e a Solidariedade entre as pessoas.
A grande força moral e a riqueza do
serviço aos outros deve resultar do facto da IPSS ser um serviço de leigos da
Diocese ou da Paróquia, onde a corresponsabilidade laical pode ser mais notória
porque abre portas à integração e participação de pessoas com várias
sensibilidades. A IPSS, neste caso, é apenas oportunidade, criada pela
comunidade presidida pelo Bispo para servir de suporte a todos os que assumem a
estrutura comunitária, institucional para as necessidades encontradas,
envolvendo voluntários, na resolução das necessidades da Igreja.
Quem trabalha por esta causa, dá
provas de saber o que quer, sabe fazer com fé, justiça e verdade passando
teimosamente por cima de muitas contrariedades.
Uma IPSS é espaço de liberdade e
globalidade.
Uma IPSS tem uma exigência legal
diferente dos outros movimentos e grupos de acção da mesma Igreja, pelo facto
de se envolver em acções em que o Estado pode e deve por justiça colaborar com
o que hoje fazemos por caridade ou solidariedade. E quando o Estado o fizer por
justiça, nós, IPSS, faremos outra coisa...
A Instituição dá a cara em nome da
Igreja de um donativo, de uma partilha e até de um serviço. Deste modo garante
a liberdade do beneficiário e do beneficiado e ao mesmo tempo pode memorizar a
oferta do benfeitor e prolongar a sua memória. Oferecer e garantir a
estabilidade e eficácia da acção de quem dá, dá-se sem se comprometer e quer
fazer bem sem mostrar o rosto. É uma questão de liberdade! A luz põe-se sobre o
alqueire, mas em nome duma Comunidade pode ser mais forte!... Pode iluminar
mais... e ir mais longe.
A IPSS tem por isso personalidade
jurídica canónica e civil e é responsável administrativamente perante a Igreja
e perante o Estado pelo que faz, e como faz.
Sobretudo à Igreja hierárquica tem a
obrigação de prestar contas sobre a qualidade dos serviços que presta à
Comunidade.
Ao Estado pode interessar o
tecnicismo; e à Igreja, mais do que o tecnicismo, interessa a técnica iluminada
pelo amor, o modo como se faz para que outro não sofra, ou sofra
menos. O Amor está sempre, na Igreja, acima da lei e da técnica.
8.
Necessidade de Informação e Formação
Como obra da Igreja não podemos falar
de identidade sem falar de espiritualidade.
Algumas questões poder-se-ão levantar
em relação à formação de voluntários para uma colaboração orgânica e articulada
de acordo com as capacidades de cada um. Poderá ainda a IPSS numa Comunidade colaborar com outros serviços e
movimentos como a Cáritas, Vicentinos, a Legião de Maria e por aí fora..., para
dar uma perspectiva social, que também os deve nortear.
A solidariedade cristã, para cristãos
confessos, desnecessário é dizer que tem de ser iluminada pela fé. Não pode ser
uma opção puramente humana. Daí a necessidade da Igreja lutar pela formação dos
voluntários e trabalhadores assalariados das nossas obras sociais, nas IPSS.
Há que apostar em equipas
profissionais multi-disciplinares e com habilitações próprias, com
características humanas e de formação cristã adequadas à missão de qualidade
exigida a respostas sociais que damos.
É importante o estudo da acção social
e da sua relação com a missão da Igreja, da Comunidade, da vida de fé,
esperança e caridade. É importante o estudo dos textos da Doutrina Social da
Igreja, da vocação do cristão, da nova evangelização, do compromisso social
como exigência da fé dos baptizados.
Os problemas da pobreza, da
marginalidade, das diversas carências da fome, da deficiência, da violência, da
doença, da velhice, isolados e ainda das crianças abandonadas ou de maus
tratos, porque se trata muitas vezes de grupos vulneráveis, entre outros, são
objecto da IPSS, porque são objecto do Amor de Deus através da Igreja e a
Igreja, somos todos nós.
9. Organigrama
duma Comunidade Visível
A
organização paroquial tem de ser visível como prova do Amor que pulula nos
corações dos aderentes, e interpela os alheios e os indiferentes.
Desse modo a Comunidade tem
de contar com o padre e com o Bispo e as estruturas que com eles governam ou gerem
a coordenação pastoral e que incluem leigos responsáveis, comprometidos que
devem ser testemunho de vivência de fé, preocupados com as diversas dimensões
da teologia pastoral, isto é, a Catequese, a Liturgia e a Acção Social e
Caritativa.
No sector da catequese dirigida às famílias, idosos,
trabalhadores, jovens e crianças tem de haver catequistas e escolas.
No sector da Liturgia dirigida ou
destinada à celebração alegre de todos, conta com leitores, acólitos, cantores,
animadores, etc...
No sector Social e Caritativo
destinada a todos e não só aos carentes, aos pobres, mas quem não é pobre aos
olhos de Deus? Todos precisamos da Caridade e todos precisamos na Igreja de
usar de Caridade. Ela é a alma visível através do nosso comportamento na comunidade
e por ela os outros poderão abandonar a indiferença e o seu alheamento para
aderirem à fé de Jesus Cristo e integraram-se na Comunidade- igreja visível.
Tem como as outras dimensões da
Igreja de contar com animadores através dos movimentos próprios como os Centros
Sociais, os Vicentinos, ou Cáritas, os grupos voltados para os doentes, para a
integração social, para a juventude...
“É grato aos Bispos de Portugal
testemunhar aqui o seu apreço pela actividade altamente meritória que tantas
Instituições, grupos e Cristãos em geral vêm desenvolvendo em todo o País e nos
mais diferentes domínios de acção social.”(cf. I. P. A. Episcopal Portuguesa,
1997).
Através
da intervenção social da Igreja parece
não restar dúvidas, quanto a sinais
vividos nas comunidades paroquiais encontram-se presentes, quando qualquer
situação de dificuldade é capaz de fazer levedar a massa da solidariedade, conduzindo as pessoas a uma maior comunhão de
vida e de bens, fazendo festa, celebrando com alegria a palavra, a comunhão da disponibilidade,
do serviço porque Deus é, porque Deus Ama, porque Deus é AMOR (S. João) e que
serviu de tema à primeira encíclica de Bento XVI.
10. A Acção Social Conecta na Paróquia
Foi
assim que se pautou a nossa vida de pastoral durante os 28 anos.
Nesta
Paróquia de N. Sr.ª de Fátima onde encontramos algo muito diferente do que é
agora e, sobretudo de muita pobreza.
Isso
esmagava-nos sempre o coração, como hoje. O primeiro movimento que fundamos foi
a conferência de S. Vicente de Paulo, em 1978, logo, pouco depois de entrar. Em
1979 fundámos a Legião de Maria e esta com a C. Vicentina fundou o Centro de
Convívio de Idosos a funcionar na Sacristia da Igreja em 1980.
Eu
não tinha residência. Ao mesmo tempo lutámos com o Conselho Económico pela
residência, e por um Centro Social. Só arranjámos terreno para a residência e
com um pouco de boa vontade para um salão paroquial para onde passou o Centro
de Convívio em 1982. Já era muita gente. Passou a um Centro de Dia e de
Convívio. Em 1985 acolhe os AA (Alcoólicos Anónimos) Chega a necessidade de um Jardim de Infância,
em 1986, e abrem-se portas... Vêem os deficientes que ninguém os queria e
outras portas se abrem... Em 1980 já funcionava na Sacristia uma Escola de
Música que chegou a ter 140 alunos. Surge, em 1987, por iniciativa da Conferência de S. Vicente
de Paulo o Ozanan- Centro de Juventude onde se desenvolveram vários cursos de
vários saberes, onde funciona um ATL. Aí já funcionou um Clube Jovens e o JAV
(Jovens Amigos da Vida). Vários cursos de pintura, de arraiolos, de crochet, de
cerâmica, de Informática e vários projectos com apoios europeus.
Aparece
a necessidade de dar a mão aos abandonados (aos bebés e às crianças de alto
risco) e surge, em 1992, o CAT- Centro de Acolhimento Temporário, vulgo , Berço
de Nª Sr.ª das Necessidades , depois o Cecan-rd, ou seja, Centro Comunitário de
Recolha e Distribuição com balcão aberto, desde 1988.
O
Refeitório Social foi outra aposta, em 1989, para mendigos, indigentes,
passantes, toxicodependentes, e ex- toxicodependentes ou mães solteiras...
assim como casa de banho para banho e muda de roupa, uma média de 17/dia ,
agora.
Aparecem
novas necessidades de respostas aos idosos, em 2001, no ADI, Assistência ao
Domicílio Integrado (alimentação, higiene e saúde), e o SAD, Serviço de Apoio
ao Domicílio (Alimentação e higiene)em todos os dias da semana, em 2002,
refeições ao Domicílio, pelo que servimos ao todo 300 refeições diárias entre
todas as valências. Por fim o RSI (Rendimento Social de Inserção), em 2005, com
três técnicas a funcionar e com alguns bons resultados...
Claro
que todo este trabalho se deve às várias direcções de Centro Social, do Ozanan,
da Fábrica da Igreja, da Conferência de S. Vicente de Paulo a este Voluntariado
superintendato e responsável, mas também a outro Voluntariado que não o
descrevo aqui porque os seus nomes vêm em lugar próprio que desinteressadamente
e com paixão se entregam de alma e coração aos utentes para que todos se sintam
bem e , por fim, aos trabalhadores assalariados em número de 40.
Temos acordos
com a Segurança Social, mas não chega para aquilo que precisamos.
Conclusão
Facilmente aceitamos que a Boa Nova de
Jesus Cristo só atinge os corações quando as mentes são esclarecidas e, para
que isso aconteça, é preciso vencer primeiro a fome e a miséria para que a
salvação se dê na globalidade do corpo e da alma: o ser físico, mental e
espiritual.
Hoje, como ontem, numa região das mais
pobres do País onde nos encontramos e diante de populações esfomeadas que nos
cercam, também Jesus nos diz, como aos seus discípulos: “Dai-lhe vós mesmos de
comer!” (Mat. 14,16).
Durante algum tempo se ensinou que a
acção caritativa não era missão da Igreja. E, nesse sentido se afirmava que a
função essencial da Igreja era ser missionária: “Ide e ensinai todos os povos”
(Mat. 28, 19-20). Pregar e baptizar era a sua particular missão.
O Concílio Ecuménico levou-nos a não
esquecer as outras dimensões da fé cristã a partir das missões de Jesus Cristo
que é Sacerdote, Profeta e Rei.
Em Jesus Cristo fomos baptizados, por
isso, participamos neste Jesus Cristo Sacerdote, Profeta e Rei ou seja, neste
Cristo, que é Vida, Verdade e Caminho. Como sacerdotes, a igreja, que somos
todos nós os baptizados tem de vivificar, santificar ; como Profetas, cabe à
Igreja a missão de proclamar a verdade, anunciá-la e, como Caminho, temos que
ser luz, exemplo a seguir por todos...
Por isso, um Centro Social é um meio
pelo qual a Igreja exerce parte da sua missão para com os homens. O Centro
Social é o meio para o exercício da caridade de modo eficaz, permanente e
obrigatório, pois faz parte da tríplice missão de Jesus Cristo manifestada nas
obras. Não basta oração e pregação, é
preciso o testemunho para que sejamos parte da Luz que, por excelência, é
Jesus.
O nome de “Centro” que se deu a esta
Obra Social da Paróquia evidencia a função que lhe cabe: uma força unificadora.
Se a Paróquia é uma porção do Povo de Deus, uma Comunidade de comunidades, um
lugar de comunhão fraterna, o Centro Social ajuda a Comunidade Paroquial a encontrar-se,
é o Centro onde exerce o amor e a Solidariedade entre as pessoas.
Mas a grande força moral e a riqueza
do serviço aos outros deve resultar do facto de esta Instituição ser um Centro
Social Paroquial, portanto, um serviço de Leigos na Paróquia. É através da sua
integração e da sua participação na vida da Paróquia - da qual faz parte - que
o Centro Social Paroquial atinge toda a sua dimensão na Igreja local que o
criou e que lhe dá suporte.
O Centro não pode ser uma estrutura à
parte da Paróquia. O Centro é uma resposta Institucional da Paróquia às
necessidades encontradas e deve envolver os paroquianos - voluntários - no
processo de resolução dessas mesmas necessidades.
Neste campo levantam-se algumas
questões quanto à necessidade de informação e de formação de voluntários, para
que todos possam colaborar duma forma orgânica e articulada, de acordo com as
capacidades de cada um. Simultaneamente, o Centro poderá também colaborar com
os outros serviços e movimentos da paróquia, dando-lhes a perspectiva social
que também os deve nortear.
É importante que seja clara para todos
a ideia que se tem da acção social e da sua relação com a missão da Igreja, da
Paróquia e da vida da fé, da esperança e da caridade. É importante encontrar
meios de estudar certos textos da Doutrina Social da Igreja, da vocação do
cristão, da nova evangelização, do compromisso social como exigência da fé de
baptizados.
É importante movimentar o Centro
Social Paroquial para que seja cada vez mais parte da Igreja local e Paroquial,
e que a Paróquia e Centro vivam em conjunto as respostas a dar à comunidade. Os
problemas da pobreza, da marginalidade, das diversas carências, da fome, da
deficiência, da doença, da velhice isolada e ainda das crianças abandonadas ou
de maus tratos, constituem os grupos sociais com que o Centro Social Paroquial
normalmente trabalha.
Estes grupos devem ter simultaneamente
na Paróquia um lugar predilecto e ser uma preocupação constante, exactamente
porque são os mais vulneráveis de entre todos os paroquianos.
Além dos meios materiais e humanos, a
Paróquia tem ainda de dar prioridade à oração por todos aqueles que trabalham
nos seus Centros, para que o que fazem, façam de uma forma cada vez mais
humana, cada vez mais fiel ao Espírito da caridade cristã.
O Centro Social paroquial é dirigido
por exigência legal, civil e canónica, por um conjunto de pessoas que
constituem os órgãos sociais dirigentes da Instituição e que são voluntários de
entre os paroquianos que estejam dispostos a desenvolver os conhecimentos que
têm, na perspectiva do exercício da Acção Social e da Solidariedade Cristã.
Mas não é só de voluntários dirigentes
que o Centro Social Paroquial precisa. Muitas outras actividades eventuais ou
mais ou menos regulares poderiam vir a beneficiar as pessoas que delas
precisam, se mais Leigos voluntários dessem algumas horas dos seus tempos
livres ao serviço destes irmãos. Para isso estamos agora a implementar, mais
uma vez, o serviço de voluntários. E não esqueçamos que Frederico Ozanan, jovem
universitário, começou por juntar lenha para os pobres se aquecerem e não
passarem frio. O Pe. Américo acolheu e promoveu a pessoa humana. O Pe. Adolfo
Kolping promoveu o trabalho comunitário. O Pe. Cardijn lutou por maior
dignidade da classe operária. O Pe. Óscar Romero é assassinado por defender os
direitos dos explorados. A Madre Teresa de Calcutá acolhe os moribundos
abandonados. Monsenhor Airosa funda uma obra para “Regeneração” das raparigas
da rua. O Pe. Abel Varzim cria uma obra de raparigas marginais. Mons. Moreira
das Neves e Maria Luísa Ressano Garcia funda a obra do “Ardina “. Frei
Bartolomeu dos Mártires dá tudo o que pode para salvar da peste de 1570 e da
carestia de 1574. João de Deus (S.) dá a vida pelos doentes.
Muitas pessoas com capacidades
excepcionais permanecerão afastadas de certas práticas de Solidariedade Cristã
ao serviço da Paróquia e do Centro Social por des-conhecimento do que é o
Centro e qual o objectivo.
Dizemos solidariedade cristã porque
para paroquianos confessos esperamos que esta seja iluminada pela fé, seja uma
questão de opção cristã e não seja
apenas por opção puramente humana.
É de salientar que o Centro Social
Paroquial à medida que cresce no âmbito da sua acção e assume exigências de
qualidade comprovada, tem de integrar na sua equipa profissionais com
habilitações próprias e com características humanas e de formação cristã
adequadas à missão que desempenham e ao cariz da Instituição que representam.
Daí o nosso esforço na melhoria da qualidade das respostas sociais que damos.
A Paróquia atinge a sua dimensão de
Igreja na medida em que vive conscientemente a missão de louvor, anúncio e
serviço, em união com Cristo e com a sua Igreja, na Eucaristia.
Se há lugar para Vicentinos, Legião de
Maria, Serviço de Doentes e muitos outros, há por certo também um lugar próprio
para o serviço, de uma forma regular, contínua, estruturada e organizada
segundo normas e indicativos técnicos comumente aceites pelos Serviços Oficiais
e pela Doutrina Social da Igreja, aos mais pobres, vulneráveis e desprotegidos,
pois são os predilectos do Senhor.
S. Paulo afirma: “O Reino de Deus não
é uma questão de comida ou bebida, mas é justiça, paz e alegria no Espírito
Santo” (Rom. 14,47).
O Centro Social Paroquial deve ser
cada vez mais o SERVIÇO aos Pobres, serviço que a Paróquia, por missão, tem de
cumprir.
Artur
Coutinho
Sem comentários:
Enviar um comentário