P / INFO: QUEM SÃO OS ZELOTAS?, O mais
difícil, Cardinal picks
embody principles of ‘Pope of the Poor’,
More Church, Less Pope, Fundação Betânia
& Ciclo de Conferências no Convento de S. Domingos
Já pode ler, no
nosso blogue,
Há esperança de graça
na praça,
texto do Frei
Matias, O.P.
Chama-se Ana.
Lembrei-me dela quando, no dia 2, ouvi na igreja falar da velha Ana e do velho
Simeão. Uma pregação distante da realidade desta outra Ana mas, ainda assim,
com possibilidades de alguma aproximação. Diz-se que a velha Ana tinha 84 anos,
um número mágico formado por sete vezes doze. O número doze significaria o povo
judeu e o número sete a universalidade. Como é evidente a Ana da praça não tem
uma projeção tão importante, mas para um grande número de pessoas também
representa muita esperança. Uma esperança em coisas talvez triviais mas sem as
quais não há currículo que valha à vida. Por casualidade soube …
QUEM
SÃO OS
ZELOTAS?
Frei Bento Domingues, O.P.
1. Reza Aslan[i] nasceu no Irão, vive nos USA e é
apresentado como um investigador, um académico e um escritor de renome
internacional. A sua obra, O Zelota, surge com o propósito de recuperar
o Jesus da história, o Jesus antes do cristianismo. A tese é simples: Jesus foi
um revolucionário judeu que, há dois mil anos, atravessou a província da
Galileia reunindo apoiantes para um movimento messiânico, com o objectivo de
estabelecer o Reino de Deus, mas cuja missão falhou quando, após uma entrada
provocatória em Jerusalém e um ataque descarado ao Templo, foi preso e
executado por Roma pelo crime de sedição.
A ideia de um Jesus zelota
não é original, mesmo em português já dispúnhamos de Jesus. O Galileu Armado[ii]. Desde o séc. XVIII, até à
actualidade, a bibliografia sobre o Jesus da história é tão vasta que é preciso
coragem para alguém se apresentar com um contributo verdadeiramente novo. A
Reza Aslan não lhe faltou coragem, mas como é costume dizer, o que tem de bom
não é muito original e quando pretende ser original não é muito interessante. A
leitura é agradável.
Ainda não há muitos
anos, era frequente ouvir dizer - a quem não estava de boas relações com as
instituições eclesiásticas -, Jesus Cristo, sim! Igreja, não! Agora, em
certos meios, procura-se de tal modo o Jesus da história que se ignora o Cristo
da fé. O próprio Aslan conclui, de forma paradoxal, a sua narrativa com estas
palavras significativas: Jesus de Nazaré – Jesus, o homem- é tão cativante,
tão carismático e tão louvável, como Jesus, o Cristo. É, em suma, alguém em
quem vale a pena acreditar.
2. Hoje, temos edições de todos os
textos primitivos, os conhecidos, que se referem a Jesus Cristo: canónicos, apócrifos
e dos adversários. António Piñero[iii] é um dos obreiros desse empreendimento,
em Espanha. Desenhou, além disso, os 100 Rostos de Jesus Cristo e
responsabilizou-se por esse atrevimento. Publicou, entre outros, um livro muito
didático para que um grande público pudesse conhecer, com rigor, Israel e o
mundo no qual nasceu e cresceu Jesus de Nazaré.
Quem eram, afinal, os zelotas?
O vocábulo significa ”gente caracterizada pelo zelo pela Lei”. Assim, sabemos
que existiram sempre zelotas na história de Israel, desde o Exílio até ao ano
I. O conceito genérico correspondia a um movimento sócio-religioso de defesa de
um património religioso, nacional ou internacional, que se sentia em perigo.
Nesse sentido, podemos dizer que hoje são zelotas os defensores
fanáticos da sharia, ou lei islâmica, os fundamentalistas muçulmanos e
também podem ser designados como zelotas, os membros de alguns grupos
integristas católicos.
Mais em concreto,
entendemos por zelotas os membros do movimento religioso e político, de
resistência anti-romana, começado por Judas, o Galileu, no ano VI d.C.. Os seus
seguidores estão ligados por uma doutrina de fundo, meramente farisaica, da
escola de Samay, vivida de forma radical nos seus aspectos sociais e políticos.
Esta ideologia concretizava-se no movimento nacionalista, militante e fanático,
que Flávio Josefo chama a “quarta filosofia”(seita/partido) dos judeus. Os
outros três movimentos são os saduceus, fariseus e essénios. Tinham um lema que
os orientava nas suas acções: Israel não pode admitir nem honrar ninguém
como rei ou senhor, além do Deus único.
Os zelotas não
toleravam, por isso, nenhum poder estrangeiro em Israel. Pagar impostos ao
Império Romano era perpetuar a idolatria num país santo, cujo único dono era
Iavé. Os zelotas empreendiam acções que hoje designaríamos por terroristas,
tanto contra os romanos como contra os judeus seus amigos e colaboradores.
Pensavam, no entanto, que o ser humano não devia deixar só nas mãos de Deus a
libertação de Israel. Eles próprios deveriam agir recorrendo à luta armada.
Uma definição, tão geral
como a exposta, permite considerar que também houve zelotas, por conta
própria, já no ano I e desde então até às guerras judaicas contra Roma. Dito isto,
é preciso afirmar que os zelotas, como partido religioso e presença
social viva, não existiam no começo do séc. I. Flávio Josefo não fala deles de
forma detalhada até ao ano 66 d.C., quando conquistaram Jerusalém, em oposição
a outros judeus moderados, tornando-se um movimento populista contrário aos
ricos. Uma das primeiras medidas que tomaram foi destruir todos os arquivos
onde se encontravam todas as dívidas contraídas pelo povo.
Os sicários
foram, provavelmente, grupos de zelotas independentes.
3. Recolhi estas indicações para não
sermos apressados a designar Jesus como um zelota. Aí voltaremos. No
entanto, num sentido amplo, ao longo da história da Igreja houve muito zelo mal
esclarecido, a ponto de entregar à perdição quem não pertencia à Igreja ou dela
era excluído. Hoje, com o zelo por certas tradições eclesiásticas, por certo
tipo de exegese bíblica e respeitos dogmáticos, carregamos os católicos com
fardos absurdos e, depois, permitimos caminho largo onde deveria ser estreito.
23.02.2014
in Público
[iii]
Jesús de Nazaret. El hombre de las cien caras,
Madrid, Edaf, 2012; Ciudadano Jesús. Respuestas a todas las preguntas.
Madrid, Atanor, 2012.
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