quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Pastor pentecostal e astro de TV morre picado por cobra

Pastor pentecostal e astro de TV morre picado por cobra

Jamie Coots recusou tratamento médico por motivos religiosos

Mirko Testa                                                                                                                                                                                         
            
© DR
O pastor pentecostal Jamie Coots, astro do programa de televisão “Snake Salvation”, da National Geographic, morreu em decorrência da picada de uma cobra que estava sendo “usada” como parte de um evento religioso da sua igreja, em Middlesboro, no Estado norte-americano de Kentucky.

No coração do movimento pentecostal existe a experiência direta e espontânea do diálogo místico com Deus. Esse diálogo se manifesta no exercício de dons espirituais considerados como sinais da ação soberana de Deus entre os homens. Por isso, durante os atos religiosos, acontece a invocação comunitária do batismo do Espírito Santo sobre os crentes, a fim de conseguir a anulação dos pecados e o recebimento de carismas como falar em línguas, profetizar, curar, expulsar demônios e até resistir a venenos e serpentes.

A perigosa prática relacionada com as cobras, em particular, se desenvolveu como uma corrente extremista de igrejas pentecostais dos EUA. Própria das chamadas "igrejas dos sinais", essa corrente nasceu em 1909 na Igreja de Deus de Cleveland, da qual acabou sendo excluída anos mais tarde, e seu principal líder foi George Went Hensley (1880-1955). A prática tornou aquela congregação pentecostal conhecida também como a Igreja dos Snake Handlers, ou manipuladores de serpentes.

Existe na base de tudo isso uma degeneração da maneira de se interpretar a bíblia: o fundamentalismo, cujas longínquas raízes chegam às mesmas fontes da Reforma protestante, com seu princípio da “sola Scriptura”.

Neste caso particular, porém, a “ata de nascimento” do fenômeno remonta a uma reunião do Congresso Bíblico Norte-Americano em Fort Niagara, no Estado de Nova Iorque, em 1895. Exegetas protestantes, predominantemente conservadores, divulgaram depois daquele evento um documento em que afirmavam a verdade literal das Sagradas Escrituras. Com o tempo, depois de muitas reviravoltas e divisões dentro das várias igrejas pentecostais norte-americanas, houve um ressurgimento dessa hermenêutica bíblica durante a década de 1970, em um contexto que misturava "televangelistas", grupos religiosos como as Testemunhas de Jeová e movimentos de corte espiritual-carismático.

Vários líderes das "Igrejas dos sinais" morreram durante os seus atos religiosos ao colocarem a própria fé à prova, baseando essa prática em uma passagem do evangelho de São Marcos (16,17-18): "Estes sinais hão de acompanhar aqueles que acreditam: em meu nome expulsarão demônios, falarão novas línguas, pegarão serpentes com a mão e, se beberem qualquer veneno, não lhes fará dano; imporão as mãos sobre os enfermos e os curarão".

As "Igrejas dos sinais" induzem os fiéis a demonstrar a plenitude do batismo do Espírito Santo e o favor de Deus sobre eles não apenas manipulando cobras venenosas, mas também colocando as mãos no fogo ou incendiando o próprio corpo, além de beber venenos mortais como a estricnina.

O erro do fundamentalista, que nunca adota nenhuma interpretação, está na convicção de que a bíblia é só de Deus, sem envolvimento algum com a atormentada trama da história humana. A bíblia, no entanto, é uma história progressiva da Palavra de Deus, que se entrecruza com a palavra do homem e se caracteriza por um desenvolvimento.

Como observa a Pontifícia Comissão Bíblica em seu documento sobre a interpretação da bíblia na Igreja católica (1993), "o fundamentalismo convida, sem dizê-lo, a uma forma de suicídio do pensamento. Ele insere na vida uma certeza falsa, porque confunde, inconscientemente, os limites humanos da mensagem bíblica com a substância divina da mesma mensagem".
sources: Aleteia
 
 

 

Como escolher os padrinhos de Batismo do meu filho?

Como escolher os padrinhos de Batismo do meu filho?

Entenda o papel e a importância dos padrinhos de Batismo, muito além dos compromissos sociais e familiares

SIC                    
Aleteia            

 
Recordo com alegria e gratidão a época em que eu era pároco. Houve momentos muito gratificantes e até emotivos. Quando eu conversava com os pais que iam pedir o Batismo para seu filho recém-nascido, via neles a emoção de ser pais e, às vezes, não encontravam sequer palavras para exprimir o que sentiam.

Sempre busquei que a acolhida fosse o mais cálida possível, pois este é um momento especial para a família. Além e parabenizá-los, eu lhes apresentava o programa de preparação que a paróquia tinha para os pais e padrinhos, já que o Batismo é um momento decisivo na vida dos filhos. Quase todos aceitavam a proposta e resolviam as dificuldades de horário que às vezes surgem para participar dos encontros.

Mas também havia gente que não entendia a necessidade de uma preparação dos pais, e muito menos dos padrinhos. Às vezes, escolhiam padrinhos que não tinham recebido a Crisma ou não tinham a indispensável experiência de fé para desempenhar a missão que a Igreja confia a um padrinho de Batismo; então, era necessário muito esforço para que entendessem.

Quando os padres e catequistas me falam das dificuldades que encontram na pastoral pré-batismal, eu entendo perfeitamente. Com estas palavras, quero incentivá-los a continuar cuidando desses momentos de evangelização que realizam por meio das catequeses de preparação para este e outros sacramentos.

É preciso levar em consideração os critérios e orientações que a Igreja oferece para receber os sacramentos e, de maneira particular, compreender o que significa ser padrinho de Batismo. Os pais garantem solenemente, na celebração batismal, sua decisão de transmitir a fé aos seus filhos, e de fazer isso com a ajuda dos padrinhos.

Pais e padrinhos precisam dar exemplo de vida cristã àquele que será batizado, dentro de casa e participando na vida da Igreja – sobretudo da Missa dominical. Para isso, a paróquia oferece esse meio de formação, as catequeses pré-batismais, e recorda aos pais que é preciso escolher padrinhos idôneos, tanto por sua maturidade humana e cristã como pela sua disposição a colaborar com eles na educação do batizado na fé.

Esta idoneidade dos padrinhos se concretiza em: pertencer à Igreja Católica, ter feito a Primeira Comunhão e recebido a Crisma, levar uma vida congruente com a fé e a missão que assumem e não ter se afastado da Igreja por um ato formal de apostasia.

Recomendo aos pais que notifiquem a paróquia sobre sua intenção de batizar seus filhos com antecedência suficiente para que possam se organizar e participar das catequeses pré-batismais. Seria belíssimo e os ajudaria muito a viver o nascimento do filho como um dom de Deus, se participassem destas catequeses antes de o filho nascer, durante a gestação.

Tenho certeza de que os sacerdotes continuarão acolhendo cordialmente os pais e os ajudarão a superar as situações conflituosas que às vezes surgem. E que convidem os paroquianos adultos a receber a Crisma, caso ainda não o tenham feito, pois ela completa o Batismo e proporciona o dom do Espírito Santo para crescer na vida cristã.

(Artigo de Dom Alfonso Milián Sorribas, publicado originalmente por SIC)
sources: SIC
 

 

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O milagre da vida em 3 minutos

O milagre da vida em 3 minutos

Descubra, em apenas três minutos, a emocionante jornada da fecundação até o nascimento

 
Uma viagem comovedora durante as 40 semanas de gestação.
 
Uma viagem comovente durante as 40 semanas de gestação.
                                                                                   
Emocione-se diante do milagre da vida em toda a sua maravilhosa fragilidade, em apenas 3 minutos: sua evolução, sua transformação, o crescimento deste pequeno feto dentro do útero e o nascimento de um ser humano completamente formado.


 

Papa: tantas pessoas morrem por um pedaço de terra, por uma ambição

 

Papa: tantas pessoas morrem por um pedaço de terra, por uma ambição
 “De onde vêm as guerras e as lutas entre vós?”, perguntou o Papa. “As guerras, o ódio, a inimizade não se compram no mercado: estão aqui, no coração”

© OSSERVATORE ROMANO / AFP
Crianças famintas nos campos de refugiados, enquanto os fabricantes de armas fazem festa: na missa celebrada esta manhã na Casa Santa Marta, o Papa falou da paz e do escândalo da guerra.

“De onde vêm as guerras e as lutas entre vós?”, este versículo da primeira leitura, extraída da Carta do Apóstolo Tiago, inspirou a homilia do Papa, em que os discípulos de Jesus brigam para esclarecer quem era o maior entre eles. O Pontífice evidenciou que quando “os corações se afastam, nasce a guerra”. Todos os dias, constatou, “encontramos nos jornais guerras que produzem vítimas”:

E os mortos parecem fazer parte de uma contabilidade cotidiana. Estamos acostumados a ler essas coisas! E se tivéssemos a paciência de contar todas as guerras que neste momento existem no mundo, certamente teríamos muitas folhas escritas. Parece que o espírito da guerra se apoderou de nós. Fazem-se atos para comemorar o centenário daquela Grande Guerra, tantos milhões de mortos… E todos escandalizados! Mas hoje é a mesma coisa! Ao invés de uma grande guerra, há pequenas guerras em todos os lugares, povos divididos... E para preservar o próprio interesse, se matam entre si.

“De onde vêm as guerras e as lutas entre vós?”, repetiu o Papa. “As guerras, o ódio, a inimizade – respondeu – não se compram no mercado: estão aqui, no coração.” E lembrou que quando criança, no catecismo, “explicavam a história de Caim e Abel e todos ficavam escandalizados”, não se podia aceitar que alguém matasse o irmão. Hoje, porém, “tantos milhões se matam entre irmãos, entre si, mas estamos acostumados”. A Primeira Guerra Mundial, disse ainda, “nos escandaliza, mas esta grande guerra um pouco escondida, em todos os lugares, não! E tantas pessoas morrem por um pedaço de terra, por uma ambição, por ódio, por ciúme racial. Os prazeres nos levam à guerra, ao espírito do mundo”:

Habitualmente, mesmo diante de um conflito, nos encontramos numa situação curiosa: brigamos para resolvê-lo. Com a linguagem da guerra. A linguagem de paz não vem antes! E as consequências? Pensem nas crianças famintas nos campos de refugiados… Pensem somente nisto: este é o fruto da guerra! E se quiserem, pensem nas festas que fazem os que são os proprietários das indústrias das armas, que fabricam as armas, as armas que acabam lá. A criança doente, faminta, num campo de refugiados e as grandes festas, a vida boa que fazem os que fabricam as armas.

“Que acontece no nosso coração?”, insistiu o Papa, que propôs o conselho do Apóstolo Tiago: “Aproximem-se de Deus e Ele se aproximará de vocês”. E advertiu que “espírito de guerra, que nos afasta de Deus, não está distante de nós, mas em nossa casa”:

Quantas famílias destruídas porque o pai, a mãe não são capazes de encontrar o caminho da paz e preferem a guerra, fazer causa… A guerra destrói! ‘De onde vêm as guerras e as lutas entre vós?’. No coração! Eu lhes proponho que rezem hoje pela paz, por aquela paz que se tornou somente uma palavra, nada mais. Para que esta palavra tenha a capacidade de agir, sigamos o conselho do Apóstolo Tiago: ‘Reconheçais vossa miséria!’

Aquela miséria da qual provêm as guerras, explicou Francisco: “As guerras nas famílias, as guerras no bairro, as guerras em todos os lugares”. “Quem de nós chora quando lê um jornal, quando vê aquelas imagens na tv? Tantos mortos”. Retomando o Apóstolo, disse: “Transforme-se o vosso riso em luto e vossa alegria em desalento …”. Isso é o que deve fazer hoje, 25 de fevereiro, um cristão diante de tantas guerras, em todos os lugares”: “Chorar, fazer luto, humilhar-se”. “Que o Senhor nos faça entender isso e nos salve do habituar-nos às notícias de guerra”.

(Rádio Vaticano)
sources: Rádio Vaticano

Conheça os bastidores da causa de canonização de João Paulo II

Conheça os bastidores da causa de canonização de João Paulo II

Para Slawomir Oder, postulador da causa canonização de Karol Wojtyla, este trabalho é como a composição de um mosaico

Christiane Sales
            
 

O postulador da causa de canonização do Beato João Paulo II, monsenhor Slawomir Oder, acredita que o trabalho em um processo de reconhecimento de um santo é como a composição de um mosaico que envolve a visão de santidade de muitas pessoas. De acordo com ele, essa é a beleza do trabalho.

Segundo o Mons. Slawomir, a causa de canonização de João Paulo II envolveu também parte das funções de uma secretaria de Estado. Além dos testemunhos dos milagres recebidos pela intercessão do Pontífice, muitos fiéis escreviam cartas e orações dirigidas ao amigo João Paulo II. Segundo o sacerdote, essa era uma das partes que mais o emocionava durante o trabalho.

canonização de Wojtyla será no dia 27 de abril, na mesma cerimônia em que João XXIII será declarado santo.

Um homem de profunda oração 

Mons. Slawomir lembra um episódio que aconteceu no início do pontificado de João Paulo II. Segundo ele, em um determinado dia, parecia que o Papa tinha desaparecido. O secretário de João Paulo II o havia procurado em todos os lugares do palácio, perguntado sobre o paradeiro à polícia e a outros funcionários do Vaticano, e nenhuma notícia era sabida. Depois de muito tempo de procura, encontraram-no prostrado no chão da capela particular, entre o altar e cadeira, em profunda oração.

“Ele era um homem de grande sensibilidade, de grande cultura. Um homem realmente espiritual, um homem místico. Um homem de Deus é a palavra que o define”, disse.

Mons. Slawomir conta também que João Paulo II buscava estar atento ao que acontecia na diocese de Roma. Segundo ele, o Pontífice se reunia uma vez por mês com o reitor do seminário diocesano para acompanhar o processo de formação dos candidatos ao sacerdócio. E durante os passeios na cidade, era capaz de apontar os lugares onde moravam alguns dos fiéis de Roma.

O criador das Jornadas Mundiais da Juventude também é reconhecido pelo zelo que tinha com a evangelização da juventude. Para o postulador, João Paulo II sabia alcançar os jovens sem menosprezá-los. “O modo de ele de estar com os jovens não era se travestir de jovem, mas ser um pai, e um pai exigente. Como um bom pai, sabia do que seus filhos eram capazes e não lhes permitia viver na mediocridade. Ele indicava o verdadeiro amor, a verdadeira liberdade".

Peregrinação da relíquia gera frutos de conversão

A visita da relíquia do beato tem levado os fiéis a buscar o sacramento da Confissão e a adoração. De acordo com o sacerdote, os frutos têm sido notados em todos os lugares por onde a relíquia passou. A peregrinação da gota de sangue do Pontífice começou no México, primeiro país visitado por João Paulo II no início do seu pontificado.

De acordo com o mons. Slawomir, uma relíquia também foi enviada à China, país que o Papa João Paulo II sempre quis visitar, mas não conseguiu.

Na o cardeal Venezuela pede ao governo um diálogo que reconheça os problemas do país

Venezuela: cardeal pede ao governo um diálogo que reconheça os problemas do país

Nos últimos dias, houve episódios de violência em diferentes cidades do país.

Agência Fides
            
AFP PHOTO / LEO RAMIREZ
O cardeal Jorge Urosa Savino, arcebispo de Caracas, exortou o presidente Nicolas Maduro a reconhecer os graves problemas do país, vista a onda de protestos que deixou mortos e feridos. Manifestando satisfação pelo fato de que o governo esteja disponível ao diálogo com a oposição, o cardeal no entanto destacou a necessidade que este reconheça as dificuldades com os quais convivem os venezuelanos.

"O diálogo seria um grande passo. Depois disso, seria também necessário reconhecer que existem problemas sérios a serem resolvidos no país e a solução está nas mãos do Governo Federal", disse o cardeal Urosa Savino segundo uma nota enviada à Agência Fides por uma fonte local.

"A responsabilidade maior recai sobre aqueles que têm mais poder, portando, o Governo, que deverá tomar iniciativas", disse ainda o purpurado. O cardeal citou uma recente declaração da Conferência Episcopal Venezuelana (CEV) na qual os bispos pedem ao Governo para ouvir as “reivindicações justas e pedidos” dos estudantes que protestam. Ele recordou que o direito a manifestar é sancionado pela Constituição, sublinhando que "as manifestações devem ser pacíficas, e quando se quer intervir para detê-las, isso deve ser feito sem excessos".

Nos últimos dias, houve episódios de violência em diferentes cidades do país. A Igreja, através dos sacerdotes e bispos, continua fazendo apelo à calma e não violência, porém o aumento de jovens pelas ruas parece ser um convite a manifestar ainda com mais vigor contra o Governo e a Guarda Nacional. Nos supermercados, começam a faltar alimentos. 
Aleteia sources: Agência Fides

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

QUEM SÃO OS ZELOTAS?


P / INFO: QUEM SÃO OS ZELOTAS?, O mais difícil, Cardinal picks embody principles of ‘Pope of the Poor’,

More Church, Less Pope, Fundação Betânia & Ciclo de Conferências no Convento de S. Domingos

Já pode ler, no nosso blogue,

Há esperança de graça na praça,

texto do Frei Matias, O.P.

Chama-se Ana. Lembrei-me dela quando, no dia 2, ouvi na igreja falar da velha Ana e do velho Simeão. Uma pregação distante da realidade desta outra Ana mas, ainda assim, com possibilidades de alguma aproximação. Diz-se que a velha Ana tinha 84 anos, um número mágico formado por sete vezes doze. O número doze significaria o povo judeu e o número sete a universalidade. Como é evidente a Ana da praça não tem uma projeção tão importante, mas para um grande número de pessoas também representa muita esperança. Uma esperança em coisas talvez triviais mas sem as quais não há currículo que valha à vida. Por casualidade soube …

 

QUEM SÃO OS ZELOTAS?                                

Frei Bento Domingues, O.P.

1. Reza Aslan[i] nasceu no Irão, vive nos USA e é apresentado como um investigador, um académico e um escritor de renome internacional. A sua obra, O Zelota, surge com o propósito de recuperar o Jesus da história, o Jesus antes do cristianismo. A tese é simples: Jesus foi um revolucionário judeu que, há dois mil anos, atravessou a província da Galileia reunindo apoiantes para um movimento messiânico, com o objectivo de estabelecer o Reino de Deus, mas cuja missão falhou quando, após uma entrada provocatória em Jerusalém e um ataque descarado ao Templo, foi preso e executado por Roma pelo crime de sedição.

A ideia de um Jesus zelota não é original, mesmo em português já dispúnhamos de Jesus. O Galileu Armado[ii]. Desde o séc. XVIII, até à actualidade, a bibliografia sobre o Jesus da história é tão vasta que é preciso coragem para alguém se apresentar com um contributo verdadeiramente novo. A Reza Aslan não lhe faltou coragem, mas como é costume dizer, o que tem de bom não é muito original e quando pretende ser original não é muito interessante. A leitura é agradável.

Ainda não há muitos anos, era frequente ouvir dizer - a quem não estava de boas relações com as instituições eclesiásticas -, Jesus Cristo, sim! Igreja, não! Agora, em certos meios, procura-se de tal modo o Jesus da história que se ignora o Cristo da fé. O próprio Aslan conclui, de forma paradoxal, a sua narrativa com estas palavras significativas: Jesus de Nazaré – Jesus, o homem- é tão cativante, tão carismático e tão louvável, como Jesus, o Cristo. É, em suma, alguém em quem vale a pena acreditar.

2. Hoje, temos edições de todos os textos primitivos, os conhecidos, que se referem a Jesus Cristo: canónicos, apócrifos e dos adversários. António Piñero[iii] é um dos obreiros desse empreendimento, em Espanha. Desenhou, além disso, os 100 Rostos de Jesus Cristo e responsabilizou-se por esse atrevimento. Publicou, entre outros, um livro muito didático para que um grande público pudesse conhecer, com rigor, Israel e o mundo no qual nasceu e cresceu Jesus de Nazaré.

Quem eram, afinal, os zelotas? O vocábulo significa ”gente caracterizada pelo zelo pela Lei”. Assim, sabemos que existiram sempre zelotas na história de Israel, desde o Exílio até ao ano I. O conceito genérico correspondia a um movimento sócio-religioso de defesa de um património religioso, nacional ou internacional, que se sentia em perigo. Nesse sentido, podemos dizer que hoje são zelotas os defensores fanáticos da sharia, ou lei islâmica, os fundamentalistas muçulmanos e também podem ser designados como zelotas, os membros de alguns grupos integristas católicos.

Mais em concreto, entendemos por zelotas os membros do movimento religioso e político, de resistência anti-romana, começado por Judas, o Galileu, no ano VI d.C.. Os seus seguidores estão ligados por uma doutrina de fundo, meramente farisaica, da escola de Samay, vivida de forma radical nos seus aspectos sociais e políticos. Esta ideologia concretizava-se no movimento nacionalista, militante e fanático, que Flávio Josefo chama a “quarta filosofia”(seita/partido) dos judeus. Os outros três movimentos são os saduceus, fariseus e essénios. Tinham um lema que os orientava nas suas acções: Israel não pode admitir nem honrar ninguém como rei ou senhor, além do Deus único.

Os zelotas não toleravam, por isso, nenhum poder estrangeiro em Israel. Pagar impostos ao Império Romano era perpetuar a idolatria num país santo, cujo único dono era Iavé. Os zelotas empreendiam acções que hoje designaríamos por terroristas, tanto contra os romanos como contra os judeus seus amigos e colaboradores. Pensavam, no entanto, que o ser humano não devia deixar só nas mãos de Deus a libertação de Israel. Eles próprios deveriam agir recorrendo à luta armada.

Uma definição, tão geral como a exposta, permite considerar que também houve zelotas, por conta própria, já no ano I e desde então até às guerras judaicas contra Roma. Dito isto, é preciso afirmar que os zelotas, como partido religioso e presença social viva, não existiam no começo do séc. I. Flávio Josefo não fala deles de forma detalhada até ao ano 66 d.C., quando conquistaram Jerusalém, em oposição a outros judeus moderados, tornando-se um movimento populista contrário aos ricos. Uma das primeiras medidas que tomaram foi destruir todos os arquivos onde se encontravam todas as dívidas contraídas pelo povo.

Os sicários foram, provavelmente, grupos de zelotas independentes.

3. Recolhi estas indicações para não sermos apressados a designar Jesus como um zelota. Aí voltaremos. No entanto, num sentido amplo, ao longo da história da Igreja houve muito zelo mal esclarecido, a ponto de entregar à perdição quem não pertencia à Igreja ou dela era excluído. Hoje, com o zelo por certas tradições eclesiásticas, por certo tipo de exegese bíblica e respeitos dogmáticos, carregamos os católicos com fardos absurdos e, depois, permitimos caminho largo onde deveria ser estreito.

23.02.2014

in Público

 





[i] O Zelota, Quetzal, 2014

[ii] José Montserrat Torrens, Jesus O Galileu Armado, Jesus O Galileu Armado Esfera do Caos, 2008

[iii] Jesús de Nazaret. El hombre de las cien caras, Madrid, Edaf, 2012; Ciudadano Jesús. Respuestas a todas las preguntas. Madrid, Atanor, 2012.