A Igreja é uma “casa paterna”
A fala do cardeal Erdö no sínodo convida a olhar a família com esperança e misericórdia
Il Sismografo
©MASSIMILIANO MIGLIORATO/CPP
Premissa
A “Relação antes da discussão”, apresentada pelo cardeal Peter Erdö, relator geral, introduz os trabalhos do sínodo, evidenciando os pontos principais sobre os quais deverá se desenvolver a discussão na Sala Sinodal. Neste sentido, é importante evidenciar um elemento de novidade: a Relação desta Assembleia Sinodal inclui já as intervenções escritas pelos Padres Sinodais, enviadas à Secretaria geral do Sínodo antes do início dos trabalhos.
Síntese
Antes de tudo, a Relação do cardeal Erdö convida a olhar para a família com esperança e misericórdia, anunciando o seu valor e beleza, e que, apesar das muitas dificuldades, não se trata de “um modelo antigo”: vivemos em um mundo apenas de emoções, disse o cardeal, no qual a vida não é “um projeto, mas uma série de momentos, e o compromisso estável parece temível” para o homem fragilizado pelo individualismo. Mas é exatamente aqui, diante destes “sinais dos tempos”, que o Evangelho da família se apresenta como “um remédio”, uma “verdade medicinal”, que é proposta “se colocando no lugar daqueles que têm maior dificuldade em reconhecê-la e vivê-la”. Portando, não ao “catastrofismo ou à abdicação” no interior da Igreja: existe “um patrimônio de fé amplo e compartilhado”. Por exemplo: formas ideológicas como a teoria do gênero, ou a equiparação das uniões homossexuais ao casamento entre homem e mulher, não têm consenso entre a grande maioria dos católicos, enquanto que o casamento e a família são ainda largamente considerados “um patrimônio” da humanidade, a se cuidar, promover e defender.
Entre os fiéis, a doutrina é pouco conhecida, ou pouco praticada, mas “isto não significa que seja colocada em discussão”: isso vale particularmente para a indissolubilidade do casamento e a sua sacramentalidade entre os batizados. Não é colocada em questão a doutrina da indissolubilidade do matrimônio enquanto tal, esta é inconteste e na maior parte observada também na prática pastoral da Igreja pelas pessoas que faliram em seus casamentos e que buscam um novo início. Ou seja, não as questões doutrinais, mas as questões práticas - inseparáveis, por outro lado, da verdade da fé - estão em discussão neste Sínodo, de natureza puramente pastoral.
Daí a necessidade de uma maior formação, sobretudo para os noivos, até que sejam claramente conscientes seja da dignidade sacramental do casamento, baseado na “unicidade, fidelidade e fecundidade”, seja do seu ser “uma instituição da sociedade”. Mesmo ameaçada pelos “fatores desagregadores”, como o divórcio, o aborto, as violências, a pobreza, os abusos, “o pesadelo” da insegurança, o desequilíbrio causado pelas migrações - explica ainda o cardeal Erdö - a família permanece sempre uma “escola de humanidade”: a família é quase a última realidade humana aconchegante em um mundo determinado exclusivamente pelas finanças e a tecnologia. Uma nova cultura da família pode ser o ponto de partida para uma renovada civilização humana. Por isso, continua o purpurado, a Igreja apoia concretamente a família, mesmo que tal ajuda “não pode prescindir de um compromisso ativo dos Estados” na tutela e promoção do bem comum, através de políticas adequadas.
Olhando para aqueles que vivem em situação matrimonial difícil, o cardeal Erdö ressalta que a Igreja é uma “casa paterna”: em suas relações, é necessária uma “renovada e adequada ação de pastoral familiar”, sobretudo para fazê-los sentir amados por Deus e pela comunidade eclesial, em uma ótica misericordiosa que não cancele, porém, “verdade e justiça”: a misericórdia não apaga os compromissos que nascem das exigências do vínculo matrimonial. Estes continuam a existir também quando o amor humano é enfraquecido ou acabou.
Isto significa que, no caso de um casamento sacramental (consumado), após um divórcio, enquanto o primeiro cônjuge ainda estiver vivo, não é possível um segundo casamento reconhecido pela Igreja. Dada a diversidade das situações - divorciados, união civil, convívio - o cardeal Erdö evidencia a necessidade de “linhas diretas claras”, para que os pastores das comunidades locais possam concretamente ajudar os casais em dificuldade, “evitando as improvisações de uma pastoral ‘faça você mesmo’”.
A “Relação antes da discussão”, apresentada pelo cardeal Peter Erdö, relator geral, introduz os trabalhos do sínodo, evidenciando os pontos principais sobre os quais deverá se desenvolver a discussão na Sala Sinodal. Neste sentido, é importante evidenciar um elemento de novidade: a Relação desta Assembleia Sinodal inclui já as intervenções escritas pelos Padres Sinodais, enviadas à Secretaria geral do Sínodo antes do início dos trabalhos.
Síntese
Antes de tudo, a Relação do cardeal Erdö convida a olhar para a família com esperança e misericórdia, anunciando o seu valor e beleza, e que, apesar das muitas dificuldades, não se trata de “um modelo antigo”: vivemos em um mundo apenas de emoções, disse o cardeal, no qual a vida não é “um projeto, mas uma série de momentos, e o compromisso estável parece temível” para o homem fragilizado pelo individualismo. Mas é exatamente aqui, diante destes “sinais dos tempos”, que o Evangelho da família se apresenta como “um remédio”, uma “verdade medicinal”, que é proposta “se colocando no lugar daqueles que têm maior dificuldade em reconhecê-la e vivê-la”. Portando, não ao “catastrofismo ou à abdicação” no interior da Igreja: existe “um patrimônio de fé amplo e compartilhado”. Por exemplo: formas ideológicas como a teoria do gênero, ou a equiparação das uniões homossexuais ao casamento entre homem e mulher, não têm consenso entre a grande maioria dos católicos, enquanto que o casamento e a família são ainda largamente considerados “um patrimônio” da humanidade, a se cuidar, promover e defender.
Entre os fiéis, a doutrina é pouco conhecida, ou pouco praticada, mas “isto não significa que seja colocada em discussão”: isso vale particularmente para a indissolubilidade do casamento e a sua sacramentalidade entre os batizados. Não é colocada em questão a doutrina da indissolubilidade do matrimônio enquanto tal, esta é inconteste e na maior parte observada também na prática pastoral da Igreja pelas pessoas que faliram em seus casamentos e que buscam um novo início. Ou seja, não as questões doutrinais, mas as questões práticas - inseparáveis, por outro lado, da verdade da fé - estão em discussão neste Sínodo, de natureza puramente pastoral.
Daí a necessidade de uma maior formação, sobretudo para os noivos, até que sejam claramente conscientes seja da dignidade sacramental do casamento, baseado na “unicidade, fidelidade e fecundidade”, seja do seu ser “uma instituição da sociedade”. Mesmo ameaçada pelos “fatores desagregadores”, como o divórcio, o aborto, as violências, a pobreza, os abusos, “o pesadelo” da insegurança, o desequilíbrio causado pelas migrações - explica ainda o cardeal Erdö - a família permanece sempre uma “escola de humanidade”: a família é quase a última realidade humana aconchegante em um mundo determinado exclusivamente pelas finanças e a tecnologia. Uma nova cultura da família pode ser o ponto de partida para uma renovada civilização humana. Por isso, continua o purpurado, a Igreja apoia concretamente a família, mesmo que tal ajuda “não pode prescindir de um compromisso ativo dos Estados” na tutela e promoção do bem comum, através de políticas adequadas.
Olhando para aqueles que vivem em situação matrimonial difícil, o cardeal Erdö ressalta que a Igreja é uma “casa paterna”: em suas relações, é necessária uma “renovada e adequada ação de pastoral familiar”, sobretudo para fazê-los sentir amados por Deus e pela comunidade eclesial, em uma ótica misericordiosa que não cancele, porém, “verdade e justiça”: a misericórdia não apaga os compromissos que nascem das exigências do vínculo matrimonial. Estes continuam a existir também quando o amor humano é enfraquecido ou acabou.
Isto significa que, no caso de um casamento sacramental (consumado), após um divórcio, enquanto o primeiro cônjuge ainda estiver vivo, não é possível um segundo casamento reconhecido pela Igreja. Dada a diversidade das situações - divorciados, união civil, convívio - o cardeal Erdö evidencia a necessidade de “linhas diretas claras”, para que os pastores das comunidades locais possam concretamente ajudar os casais em dificuldade, “evitando as improvisações de uma pastoral ‘faça você mesmo’”.
Quanto aos divorciados casados novamente no civil, o cardeal ressaltou que “seria enganador se concentrar somente na questão do receber os sacramentos”: olhar um contexto mais amplo, de preparação ao casamento e de apoio - não burocrático, mas pastoral - aos cônjuges, para ajudá-los a compreender os motivos da falência da primeira união e identificar eventuais elementos de nulidade.
A pastoral da Igreja deveria levar em conta esses casais de maneira particular. Os divorciados e casados novamente no civil pertencem à Igreja. Eles precisam e têm o direito de ser acompanhados por seus pastores. Não somente: devido à pouca consciência que se tem hoje do sacramento matrimonial e a difusa mentalidade do divórcio, “não é um perigo” considerar não válidos diversos casamentos celebrados na Igreja. Aqui a sugestão - contida na Relação - de rever a obrigação do duplo julgamento necessário para a nulidade do vínculo, contanto que se evite “a mecanicidade, a impressão de conceder o divórcio, ou soluções injustas e escandalosas”. Neste âmbito, diz o purpurado, é necessário também um estudo sobre a prática de algumas Igrejas ortodoxas que preveem a possibilidade de segundas e terceiras núpcias, de caráter penitencial.
Na última parte o documento do cardeal Erdö se afirma sobre o Evangelho da vida: a existência vai da concepção à morte natural, ressalta o Relator da Assembleia, e a abertura à vida é “parte essencial, exigência intrínseca” do amor conjugal, enquanto hoje, sobretudo no Ocidente, quem escolhe não ter filhos, ou quem os quer a qualquer custo, nivela-se sobre a própria autodeterminação: o acolhimento à vida, a assunção de responsabilidade em ordem à geração da vida e o cuidado que essa requer são possíveis somente se a família não é concebida como um fragmento isolado, mas vista inserida em uma trama de relações (…) Torna-se sempre mais importante não deixar a família, as famílias, sozinhas, mas acompanhá-las e apoiar o caminho. (…) Por trás das tragédias familiares frequentemente existe uma desesperada solidão, um grito de sofrimento que ninguém soube discernir.
É importante “reencontrar o sentido de uma solidariedade difundida e concreta”, superar aquela “privatização dos afetos”, que esvazia de sentido a família e baseia-se na escolha do indivíduo; criar, em nível institucional, condições que facilitam o acolhimento de um filho e a assistência a um ancião, quais “bens sociais a tutelar e favorecer”. A Igreja deve dedicar um cuidado particular à educação da afetividade e da sexualidade, explicando o valor e evitando “banalização e superficialidade”.
Em conclusão, afirma o cardeal Erdö, o desafio do Sínodo é o de conseguir propor novamente ao mundo - além “do círculo de católicos praticantes e considerando a complexa situação da sociedade - “o fascínio da mensagem cristã” sobre o casamento e a família, dando “respostas verdadeiras e plenas de caridade”. Porque “o mundo precisa de Cristo”.
A pastoral da Igreja deveria levar em conta esses casais de maneira particular. Os divorciados e casados novamente no civil pertencem à Igreja. Eles precisam e têm o direito de ser acompanhados por seus pastores. Não somente: devido à pouca consciência que se tem hoje do sacramento matrimonial e a difusa mentalidade do divórcio, “não é um perigo” considerar não válidos diversos casamentos celebrados na Igreja. Aqui a sugestão - contida na Relação - de rever a obrigação do duplo julgamento necessário para a nulidade do vínculo, contanto que se evite “a mecanicidade, a impressão de conceder o divórcio, ou soluções injustas e escandalosas”. Neste âmbito, diz o purpurado, é necessário também um estudo sobre a prática de algumas Igrejas ortodoxas que preveem a possibilidade de segundas e terceiras núpcias, de caráter penitencial.
Na última parte o documento do cardeal Erdö se afirma sobre o Evangelho da vida: a existência vai da concepção à morte natural, ressalta o Relator da Assembleia, e a abertura à vida é “parte essencial, exigência intrínseca” do amor conjugal, enquanto hoje, sobretudo no Ocidente, quem escolhe não ter filhos, ou quem os quer a qualquer custo, nivela-se sobre a própria autodeterminação: o acolhimento à vida, a assunção de responsabilidade em ordem à geração da vida e o cuidado que essa requer são possíveis somente se a família não é concebida como um fragmento isolado, mas vista inserida em uma trama de relações (…) Torna-se sempre mais importante não deixar a família, as famílias, sozinhas, mas acompanhá-las e apoiar o caminho. (…) Por trás das tragédias familiares frequentemente existe uma desesperada solidão, um grito de sofrimento que ninguém soube discernir.
É importante “reencontrar o sentido de uma solidariedade difundida e concreta”, superar aquela “privatização dos afetos”, que esvazia de sentido a família e baseia-se na escolha do indivíduo; criar, em nível institucional, condições que facilitam o acolhimento de um filho e a assistência a um ancião, quais “bens sociais a tutelar e favorecer”. A Igreja deve dedicar um cuidado particular à educação da afetividade e da sexualidade, explicando o valor e evitando “banalização e superficialidade”.
Em conclusão, afirma o cardeal Erdö, o desafio do Sínodo é o de conseguir propor novamente ao mundo - além “do círculo de católicos praticantes e considerando a complexa situação da sociedade - “o fascínio da mensagem cristã” sobre o casamento e a família, dando “respostas verdadeiras e plenas de caridade”. Porque “o mundo precisa de Cristo”.
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