sexta-feira, 7 de junho de 2013

CAMINHOS DE FÉ - Os pecados da crise



CAMINHOS DE FÉ

ANTÓNIO JESUS CUNHA

Os pecados da crise

A Joana é assistente social. Os seus tempos livres são dedicados a um projeto da comunidade paro­quial onde reside. Uma equipa de­dica uma atenção muito especial às pessoas mais atingidas pela crise e que sofrem a chamada pobreza es­condida. Partindo das informações desta equipa, o pároco, com a ajuda de pessoas profissionalmente liga­das às áreas da saúde e assistência social, elaborou um plano de ação pastoral que. partindo da análise da realidade, tem permitido algu­mas respostas às situações mais prementes.
A atividade profissional da Joa­na desenvolve-se com pessoas da Terceira Idade. Antes de colaborar no projeto da paróquia, pensava que o pecado social mais grave era o abandono a que os idosos são votados pelos próprios filhos. Re­conhece hoje que há outros igual­mente muito graves. Há esposas que ganham apenas o salário míni­mo, que mal chega para a renda de casa, veem-se forçadas a trabalhar aos sábados e domingos como mulheres a dias. Os maridos não lhes dão dinheiro, porque o gastam mal ou estão desempregados, ou saem de casa deixando-lhes dívi­das para pagar. A Joana encontra, com frequência, mulheres à beira do desespero total, com a renda da casa vários meses em atraso com a respetiva ameaça de despejo. Quantos casais, que já tiveram uma vida boa em termos econômicos, vivem atualmente em situações muito precárias: perderam o emprego, já terminou o subsídio de de­semprego, não conseguiram novo trabalho. Agora, não têm nada.

Diz a Joana que grande pecadora é esta sociedade, com os seus po­deres instituídos alheados da rea­lidade das pessoas, com as suas falsas democracias, que faz os ri­cos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Pensa - e muito bem! - que a Igreja tem de investir, a sério, na pregação da Palavra de Deus, para que este cli­ma social gerado por relações tre­mendamente injustas seja substi­tuído por relações justas e frater­nas. para que se estabeleça coerên­cia entre o projeto de Deus - que dá vida e liberdade para todos - e os projetos dos homens. 
Há tanta gente caída nas bermas dos caminhos da vida. gente que desistiu de viver... porque não tem futuro. A saída, para sobreviver, é - quantas vezes - a prostituição, ou outra qualquer forma de margina­lidade.
diacono.vp@gmail.com

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