terça-feira, 26 de maio de 2015

Sempre os velhos!


Sempre os velhos!

Como vão os portugueses reagir, nas legislativas, se a economia melhorar? Dizem alguns que se a anunciada melhoria económica chegar ao bolso dos portugueses, e continuar a pairar a dúvida sobre o despesismo do PS, a coligação tem aqui um aliado de muito peso. Pode ganhar as legislativas. Afirmam outros que se a economia apenas se reportar ao equilíbrio orçamental, à recuperação da credibilidade estrangeira ou à melhoria das notações das financeiras, mas não se refletir no bolso dos eleitores, então a vantagem cairá para o lado do PS. Como disse Centeno, um dos economistas do estudo encomendado pelo PS, “milagres não há” e afirmou: “ou emprego ou corte nas pensões”. Eis a questão: os aposentados deste país sabem que a empregabilidade em Portugal é como o rasgo na nuvem por onde espreita um sol tímido; sabem que a chumbada lhes vai cair no lombo, magro e esquelético. Desesperam contra a falta de humanismo desta economia contabilística; sentem a desigualdade porquanto, dizem, se houver novos sacrifícios a impor, eles devem ser repartidos por todos os portugueses e não só pelos funcionários públicos e reformados; apelidam-na de desumana porquanto sabem que nessas contas, as pessoas contam pouco; dizem estar a assistir a uma falta de respeito pelos valores da solidariedade geracional; a caixa registadora vale mais que o coração. Há quem tenha reformas milionárias mas a maioria não ganha para levar uma vida digna; não há dinheiro para sustentar as atuais aposentações porque os governos nunca descontaram para a caixa geral de aposentações, como descontam todas as outras entidades patronais; agora têm de dar à CGA o que nunca deram durante décadas a fio. O dinheiro dos descontos dos aposentados é dinheiro que não lhes pertence, logo não deveria ser o estado a geri-lo. Não há dinheiro para nada, porque ele é gasto em serviços inventados para empregar os meninos dos partidos, principalmente em assessorias, em empresas de estado sempre deficitárias, em institutos públicos de nenhuma ou duvidosa atividade, de fundações que só servem para editar livros dos fundadores, etc. etc. Assim não há dinheiro que chegue; não há nem nunca haverá. A maior parte das vezes são alguns destes protegidos que fazem as leis que depois revertem a seu favor. Mas nós, os aposentados, somos muitos, somos mais de três milhões e meio; a nossa longevidade atrapalha-lhes a contabilidade. Então por que razão teimamos em nos calar? Permitimos que nos ponham a carga às costas sem a atirar ao chão?! Que masoquismo é este?! Por que razão não fazemos sentir-lhes o nosso peso eleitoral? Por que razão vamos votar neste ou naquele partido que anunciam mais cortes nas pensões? Temos de ter a coragem de dizer a estes senhores, alto lá, nós existimos, nós votamos, nós estamos vivos, nós somos aqueles que repartimos a côdea que nos deixaram rapada, pelos filhos e netos a quem os senhores negam o presente e o futuro. Somos nós, afinal, quem decide eleições. Tenham consciência da nossa força. Obriguemos os políticos a ter medo dos aposentados. Nós somos um “grande partido”, que tem como “ideologia” querer viver o resto da vida com dignidade. O nosso passado tem de ser respeitado. Não precisamos de ir para a rua gritar slogans, empunhar bandeiras sindicais ou vociferar em megafones. Nós vamos decidir as legislativas. Todos votaremos a favor daqueles que nos respeitem, nem que seja de cadeira de rodas ou de cama de enfermo. Senhores, digam isto ao FMI e acrescentem que em Portugal quem ganha eleições são os aposentados.

Opinião – Diário do Minho - segunda-feira 25.05.2015

Paulo Fafe


 

Opinião – Diário do Minho - segunda-feira 25.05.2015

Paulo Fafe

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