terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A pobríssima riqueza e a riquíssima pobreza

A pobríssima riqueza e a riquíssima pobreza

A caridade combate a miséria material, enquanto a misericórdia combate a moral e espiritual

 
 
 

© Andrew Holbrooke

O Papa Francisco começa sua mensagem para a Quaresma deste ano recordando a afirmação paulina segundo a qual Jesus Cristo, “sendo rico, se fez pobre por vós, para vos enriquecer com a sua pobreza” (cf. 2 Cor 8, 9). E pergunta: o que estas palavras dizem a nós, cristãos, hoje?
 Antes de mais nada, nos dizem qual é o estilo de Deus. O “para vos enriquecer com a sua pobreza” não é um jogo de palavras nem uma expressão para causar impacto, mas a síntese da lógica de Deus. Porque “Deus não fez cair do alto a salvação sobre nós, como a esmola de quem dá parte do próprio supérfluo com piedade filantrópica”
Assim, explica Francisco, a pobreza de Cristo é a maior riqueza, e Cristo nos convida a enriquecer-nos com esta sua rica pobreza e pobre riqueza. Mais ainda: “a riqueza de Deus não pode passar através da nossa riqueza, mas sempre e apenas através da nossa pobreza”.
Por isso mesmo, “a miséria não coincide com a pobreza; a miséria é a pobreza sem confiança, sem solidariedade, sem esperança”. Assim, o Papa distingue 3 tipos de miséria: material, moral e espiritual. Se a miséria material é fruto da injustiça social, a miséria moral é fruto do pecado pessoal, mas também do pecado social que promoveu a miséria material.
 E a miséria espiritual – a substituição da fé e da esperança pela autossuficiência – é consequência, por sua vez, da miséria moral. A caridade combate a miséria material, enquanto a misericórdia combate a moral e espiritual. E os três tipos de miséria não são combatidos partindo da pobríssima riqueza, mas da riquíssima pobreza.
 A Quaresma, termina dizendo o Papa, “é um tempo propício para o despojamento; e far-nos-á bem questionar-nos acerca do que nos podemos privar a fim de ajudar e enriquecer a outros com a nossa pobreza. Não esqueçamos que a verdadeira pobreza dói (...). Desconfio da esmola que não custa nem dói”.
Ao ler esta mensagem, eu me pergunto: será que chegou a hora do final dessa mal entendida caridade paternalista dos satisfeitos, que compartilham só o que lhes sobra, que pretendem cobrir a miséria material com a riqueza, altivez, segurança, nas quais escodem sua miséria moral e espiritual? Com isso, o único que fazem é amortecer seu vergonhoso vazio.          


 

 
                                                  
               

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