quarta-feira, 30 de julho de 2014

Santa Marta, a apóstola da hospitalidade e do trabalho


Santa Marta, a apóstola da hospitalidade e do trabalho

 

A sua memória litúrgica celebra-se a 29 de julho, por iniciativa dos franciscanos, em 1262. Santa Marta corresponde a uma personagem bíblica referida no Evangelho de Lucas (vd Lc 10,38-42) e no de João (vd Jo 11,1-45; 12,2). A irmã de Lázaro e de Maria de Betânia, (também chamada de Margareth, nalguns lugares), perto de Jerusalém, é a padroeira das lavadeiras, das cozinheiras e donas de casa, dos anfitriões, dos estalajadeiros e hoteleiros, dos nutricionistas e dietistas; e, ainda de acordo com a tradição, é protetora contra as falsas preocupações, como: mau olhado, inveja, pragas, bruxarias, descarrego e outras superstições para as quais ela oferece um escudo impenetrável. Foi uma das mulheres que acompanharam Jesus  no calvário e na ressurreição.

O nome Marta é transliteração do grego Μαρθα, que por si já é tradução do aramaico מַרְתָּא, que significa “a mestra” ou “a senhora”. A forma aramaica ocorre numa inscrição datada como sendo do primeiro século, que se encontra num Museu em Nápoles.

Marta, a hospedeira de Cristo, era filha de Siro e de Eucária, descendente de estirpe real. O pai era governador da Síria e de muitas regiões marítimas. Com sua irmã e irmão, por direito de herança materna, possuía três fortalezas: Magdala, Betânia e parte da cidade de Jerusalém. Nunca se disse que tivesse marido ou vivesse com homem algum. Era a anfitriã e a dona da casa por ser a irmã mais velha. Quando Jesus se hospedava em sua casa, em Betânia, Marta era solícita e cuidava do seu bem-estar. Numa visita, recorda Lucas no seu Evangelho, Marta reclamou por Maria ter ficado sentada a ouvir Jesus, deixando-a com o trabalho todo. Jesus, porém, sentenciou: “Marta, Marta, andas inquieta e agitada com muita coisa, quando uma só é necessária. De facto, Maria escolheu a melhor parte, que lhe não será tirada” (Lc 10,41-42). Marta tornou-se, pois, o protótipo da ativista cristã e Maria o símbolo da vida contemplativa.

Marta, dado o seu temperamento ativo e pressuroso, foi a única que foi procurar Jesus e sair-lhe ao encontro, quando Lázaro morreu, ao passo que Maria ficou recatada em casa. A tradição diz ainda que, para aqueles que diziam que já era tarde e que Lázaro já estava morto, Marta retrucou energicamente que não tinha a menor importância e que Jesus iria curá-lo. E de facto, quando Jesus chegou, Lázaro já estava enterrado e o seu corpo já apresentava sinais de putrefação, mas Marta não se abalou, e com enorme fé, falou a Jesus: “Senhor, se cá estivesses, meu irmão não teria morrido, mas eu sei que tudo o que pedires a Deus, Deus To concederá!” (Jo 11,21-22). E, quando o Mestre afiança que o irmão ressuscitará, ela remete a fé para a ressurreição no último dia. Porém, Jesus lança-lhe um repto de fé: “Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá; e todo aquele que vive e acredita em Mim não morrerá jamais. Acreditas nisto?”. Ao que Marta respondeu com firmeza: “Acredito, Senhor, eu já acreditava que Tu és o Messias, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo” (cf Jo 11,23-27). Então, muitos dos judeus que tinham vindo ter com Maria, ao verem o que Jesus fizera, acreditaram (Jo 11,45). E não digam que esta alma ativista não é também alma de contemplação!

Como se pode verificar, o ativismo de Marta é condimentando por uma fé profunda em Cristo. E é um ativismo incessante que, se parece emulatório perante a sobredita atitude de Maria (só que também queria que sua irmã O servisse, porque estava convencida de que não bastaria o mundo inteiro para servir hóspede tão nobre), seis dias antes da Páscoa, quando ofereceram um jantar a Jesus, enquanto Maria ungia os pés de Jesus com o perfume de espicanardo genuíno e os enxugava com os cabelos, Marta andava a servir (cf Jo 12, 1-2).

Uma tradição refere que Lázaro e suas irmãs, Marta e Maria, foram para Chipre onde ele se tornara bispo de Kition ou Lanarka. As suas supostas relíquias teriam sido trasladadas para Constantinopla e várias igrejas e capelas foram erigidas em sua honra na Síria. A Basílica de São Lázaro, santo padroeiro de Lanarka, construída em 890 da nossa era, era um templo cristão do século V, no qual existia um sarcófago com a com a inscrição: “Lázaro, o amigo de Cristo”. Isto reforça a tradição de que ele vivera sua “segunda vida ressuscitado” em Kition, Lanarka.

Porém, segundo outra tradição, depois da Ascensão do Senhor, quando da dispersão dos discípulos, ela, seu irmão Lázaro, sua irmã Maria Madalena e ainda São Maximino — que as tinha batizado e a quem foram entregues pelo Espírito Santo — além de muitos outros, foram colocados num barco pelos infiéis, sem remos, nem velas, nem leme, nem alimentos, pois tudo lhes roubaram. Mas, guiados pelo Senhor, chegaram a Marselha, na região da Provença; depois, foram para o território de Aix e lá missionaram e converteram o povo à fé.

Ainda, segundo esta tradição, Santa Marta era muito eloquente e toda a gente se agradava dela. Naquele tempo, vivia nas margens do Ródano, num bosque, entre Arles e Avinhão, um dragão, metade animal, metade peixe, maior do que um boi e mais comprido que um cavalo, com dentes afiados como espadas, e protegido de ambos os lados por escamas como escudos. Ocultando-se no rio, matava todos os transeuntes e fazia naufragar os barcos. Tinha, como reza a lenda, ido por mar desde a Galácia da Ásia, fora gerado por Leviatã – que era uma ferocíssima serpente aquática – e por um animal chamado ónaco, oriundo da região da Galácia, que expele os seus dejetos até à distância de uma jarda como se fosse a ponta de um dardo, queimando como fogo tudo o que atingem. Marta, a pedido do povo, foi procurá-lo e encontrou-o no bosque a devorar um homem; atirou água benta sobre ele e mostrou-lhe uma cruz.

Em seguida, vencido e parado como uma ovelha, Marta atou-lhe o seu cinto e ali mesmo foi morto pelo povo com lanças e pedras. Os naturais dessa região chamavam Tarascurus àquele dragão; por isso, em sua memória, aquele lugar ainda se denomina de Tarasconus (hoje Tarascon), em vez de Nerluc, que significa “lago negro”, porque os bosques eram sombrios e escuros.

A partir de então, com o beneplácito de seu mestre Maximino e de sua irmã, Marta ali permaneceu entregue, sem desfalecimento, às orações e aos jejuns. Depois, tendo-se reunido nesse lugar uma multidão de religiosas e construído uma grande basílica em honra da Bem-aventura Virgem Maria, levou uma vida austera: abstinha-se de carne, de toda a gordura, de ovos, de queijo e de vinho; só comia uma vez por dia, fazia cem genuflexões de dia e outras tantas à noite. Uma vez, a crer em La Légende Dorée, quando pregava junto de Avinhão, entre a cidade e o rio Ródano, um jovem que, estando além do rio, queria ouvir suas palavras, mas não tinha barco; e, tendo começado a nadar, foi levado pela força da corrente e logo morreu afogado. Muito a custo, encontraram o seu corpo ao segundo dia e colocaram-no aos pés de Marta para que o ressuscitasse. Ela prostrou-se ao chão de braços abertos em cruz e orou assim: “Senhor Jesus Cristo, que outrora ressuscitastes o meu querido irmão, olha, ó meu hóspede caríssimo, para a fé destes circunstantes e ressuscita este rapaz. Pegou-lhe na mão e ele imediatamente ressuscitou, recebendo o santo batismo.

Santo Eusébio conta no livro quinto da História Eclesiástica, que uma mulher que sofria de um fluxo de sangue, depois de sarada, foi para o seu jardim e fez uma estátua parecida com Nosso Senhor Jesus Cristo, com a túnica e a fímbria como tinha visto, reverenciando-a com muita frequência. Mas cresceram as ervas, até então destituídas de qualquer virtude, e ficaram com tal poder que, daí em diante, curaram muitos enfermos. Santo Ambrósio diz que essa mulher fora precisamente Santa Marta. Da mesma forma São Jerónimo refere, como conta na História Tripartida, que Juliano, o Apóstata, tirou a estátua feita por ela para lá colocar a sua, que logo foi destruída por um raio.

Os tarasconenses, lembrados da história do dragão Tarasca, resolveram procurar as relíquias de Marta, que encontraram em 1187, construíram um templo, em 1197, para a guarda das mesmas e tomaram como sua padroeira a benfeitora dos seus antepassados.

***

Santo Agostinho, bispo de Hipona, no século V, no Sermo 103, 1-2. 6 (PL 38, 613.615), elogia a hospitalidade de Marta, cujas recompensas estende a todos os que se tornarem hospitaleiros para Jesus Cristo e para aqueles em cuja figura humana Ele sofre: Felizes os que mereceram receber a Cristo em sua casa. Ante a multiplicidade de ocupações, “devemos aspirar a um único fim”, porque estamos a caminho e não em morada permanente, em viagem e não na pátria definitiva, no tempo do desejo e não no da posse plena. Mas devemos aspirar, sem preguiça e sem desânimo – sublinha Agostinho – para um dia podermos chegar ao fim.

E explica o sentido da irmandade de Marta e de Maria e o sentido do serviço ao Mestre:

Eram irmãs, não apenas de sangue, mas também pelos sentimentos religiosos. Ambas unidas ao Senhor, em perfeita harmonia, serviam ao Senhor corporalmente presente. Marta recebeu-O como se fora peregrino. Todavia, era a serva que recebia o Senhor, a doente que acolhia o Médico; a criatura que hospedava o Criador. Recebeu o Senhor para lhe dar o alimento corporal, enquanto ela precisava do alimento espiritual. O Senhor toma a forma de servo e possuía um corpo que lhe fazia sentir fome e sede. Nesta condição, é alimentado pelos servos, por condescendência, não por necessidade. Portanto, o Senhor foi recebido por Marta como hóspede, enquanto Ele, por desígnio divino, veio para o que era seu, e os seus não o acolheram. Mas a todos que o receberam, deu-lhes capacidade de se tornarem filhos de Deus (Jo 1,11-12).

E o santo Bispo de Hipona explicita o mistério da condescendência divina em Cristo:

Adotou os servos, que fez irmãos; remiu os cativos, que fez co-herdeiros. Ninguém de vós diga só para os antigos: Felizes os que mereceram receber Cristo em casa! Não te entristeças, não te lamentes por teres nascido em tempo que já não podes ver o Senhor corporalmente. Não te privou desta honra, pois afirmou: Todas as vezes que fizestes isso a um de meus irmãos, foi a mim que o fizestes (Mt 25,40).

E interpela quem segue os passos de Marta sobre os últimos tempos, os da parusia:

Quando chegares à outra pátria, encontrarás peregrinos para hospedar? Famintos para repartires com eles o pão? Sedentos para lhes dares de beber? Doentes para visitar? Desunidos para reconciliar? Mortos para sepultar? Lá não haverá nada disso. Haverá o que Maria escolheu: seremos alimentados, não alimentaremos. Lá se cumprirá em perfeição e plenitude o que Maria escolheu aqui: daquela mesa farta, recolhia as migalhas da palavra do Senhor. Queres saber o que há de acontecer lá? É o Senhor que o diz a respeito dos servos: Em verdade vos digo: Ele mesmo vai fazê-los sentar-se à mesa e, passando, os servirá (Lc 12,37).

Referências:

 

Bíblia Sagrada – MEL EDITORES – Estarreja, 2012;

http://www.aascj.org.br/home/2010/07/29/conheca-a-historia-da-vida-de-santa-marta-a-hospedeira-de-nosso-senhor-jesus-cristo/, ac. Julho de 2014;

Leite, J.; Coelho, A. (2005). Santos de Todos os Dias. Vol. de julho. Matosinhos: Quid novi;

Sacra Congregatio pro Cultu Divino (1989). Liturgia das Horas, III. Coimbra: Gráfica de Coimbra;

Nova Bíblia dos Capuchinhos – Difusora Bíblica – Lisboa/Fátima, 1998

2014.07.29

 Louro de Carvalho

domingo, 27 de julho de 2014

10 regras de ouro que ajudarão seus filhos a respeitar a autoridade

Estilo de vida

10 regras de ouro que ajudarão seus filhos a respeitar a autoridade

Os limites são para os filhos e não para os pais. É melhor estabelecer as regras o quanto antes

 
Desde la Fe
 
 
 
 
 
© suravid/SHUTTERSTOCK
Impor limites pede criatividade. Não existem receitas, cada família tem a própria cultura e as próprias necessidades. O que funciona para um, não funciona para o outro, mas podemos partir de alguns elementos gerais:

1. Lembre-se que os limites e as regras são para os filhos e não para os pais. Às vezes os filhos pedem que os pais sigam as mesmas regras. Mesmo se o melhor modo se seguir as regras é ter um bom exemplo, isso não permite que seus filhos lhe ditem regras similares às deles. São os filhos a serem educados, não os pais. Isto os ajudará a entender que a autoridade são os pais e não os filhos.

2. As consequências estabelecidas para cada regra, além de serem lógicas e terem uma ligação com a falha, devem ser cumpridas no momento. Não estabeleça consequências que durem meses, ou sejam permanentes, porque a criança com o passar do tempo não saberá por qual motivo foi punida e se sentirá somente ressentida.

3. Em qual momento deve-se iniciar a colocar regras? O quanto antes melhor. Não pense que as crianças não o compreendem porque são pequenas. Podemos iniciar desde o primeiro momento com os horários de sono, de comer e de tomar banho. Isto lhe permitirá não se sentir tão oprimido pelas várias incumbências que implica o fato de tomar conta de uma criança. Começar cedo permite que as crianças ganhem confiança, tenham menos problemas quando chegar o momento de ir para a escola e adaptar-se rapidamente às regras da mesma.

4. É importante que uma vez estabelecida a regra, a mesma não seja repetida a cada momento. Deixe que as crianças se observem e cuidem do próprio comportamento.

5. Até qual idade devem ser exercidas as regras? Até que os filhos vivam sob o seu teto e dependam de certa forma de você, devem existir regras que favoreçam uma convivência sã e respeitosa. Quando forem independentes e autossuficientes estabelecerão as regras da própria casa.

6. É importante que, antes de colocar limites, estabeleçam-se bem as regras para que as crianças saibam quais delas quebraram.

7. É importante que os adolescentes participem na definição das regras e limites.

8. O maior esforço que é necessário cumprir é aquele de ser constante e coerente com as regras. Se você mesmo as quebra perderá credibilidade diante dos seus filhos.

9. Quando seus filhos recebem visitas em casa, devem explicar aos amigos quais são as regras para não serem mal entendidos. Se você não permite que seus filhos brinquem no sofá, serão eles que dirão aos amigos que na casa deles é proibido. Por exemplo: se você não permite que seus filhos adolescentes bebam álcool em casa, é preciso se assegurar que os amigos deles saibam que a festa em sua casa não prevê álcool. Isto permitirá que seus filhos convidem os amigos tranquilamente evitando péssimas experiências.

10. Quando você visita alguém, lembre seus filhos as regras fora de casa, mas se os avós são permissíveis e tolerantes, coisa que talvez você não suporte, considere que eles não são responsáveis pela educação; você pode até permitir alguns mimos da avó, mas retome as regras quando voltar para casa. Por exemplo, se você não permite que seus filhos comam na frente da televisão, mas os avós oferecem pipoca, lembre-os de que será somente desta vez porque os avós deixaram.

Todas estas recomendações facilitarão o exercício de autoridade, vista como um serviço que os pais oferecem aos filhos. 
sources: Desde la Fe

Papa Francisco na fila da mesa

Religião

Papa Francisco na fila da mesa

Uma surpresa para o almoço entre os funcionários da Santa Sé

 
Rádio Vaticano
 
Rádio Vaticano
 
© OSSERVATORE ROMANO / AFP
A visita surpresa do Papa Francisco na mesa do almoço nesta sexta-feira, 25, local onde almoçam os funcionários da Santa Sé, foi um momento de grande alegria. O Papa se apresentou como uma pessoa normal, colocando-se na fila e se juntou a todos.
Segio Centofanti, da Rádio Vaticana, entrevistou Franco Paìni que estava presente:

“Sim, o Papa foi nosso hóspede hoje”, disse Franco Paìni.

Como ele se apresentou?

De maneira normal, como o mais humilde operário. Se apresentou aqui, pegou um prato vazio, os talheres, foi para a fila e o servimos. Comeu macarrão branco e bacalhau. Foi circundado da sua grande família. Nos apresentamos, ele nos perguntou como estávamos, como trabalhamos e nos deu parabéns.

E ao fim, deu a bênção a vocês?

Nos deu a bênção, fez uma foto com todos nós e foi embora. Durou cerca de uma hora.

Foi uma surpresa?

Sim, foi uma surpresa! Quem o esperava? O Papa que vem almoçar conosco? Fomos todos pegos de surpresa, mas foi uma das maiores satisfações que nos pudesse acontecer.
sources: Rádio Vaticano

terça-feira, 22 de julho de 2014

atenção aos cristãos uniformistas , alternativistas e vantagistas


atenção aos cristãos uniformistas ,

alternativistas e vantagistas



Santo Padre nos recorda que os cristãos devem ver a Igreja como casa própria, não alugada A Igreja “não é rígida”, a Igreja “é livre”, disse o Santo Padre na Casa Santa Marta, quando advertiu sobre três grupos de pessoas que pretendem se chamar cristãos: os “uniformistas”, os “alternativistas” e os “vantagistas”. Para eles, observa o papa, a Igreja não é a casa própria: eles apenas a usam “em aluguer”. Jesus reza pela Igreja e pede ao Pai que, entre os seus discípulos, “não haja divisões nem disputas”. O papa fez referência ao Evangelho do dia para destacar a unidade na Igreja. “Muitos dizem estar na Igreja”, mas “estão com um pé dentro e o outro ainda não entrou”. Para essa gente, disse Francisco, “a Igreja não é a casa própria, eles não a sentem como própria. Para eles é um aluguer”. A este propósito, o papa menciona três grupos de cristãos: no primeiro, “os que querem que todos sejam iguais na Igreja. Martirizando um pouco a língua italiana, podemos chamá-los de ‘uniformistas’”. E explicou: “Uniformistas. A rigidez. São rígidos! Não têm a liberdade que o Espírito Santo nos dá. E confundem o que Jesus pregou no Evangelho com a sua doutrina, a doutrina da igualdade. Jesus nunca quis que a Igreja fosse tão rígida. E eles, com essa atitude, não entram na Igreja. Eles se dizem cristãos, se dizem católicos, mas a atitude rígida deles os afasta da Igreja”. O segundo grupo de que o pontífice falou são os “alternativistas”, aqueles que sempre têm uma ideia própria, “que não querem que seja como a da Igreja: eles têm uma alternativa”. Deste grupo, Francisco explicou: “Eu entro na Igreja, mas com esta ideia, com esta ideologia. E assim, a pertença à Igreja é parcial. Esses também têm um pé fora da Igreja. Também para eles a Igreja não é a casa própria. Eles estão de aluguer na Igreja. Estavam já no princípio da pregação evangélica! Pensemos nos gnósticos, que o apóstolo João repreende com força! ‘Somos católicos, mas com essas ideias aqui’. Uma alternativa. Eles não compartilham o sentir próprio da Igreja”. Francisco passou então a apresentar o terceiro grupo: “os vantagistas”. São aqueles que “se dizem cristãos, mas não entram no coração da Igreja”. São aqueles que “procuram as vantagens, que vão à Igreja, mas por vantagem pessoal. E acabam fazendo da Igreja um negócio (...) Os homens de negócios. Nós os conhecemos bem! E havia isso desde o princípio. Pensemos em Simão, o Mago, pensemos em Ananias e Safira. Eles se aproveitavam da Igreja para benefício próprio. E nós os vimos nas comunidades paroquiais e diocesanas, nas congregações religiosas, alguns benfeitores da Igreja; muitos, aliás! Eles se exibiam como benfeitores e, no final, por baixo da mesa, faziam seus negócios. E eles também não sentem a Igreja como mãe, como própria. E Jesus diz: ‘Não! A Igreja não é rígida: a Igreja é livre!’”. O pontífice observou que na Igreja “existem muitos carismas, uma grande diversidade de pessoas e de dons do Espírito!”. Nosso Senhor nos diz: “Se queres entrar na Igreja, que seja por amor”, para entregar “todo o coração e não para fazer negócios em proveito pessoal”. E destaca novamente que a Igreja não é uma “casa para se alugar”, mas “uma casa para se viver”, “como mãe própria”. Francisco reconheceu que a proposta não é fácil, já que “as tentações são muitas”. Mas, acrescenta ele, quem faz a unidade na Igreja, “a unidade na diversidade, na liberdade, na generosidade, é só o Espírito Santo”: “esta é a tarefa dele”. O Espírito Santo é quem faz a harmonia da Igreja: “a unidade na Igreja é harmonia”. Todos nós, prosseguiu o papa, “somos diferentes, não somos iguais, graças a Deus”. Se fôssemos, “seria um inferno!”. Mas “todos somos chamados à docilidade ao Espírito Santo” e é esta docilidade “a virtude que nos salvará de ser rígidos, de ser ‘alternativistas’ e de ser ‘vantagistas’ ou homens de negócios na Igreja: a docilidade ao Espírito Santo”. É “esta docilidade que transforma a Igreja de casa alugada em casa própria”. Ao finalizar a homilia, o Santo Padre pediu que “nosso Senhor nos envie o seu Espírito Santo e faça esta harmonia em nossas comunidades: comunidades paroquiais, diocesanas, comunidades dos movimentos; que seja o Espírito quem faça essa harmonia, porque, como dizia um dos Padres da Igreja, ‘o Espírito é, Ele mesmo, a harmonia’”. Por Redacao, In Zenit, 05.06.2014

segunda-feira, 14 de julho de 2014

''Como Jesus, vou usar o bastão contra os padres pedófilos", diz Papa Francisco


''Como Jesus, vou usar o bastão contra os padres pedófilos", diz Papa Francisco

O Papa concedeu mais uma importante entrevista esse final de semana, em que tratou de temas como a pedofilia e o celibato

 

 

 

AFP PHOTO / VINCENZO PINTO


Reportagem de Eugenio Scalfari, diretor do jornal La Repubblica, veiculada nesse domingo. Tradução de Moisés Sbardelotto, publicada na IHU On-Line.

"A pedofilia é uma lepra que há na Igreja e também afeta os bispos e os cardeais. Alguns sacerdotes passam por cima do fenômeno mafioso: a denúncia pública é rara".

São as 17 horas da quinta-feira, 10 de julho, e é a terceira vez que eu encontro o Papa Francisco para conversar com ele. Sobre o quê? Sobre o seu pontificado, que começou há pouco mais de um ano e que, em tão pouco tempo, já começou a revolucionar a Igreja; sobre as relações entre os fiéis e o papa que vem do outro lado do mundo; sobre o Concílio Vaticano II concluído há 50 anos e apenas parcialmente implementado nas suas conclusões; sobre o mundo moderno e a tradição cristã e, sobretudo, sobre a figura de Jesus de Nazaré.

Finalmente, sobre a nossa vida, sobre os seus afãs e as suas alegrias, sobre os seus desafios e o seu destino, sobre o que nos espera em um esperado além ou sobre o nada que a morte traz consigo.

Esses nossos encontros foram desejados pelo Papa Francisco, porque, entre as tantas pessoas de todas as condições sociais, de todas as fés, de todas as idades que ele encontra no seu apostolado cotidiano, ele também desejava trocar ideias e sentimentos com um não crente.

E eu o sou; um não crente que ama a figura humana de Jesus, a sua pregação, a sua lenda, o mito que ele representa aos olhos de quem reconhece uma humanidade de excepcional densidade, mas nenhuma divindade.

O papa considera que uma conversa com um não crente do gênero é reciprocamente estimulante e, por isso, quer continuá-la; digo isso porque foi ele quem me disse. O fato de eu também ser jornalista não o interessa especificamente; eu poderia ser engenheiro, professor escolar, operário.

Interessa-lhe falar com quem não acredita, mas gostaria que o amor ao próximo professado há 2.000 anos pelo filho deMaria e de José fosse o principal conteúdo da nossa espécie, enquanto, infelizmente, isso acontece muito raramente, dominado pelos egoísmos, por aquilo que Francisco chama de "cobiça de poder e desejo de posse".

Ele definiu isso em uma nossa conversa anterior como "o verdadeiro pecado do mundo, do qual todos somos afetados", e representa a outra forma da nossa humanidade, e é a dinâmica entre esses dois sentimentos que constrói, para o bem ou para o mal, a história do mundo.

Ela está presente em todos, e, além disso, na tradição cristã, Lúcifer era o anjo predileto de Deus, portador de luz até que se rebelou contra o seu Senhor, tentado a tomar o seu lugar, e o seu Deus o precipitou nas trevas e no fogo dos condenados.

Falamos dessas coisas, mas também das intervenções do papa nas estruturas da Igreja, das adversidades que ele encontra. Devo dizer que, para além do extremo interesse dessas conversas, nasceu em mim um sentimento de afetuosa amizade que não modifica em nada o meu modo de pensar, mas de sentir, isso sim. Não sei se é correspondido, mas a espontaneidade desse muito estranho sucessor de Pedro me faz pensar que sim.

Agora, estou esperando-o há alguns minutos na pequena sala no piso térreo de Santa Marta, onde o papa recebe os amigos e os colaboradores. Ele chega pontualíssimo, sem ninguém que o acompanhe. Ele sabe que eu tive nos últimos dias alguns problemas de saúde e, de fato, logo me pede notícias a respeito. Coloca a sua mão sobre a cabeça, uma espécie de bênção, e depois me abraça. Fecha a porta, ajeita a sua cadeira na frente da minha e começamos.

* * *

Pedofilia e máfia são os dois temas sobre os quais Francisco falou nos últimos dias e que levantaram uma onda de sentimentos e também de polêmicas dentro e fora da Igreja. O papa é muito sensível tanto em relação a um quanto ao outro assunto e já tinha falado, em várias ocasiões, mas ainda não os tinha tomado tão a peito, sobretudo sobre os pontos referentes ao comportamento de uma parte do clero.

"A corrupção de uma criança", diz, "é o que de mais terrível e imundo se possa imaginar, especialmente quando, como indicam os dados que eu pude examinar diretamente, grande parte desses fatos abomináveis ocorrem dentro das famílias ou mesmo de uma comunidade de velhas amizades. A família deveria ser o sacrário onde a criança e depois o menino e o adolescente são amorosamente educados ao bem, encorajados no crescimento estimulado a construir a própria personalidade e a se encontrar com a dos seus coetâneos. Brincar juntos, estudar juntos, conhecer o mundo e a vida juntos. Isso com os coetâneos, mas, com os parentes que os colocaram no mundo ou que os viram entrar no mundo, a relação é como o de cultivar uma flor, um canteiro de flores, cuidando-o do mau tempo, desinfetando-a dos parasitas, contando-lhes as fábulas de vida e, enquanto o tempo passa, a sua realidade. Essa é ou deveria ser a educação que a escola completa e a religião coloca no plano mais alto do pensar e do crer no sentimento divino que se assoma às nossas almas. Muitas vezes, transforma-se em fé, mas, mesmo assim, deixa uma semente que, de algum modo, fecunda aquela alma e a volta para o bem."



Enquanto fala e diz essas verdades, o papa se aproxima de mim ainda mais. Fala comigo, mas é como se refletisse consigo mesmo, desenhando o quadro da sua esperança que coincide com a de todas as pessoas de boa vontade.

Provavelmente – digo eu – isso é uma grande parte do que acontece. Ele me olha com olhos diferentes, que de repente se tornaram duros e tristes. "Não, infelizmente não é assim. A educação como nós a entendemos parece quase ter desertado as famílias. Cada um é tomado pelas próprias incumbências pessoais, muitas vezes para assegurar à família um padrão de vida suportável, às vezes para buscar o seu próprio sucesso pessoal, outras vezes por amizades e amores alternativos. A educação como tarefa principal em relação aos filhos parece ter fugido das casas. Esse fenômeno é uma gravíssima omissão, mas ainda não estamos no mal absoluto. Não apenas a educação inexistente, mas também a corrupção, o vício, as práticas torpes impostas à criança e, depois, praticadas e atualizadas cada vez mais gravemente, assim que ela cresce e se torna moço e, depois, adolescente. Essa situação é frequente nas famílias, praticada por parentes, avós, tios, amigos da família. Muitas vezes, os outros membros da família estão conscientes disso, mas não intervêm, enredados por interesse ou por outras formas de corrupção".

Eis a entrevista.

Para o senhor, Santidade, o fenômeno é frequente e generalizado?

"Infelizmente, é e é acompanhado por outros vícios, como a disseminação das drogas."

E a Igreja? O que a Igreja faz em tudo isso?

"A Igreja luta para que o vício seja debelado e a educação, recuperada. Mas nós também temos essa lepra em casa."

Um fenômeno muito generalizado?

"Muitos dos meus colaboradores que lutam comigo me tranquilizam com dados confiáveis que avaliam a pedofilia dentro da Igreja em nível de 2%. Esse dado deveria me tranquilizar, mas devo lhe dizer que realmente não me tranquiliza. Ao contrário, eu o considero gravíssimo. Os 2% de pedófilos são sacerdotes e até bispos e cardeais. E outros, ainda mais numerosos, sabem, mas se calam, punem, mas sem dizer o motivo. Eu acho insustentável esse estado de coisas, e a minha intenção é enfrentá-lo com a severidade que exige.

* * *

Lembro ao papa que, na nossa conversa anterior, ele me disse que Jesus era o exemplo da doçura e da mansidão, mas, às vezes, pegava o bastão para derrubá-lo nas costas dos velhacos que sujavam o Templo moralmente.

 




"Eu vejo você se lembra muito bem das minhas palavras. Eu citava as passagens dos Evangelhos de Marcos e deMateus. Jesus amava a todos, até mesmo os pecadores que ele queria redimir, dispensando o perdão e a misericórdia, mas, quando usava o bastão, empunhava-o para expulsar o demônio que tinha se apossado daquela alma."

As almas – isso também o senhor me disse no nosso encontro anterior – podem se arrepender depois de uma vida de pecados, mesmo no último momento da sua existência, e a misericórdia estará com elas.

"É verdade, essa é a nossa doutrina, e esse é o caminho que Cristo nos indicou."

Mas pode ocorrer que alguns arrependimentos no último minuto de vida sejam interessados. Talvez inconscientemente, mas interessados em se garantir um possível além. Nesse caso, a misericórdia corre o risco de acabar em uma armadilha.



"Nós não julgamos, mas o Senhor sabe e julga. A sua misericórdia é infinita, mas nunca cairá em uma armadilha. Se o arrependimento não é autêntico, a misericórdia não pode exercer o seu papel de redenção."

O senhor, Santo Padre, no entanto, lembrou várias vezes que Deus nos dotou com o livre arbítrio. O senhor sabe bem que, se escolhermos o mal, a nossa religião não exerce misericórdia para conosco. Mas há um ponto que eu gostaria de destacar: a nossa consciência é livre e autônoma. Pode, em perfeita boa fé, fazer o mal convencida, porém, de que, a partir desse mal, nascerá um bem. Qual é, diante de casos desse tipo, que são muito frequentes, a atitude dos cristãos?

"A consciência é livre. Se escolher o mal, porque está segura de que dele derivará um bem do alto dos céus, essas intenções e as suas consequências serão avaliadas. Nós não podemos dizer mais, porque não sabemos mais. A lei do Senhor é o Senhor que estabelece, e não criaturas. Nós sabemos somente porque foi Cristo que nos disse que o Pai conhece as criaturas que criou, e nada para ele é misterioso. Além disso, o livro de Jó examina a fundo esse tema. Recorda-se que falamos disso? Seria preciso examinar a fundo os livros sapienciais da Bíblia e o Evangelho quando fala de Judas Iscariotes. São temas de fundo da nossa teologia subjacente."

E também da cultura moderna que vocês querem compreender a fundo e com a qual querem debater.

"É verdade, é um ponto capital do Vaticano II, e devemos enfrentá-lo o mais rápido possível."

Santidade, ainda é preciso falar sobre o tema da máfia. O senhor tem tempo?

"Estamos aqui para isso."

* * *

"Não conheço a fundo o problema das máfias. Sei, infelizmente, o que elas fazem, os crimes que são cometidos, os enormes lucros que as máfias administram. Mas me escapa o modo de pensar dos mafiosos, os chefes, os gregários. NaArgentina, como em todos os lugares, há os delinquentes, os ladrões, os assassinos, mas não as máfias. É esse aspecto que eu gostaria examinar, e vou fazer isso lendo os tantas livros que foram escritos a respeito e os muitos testemunhos. Você é de origem calabresa, talvez possa me ajudar a entender."

O pouco que posso dizer é isto: a máfia – seja calabresa, seja siciliana, seja a camorra napolitana – não são acólitos desviados de delinquentes, mas são organizações que têm leis próprias, códigos de comportamento próprios, cânones próprios. Estados no Estado. Que não lhe pareça paradoxal se eu lhe disser que elas têm uma ética própria. E que não lhe pareça anormal se eu acrescentar que elas têm um Deus próprio. Existe um Deus mafioso.

"Entendo o que você está dizendo: é um fato que a maior parte das mulheres ligadas à máfia por vínculos de parentesco, as esposas, as filhas, as irmãs, frequentam assiduamente as igrejas das suas cidades, onde o prefeito e outras autoridades locais muitas vezes são mafiosos. Essas mulheres pensam que Deus perdoa os horríveis crimes dos seus parentes?"

 




Santidade, os mesmos parentes muitas vezes frequentam as igrejas, as missas, os casamentos, os funerais. Não acredito que se confessem, mas muitas vezes comungam e batizam os recém-nascidos. Esse é o fenômeno.

"O que você diz é claro, e, além disso, não faltam livros, pesquisas, documentações. Devo acrescentar que alguns sacerdotes tendem a passar por cima do fenômeno mafioso. Naturalmente, condenam os crimes individuais, honram as vítimas, ajudam como podem as suas famílias, mas a denúncia pública e constante das máfias é rara. O primeiro grande papa que a fez, justamente falando nestas terras, foi Wojtyla. Devo dizer que o seu discurso foi aplaudido por uma multidão imensa."

O senhor pensa que nessa multidão que aplaudia não havia mafiosos? Pelo que eu saiba, havia muitos. O mafioso, repito, aplica um código próprio e uma ética própria: os traidores devem ser mortos, os desobedientes devem ser punido, às vezes o exemplo é dado com o homicídio de crianças ou de mulheres. Mas esses, para o mafioso, não são pecados, são as suas leis. Deus não tem nada a ver, muito menos os santos padroeiros. O senhor viu a procissão de Oppido Mamertina?



"Eram milhares os participantes. Depois, a estátua de Nossa Senhora das Graças parou na frente da janela do boss que está sob custódia em prisão perpétua. Justamente, tudo isso está mudando e vai mudar. A nossa denúncia das máfias não será feita de vez em quando, mas será constante. Pedofilia, máfia: a Igreja, o povo de Deus, os sacerdotes, as comunidades, dentre outras tarefas, terão essas duas questões muito principais."

* * *

Passou uma hora, e eu me levanto. O papa me abraça e me deseja que eu melhore o mais rápido possível. Mas eu lhe faço ainda mais uma pergunta:

O senhor, Santidade, está trabalhando assiduamente para integrar a catolicidade com os ortodoxos, com os anglicanos...

Ele me interrompe continuando: "Com os valdenses, que eu considero como religiosos de primeira ordem, com os pentecostais e, naturalmente, com os nossos irmãos judeus".

Pois bem, muitos desses sacerdotes ou pastores são regularmente casados. Quanto esse problema vai crescer com o tempo na Igreja de Roma?

"Talvez você não saiba que o celibato foi estabelecido no século X, isto é, 900 anos depois da morte de nosso Senhor. A Igreja católica oriental tem a faculdade, desde já, de que os seus presbíteros se casem. O problema certamente existe, mas não é de grande entidade. É preciso tempo, mas as soluções existem, e eu as encontrarei.

* * *

Já estamos fora do portão de Santa Marta. Abraçamo-nos de novo. Confesso que me comovi. Francisco acariciou minha bochecha, e o carro partiu.

(
IHU On-line)

ROTA CISTERCIENSE --- POR SÃO BENTO DO CANDO E MOSTEIRO DE OSSEIRA


ROTA CISTERCIENSE

POR SÃO BENTO DO CANDO E MOSTEIRO DE OSSEIRA

José Rodrigues Lima

O calendário marcava 11 de Julho e o directório litúrgico referenciava a celebração de São Bento.

Na perspectiva do projecto “Rota Cistericense do Alto Minho” peregrinámos até ao santuário de São Bento do Cando, zona de transição do vale do Lima para o vale do Minho, onde milhares de devotos se congregaram para fazer “memória” do fundador dos beneditinos e solicitar a sua intercessão junto de Deus.

Assim, nos numerosos romeiros viam-se crianças, jovens e adultos, eles e elas mostrando grande fé e devoção.

Era lindo…
 


 

Os sons da música de Moreira do Lima com os seus instrumentos musicais luzidios, sons afinados e passos certos envolviam a todos.

A música ecoava no terreiro, nos quartéis de descanso e nos contrafortes da serra da Peneda.

Cumprindo promessas com velas do tamanho dos ofertantes amortalhados, e com lindos ramos de cravos vermelhos, os rostos dos devotos e devotas irradiavam contemplação do transcendente, como se vissem o invisível.

OLHARES PARA O ALTO        

As senhoras mais idosas, sentadas nas varandas dos quarteis, olhavam o movimento da gente com alma grande. Os homens de carácter firme e de olhares para o alto, tocavam a imagem de São Bento e benziam-se.

Notava-se que os rituais manifestavam o que o coração sentia, bem no mais íntimo.

Foi bonito participar na assembleia do Povo de Deus na festividade em honra de São Bento, Padroeiro da Europa. Os romeiros vieram dos concelhos de Arcos de Valdevez, Monção, Melgaço e de outros.

Os ares brandos da altitude ajudavam na elevação do corpo e do espírito. Os aromas da montanha cruzavam-se com churrascos, nos doces e roscas tradicionais.

Lindo de se ver e sentir… A festa acontecia.

Rumámos a São Bento do Cando com o jornalista Manuel Vilas Boas, da TSF (Rádio Jornal), recolhendo entrevistas para o programa “Ao Encontro do Património”. Foi mais um passo para a concretização da “Rota Cisterciense do Alto Minho”.

Aliás, é de referir que “aos monges cistercienses do Ermelo deverá, no meu parecer atribuir-se a fundação da Ermida de São Bento do Cando”, assim regista o historiador Bernardo Pintor.

MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE OSSEIRA

Em dia de São Bento seguimos o roteiro cisterciense atravessando Santa Maria de Fiães.

Já em terras da Galiza, ultrapassando os municípios de Ribadavia e Leiro, assinalados pela paisagem cultural das cepas alinhadas e produtoras de vinho do ribeiro, localizámos o mosteiro cisterciense de Santa Maria de Cláudio.

Após a zona urbana do Carvalhinho e Cea alcançámos o grande Mosteiro de Santa Maria de Osseira, considerado o Escorial Galego.

O conjunto monacal surge após o denso carvalhal e iluminado pelo sol. Escutámos o murmúrio do rio Osseira.

Na portaria puxámos a corda para a sineta dar “os três timbres”. Acolhidos como manda a regra e a alma cisterciense seguiu-se a entrevista do jornalista Vilas Boas ao monge artista Luis Alvarez.

Mas que entrevista… Onde a beleza de Deus foi comunicada com o coração e vivências sentidas no silêncio, “harmonia das almas que sabem dialogar com Deus”.

Os sons da água do mosteiro passaram para o gravador da reportagem e o programa, por certo, será ouvido como se estivéssemos no lugar “onde os habitantes da terra falam com os habitantes do céu”.

Não podíamos deixar a comunidade monacal sem apreciar o licor “Eucaliptine”, elaborado pelos monges, segundo a tradição secular.

Na zona aberta do mosteiro, no carvalhal várias vezes centenário, um monge ainda jovem, percorria o espaço em passo vagaroso, e ouvindo o murmúrio do rio Osseira, seguia em meditação do transcendente num tempo sem tempo.

“O Mosteiro, a Regra e o Abade são os três pilares da vida monacal”, segundo São Bento.

Acrescentamos que “a arte é a epifania do mistério”.

A visita ao conjunto monacal conduz-nos por séculos de arte e histórias de vidas contemplativas acompanhadas de meditações bíblicas.

É de referir que o monge Fernando Yánez de Osseira, foi abade no mosteiro de Alcobaça entre 1.241-1.258, de acordo com o monge Damian J. Neira.

 
O Prof. Doutor José Marques, catedrático e ilustre melgacense, fez a narrativa histórica do Mosteiro de Santa Maria de Fiães, com a sabedoria de quem percorreu o “Cartulário de Fiães” ou “Livro das Datas” e conhece a viva espiritualidade cisterciense.

Os caminheiros da beleza, da verdade e da bondade encontram luzes, referências, e escutam vozes e sons de eternidade que levam à harmonia existencial, à verdadeira “estrutura antropológica”.

O lema cisterciense “Ora et labora” (Reza e Trabalha) continua a cativar comunidades e a testemunhar acção espiritual e cultural dos monges.

 

sábado, 12 de julho de 2014

S. BENTO

FESTA DE S.BENTO


As informações sobre a vida de Bento nos foram transmitidas pelo seu biógrafo e contemporâneo, papa são Gregório Magno. No livro que enaltece o seu exemplo de santidade de vida, ele não registrou as datas de nascimento e morte. Assim, apenas recebemos da tradição cristã o relato de que Bento viveu entre os anos de 480 e 547.

 



Bento nasceu na cidade de Nórcia, província de Perugia, na Itália. Pertencia à influente e nobre família Anícia e tinha uma irmã gêmea chamada Escolástica, também fundadora e santa da Igreja. Era ainda muito jovem quando foi enviado a Roma para aprender retórica e filosofia. No entanto, decepcionado com a vida mundana e superficial da cidade eterna, retirou-se para Enfide, hoje chamada de Affile. Levando uma vida ascética e reclusa, passou a se dedicar ao estudo da Bíblia e do cristianismo.

Ainda não satisfeito, aos vinte anos isolou-se numa gruta do monte Subiaco, sob orientação espiritual de um velho monge da região chamado Romano. Assim viveu por três anos, na oração e na penitência, estudando muito. Depois, agregou-se aos monges de Vicovaro, que logo o elegeram seu prior. Mas a disciplina exigida por Bento era tão rígida, que esses monges indolentes tentaram envenená-lo. Segundo seu biógrafo, ele teria escapado porque, ao benzer o cálice que lhe fora oferecido, o mesmo se partiu em pedaços.

Bento abandonou, então, o convento e, na companhia de mais alguns jovens, entre eles Plácido e Mauro, emigrou para Nápoles. Lá, no sopé do monte Cassino, onde antes fora um templo pagão, construiu o seu primeiro mosteiro.

Era fechado dos quatro lados como uma fortaleza e aberto no alto como uma grande vasilha que recebia a luz do céu. O símbolo e emblema que escolheu foram a cruz e o arado, que passaram a ser o exemplo da vida católica dali em diante.

As regras rígidas não poderiam ser mais simples: "Ora e trabalha". Acrescentando-se a esse lema "leia", pois, para Bento, a leitura devia ter um espaço especial na vida do monge, principalmente a das Sagradas Escrituras. Desse modo, estabelecia-se o ritmo da vida monástica: o justo equilíbrio, do corpo, da alma e do espírito, para manter o ser humano em comunhão com Deus. Ainda, registrou que o monge deve ser "não soberbo, não violento, não comilão, não dorminhoco, não preguiçoso, não detrator, não murmurador".

A oração e o trabalho seriam o caminho para edificar espiritual e materialmente a nova sociedade sobre as ruínas do Império Romano que acabara definitivamente. Nesse período, tão crítico para o continente europeu, este monge tão simples, e por isto tão inspirado, propôs um novo modelo de homem: aquele que vive em completa união com Deus, através do seu próprio trabalho, fabricando os próprios instrumentos para lavrar a terra. A partir de Bento, criou-se uma rede monástica, que possibilitou o renascimento da Europa.

Celebrado pela Igreja no dia 11 de julho, ele teria profetizado a morte de sua irmã e a própria. São Bento não foi o fundador do monaquismo cristão, que já existia havia três séculos no Oriente. Mas merece o título de "Pai do Monaquismo Ocidental", que ali só se estabeleceu graças às regras que ele elaborou para os seus monges, hoje chamados "beneditinos". Além disto, são Bento foi declarado patrono principal de toda a Europa pelo papa Paulo VI, em 1964, também com justa razão.

(Paulinas)

sources: Paulinas

sábado, 5 de julho de 2014

Saiba quem é o perigoso homem que se proclamou líder de todos os muçulmanos do mundo

Saiba quem é o perigoso homem que se proclamou líder de todos os muçulmanos do mundo

O que é o novo Califado e mais 9 fatos que você precisa conhecer

© WELAYAT SALAHUDDIN / AFP
 
Um grupo de jihadistas cuja base fica na Síria invadiu recentemente a fronteira e irrompeu com fúria pelo norte do Iraque, arruinando em apenas uma semana os anos de esforços que estavam finalmente conseguindo instaurar na região uma relativa paz e estabilidade.

Quem são essas pessoas e o que elas realmente querem?

Trata-se de um grupo de extremistas que vem sendo chamado de Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) ou Estado Islâmico do Iraque e da Síria (EIIS). No último domingo, 29 de junho, eles próprios começaram a se chamar, porém, de "O Estado Islâmico" (EI), anunciando ao mesmo tempo a "restauração do califado".

Nem a imprensa nem os especialistas em terrorismo ratificaram ainda a existência de fato desse califado. Por isso, vamos continuar nos referindo ao grupo como EIIL (alguns veículos de mídia adotam a sigla ISIL, usada em inglês).

É crucial conhecermos melhor o EIIL, um grupo que apresenta uma combinação única de selvageria e poderio técnico e que "envia recados" ao mundo usando tanto as mídias sociais quanto a crucificação dos inimigos.

1. Quem está no comando?

Ele nasceu como Ibrahim al-Badri, em Samarra, e estudou teologia em Bagdá. Adotou o nome de Abu Bakr al-Baghdadi e "saiu do anonimato para se tornar o temido líder do EIIL", de acordo com a rede de TV Al Jazeera. No último domingo, Ibrahim al-Badri se proclamou Califa Ibrahim.

2. O que significam todas essas mudanças do nome do grupo?

Ao excluir as palavras Iraque, Síria e Levante do nome do grupo, eles pretendem dizer que o recém-proclamado "califa" está afirmando o seu poder temporal para além dos territórios desses países. Ou seja, para o mundo inteiro.

3. O que é um califado?

Simplificando, é um governo chefiado por um “califa”, termo em árabe que significa “sucessor”. No caso, sucessor de ninguém menos que o profeta Maomé. Portanto, Ibrahim afirma ser o líder religioso e político mundial e supremo de absolutamente todos os muçulmanos do planeta, que somam cerca de 1,5 bilhão de pessoas. O califa seria um líder a quem TODOS devem obediência.

4. Além da tentativa de unificar todos os muçulmanos sob um mesmo líder, existe alguma outra razão para o estabelecimento deste califado?

Várias. Primeiro, Ibrahim provavelmente espera finalizar a conquista do Iraque mais rápido convencendo todos os sunitas iraquianos a deporem as armas e se juntarem à causa do Estado Islâmico (EI). Uma recente mensagem do EI foi clara: "A legalidade de todos os emirados, grupos, estados e organizações se torna nula com a expansão da autoridade do califa e com a chegada das suas tropas às suas áreas", declarou o porta-voz do grupo, Abu Mohamed al-Adnani. "Ouçam o seu califa e obedeçam-no. Apoiem o seu estado, que cresce a cada dia".

Segundo, um califado real, nos sonhos dos jihadistas, serviria como patrocinador do terrorismo, aproveitando-se de riquezas e de mão-de-obra para travar a jihad global até que o mundo todo esteja convertido, morto ou pagando o jizya (tributos que protegem o pagante não muçulmano da morte).

5. Qual é a probabilidade de Ibrahim realizar o seu plano de hegemonia global?

Independentemente da lealdade que Ibrahim inspirou entre alguns jihadistas impacientes (inclusive nos Estados Unidos), o novo "califa" terá dificuldades para conquistar a fidelidade de 1,5 bilhão de muçulmanos. Mesmo entre o pequeno grupo de muçulmanos sunitas que são jihadistas ou terroristas, o EIIL de Ibrahim foi firmemente condenado. Até a Al-Qaeda criticou publicamente o grupo pela "brutalidade e desejo de matar a todos, inclusive os sunitas que eles consideram traidores da sua religião".
6. Já não existe um califa entre os sunitas?
Sim, existe o mulá Mohammed Omar Uruzgani, do Afeganistão, que o Talibã e a Al-Qaeda reconhecem como "califa". O mulá Omar, recentemente, se mostrou ainda ativo ao declarar que a libertação de cinco líderes jihadistas da prisão de Guantánamo em troca do sargento norte-americano Bowe Bergdahl foi "uma grande vitória".

7. Qual é o tamanho da ameaça representada pelo Califa Ibrahim?

A ameaça é muito, muito grande. A maioria dos cristãos iraquianos fugiu com a aproximação do EIIL. O resto, provavelmente, já foi morto. Entre os desaparecidos, há duas freiras iraquianas e três crianças de um orfanato que elas mantinham na região. O EIIL vem acumulando grandes quantidades de armamento e de dinheiro (429 milhões de dólares só dos bancos que atacaram na cidade iraquiana de Mossul). O grupo também tomou o controle de poços de petróleo na Síria e no Iraque, além da maior refinaria de petróleo do Iraque. Há poucos dias, os combatentes da Frente Nusra, grupo da Al-Qaeda na Síria, que tinha sido o principal rival do EIIL, capitulou e prometeu lealdade a esse mesmo EIIL. Mas o dinheiro, as armas e o petróleo são ameaças pálidas diante do terror que o EIIL representa para os seres humanos inocentes de qualquer fé, por causa do seu estilo particularmente brutal de terrorismo.

8. O que as mulheres sob o regime do Califa Ibrahim podem esperar?

O EIIL anunciou para a província iraquiana de Nínive um "Contrato com a Cidade". Uma das 16 novas regras, traduzidas e parafraseadas pelo Washington Post, afirma: "Deve-se dizer às mulheres que a estabilidade está dentro de casa e que elas não devem sair a menos que seja necessário. Elas devem permanecer inteiramente cobertas pela veste islâmica".

Ficar dentro de casa é, sem dúvida, aconselhável, já que, sob o regime da sharia, as mulheres podem ser apedrejadas por delitos como “impropriedade sexual” e “comportamento ocidentalizado”. Estima-se que aconteçam anualmente 5.000 crimes de honra, cometidos por homens ligados às vítimas e “causados” por comportamentos “desonrosos” destas, como querer casar por amor em vez de submeter-se a casamentos arranjados com estranhos que podem ser décadas mais velhos e até já terem uma esposa ou três.

9. As atrocidades atribuídas ao EIIL podem ser forjadas?

Várias denúncias de “crucificações” acabaram se revelando “menos bárbaras” do que tinha sido divulgado, se é que podemos achar “menos bárbaro” que as vítimas sejam assassinadas a tiros antes de ser amarradas à cruz, em vez de crucificadas vivas como seria “próprio” de uma crucificação “tradicional”. Essas atrocidades são cometidas como formas de “mandar um recado”, explica o professor Abba Barzega, especialista em estudos islâmicos da Universidade Estadual da Geórgia, nos EUA. O recado, no caso, é este: “Quem se opõe ao EIIL se opõe ao governo de Deus; quem é inimigo do EIIL é inimigo de Deus e merece a mais alta forma de punição possível”.

Das sete pessoas executadas publicamente há poucos dias em Raqqa, na Síria, apenas dois corpos foram exibidos. As outras cinco vítimas eram adolescentes. Um deles cursava a 7ª série. O professor Barzega prossegue: “O EIIL precisa dar ‘sentido’ a essas mortes. ‘Apenas’ assassinar, num contexto de guerra constante, não teria ‘valor’. Por isso, eles agregam ‘mensagens’ ou ‘propaganda’ às suas ações”. Traduzindo: eles matam com o máximo possível de crueldade para garantir que a “mensagem” seja bem compreendida.

10. Como as pessoas podem saber se estão infringindo alguma dessas leis?

Primeiro, você já está infringindo a lei se não der apoio incondicional ao EIIL. Além do "Contrato com a Cidade", que hoje governa a província iraquiana de Nínive, a CNN relata que "aparecem editos da noite para o dia, espalhados em panfletos que contêm advertências terríveis, como, por exemplo, esta: ‘Todos os donos de lojas devem fechar as portas imediatamente ao soar o anúncio da oração e se dirigir à mesquita. Todos os infratores, após a emissão deste anúncio, enfrentarão as consequências’”.
 
Há regras específicas para os cristãos, como a que estipula um imposto (jizya) caso desejem continuar vivos. Os cristãos não estão autorizados a “expor cruzes, reparar igrejas ou recitar orações na presença de muçulmanos”, como informou em fevereiro o Observatório Sírio dos Direitos Humanos.

Reproduzimos abaixo o restante das novas regras, com base na tradução oferecida pelo Washington Post:

- Todos os muçulmanos serão bem tratados, a menos que se aliem aos opressores ou ajudem os criminosos.

- O dinheiro tirado do governo agora é público. Quem o roubar enfrentará amputações. Quem fizer ameaças ou chantagens enfrentará severas punições (nesta parte, é citada uma passagem do Alcorão, Al-Ma'idah 33, que diz que os criminosos podem ser mortos ou crucificados).

- Todos os muçulmanos são incentivados a fazer as suas orações com o grupo.

- Drogas, álcool e cigarros estão proibidos.

- Grupos políticos ou armados rivais não serão tolerados.

- A polícia e os oficiais militares podem se arrepender, mas qualquer um que insistir na apostasia enfrentará a morte.

- A sharia está instaurada.

- Túmulos e santuários não são permitidos e serão destruídos.

- Seja feliz por viver em uma terra islâmica.

A última lei parece bastante difícil de ser aplicada.