sábado, 15 de junho de 2013

MARCHAS DA RUA DA BANDEIRA DE VIANA DO CASTELO


Não há memória da origem das festas populares do S. João, do bairro da Bandeira, assim como os festejos de S. Pedro, na Ribeira, mas o mesmo não acontece a propósito das marchas que apareceram por ocasião do cinquentenário do S. C. Vianense e tiveram duração efêmera.
Aconteceu na década de 40, mais precisamente no ano de 1949.E não podia deixar de ser uma ideia de Amadeu Costa, pois tendo o S. C. Vianense à sua disposição o Mercado para os bailes das festas populares, este ilustre vianense, grande animador e promotor da cultura, lançou o projecto dum festival de marchas,
Também se usa a fisga, de sol a sol; é livre no turno, mas proibida de noite.
Muito é preciso trabalhar para fazer face às despesas, o barco custa 80.000$00, motor, sendo razoável, 90.000$00, e cada rede cerca de 15.000$00; por isso, o íixe também não pode ser barato e, muitos dias são perdidos, devido ao tempo, ie não permite a faina.
A arte é dura, não rende todos os dias e daí procurar-se outro ofício, em terra, ira melhor rendimento. Assim se vai acabando a tradição dos pescadores, no rio,
Bairro da Bandeira. Dos três turnos assinalados, só 15 homens, ao todo, vivem; clusivamente da pesca.
Naquele grandioso recinto, ornamentado de ferro fundido, que só é lamentável ter sido destruído. Esse pormenor não interessa para aqui. A ideia de Amadeu Costa vingou, coadjuvado pelo Dr. Eduardo Correia Guedes e pelo José Esteves Alves.
Foi assim que apareceram as marchas dos bairros principais da cidade, da Ribeira, da Bandeira e do Bairro Jardim, no intuito de angariar fundos para a magra bolsa do Vianense.
As marchas eram cuidadosamente ensaiadas, desde a música à letra, desde o desfile ao ritmo, desde as cores às luzes.
Dos bairros saiam as marchas em direcção ao Mercado e a população da cidade apinhava-se nas ruas a ver e a aplaudir. Era novidade, era vida, era festa; e as agruras da vida pareciam ilusoriamente esquecidas no meio de tanta luz e cor, de tanta animação que reinava no Mercado a «arrebentar pelas costuras».
A Bandeira, tão bairrista, não ficava indiferente e tinha de participar em pleno. Para isso, havia muitos animadores, entre eles contava-se a colaboração de José Araújo, Manuel Fartura, Hilário, Fresquinha, Baratinha, Alberto Silva, Mário Bezerra e Luís Trinta.
A primeira marcha (em 1949), foi ensaiada no Liceu Gonçalo Velho; a segunda (em 1951), na Escola do Carmo, a terceira realizou-se em 1952 e ensaiada num armazém que hoje é propriedade do Cura.
A letra da primeira marcha foi da autoria de Manuel Fartura e José Araújo; no entanto, no primeiro ensaio ela não foi considerada a melhor letra e Castelão de Almeida, com o Reitor do Liceu, prepararam outra.
Passamos a transcrever as duas:
É um facto,
  uma certeza 
Que Viana
                                           vai melhorar,
                                           Quando a Bandeira
não tiver mais
buracos para tapar.
 
Sempre gostei de morar
No bairro aonde a tradição
Manda a todos folgar
Na noite de S. João.
 
Aí vem a Bandeira
Lindo bairro de tricanas
                                           Com fama muito altaneira
                                           Que dá brilho a Viana.
 
Tem nas suas lides
Do que a fama o rodeia
Os grandes Castros e Silvas
E os pescadores da lampreia.


SEGUNDA LETRA
 
CORO:
Cantai, raparigas,
Com amor e alma,
As nossas cantigas
Ninguém leva a palma.
I
Em Viana de mil encantos,
Maravilhas de luz e cor,
A Bandeira é entre tantos
 Bairros tão belos, é o melhor.
I I
Não há moça sem um amor,
Nem janela sem namorado,
Quando a luz surge em esplendor
Neste bairro tão afamado.
III
Ai Bandeirinha, és minha amada,
És um lar querido onde eu nasci,
Tens um bom vinho e a estudantada,
Que triste sou longe de ti.
 
O júri na primeira apresentação, foi constituído pela Direcção do Vianense, íuel Couto Viana, Castelão de Almeida e o comandante da Capitania de Viana, prêmios atribuídos foram de 500$00, 300$00 e 100$00, respectivamente, para |2, 2a e 32 prêmios.
g0 segundo ano do festival, a letra da Marcha da Bandeira foi da autoria de ído Reguengo e a música de José Pedro. Há uma outra versão sobre o autor etra que diz ter sido Rui Feijó. Neste segundo festival, participou também o ro Jardim. Os Bairros da Bandeira e do Jardim uniram-se, em simpatia, contra airro da Ribeira.
Enquanto no primeiro ano o primeiro prêmio coube ao Bairro da Ribeira, o undo ao Bairro da Bandeira e o terceiro a Darque, no segundo ano os prêmios m atribuídos por valores apresentados: exibição, marcação, traje, balões, etc., e m foi criada uma certa confusão, como pensaram os da Bandeira, que ficaram lilhados pelo segundo lugar, atribuído no primeiro festival. «Foram mais os nios, mas apenas para nos deitar terra nos olhos».
\ atribuição do segundo prêmio tinha agudizado as rivalidades entre a Ribeira e andeira, acusando o júri de compadrio e de ter sido levado pelas lagostas que ja Ribeira traziam na marcha, enquanto as da Bandeira levavam peixe mais re, peixe do rio. Claro que não seria bem assim, mas os da Bandeira não se formaram e apareceram letras que bem mostraram a agressão dos rivais:
Bairro da Bandeira esfomeado,                      Vamos, raparigas,
Cheiinho de graça,                                      Vamos ao Mercado,
Começa em S. Vicente,                                Buscar o segundo
Foi fazer sujeira na Praça.                            Que o primeiro foi roubado.


 


O Bairro da Bandeira
Que andava a cair Cheiinhos de fome
Foram para a Praça pedir.
 
Cantai, raparigas,
Vamos ao Mercado,
 Buscar o dinheiro
Que nos foi roubado.


 


Derto é que os da Ribeira fizeram uma apresentação mais fidalga, enquanto a ideia se evidenciava, sobretudo, pelas tricanas que pisavam melhor, isto é, am outro tique no bater da chinelinha, que era de verniz. Aliás, já tinham essa a de tradição.
0 prêmio dos 300$00, recebido pelos da Bandeira, foi, depois, gasto num convívio realizado no Asilo das meninas Órfãs, tendo sido partilhado ainda com as meninas pobres do referido Asilo.
D Zé Araújo era deficiente motor, mas era um gênio na confecção de trabalhos papel.
No entanto, a animosidade foi, sobretudo, a nível das mulheres, pois os homens pescadores do rio - os da Bandeira e pescadores do mar - os da Ribeira), continuaram a manter relações de boa camaradagem.
Eis a letra do segundo festival, cujo autor teria sido Alfredo Reguengo e o autor música Zé Pedro:


MARCHA DA BANDEIRA
 
 


 
 
 
 


CORO:
Bairro sorridente, Cheiinho de graça, Nasce em S. Vicente, Termina na Praça. Bairro da Bandeira, Que passa a sorrir Carícia fagueira De cravos a abrir...


VOZ
Passam capas de estudantes Como andorinhas na rua; Cruzam-se olhares cintilantes, Há sorrisos, há descantes Onde a alegria flutua...
O velho Liceu fechou-se,
Mas inda hoje está cheio De saudade, funda e - Tão viva como se fosse Um fogo, a arder-nos no seio.
 


CORO:
Bairro sorridente, etc.
    VOZ
Raparigas da Bandeira,
Tricaninhas de postal.
 Lindas mãos de costureira
 Que a agulha pica matreira,
 Sem respeitar o dedal..
.
Trabalho p’ra cada dia
Nosso Bairro tem em si;
Na grande Camisaria
E a fabricar com mestria
 As boinas de CEDEMI...
 
CORO:
Bairro sorridente, 
   etc. VOZ
Pescadores do nosso Rio,
Vinde vê-los ao Sol pôr.
Caem os sáveis a fio
E a lampreia, ao desafio,
Vem emalhar-se de amor...
CORO:
Bairro sorridente, etc.
VOZ
Oh Bairro dos Fogueteiros
Que enchem as noites de cor.
Logo aos primeiros morteiros
Os anjos correm ligeiros
A espreitar o seu fulgor...
CORO:
Bairro sorridente, etc.
     Na sua rede singela
 Não há peixe que não caia...
Cachopas, tende cautela!
cuidado ao passar por ela,
Não vá prender-vos pela saia...
E à Lua, a rir de contente,
Piscam d’olho os outros astros
 Como a dizer: - Não há gente
 No mundo mais competente
 do que estes Silvas e Castros..
LETRA DO TERCEIRO FESTIVAL
CORO
Bairro onde o trabalho mora
 A chinelinha ainda canta
 Bandeira que o sol namora
Bandeira bendita e santa.
II


 


Bandeira, caminho em recta,

Como é recta a nossa vida;
Bandeira, tu és a meta,

Não és ponto de partida

As Azenhas do Dom Prior,
 Leira Longa às Carmelitas;
Pétalas da mesma flor,

A flor que é mais bonita

O nosso bairro, em verdade,

Ninguém leva à dianteira;
Clarins, tocai a sentido

Que vai passar a Bandeira.

Junto a nós o rio passa

A sorrir sonhos de prata

 Ansioso por ver a graça

Nos fogos da serenata.

Sem comentários:

Enviar um comentário