O Presidente da Câmara saudou oa ceia dos Sós, no dia 24 à noite, enquanto a sua família esperava. Foi muito bem recebido pelos presentes; alguns de até de pé bateram palmas... D. Anacleto, bispo de Viana consoou com os Sós, às 19.30H. do dia 24 de Dezembro.
quinta-feira, 31 de dezembro de 2015
OLHAR E ESCUTAR O DIFERENTE - São Motinha - Arcos
OLHAR E ESCUTAR O
DIFERENTE
POR SISTELO (Arcos de Valdevez) COM SÃO MOTINHA
José Rodrigues Lima
Fomos seguindo a estrada que ladeia o rio Vez que corre apressado desde a nascente no Alto da Seida, Lamas do Vez. O território aparece-nos mesmo na curva da estrada. Lançámos os olhares para o Alto da Estrica e para os socalcos onde se cultiva o milho, cereal para a cozedura da broa apetitosa. É a zona mais assocalcada do Alto Minho.
Ingressámos na zona do Parque
Nacional Peneda-Gerês.
Veio-nos à mente o pequeno texto
do escritor Guerra Junqueiro: “O Minho é bom demais. A vida desliza suavemente,
cristalinamente, como regato bucólico. Nada que fira, que morda, que contrarie.
O sol ri, a verdura canta, o
vinho é alegre, o celeiro cheio…
É bom demais, decididamente.”
Recordámos as narrativas de Tomáz
de Figueiredo, José Augusto Vieira, Orlando Ribeiro, Eugénio Castro Caldas e
outros escritores, bem como o livro “Alto-Minho” do saudoso Carlos Alberto
Ferreira de Almeida
Localizámos no centro da aldeia
de Sistelo, de casario concentrado, a denominada «Casa do Castelo», revivalista
e romântica, autêntico “solar do brasileiro”. Trata-se de uma volumosa construção
levantada pelo Visconde de Sistelo, filho da terra embalada pelas águas do rio Vez,
que emigrou para o Brasil, onde fez fortuna e se afirmou como figura
prestigiada na sociedade do Rio de Janeiro.
Era o brasileiro da fala doce…
Sonora, cativante e amiga!
As benfeitorias do brasileiro
benemérito e do seu irmão Visconde do rio Vez estão bem sinalizadas em
testemunhos variados na igreja paroquial, na escola, no cemitério, nos
fontenários e vias rurais da aldeia do concelho de Arcos de Valdevez.
Entrámos na alma do lugar
percorrendo caminhos íntimos, «aqueles onde sentimos o mítico e conhecemos a
história».
Há tempos tivemos conhecimento da
existência do culto ao “santo popular denominado São Motinha”.
A revelação foi-nos feita por
Manuel Dias, sacerdote da Igreja Católica, que pastoreou a localidade durante
breves anos, e afirma que a “devoção” remonta ao início do séc. XX.
A «história» ou a «estória» é
linda de se ouvir.
Motinha era um pobre que
mendigava pelos caminhos da aldeia de Sistelo. Mal vestido e mal comido, e com
o alforje ao ombro. Por vezes calçava uns tamancos de amieiro. A barba crescida
no rosto ajudava ao seu calvário, ou «mistério de vida humilhante e
sacrificada».
Nas roupas mostrava pauperismo e
até falta de higiene, pois dormia aqui e acolá, nos cortelhos ou palheiros, e
na zona mais alta aproveitava as cardenhas. A sua miséria era merecedora de
compaixão e ternura dos habitantes que na Portela de Alvito têm feira quinzenal
e anual a 12 de Setembro, onde o gado bovino, ovino, caprino e cavalar é
transacionado em escala considerável.
Os garranos são apresentados como
exemplares regionais, de características únicas, com presença milenar e
elementos integrantes da paisagem humanizada do Minho.
As mulheres de Sistelo ou Padrão
ofereciam ao Motinha uma malga de caldo de farinha com feijões e couves e adubado
com carne de porco. Por vezes saboreava um pouco de toucinho, uma febra, uma chouriça,
ou um pedaço de orelha do «cerdo» da última matança. Um bom pedaço de pão
acompanhava o presigo. As batatinhas eram sempre desejadas.
E ouvia:
«P’ra onde bás, Motinha?».
Respondia: «Bou por i!».
Ia com ele e com Deus…
Sim, com Deus sempre… E com a sua
pobreza ou miséria.
Ia caminhando meditativo e
derreadinho. «Como triste é ser pobre!… Mas sou respeitado em todas as porta. Deus
é meu pai, pronto!… Bou com Deus!» Da sua boca nunca saiu uma palavra mais
atrevida, de maldição ou de azedume…
Por certo ouviu dos seus
conterrâneos: “Quando o loureiro der baga e a cortiça for ao fundo, é que se
hão-de acabar as más línguas deste mundo”.
Ao receber uma dádiva dizia
sempre: «Seja p’las almas de quem lá tem. Deus o cubra de muitas bênçãos e
aumente o que tem… “Padre nosso.”
Era pobre mas rico de sentimentos.
Fazia lembrar as Bem-aventuranças: «Bem-aventurados os puros de coração».
MENDIGAR É UM TRISTE
OFÍCIO
Aquando dos nossos olhares
antropológicos em Sistelo recordámos a figura do «Velho Garrinchas» descrita
por Miguel Torga (1978).
“Mendigar é um triste ofício”.
Avivamos na memória o que um
pároco escreveu num registo de óbito referente à profissão do falecido: “POBRE”.
Conforme se lê no “Catecismo do
Labrego” de Valentim Lamas Carvaxal, pobres “são aqueles que não conhecem um
dia de fartura”.
Colocámos em prática o «olhar e
escutar várias vezes»…
Comungámos o ar fresco do
território marcado pelo Rio Vez e fomos envolvidos pelos poemas do poeta
popular José Soldado, de Padrão!
“Eu também já vi você
Na minha casa a pedir;
Também lhe dei a esmola
Com bom modo de rir”
Conhecemos a Branda do Rio Côvo e
do Alhal, e as costumeiras da pastorícia com longas pegadas e suores dos
brandeiros.
Ouvimos o canto da passarada e o
afoutar ao gado.
Registámos na máquina fotográfica
imagens panorâmicas e de pormenores das memórias dos homens e das coisas.
Dizíamos: «Boa tarde!».
Ouvíamos: «Pois boa tarde nos
deia Deus!».
Acompanhados por um companheiro
também interessado em descobrir o Alto Minho profundo e inédito, lá nos
decidimos a perguntar pelo São Motinha.
«- Bem, não sei onde estará!
Estebe na igreja, num altar, mas depois um padre mandou-o tirar de lá e foi pra
uma casa. Era um santo pobre e bondoso! Nunca dizia uma maldade e não fazia mal
a ninguém. Até as crianças o respeitabam. Morreu e foi santo! Não sei onde
está! Talbez…»
Por fim, a casa onde é venerado
surgiu…
A senhora que cuida e guarda o São
Motinha estava no lavadouro público… Vestia de preto.
Dissemos ao que vínhamos: «Seria
possível ver o São Motinha?»
«Esperem um pouco, que eu bou lá
a casa.»
Entrámos numa casa de granito escurecido
pelo tempo. Passámos pela cozinha, olhando o grande pote de três pernas.
Chegámos à grande sala, a denominada “Sala da Páscoa”, em terras minhotas.
No meio do espaço doméstico mais
valorizado, numa mesa com uma toalha de linho estava colocada a
escultura/imagem de madeira de São Motinha, esculpida por um artista local.
Uma linda toalha e uma malga
tradicional com esmolas, contendo notas e moedas… Testemunhos da devoção ao santo
canonizado pelo povo. Vox populi, vox Dei
(Voz do povo, voz de Deus).
O silêncio respeitoso foi
eloquente e ouvimos «estórias lindas» que percorriam latitudes longínquas, com
saudades dos tons, dos sons, das vozes do mundo de Sistelo.
Como escreve o antropólogo Pina
Cabral, «Faz-se o pagamento ao Santo, pede-se a sua ajuda e protecção».
Mas o ritual tem de ser
completado e perfeito.
Numa mesa ao lado e com rendada
toalha, está uma garrafa de vinho branco, outra de vinho do Porto e um pratinho
com bolachas, talvez “Maria”!!!
LITURGIA LOCAL E
INÉDITA
Todos aqueles ou aquelas que
visitam o Santo que nasceu, viveu, mendigou e morreu na sua terra e «não tinha
maldade», pois «era um autêntico profeta de outro modo de vida”, devem terminar
o seu cerimonial numa autêntica liturgia local e inédita, criadora e simbólica,
de reciprocidade e comunitária, num verdadeiro sentido do «facto social total»,
segundo o pensamento de Marcel Mauss.
E ficámos a reflectir, com muito
respeito, pela luz que cada um transporta…
“Seria um poeta clarividente?”
(J. Heers)
A leitura do livro «Formas
Elementares da Religião», de Emille Durkheim, fornece-nos doutrina consistente
sobre as leituras do “facto social total originário”.
E o que se sente na alma e a boca
por vezes confessa, faz parte dos tais caminhos íntimos e das bênçãos que se
desejam para continuar a peregrinação pelas estradas da vida.
De acordo com A. Custódio
Gonçalves “a apreensão das diversas memórias colectivas dos grupos faz-se
sobretudo através da comunicação oral. A memória colectiva interage igualmente
com a memória individual, caracterizada pela capacidade pessoal da evocação de
uma imagem recordação.”
Recordámos do Livro do
Apocalipse: «Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir
a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo» (3:20).
Continuaremos atentos à
religiosidade popular, que no dizer do antropólogo compostelano Marcial Gondar,
«é um bô miradoiro donde ollar unha sociedade».
Conforme o sociólogo António
Joaquim Esteves, “nas terras minhotas a arte da solidariedade conviveu com a
arte da solidariedade ativa.”
No regresso de Sistelo e
transportando emoções sentidas pelas comunidades, lemos de Armando Cunha:
“O Vez passando, tão descuidado…
Como um sonho que não se esvai,
Dá-nos lembranças do que é
passado;
Dá-nos saudades do que lá vai…”
Lembrámos de Pierre Bourdeux: “O
que fala nunca é o discurso, a palavra, mas toda a pessoa social”.
José Rodrigues Lima
sábado, 26 de dezembro de 2015
Alegrai-vos!...
Alegrai-vos!...
É Natal, É Natal, é Natal…
Alegrai-vos
Glória a Deus nas Alturas
Porque hoje nasceu um salvador
Para os homens de boa vontade
Jesus Cristo Nosso Salvador
Ele é Amor.
Deus manifesta-se num Menino!
Ele apresenta-nos um Deus
que se fez homem pequenino
E deste modo
Mostra-nos o rosto do Pai,
Um rosto de Misericórdia
Fraterno, justo e Bom
Connosco a fazer
história.
Alegrai-vos irmãos!... Alegrai-vos!...
Porque recebemos um dom
Este rosto de Deus é próximo
Está nos corações
Tão próximo como os pobres, os ricos
Os sós, os tristes,
os que vivem com medo.
Com dúvidas, injustiçados,
Incompreendidos
Idosos, doente e perseguidos
Os que choram, os presos…
Os que vivem obstinados no erro
Com dúvidas, incompreendidos,
Alegrai-vos todos vós
Porque somos todos nós
Próximos uns dos outros
Alegrai-vos porque é Natal
É Natal!...
É Natal!... é Natal!...é Natal!...
Hoje nasceu numa grande Luz.
Essa Luz é o rosto de DeusFeito menino nascido em Belém.
Ele chama-se Jesus!
Jesus Cristo é o rosto da Misericórdia do Criador.
Ele é o rosto do verdadeiro Amor.É o Amor incondicional do Pai
Que chama a cada um pelo seu nome.
João, Anacleto e Maria
José, Francisco e a Lia
Joaquim, Isabel e Ana,
David, Rabeca, e Marta
“Hoje nasceu-nos um salvador”
Hoje nasceu-nos uma luzEla se manifesta num rosto
Que é o rosto do Menino Jesus.
Ele é o rosto da Misericórdia
É o rosto do Pai.
E Deus Pai é Amor
Sempre pronto,De braços abertos,
Para receber com desconto
O que é do pecador.
Para que amando assim
Até ao fim.
Não usou do Poder
Para castigar,Mas para Amar,
Ainda que com seus braços abertos
Fossem pregados numa cruz
Pendendo dela o corpo de Jesus
Contemplemos este rosto do Menino, no Presépio,
Olhemos e meditemos Porque neste rosto descobriremos
Uma Humanidade com história
o grande rosto de Deus
Um Deus de Misericórdia.
Um Deus que salva
Um Deus que AmaUm Deus que não se afasta
Mas um Deus que se aproxima
O rosto de Deus aparece.
Um Deus presente!
Alegrai-vos porque é Natal…
quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
Dar Alma à Vida LXXXIII
Dar Alma à Vida LXXXIII
Dar Alma à Vida é dar importância às pessoas de mais idade,
pois elas representam um papel fundamental na Família… segundo o Papa
Francisco.
Dar Alma à Vida é compreender que os idosos são aquilo que o Papa diz e merecem, pois são os mais velhos que conhecem melhor as histórias da Família, os que mais trabalham pela coesão da mesma e os que têm mais conhecimentos empíricos da vida, seja qual for o grau de formação.
Dar Alma à Vida é respeitar os mais velhos até ao fim sejam
pais, avós ou bisavós.
Dar Alma à Vida é rezar com a Profetiza Ana e o Velho Simão
no templo porque tanto um como outro sentiram um dom para Israel como foi um
dom para o Mundo o Deus fazer-se homem para mostrar o seu rosto à Humanidade.
Dar Alma à Vida é aceitar este Rosto de Deus em Jesus Cristo que nos mostra um rosto de Misericórdia, de Amor e de Perdão, de um Deus Todo Poderoso que nos acompanha, que anda connosco e nos procura quando nos afastamos na nossa fragilidade humana, como uma criança que foge da mão da mãe ou do pai.
Dar Alma à Vida é aceitar este Deus do qual nos esquecemos dele. Às vezes vamos à procura d’Ele onde Ele não está, do bem que não é o Bem, onde Deus está, mas onde nos afogamos e Ele, mesmo assim, vem em nossa salvação.
Mário Rocha condecorado
Mário Rocha é um
pintor vianen.se, natural da freguesia de Perro.
Ainda há pouco tempo este jornal o entrevistou. A sua intensa actividade
artística em Portugal e no estrangeiro, muito reflectida na bem conhecida
"Arte na Leira", que anualmente
se realiza na Serra de Arga, já com 17 edições, justificava esta conversa que
com ele tivemos.
Pelas mesmas razões e
pela sua ligação artística às causas da solidariedade promovidas pela Casa
Ermelinda Freitas, distinta no país pela produção e comercialização de vinhos,
o Presidente da República, no dia 19, sábado passado, atribuiu-lhe uma ordem
de mérito.
A cerimônia aconteceu
na inauguração da Adega Leonor Freitas, da Casa Ermelin- da Freitas, em
Fernando Pó, Palmela. 0 PR aproveitou ainda para condecorar várias
personalidades ligadas à vitivinicultura da região sul, com o grau de
Comendador da Ordem do Mérito Empresarial, Classe do Mérito Agrícola.
A Aurora do Lima
felicita este artista vianense pelo
reconhecimento que lhe feito pela mais alta
figura da nação. Transcrição do último Aurora do Lima
NOITE DE NATAL 2015 – Já la vão 60 e tal anos…
NOITE DE NATAL 2015 –
Já la vão 60 e tal anos…
Era eu ainda muito jovem, iniciava-se o período de Natal e
minha mãe obrigava-me a ir à igreja. Era um ritual que se repetia todos os anos,
tão intimo e tão vulgar que incorporava o simbolismo da Santa Noite de Natal.
Era eu e todos os meus irmãos unidos num espirito de grupo
que envolvia, novos e velhos, grandes e pequenos A família. Todos lá de casa.
Na lareira – uma grande pedra espessa, em granito, pousada no
soalho, ardiam os canhotos que junto aos potes coziam as batatas, esta elevada
também por uma outra pedra mais estreita que lhe servia de apoio, para colocar
as panelas. À direita, o forno de cozer a boroa; à esquerda o lava-loiças
também em granito e, logo por cima, um louceiro em madeira de pinho, com
prateleiras para enfiar os pratos lavados. O fumo saía por entre as telhas e
ripado do telhado. Não havia tecto nem propriamente uma chaminé! Era a cozinha
daquela época. Na sala, construía-se o presépio. Ali se dispunham os três Reis
Magos, o grupo de pastores, as ovelhinhas em rebanhos, o açude, os pequemos
regueiros ou riachos, as casinhas, as azenhas, todas aquelas figuras exóticas
por aqueles atalhos feitos em serrim pelas montanhas sagradas, construídas em
musgo verde. O Menino Jesus gorduchinho e bom “em palhinhas deitado” e a
Sagrada Família. Não faltava a vaquinha e o burrinho ou a mulinha - como lhe
queiram chamar - com os seus meigos olhares naquela cabaninha algo tosca,
erguida com muito amor e carinho pelas mãos ingénuas e puras de 6 crianças (eu
e meus irmãos) e, rematada com a estrela prateada que indicava o atalho que
todas aquelas figuras tinham de observar para se orientarem e encontrar o
Menino Jesus nascido.
A simbologia do Natal, à época, era patenteada por presépios
e não por pinheirinhos.
Era uma alegria para gaudio dos mais pequenos como eu.
A família juntava-se. Chegavam familiares que trabalhavam
noutros locais do país. Seguiam-se abraços e beijos e a casa enchia-se. Toda a
gente se instala, passeando por toda a casa
Na cozinha não há mãos a medir! As mulheres tratam de tudo.
O bacalhau demolhado que estava já há alguns dias em água e
necessitou de continuadas mudas. As tronchudas e as couves-galegas, as hortaliças
foram escolhidas pela minha mãe na leira, propriedade nossa, que cultivávamos
junto á escola primária de Vila de Punhe. A doçaria vinha sendo feita durante o
dia, também por ela, com ovos das galinhas do nosso galinheiro.
As nozes, amêndoas, figos, estavam guardadas por meu pai para
serem introduzidas no sapatinho de cada um de nós – filhos - que, no fim da
ceia, colocávamos na padieira sobranceira à lareira, aguardando a visita do
Menino Jesus que descia pela “chaminé” durante a noite.
Enquanto se aguardava a comida, sentados à volta da lareira,
contavam-se histórias. Lembravam.se os que partiram. Outros natais… A vida e
cada um em amena cavaqueira.
Uma noite de Natal tipicamente minhoto.
Na mesa, minha mãe estendia a melhor toalha. Ao lado as
terrinas, travessas e talheres, os pratos, malgas, canecas de barro branco,
pintadas às riscas de azul, eram retiradas do antigo armário lá de casa.
“A comida está pronta”! “Vamos, Todos prá mesa”.!...A ordem
vem da cozinha! “Vamos que fria não presta”- convidava minha mãe.
Na lareira, vão ardendo os canhotos. Ao lado, as pinhas
mansas que depois de queimadas ou chamuscadas se abrem para quebrar os pinhões.
Paira um cheirinho a resina. O bacalhau chegou à mesa, os ovos e os legumes.
Tanta hortaliça! O molho de azeite fervido com alho e o vinho verde tinto nas
canecas bojudas, que o frio já lhe tinha dado a volta. Era Inverno. Toda a
gente se senta à mesa colocada bem perto da lareira para ter aquecimento.
Não faltam as rabanadas de vinho verde da nossa safra e leite
do vizinho, lavrador- “tio Joaquim Puxa”.
No fim da ceia, comem-se os doces. Não se levanta a mesa – fica para os
anjinhos e as alminhas comerem de noite. Se quiserem, claro! (que tenham bom proveito) - dizia minha
mãe. Assim ditam algumas das tradições cá do Alto Minho, da minha aldeia, da
aldeia onde nasci.
A meia-noite aproxima-se e toca a ir para a cama. O sapato ou
a chanca, já lá está à espera do Menino Jesus. Das prendas que trás.
No dia seguinte, toca acordar pressurosos para ver o que
havia deixado o Menino Jesus - eu e meus irmãos. Era Natal. Reinava aquela
ansiedade e euforia de criança. Sem grandes surpresas! Tínhamos amêndoas nozes
e figos no sapatinho. Era o que aguardávamos...mas contentes, muito contentes,
porque só acontecia uma vez no ano!
Apesar de tudo, naquela época, nenhum de nós sabia o que lhe
tocava. Havia sempre uma espectativa a pensar na surpresa. Meu pai, guardava o
que tinha comprado, em segredo, para nos surpreender.
Depois, havia a missa do galo, e naquele dia toca a saborear
as gulosices, era dia Natal!…Aquele Natal… tão desejado por qualquer criança
durante aquele mês de Dezembro. Uma alegria!
Era sensivelmente assim, a Noite de Natal da minha infância
que recordo com muita saudade e que, certamente, faz recordar a alguns de vós,
a vossa infância o vosso Natal outrora.
É tempo de respirar bem fundo. É Tempo de Natal. Juntam-se
amigos e fazem-se almoços e jantares alusivos. Que bom seria se fossem todos os
dias, dias de Natal com …PAZ, AMIZADE E AMOR!
A todos desejos um Santo Natal e Um Próspero Ano Novo
Leandro
Matos 12.12.2015
quarta-feira, 23 de dezembro de 2015
Um ano para viver a Misericórdia
Um ano para viver a Misericórdia
Hoje gostaria de meditar convosco
sobre o significado deste Ano Santo, respondendo à pergunta: por quê um Jubileu
da Misericórdia? O que significa isto? A Igreja precisa deste momento
extraordinário. Não digo: é bom para a Igreja este momento extraordinário.
Digo: a Igreja precisa deste momento extraordinário. Na nossa época de
profundas mudanças, a Igreja é chamada a oferecer a sua contribuição peculiar,
tornando visíveis os sinais da presença e da proximidade de Deus. E o Jubileu é
um tempo favorável para todos nós a fim de que, contemplando a Misericórdia
Divina que supera todos os limites humanos e resplandece na obscuridade do
pecado, possamos tornar-nos testemunhas mais convictas e eficazes. Dirigir o
olhar para Deus, Pai misericordioso, e para os irmãos necessitados de
misericórdia, significa prestar atenção ao conteúdo essencial do Evangelho:
Jesus, Misericórdia que se fez carne, que torna visível aos nossos olhos o
grande mistério do Amor trinitário de Deus. Celebrar um Jubileu da Misericórdia
equivale a pôr de novo no centro da nossa vida pessoal e das nossas comunidades
o específico da fé cristã, ou seja Jesus Cristo, o Deus misericordioso.
Portanto, um Ano Santo para viver a misericórdia. Sim, caros irmãos e irmãs,
este Ano Santo é-nos oferecido para experimentar na nossa vida o toque dócil e
suave do perdão de Deus, a sua presença ao nosso lado e a sua proximidade
sobretudo nos momentos de maior privação. Em síntese, este Jubileu é um momento
privilegiado para que a Igreja aprenda a escolher unicamente «o que mais agrada
a Deus». E o que é que «mais agrada a Deus»? Perdoar os seus filhos, ter
misericórdia deles a fim de que, por sua vez, também eles possam perdoar os
irmãos, resplandecendo como archotes da misericórdia de Deus no mundo. É isto
que mais agrada a Deus! Num livro de teologia que tinha escrito acerca de Adão,
santo Ambrósio medita sobre a história da criação do mundo e diz que cada dia,
depois de ter criado algo – a lua, o sol ou os animais – Deus diz: «E Deus viu
que isto era bom!». Mas quando criou o homem e a mulher, a Bíblia diz: «Viu que
era muito bom». E santo Ambrósio interroga-se: «Mas por que motivo Deus diz que
é “muito bom”? Por que se sente Deus tão feliz depois da criação do homem e da
mulher?». Porque, finalmente, tinha alguém a quem perdoar. E isto é belo: a
alegria de Deus é perdoar, o ser de Deus é a misericórdia. Por isso, neste ano
devemos abrir o nosso coração para que este amor, esta alegria de Deus, nos
encha a todos desta misericórdia. O Jubileu será um «tempo favorável» para a
Igreja, se aprendermos a escolher «o que mais agrada a Deus», sem ceder à
tentação de pensar que existe algo mais importante ou prioritário. Nada é mais
importante do que escolher «o que mais agrada a Deus», ou seja a sua
misericórdia, o seu amor, a sua ternura, o seu abraço, as suas carícias!
[FRANCISCO, Alocução Aud. Geral 9/12/2015]-In Igreja Viva, Ermesinde
terça-feira, 22 de dezembro de 2015
ENCONTRO MISERICORDIOSO DE DEUS COM A HUMANIDADE
NATAL 2015
ENCONTRO MISERICORDIOSO DE DEUS COM A HUMANIDADE
“Na plenitude do
tempo” (Gl4, 4), quando tudo estava pronto segundo o seu plano de salvação,
mandou o seu Filho, nascido da Virgem Maria, para nos revelar, de modo
definitivo, o seu amor.
Quem O vê, vê o Pai
(Jo 14, 9).
É Natal de Jesus…
Glória a Deus nas alturas e paz
na terra aos homens por Ele amados.
Aos homens e mulheres de boa
vontade, construtores de um mundo mais solidário, fraterno e justo.
Alegrem-se os corações dos que
vivem sós.
Alegrem-se os corações dos que
vivem tristes.
Alegrem-se os corações dos que
vivem angustiados.
Alegrem-se os corações dos que
vivem com medo.
Alegrem-se os corações dos que
vivem com sombras.
Alegrem-se os que são vítimas da
incompreensão.
Alegrem-se as crianças e os
idosos.
Alegrem-se os que estão na
cárcere-prisão.
Alegrem-se os que estão nos
hospitais.
Alegrem-se os que vivem nas ruas
(os sem-abrigo).
Alegrem-se os que se sentem
marginalizados, os desempregados e os que choram!
Alegrem-se os que vivem na dor.
Alegrem-se os que têm fome e
sede de justiça…. Os pobres.
Alegrem-se os abandonados pelos
homens, mas amados por Deus!...
Alegrem-se todas as famílias.
É tempo de ser bom…
É Natal! Boas Festas para todos.
Alegre-se o céu e rejubile a
terra.
A criação.
Glória in excelsis Deo.
Glória… Glória e paz na terra ao
homem nosso irmão.
Jesus foi o primeiro a
testemunhar o amor a todo o homem.
No dizer de Gil Vicente:
“NASCEU A ROSA DO ROSAL, DEUS E
HOMEM NATURAL!”
O Menino nos foi dado.
“Ele espalhará a justiça entre
as nações” (Isaías 4, 1)
“Ele será a reconciliação do
povo e a luz das nações” (Isaías 42, 6)
“E O VERBO FEZ-SE HOMEM E VEIO
HABITAR ENTRE NÓS” (Jo. 1, 14)
A oferta da salvação realizou-se.
ALEGREMO-NOS.
Jesus Cristo é o rosto da
misericórdia do Pai.
Feliz Natal
José Rodrigues Lima
93 85 83 275
jrodlima@hotmail.com
domingo, 20 de dezembro de 2015
A arte natalícia como epifania do Mistério
A ARTE NATALÍCIA COMO EPIFANIA DO MISTÉRIO
Texto e Fotos
O Inverno é o
período do ano em que as pessoas estão mais voltadas para o espírito.
A temperatura é
mais fria e a luz solar mais reduzida, e por isso os grupos humanos passam mais
tempo no espaço doméstico. O convívio familiar é mais extenso e vive-se com
maior intimidade.
Existem
diferenças no estilo de vida, dependendo do meio rural ou urbano.
Se na cidade se
liga o aquecimento, na aldeia ele é produzido pela lareira loozalizada no
centro ou no canto da cozinha, onde se queimam os bons cepos de raízes que
ajudam a prolongar as horas nocturnas em conversas de família, reavivando
memórias, fazendo comentários a acontecimentos da comunidade aldeã, ou
projectando celebrações para alegria de todos aqueles que se sentem ligados
pelo mesmo sangue, e no respeito pelo tronco patriarcal.
A quadra
natalícia aproxima ainda mais a família. Os que durante o ano permanecem longe
dos seus por diversos motivos procuram um retorno às origens para o encontro
muitas vezes desejado.
DAR AS BOAS
FESTAS
Se o Natal é o
período dedicado à família, ele também é o tempo de ser bom… Como diz o poeta,
“como é bom ser bom”!
Se na época
natalícia há mobilidade social, também há ternura.
Há rituais que
se cumprem com mais afecto, como oferecer e receber lembranças.
O uso de dar as
boas festas é muito antigo. Nas “Fastos”, Ovídio pergunta a certa altura a
Jano: “E donde vem que nas calendas tuas/ nos demos mutuamente as
Boas-Festas?...”
Além das
reuniões familiares estabeleceu-se no costume de se fazerem visitas aos amigos.
Os servos iam apresentar cumprimentos festivos aos seus senhores, deles
recebendo por vezes qualquer lembrança, derivando possivelmente o termo “dar ou
receber as broas”.
Conta-se que a
velha rainha Mary de Inglaterra tinha o dom especial de contemplar no Natal
cada uma das numerosíssimas pessoas que a visitavam com uma lembrança adequada
ao seu gosto.
Um dia, alguém
perguntou com que antecedência ela começava a dedicar-se à tarefa de as escolher.
Sorrindo, respondeu. – A partir de 26 de Dezembro de cada ano!
A rainha de
Portugal, D. Maria Pia, logo “depois das Janeiras”, como dizia, convidava os
íntimos para o almoço onde cada um descobria, sob o seu guardanapo, um bonito
presente.
A troca de
boas-festas por escrito só surgiu em tempo relativamente moderno.
Aceita-se que o
costume se deve ao artista inglês W. T. Dobson. Em 1845, enviou a algum amigo
uma cópia litografada de um cartão de sua autoria sobre o espírito do Natal. A
originalidade da mensagem agradou e foi imitada.
Os primeiros
cartões impressos na Inglaterra eram muito simples, uma acha de lenha, os sinos
e os cumprimentos tradicionais.
O costume passa
aos estados Unidos da América cerca de 1874. A partir daí os cartões de Boas
Festas apresentam os mais diversos motivos, alguns muito longe de qualquer
inspiração religiosa ou do espírito natalício.
O ESSENCIAL
É INVISÍVEL PARA OS OLHOS
Sain-Exupéry, no
famoso livro “O Pincipezinho”, escreve que “só se vê bem como coração, o
essencial é invisível para os olhos”.
Captar o
acontecimento histórico do Natal de Jesus Cristo que marcou o calendário,
seja-se ou não crente, é reconhecer o projecto desenhado pelo profeta Isaías:
“Ele espalhará a justiça entre as nações… Sendo manso não clamará, nem fará
excepção de pessoas. Fará a justiça conforme a verdade…”
“A história é o
sextante e a bússola dos estados, os quais, agitados pelos ventos e correntes,
se perderiam na confusão senão pudessem verificar a sua posição”, escreveu
Nevins. Por outro lado atribui-se a João XXIII: “A História da Igreja não é um
museu de antiguidades cristã, mas sim como uma fonte que deita água viva que
mata a sede de uma aldeia”.
A arte
representou sempre a memória colectiva da humanidade.
Não foi o
Ocidente a inventar o próprio conceito de arte, como também o de uma obra
destinada a ser fruída, interpretada, e concebida como objecto de reflexão
estética.
Em termos
genéricos nos sistemas não europeus, o objecto artístico é um símbolo do
absoluto, confundindo-se com o mistério e o sagrado, e integrando-se numa
relação profunda entre o homem e os cosmos.
Conforme F.
Gonçalves depois do século VI, as composições artísticas sobre o nascimento de
Jesus tornaram-se frequentes no Oriente, sobretudo nos livros iluminados da
Síria e da Palestina. É através das miniaturas dos códices siríacos que a cena
da Natividade passa à Arte Bizantina e ao Ocidente bárbaro.
Aqui, desde a
época carolíngia que o modelo levantino começa a ser imitado pelos
iluminadores. Assim se difunde o tipo iconográfico da Natividade em que estão
presentes os dois animais do estábulo, ladeando a figura do recém-nascido. O
homem repete-se, no Oriente e no Ocidente, em frescos, mosaicos e miniaturas de
marfim.
O presépio
merece atenção de Fra Angélico, Ghirlandajo, Jerónimo Bosch, Van de Goes,
Leonardo da Vinci, Durer e outros notáveis artistas.
Merecem
referência, os famosos, presépios de Machado de Castro, Alexandre Guisti e
António Ferreira, bem como todos os barristas, inclusive os de Barcelos,
abundantemente coloridos, onde não faltam os carros de bois e pastores, dando
lugar a um sentido imaginário dos artesãos.
Todas as aldeias
do Alto-Minho armam o presépio na igreja paroquial, contribuindo para o encanto
das crianças e dos adultos. O Menino Jesus a sair no andor, transportado pelas
crianças aquando as procissões festivas, são uma constante em todas as
paróquias.
Nas terras do
Alto-Minho existem diversas manifestações artísticas referentes ao mistério do
“Verbo Encarnado”.
Assim, são de
referir o fresco representando os três Reis Magos (século XIII/XIV) na Igreja
Paroquial de Chaviães, Melgaço, e a Sagrada Família de marfim na aldeia do
Luzio, concelho de Monção.
No concelho de
Viana do Castelo, os presépios de Machado de Castro em S. Lourenço da Montaria,
a Senhora do Ó ou Senhora da Expectação no Mosteiro de Carvoeiro, a Senhora do
Parto na freguesia de Nogueira, a Nossa Senhora do Leite, em Vila de Punhe, são
outros testemunhos.
Na cidade
podemos contemplar dois belíssimos nichos, mesmo na “Rua de Viana”.
É uma residência
com portaria do século XVIII na qual se abriu, talvez no século XIX, um portal
largo. A fachada incorpora dois nichos, esculpidos em alto relevo, que provem
da casa dos fins do século XV. À nossa esquerda o Anjo Gabriel saúda a Virgem,
e, como se lê na facha que tem na mão, dizendo AVÉ MARIA. No nicho, do lado
direito, Nossa Senhora de pé, sob dossel, ladeado de talha florida, que
simboliza a Fonte de Vida, recebe a mensagem.
Porém foi no
antigo Convento de Santa Ana que encontramos a melhor representação relacionada
com o Natal.
Aqui obtivemos a
confirmação “a arte é a epifania do mistério”.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2015
“A Misericórdia no Acolhimento”
Paróquia
Nossa Senhora de Fátima - Formação de Adultos
Dia:
5 de Dezembro 2015 – Horas: 15:00horas
Local
– Igreja da Sagrada Família (Abelheira)
Tema: “A Misericórdia no Acolhimento”
3ª sessão
1 –
Objectivos
1.1.
Conhecer a Bula do Jubileu da Misericórdia, Papa
Francisco;
1.2. Ler a Carta Pastoral “Sede Misericordiosos”,
D. Anacleto – Bispo da Diocese;
1.3
Interiorizar: “Sede Misericordiosos como o vosso
Pai é Misericordioso” (Lc 6, 36)
1.4. Aprofundar o termo “Misericórdia” em contexto
bíblico;
1.5. Testemunhar a Misericórdia no Acolhimento
entre Familiares, Vizinhos e Comunidade;
1.6. Acreditar: “Eterna é a Misericórdia de Deus”
(Salmo 136);
1.7. Agradecer a Misericórdia de Deus revelada por
Jesus.
2 – Textos
2.1 – Bula
da Misericórdia
“Na Sagrada Escritura, como se vê,
a misericórdia é a palavra-chave para indicar o agir de Deus para connosco. Ele
não Se limita a afirmar o seu amor, mas torna-o visível e palpável. Aliás, o
amor nunca poderia ser uma palavra abstracta. Por sua própria natureza, é vida
concreta: intenções, atitudes, comportamentos que se verificam na actividade de
todos os dias. A misericórdia de Deus é a sua responsabilidade por nós. Ele
sente-Se responsável, isto é, deseja o nosso bem e quer ver-nos felizes, cheios
de alegria e serenos. E, em sintonia com isto, se deve orientar o amor
misericordioso dos cristãos. Tal como ama o Pai, assim também amam os filhos.
Tal como Ele é misericordioso, assim somos chamados também nós a ser
misericordiosos uns para com os outros.
A arquitrave que suporta a vida da Igreja é a misericórdia. Toda a sua
acção pastoral deveria estar envolvida pela ternura com que se dirige aos
crentes; no anúncio e testemunho que oferece ao mundo, nada pode ser desprovido
de misericórdia. A credibilidade da Igreja passa pela estrada do amor
misericordioso e compassivo. A Igreja « vive um desejo inexaurível de
oferecer misericórdia».[8] Talvez,
demasiado tempo, nos tenhamos esquecido de apontar e viver o caminho da misericórdia.
Por um lado, a tentação de pretender sempre e só a justiça fez
esquecer que esta é apenas o primeiro passo, necessário e indispensável, mas a
Igreja precisa de ir mais além a fim de alcançar uma meta mais alta e
significativa. Por outro lado, é triste ver como a experiência do perdão
na nossa cultura vai rareando cada vez mais. Em certos momentos, até
a própria palavra parece desaparecer. Todavia, sem o testemunho do perdão,
resta apenas uma vida infecunda e estéril, como se se vivesse num deserto
desolador. Chegou de novo, para a Igreja, o tempo de assumir o anúncio jubiloso
do perdão. É o tempo de regresso ao essencial, para cuidar das fraquezas e
dificuldades dos nossos irmãos. O perdão é uma força que ressuscita para nova
vida e infunde a coragem para olhar o futuro com esperança.” Papa Francisco
2.2 – Carta
Pastoral
“A própria terminologia o exprime, sobretudo aquela em que entram órgãos
vitais. É o caso de “misericórdia”: remete-nos para o “coração” (cor, em
latim), visto como a parte mais íntima do nossos ser, berço dos sentimentos,
das emoções, do afecto, da coragem, do amor; e, na concepção bíblica, sede
também das faculdades intelectuais e volitivas. É tudo isso, todo esse centro
vital, que sofre e reage perante a “miséria” dos outros. “Que é a misericórdia
– pergunta S. Agostinho – senão uma compaixão do nosso coração perante a
miséria do outro, que nos leva a socorre-lo, se pudermos?
O grego bíblico, nomeadamente do Novo Testamento, vai mais longe, ao
alargar a sede dessa compaixão a todas as “entranhas”. Assim acontece no
Benedictus de Zacarias: Graças às entranhas de misericórdia do nosso Deus é que
Ele nos salva, pela remissão dos pecados (Lc 1, 78). E S. Paulo exorta-nos,
como eleitos de Deus, santos e amados, a revestir-nos igualmente de entranhas
de misericórdia (Col 3, 12). Daí o comentário do Papa Francisco: “É
verdadeiramente caso para dizer que se trata de um amor “visceral”. Provem do
íntimo como um sentimento profundo, natural, feito de ternura e compaixão, de
indulgência e perdão.” D. Anacleto Oliveira
2.3 – Sagrada
Escritura
“Eu quero a
Misericórdia e não sacrifícios” (Oseias 6,6)
“Felizes os
Misericordiosos porque alcançarão misericórdia” (Mt 5, 7)
“Não julgueis
e não sereis julgados; Não condeneis e não sereis condenados; Perdoai e sereis
perdoados… A medida que usardes com os outros será usada convosco” (Lc 6,
37-38)
3 – Acolhimento
3.1 – Fundamentação
Bíblico-Teológica
“Jesus
Cristo é o grande modelo do acolhimento, cuja fundamentação teológica
encontra-se na Encarnação. Cristo recebe a humanidade, acolhe-a em sua
fragilidade e em sua sede de Deus. Outro modelo de acolhimento eclesial é Maria
Santíssima. Ela, pelo Sim da Anunciação, recebeu em seu seio o Filho de Deus,
com tudo o que isso representava: responsabilidade, riscos e incertezas. O
acolhimento +e um acto de amor. Quem ama acolhe e vice-versa.
Os Santos
Padres, teólogos dos primeiros séculos, denominam a Igreja comunidade de fé, acolhimento
e católica. A Igreja sintetiza a comunidade daqueles que seguem a mesma fé: Há
um só Senhor, uma só fé, um só Baptismo. Há um só Deus e Pai de todos, que
actua acima de todos, por todos e em todos, afirma São Paulo (Ef 4, 5-6). Esta
comunidade caracteriza-se, externamente, pelo dinamismo e a criatividade do
amor ao próximo, pois todos são filhos do mesmo pai, que é Deus. Isto é o que
chamamos de acolhimento.”
3.2 – Referências Bíblicas
“Quem vos
receber a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou.” (Mt 10,
40)
“A quantos
O acolheram deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.” (Jo 1, 12)
“Sede
afectuosos uns para com os outros no amor fraterno.” (Mat 9, 36)
“Assim
brilhe a vossa luz diante dos homens, para que eles vejam as vossas boas obras,
e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus.” (Mat 5, 16)
“Na
verdade vos digo que todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos
mais pequeninos, a mim o fizestes.” (Mat 25, 40)
“Se alguém
vier a mim eu não o mandarei embora” (Jo 6, 37)
“Olha que
eu estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, eu
entrarei na sua casa e cearei com ele e ele comigo.” (At 3, 20)
3.3 – “Quem acolhe, a Mim acolhe”
“Por que
acolher bem? O acolhimento fraterno e alegre nos leva a outra indagação: o que
o fiel procura em nossas comunidades, ou melhor, quem é que eles vêm procurar?
A resposta só pode ser uma: vieram, mesmo sem saber com clareza, à procura de
Jesus Cristo! Jesus Cristo que, todavia, foi o primeiro a procurar-vos. De
facto, o único significado para uma boa acolhida é levar quem chega a nossos
ambientes sagrados a encontrar Jesus Cristo, o Verbo que Se fez carne e veio
habitar entre nós. As palavras do Prólogo de São João, de certo modo, deve ser
o “cartão de visita” do ministro que acolhe o seu irmão. “No princípio era o
Verbo, o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava, ao
princípio, junto de Deus” (Jo 1, 1-2). E diz a grande conclusão: “a quantos,
porém, o acolheram, deu-lhes poder de se tornarem filhos de Deus: são os que
crêem no seu nome”. (Jo 1, 12). O Senhor também, ao enviar os seus discípulos,
vai lembrar-lhes que quem os “acolhe, acolhe a mim, e quem acolhe a mim, acolhe
Aquele que me enviou. D. Orani Tempesta
3.4 – Na casa de Zaqueu e Marta
“Zaqueu,
desce depressa, porque convém que eu fique hoje em tua casa. E ele desceu a
toda a presa, e recebeu-o alegremente. E, vendo isto, todos murmuravam, dizendo
que tinha ido hospedar-se a casa de um homem pecador.” (Mat 19, 3-6)
“E
aconteceu que indo em viagem, entrou em uma certa aldeia; e uma mulher, de nome
Marta, o recebeu em sua casa.” (Lc 10, 38)
“E o que
recebe em meu nome um menino como este é a mim que recebe.” (Mat 18 – 5)
3.5 – Hospitalidade
Virtude
eminente no mundo nómada: Gn 18, 1-8; 19, 1-8; Nm 35, 9-34; Jz 19, 16-26; Sb
19, 14-17n; ritos de acolhimento: oferta de pão e vinho (Gn 14, 18-24), lavar
os pés: Lc 7, 36-50; Jo 13, 1-17; 1 Tm 5, 9-10.
4 – Prática Cristã
4.1 – Acolhimento;
4.2 – Proximidade;
4.3 – Ternura;
4.4 – Compaixão;
4.5 –
Misericórdia;
4.6 –
Alimentação;
4.7 – Habitação.
5 – Sugestões/Reflexões
5.1 – Como
sentir que Jesus vem ensinar a viver?
5.2 – Cantarei
eternamente a Misericórdia do Senhor (Salmo 88). Como agradeço a Misericórdia
de Deus?
5.3 – Como
vai o meu acolhimento na Família, com os Vizinhos e na Comunidade?
5.4 – Qual
é a minha capacidade de escutar os outros?
5.5 – Faço
silêncio para escutar a Voz de Deus?
8 – ORAÇÃO
O Senhor
nos guie, nos defenda, nos sustente sempre em seus braços, onde nos sentimos
seguros. O Senhor nos mostre o seu rosto e nos dê a sua Paz e Misericórdia.
Pronunciarei o Teu nome, meu Deus, solidariamente, no meio dos meus silenciosos
pensamentos. Meu Deus dá-me um coração aberto aos outros! Ámen!
Subscrever:
Mensagens (Atom)