domingo, 12 de outubro de 2014

Figuras Missionárias

Figuras Missionárias, por António Castro,OFM
 
"Aqui conquistou muitas simpatias, pelo trato simples, afável e que caraterizava a sua pessoa,”



Embora mais ou menos já esperada, a notícia buliu cá no meu íntimo quando, na manhã do dia 9 de setem­bro, chegou a comunicação de que há poucas horas, na Enfermaria Pro­vincial do Seminário da Luz, em Lis­boa, falecera este irmão franciscano, o Frei Antônio Couto, que cativava qualquer pessoa que dele se abei- rasse.

Nascera a 3 de junho de 1924 na fre­guesia de Carvoeira, não longe de Torres Vedras. Desde bem cedo se deixou enamorar pela maneira de ser e estar dos filhos de S. Francisco, que viviam no Convento de Varatojo, onde viria a passar bastantes anos da sua vida de franciscano, embora a maior parte fosse em países de mis­são, em atitude de partilha de fé, ao serviço dos mais necessitados.

Após o Noviciado no Convento de Varatojo, e a profissão de votos tem­porários no dia 15 de agosto de 1952 e de votos solenes em 1956, não demorou muito que não rumasse para outras bandas, como missioná­rio. Assim, em 1957 encontramo-lo já em Moçambique, onde ficou bem vin­cada a sua ação na Missão da Barada durante os 17 anos em que lá per­maneceu. Quem com ele conviveu deixou escrito a seu respeito: “Com persistência e competência, prestou os mais variados serviços: agrícolas, administrativos e pastorais. Foi pre­cioso colaborador dos superiores que passaram pela missão, pela sua inteli­gência, conhecimento dos homens e das coisas, sentido da vida fraterna e dedicação ao bem da missão”.

Regressado à terra lusa em 1974, decorridos 2 anos vemo-lo já a cal­correar outros caminhos, agora rumo ao Oriente, para a Terra Santa. Por lá andou, peregrino por vários santuá­rios, a todos acolhendo com afabili­dade, enriquecido com a experiência que pouco a pouco vai tendo dos locais onde é colocado. Vários pere­grinos, idos de Portugal e de outros países durante esses 16 anos de per­manência na Terra de Jesus, tiveram o privilégio de por lá o encontrarem e também eles se enriquecerem com tudo o que do Fr. Couto foram rece­bendo. E foram vários os santuários onde o nosso Frei Couto marcou presença: além de Errfermeiro-mor na Enfermaria da Custódia da Terra Santa em Jerusalém, foi passando por Getsémani, Nazaré, Tabor, Betfagé...

Regressado a Portugal em 1992, é em Varatojo que então se começa a sentir a sua presença, com o ofício de por­teiro. Aqui conquistou muitas simpa­tias, pelo trato simples, afável e aco­lhedor que caraterizava a sua pessoa E com os seus sábios conselhos, como verdadeiro “diretor espiritual”, mui­tos qjudou a refletir talvez em passos mal andados. Sempre o encontráva­mos ocupado, quanto mais não fosse a encadear terços com as contas que trouxera da Terra Santa, trabalho que continuou na Enfermaria Provincial quando, por motivos de saúde, se viu forçado a deixar o “seu” Varatojo em 2008. Na Enfermaria Provincial o visi­tei diversas vezes, nos últimos tempos pensando já no “encontro” com a Irmã Morte, que mansamente o veio visitar.

No dia do funeral, na paróquia onde nascera, teve a seu lado todos os irmãos franciscanos disponíveis da Fraternidade de Varatojo e não só. Significativo também o testemunho do P. José Manuel da Silva, torreense de origem, ao lembrar nessa hora da despedida o que de outros ouvira quando, antes de ingressar na Ordem Franciscana, à noitinha, o Fr. Couto tinha o costume de tocar o sino lá na sua aldeia, reunindo outras pessoas e com elas louvar Maria com a recitação do terço. O P José Manuel trouxe ainda o testemunho do Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, que, não podendo comparecer devido a compromissos inadiáveis já assumidos, quis desta foima assinalar a sua presença. •

Texto escrito ao abrigo do A.O.LP. de 1990

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