sábado, 15 de junho de 2013

Os Santos Populares à rua da Bandeira testemunho de pessoas octogenária em 1980



As festas dos Santos Populares, na Rua da Bandeira, realizaram-se há tanto tempo que não há memória sobre a sua origem, diz-nos a D. Inês de Passos, com 85 anos de idade. Sabe-se de alguns episódios anteriores a 1900. Na dobra do século, precisamente em 1900, o pai do Fresquinha rompeu um par de sapatos, na noite, de tanto dançar. Consta que apenas se fazia uma fogueira, mas dançava- se toda a noite, junto às Carmelitas e o Fresquinha fazia muito negócio no tasco.

Em 1910, apareceu a iluminação pela primeira vez, desde a venda do Fresquinha até à casa do Lopes, onde estava o «Santo Antoninho», num nicho «como uma capela». A imagem era grande, talvez uns 150 centrímetros. Hoje ninguém sabe dizer desse nicho e dessa imagem.
As moças, o "S. João" e o cordeiro do carro do S. João da Bandeira. Foto cedida por Alberto Silva


Houve música da brava, instrumentistas de corda, ferrinhos, gaita de beiços; eram tocadores o Félix, Manuel Santos, Manecas do Castro e o Jerónimo Caganita.

Nunca meteu polícia, mas às vezes até seria preciso; havia muitos tascos e a alegria nem toda era espontânea, havia sempre uma animação regadinha com o verdasco.

Um episódio que marcou estas festas, aí por 1943, foi a morte instantânea de Isaura Lopes, que morreu a dançar na rua, em frente ao portal das Carmelitas.

A organização pertencia aos jovens mordomos que tinham de angariar, ano a ano, fundos para levar a cabo os festejos populares com as iluminações, a orquestra, o coreto e pagar à banda de música, etc... Para o conseguir, saía um carro de bois da quinta do Lar das Meninas Orfãs e Desamparadas. O caseiro da quinta procurava os melhores bois e preparava-os para meterem uma figuraça e serem bem valorizados, aproveitando a ocasião para os vender ou trocar. O carro levava um pinheiro e um menino vestido de S. João e era todo enfeitado de arquinhos em papel, balões, buxo, hidrângeas, cordões de malmequeres que colhiam nos pauis da Papanata, e era preparado pelas raparigas, onde punham todo o seu brio e criatividade.

Ao lado do carro iam as cantadeiras vestidas à vareira: saia preta bordada a vidrilhos e blusas de chita, franzidas por fora, faixa vermelha atada á cinta, com lenço, cujas pontas acompanhavam a saia e depois o chapéu preto e varinha na mão com laço e cravos. As cantadeiras procuravam dar o melhor de si e ainda se conhece a quadra: A morte seja dada / Ao sair o imprudente / Por não matar o Rei / E não ser obediente.

Este carro dava a volta pela cidade a pedir para os festejos.

Em 1930, foi de S. João neste carro o Henrique Fresquinha.

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