CAMINHOS DE FÉ
ANTÓNIO JESUS CUNHA
Os pecados da crise
A Joana é assistente social. Os seus tempos livres são
dedicados a um projeto da comunidade paroquial onde reside. Uma equipa dedica
uma atenção muito especial às pessoas mais atingidas pela crise e que sofrem a
chamada pobreza escondida. Partindo das informações desta equipa, o pároco, com
a ajuda de pessoas profissionalmente ligadas às áreas da saúde e assistência
social, elaborou um plano de ação pastoral que. partindo da análise da
realidade, tem permitido algumas respostas às situações mais prementes.
A atividade profissional da Joana desenvolve-se com pessoas
da Terceira Idade. Antes de colaborar no projeto da paróquia, pensava que o
pecado social mais grave era o abandono a que os idosos são votados pelos
próprios filhos. Reconhece hoje que há outros igualmente muito graves. Há
esposas que ganham apenas o salário mínimo, que mal chega para a renda de
casa, veem-se forçadas a trabalhar aos sábados e domingos como mulheres a dias.
Os maridos não lhes dão dinheiro, porque o gastam mal ou estão desempregados,
ou saem de casa deixando-lhes dívidas para pagar. A Joana encontra, com
frequência, mulheres à beira do desespero total, com a renda da casa vários
meses em atraso com a respetiva ameaça de despejo. Quantos casais, que já
tiveram uma vida boa em termos econômicos, vivem atualmente em situações muito
precárias: perderam o emprego, já terminou o subsídio de desemprego, não
conseguiram novo trabalho. Agora, não têm nada.
Diz a Joana que grande pecadora é esta sociedade, com os
seus poderes instituídos alheados da realidade das pessoas, com as suas
falsas democracias, que faz os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez
mais pobres. Pensa - e muito bem! - que a Igreja tem de investir, a sério, na
pregação da Palavra de Deus, para que este clima social gerado por relações
tremendamente injustas seja substituído por relações justas e fraternas.
para que se estabeleça coerência entre o projeto de Deus - que dá vida e
liberdade para todos - e os projetos dos homens.
Há tanta gente caída nas bermas dos caminhos da vida. gente
que desistiu de viver... porque não tem futuro. A saída, para sobreviver, é -
quantas vezes - a prostituição, ou outra qualquer forma de marginalidade.diacono.vp@gmail.com
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