segunda-feira, 14 de julho de 2014

ROTA CISTERCIENSE --- POR SÃO BENTO DO CANDO E MOSTEIRO DE OSSEIRA


ROTA CISTERCIENSE

POR SÃO BENTO DO CANDO E MOSTEIRO DE OSSEIRA

José Rodrigues Lima

O calendário marcava 11 de Julho e o directório litúrgico referenciava a celebração de São Bento.

Na perspectiva do projecto “Rota Cistericense do Alto Minho” peregrinámos até ao santuário de São Bento do Cando, zona de transição do vale do Lima para o vale do Minho, onde milhares de devotos se congregaram para fazer “memória” do fundador dos beneditinos e solicitar a sua intercessão junto de Deus.

Assim, nos numerosos romeiros viam-se crianças, jovens e adultos, eles e elas mostrando grande fé e devoção.

Era lindo…
 


 

Os sons da música de Moreira do Lima com os seus instrumentos musicais luzidios, sons afinados e passos certos envolviam a todos.

A música ecoava no terreiro, nos quartéis de descanso e nos contrafortes da serra da Peneda.

Cumprindo promessas com velas do tamanho dos ofertantes amortalhados, e com lindos ramos de cravos vermelhos, os rostos dos devotos e devotas irradiavam contemplação do transcendente, como se vissem o invisível.

OLHARES PARA O ALTO        

As senhoras mais idosas, sentadas nas varandas dos quarteis, olhavam o movimento da gente com alma grande. Os homens de carácter firme e de olhares para o alto, tocavam a imagem de São Bento e benziam-se.

Notava-se que os rituais manifestavam o que o coração sentia, bem no mais íntimo.

Foi bonito participar na assembleia do Povo de Deus na festividade em honra de São Bento, Padroeiro da Europa. Os romeiros vieram dos concelhos de Arcos de Valdevez, Monção, Melgaço e de outros.

Os ares brandos da altitude ajudavam na elevação do corpo e do espírito. Os aromas da montanha cruzavam-se com churrascos, nos doces e roscas tradicionais.

Lindo de se ver e sentir… A festa acontecia.

Rumámos a São Bento do Cando com o jornalista Manuel Vilas Boas, da TSF (Rádio Jornal), recolhendo entrevistas para o programa “Ao Encontro do Património”. Foi mais um passo para a concretização da “Rota Cisterciense do Alto Minho”.

Aliás, é de referir que “aos monges cistercienses do Ermelo deverá, no meu parecer atribuir-se a fundação da Ermida de São Bento do Cando”, assim regista o historiador Bernardo Pintor.

MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE OSSEIRA

Em dia de São Bento seguimos o roteiro cisterciense atravessando Santa Maria de Fiães.

Já em terras da Galiza, ultrapassando os municípios de Ribadavia e Leiro, assinalados pela paisagem cultural das cepas alinhadas e produtoras de vinho do ribeiro, localizámos o mosteiro cisterciense de Santa Maria de Cláudio.

Após a zona urbana do Carvalhinho e Cea alcançámos o grande Mosteiro de Santa Maria de Osseira, considerado o Escorial Galego.

O conjunto monacal surge após o denso carvalhal e iluminado pelo sol. Escutámos o murmúrio do rio Osseira.

Na portaria puxámos a corda para a sineta dar “os três timbres”. Acolhidos como manda a regra e a alma cisterciense seguiu-se a entrevista do jornalista Vilas Boas ao monge artista Luis Alvarez.

Mas que entrevista… Onde a beleza de Deus foi comunicada com o coração e vivências sentidas no silêncio, “harmonia das almas que sabem dialogar com Deus”.

Os sons da água do mosteiro passaram para o gravador da reportagem e o programa, por certo, será ouvido como se estivéssemos no lugar “onde os habitantes da terra falam com os habitantes do céu”.

Não podíamos deixar a comunidade monacal sem apreciar o licor “Eucaliptine”, elaborado pelos monges, segundo a tradição secular.

Na zona aberta do mosteiro, no carvalhal várias vezes centenário, um monge ainda jovem, percorria o espaço em passo vagaroso, e ouvindo o murmúrio do rio Osseira, seguia em meditação do transcendente num tempo sem tempo.

“O Mosteiro, a Regra e o Abade são os três pilares da vida monacal”, segundo São Bento.

Acrescentamos que “a arte é a epifania do mistério”.

A visita ao conjunto monacal conduz-nos por séculos de arte e histórias de vidas contemplativas acompanhadas de meditações bíblicas.

É de referir que o monge Fernando Yánez de Osseira, foi abade no mosteiro de Alcobaça entre 1.241-1.258, de acordo com o monge Damian J. Neira.

 
O Prof. Doutor José Marques, catedrático e ilustre melgacense, fez a narrativa histórica do Mosteiro de Santa Maria de Fiães, com a sabedoria de quem percorreu o “Cartulário de Fiães” ou “Livro das Datas” e conhece a viva espiritualidade cisterciense.

Os caminheiros da beleza, da verdade e da bondade encontram luzes, referências, e escutam vozes e sons de eternidade que levam à harmonia existencial, à verdadeira “estrutura antropológica”.

O lema cisterciense “Ora et labora” (Reza e Trabalha) continua a cativar comunidades e a testemunhar acção espiritual e cultural dos monges.

 

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